História & Biografia | ArtCultura | 2011

Pode causar estranheza a um leitor menos familiarizado com os debates de Clio o fato de a biografia ter sido vista, por muito tempo e por muitos estudiosos, com declaradas reservas e mesmo com olhos implacavelmente censores. Tomando-se em conta a máxima de Marc Bloch de que a história não passa de uma “ciência dos homens no tempo”, narrar vidas deve soar quase como um truísmo. Haveria possibilidade de se escrever história abstraindo-se dos homens e de seus feitos?

Porém, é forçoso reconhecer que as várias querelas entre os historiadores a respeito da legitimidade da narrativa biográfica quase sempre ignoravam a aparente simplicidade da pergunta feita linhas acima. Chegava-se mesmo a cristalizar a idéia da pouca importância dos indivíduos no curso do processo histórico. Apenas os sujeitos coletivos eram capazes de agir sobre as estruturas e conjunturas. Aos homens e mulheres, tomados em suas singularidades, restavam os acontecimentos, estas “perturbações superficiais, espumas de ondas que a maré da história carrega em suas fortes espáduas”.1 Leia Mais