A História e suas fontes / Anos 90 / 2008

Este número da revista Anos 90 reúne trabalhos apresentados nas mesas-redondas realizadas durante o IX Encontro Estadual de História, promovido pela Seção Rio Grande do Sul da Associação Nacional de História – ANPUH-RS – e pelo Departamento de História da UFRGS entre os dias 14 e 18 de julho de 2008, nas dependências do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas desta Universidade. Para o Encontro, foi proposto como eixo central das reflexões o tema “Vestígios do passado: a história e suas fontes”, e as mesasredondas tiveram as seguintes pautas: 1) os diversos tipos de fontes das quais se vale o historiador para elaborar suas interpretações sobre o passado (escritas, visuais, orais e cultura material); 2) o uso destas fontes no ensino de História e 3) o papel do historiador em arquivos, museus e outros “lugares de memória”.

O tema das fontes é, ao mesmo tempo, tradicional e atual no âmbito da História. Afinal, se este campo do conhecimento passou por inúmeras transformações desde a sua constituição como disciplina autônoma e científica no século XIX, as palavras de dois dos nossos “pais fundadores”, Charles Langlois e Charles Seignobos, mestres da chamada história tradicional, não perderam sua validade: “onde não há documentos, não há história”. Claro está que a concepção daquilo que se entende por documento se alterou profundamente, passando a incluir todos os vestígios da experiência humana, os quais só se tornam fontes quando submetidos às indagações e análises dos historiadores.

Nem todos os participantes das mesas, por motivos diversos, tiveram condições de enviar seus textos, mas aqueles que agora publicamos são uma amostra significativa da diversidade e do excelente nível das intervenções então realizadas e, com a publicação dos artigos, a Anos 90 pretende contribuir para o prolongamento dos profícuos debates intelectuais que ocorreram durante o Encontro. Assim, das discussões sobre fontes escritas, temos duas reflexões baseadas em documentos específicos, a de Silvia Lara, sobre uma crônica do século XVII e a de Cláudio Elmir, sobre uma narrativa autobiográfica. Ainda dentro desta mesma pauta, além das duas reflexões supracitadas, temos a proposta de Luis Augusto Farinatti de demonstrar que um mesmo conjunto documental pode tanto permitir análises seriais quanto possibilitar a reconstrução de trajetórias individuais no estilo da micro-história. Da mesa sobre fontes orais, apresentamos o artigo de Verena Alberti em parceria com Amilcar Araujo Pereira, que, a partir da pesquisa conjunta acerca da história do movimento negro no Brasil, reflete sobre as articulações entre história oral e história política e sobre o cruzamento entre fontes orais e fontes escritas, e também o artigo de Marluza Marques Harres, que perpassa discussões sobre as possibilidades e limitações do trabalho com fontes orais. A temática das fontes visuais está representada pelo artigo de Paulo Knauss, que revisita os campos da história da imagem e da história da arte, buscando pontuar que o conceito de arte é histórico, e pelo artigo de Charles Monteiro, que, através de uma revisão na historiografia brasileira sobre história, fotografia e cultura visual, elenca problemáticas e questões teórico-metodológicas recorrentes.

A indissociabilidade entre ensino e pesquisa tem sido uma proposta freqüentemente levantada pelos historiadores brasileiros, em particular através da ANPUH, que procura estar aberta às questões ligadas ao ensino de História, seja no nível superior, seja nos níveis fundamental e médio. Os dois textos que discutem o uso de fontes históricas no ensino básico exemplificam este diálogo: o artigo de Nilton Pereira e Fernando Seffner, defendendo que o uso de fontes históricas em sala de aula pode ser uma estratégia pedagógica alternativa no ensino de História, e o de Flávia Caimi, problematizando o tema através da análise de antigos e novos livros didáticos e da avaliação de políticas públicas nacionais.

Para contribuir com as discussões sobre acervos, Rosani Feron comenta a experiência de implantação de uma política de gestão documental no Poder Executivo do estado do Rio Grande do Sul, enquanto Zita Possamai e Benito Schmidt discutem as implicações e potencialidades da ampliação do campo de atuação do profissional da área de História em espaços como museus, arquivos, memoriais, centros de documentação, órgãos de gestão do patrimônio histórico, agências de políticas culturais e de turismo.

Este número de Anos 90 conta ainda com dois artigos gerais e uma resenha. O texto de Helenice Rodrigues da Silva busca examinar a relação entre a experiência vivida e a representação elaborada do acontecimento histórico na análise da entrevista realizada com um sobrevivente dos campos de concentração nazistas. Eliane Lucia Colussi e Valmíria Antonia Balbinot analisam, em seu artigo, a repercussão da campanha de educação sanitária “Povo desenvolvido é povo limpo”, protagonizada pelo personagem denominado “Sujismundo”, no contexto histórico do período militar e do projeto de desenvolvimento para o Brasil. Por fim, uma última colaboração está na resenha, assinada por Wagner da Silva Teixeira, do livro Jango, de Angela de Castro Gomes e Jorge Ferreira.

A equipe editorial de Anos 90 agradece a todos pareceristas que auxiliaram na avaliação dos artigos e ao apoio recebido da Pró- Reitoria de Pesquisa da UFRGS, e deseja aos leitores uma proveitosa leitura.

Os Editores


Apresentação. Anos 90, Porto Alegre, v. 15, n. 28, dez., 2008. Acessar publicação original [DR]

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