História e Literatura / Outros Tempos / 2010

História e Literatura: perspectiva de uma relação política e intelectual A Revista Outros Tempos neste número celebra a relação intelectual entre a História e a Literatura. Essa celebração desmitifica qualquer idéia de subalternidade entre essas áreas de estudo científico. Entre a História e a Literatura há uma cumplicidade intelectual. A História tem a intenção de refletir sobre os processos de transformações sociais entre o presente e o passado. A Literatura, entre outros interesses, expressa diferentes visões de mundo, oferecendo uma perspectiva coletiva para uma análise das mudanças ocorridas nas sociedades humanas, ao longo do tempo. Quando a relação entre História e Literatura é verificada, uma perspectiva simbólica de processos sociais pode ser construída. Contudo, não há simbolismo sem uma dimensão política. Nesse sentido, a escolha de um dossiê voltado para essa relação foi de fato uma escolha política do corpo editorial da revista.

A formação da identidade nacional brasileira foi forjada durante o século XIX. Em grande parte essa construção se deu através da produção historiográfica oitocentista e da literatura romântica do século XIX. Quando assumimos a posição política de celebrar a relação intelectual entre essas áreas de estudo, também, estamos afirmando que a sociedade brasileira precisa ser repensada. O Brasil resultou de um processo histórico que teve seus pilares nas transformações sociais oitocentista, desiguais, contraditórias e inacabadas. Essas realidades, muitas vezes, são justificadas por construções simbólicas forjadas por historiadores e literatos. Assim, repensar simbolismos literários e historiográficos do Brasil é, sem dúvida, fazer um exercício político sobre a realidade que desejamos transformar.

O Maranhão contou com produções historiográficas e literárias que justificavam interesses políticos voltados para a concentração do poder. Num olhar, mesmo que despretensioso, é possível perceber essas mesmas práticas políticas ainda hoje.

Entretanto, nem todos os intelectuais maranhenses se curvaram ao jogo da reprodução do poder. Já algum tempo, os orgulhos europeus maranhenses, elaborados pela literatura e pela historiografia anteriores, foram superados pelas novas concepções que vêm se apresentando em nossa universidade e em outras instituições. Isso é mais que uma esperança, um verdadeiro passo inaugural para continuar sonhando com uma sociedade diferente.

Esses estudos são agora prestigiados por esse número da Revista Outros Tempos, que se juntam aos esforços recentes de estudiosos da História e da Literatura no Maranhão e em outros lugares brasileiros, voltados para pensar a força política dessa relação. Desta forma, convidamos o leitor a desfrutar de uma prazerosa leitura e se engajar numa luta que é obrigação de todos nós.


Apresentação. Outros Tempos, Maranhão, v. 8, n. 11, 2011. Acessar publicação original [DR]

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