O Ensino de História / Revista Historiar / 2016

Nos últimos anos o Ensino de História tem cada vez mais se consolidado como um campo de estudos da História e como objeto de pesquisa dos historiadores, algo que nem sempre aconteceu. Até a década de 1960, o Ensino de História foi visto como uma área de formação e não como objeto de pesquisa, estabelecendo-se, assim, uma relação dicotômica que criou uma separação entre ensino e pesquisa, como se essas duas atividades não pusessem ser realizadas concomitantemente. O surgimento das pós-graduações em História no Brasil a partir dos anos 1970 acentuou essa separação na medida em que passaram a atribuir às pós-graduações em Educação a tarefa de pensar o ensino e a aprendizagem em História.

Somente no final da década de 1970 é possível perceber o início de uma mudança nesse cenário, mudança essa que significou uma resposta aos retrocessos cometidos pela ditadura militar, principalmente através da lei 5.692 / 71, que fundiu as disciplinas de história e geografia criando a disciplina de estudos sociais, instituiu a obrigatoriedade do ensino profissionalizante para o então 2º grau e criou as licenciaturas curtas, desvalorizando e precarizando ainda mais a profissão de professor.

Assim, no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, as questões relativas à formação de professores, aos currículos escolares, aos livros didáticos, ou seja, ao Ensino de História de uma forma geral passaram a ser preocupação dos historiadores, que transformaram esses temas em objeto de reflexão, análise e pesquisa em cursos de graduação e pós-graduação em História.

Não à toa começaram a surgir novos espaços de discussão sobre esse campo de estudos, como o Seminário Perspectivas do Ensino de História, que teve a professora Elza Nadai como uma de suas principais lideranças, e o Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de História; além dos Laboratórios de Ensino de História, destacando-se o pioneirismo do trabalho do laboratório da Universidade Estadual de Londrina e da Universidade Federal de Uberlândia. Hoje, podemos dizer que já são dezenas de encontros, seminários, laboratórios e grupos de estudo e pesquisa espalhados pelo Brasil que têm como objetivo pensar o ensino e a aprendizagem em História.

É preciso destacar que o curso de História da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) não foge à regra e também tem buscado nos últimos anos colaborar com as discussões sobre o assunto, criando espaços de discussão, seja através da realização de eventos voltados para a área; do LEAH, o Laboratório de Ensino e Aprendizagem em História que dispõe de um razoável acervo de livros didáticos disponível para consulta; e do curso de especialização em Ensino de História oferecido à comunidade.

O presente dossiê sobre Ensino de História da Revista Historiar vem ao encontro dessas preocupações e representa mais uma iniciativa do colegiado de História da UVA com as questões relativas ao ensino, abrindo espaço para professores de trajetória acadêmica já consagrada, mas também para graduandos que iniciam o exercício de refletir sobre seus objetos de pesquisa e de escrever sobre eles.

Francisco Edmar de Lima Ferreira e Francisco Gleison da Costa Monteiro relatam uma experiência de trabalho com bolsistas do PIBID do curso de licenciatura em História da Universidade Federal do Piauí, que culminou com a produção de um jornal escolar.

Geovan Nobre de Araújo toma como objeto de análise os livros didáticos de história voltados para as turmas do 2º ano do Ensino Médio, e reflete sobre a forma como os mesmos retratam a Revolução Inglesa. O autor não se restringe apenas a análise dos conteúdos, mas estende sua reflexão sobre a materialidade dos livros didáticos de história.

Maruza Monteiro de Araújo, Victor Rodrigues de Almeida e Francisco Dênis Melo fazem uma reflexão sobre os desafios de ensinar história na contemporaneidade

Os artigos de Francisco Dênis Melo e Francisco Régis Lopes Ramos refletem sobre o uso dos museus como espaços educativos e, mais especificamente, para o ensino e aprendizagem em História. O primeiro toma como mote da sua discussão o Museu Dom José, em Sobral, apresentando as possibilidades de trabalhar não só a História de Sobral, mas da região Norte do Ceará. O segundo apresenta algumas reflexões sobre uma metodologia de trabalho com os objetos intitulada de objeto gerador, que pode ser aplicada tanto nos espaços museológicos quanto dentro da escola.

Faz-se urgente e necessário, no atual momento, intensificarmos os debates sobre o ensino e a educação de um modo geral, já que nos últimos meses a educação brasileira tem sido alvo de severos ataques de projetos como o Escola sem partido, que cria um estado policialesco dentro da escola e criminaliza o trabalho do professor; e a Medida Provisória 746 / 2016 do governo ilegítimo de Michel Temer, que pretende reformar o Ensino Médio no país, propondo mudanças que são tão ou mais nocivas que a reforma educacional realizada durante a ditadura militar.

Portanto, não só a disciplina de história, mas a educação como um todo está sendo ameaçadas pela ascensão conservadora no país que pretende amordaçar o professor e impedir uma educação cidadã, inclusiva e plural. Em tempos como esse, refletir sobre o Ensino de História é antes de tudo um ato de resistência.

Agradecemos a todos (as), boa leitura e debate!

Ana Amélia Rodrigues de Oliveira – Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA


OLIVEIRA, Ana Amélia Rodrigues de. Apresentação. Revista Historiar. Sobral, v. 8, n. 14, 2016. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Historiar | UVA | 2009

HISTORIAR UVA Historiar

A Diretoria do Centro de Ciências Humanas da Universidade Estadual Vale do Acaraú, em parceria com o Curso de História, dispõem para a comunidade acadêmica a  Revista Historiar (Sobral, 2009-), cujo objetivo é criar oportunidades para a divulgação das pesquisas do corpo docente das áreas de humanidades da UVA e de outras IES de ensino e pesquisa.

Face à sua concepção inicial, a Revista Historiar estará voltada para a divulgação (online) dos resultados das pesquisas desenvolvidas por profissionais da História, dentro de suas atividades acadêmico-científicas.

Periodicidade semestral.

Acesso livre.

ISSN 2176-3267

Acessar resenhas

Acessar dossiês

Acessar sumários

Acessar arquivos