A historiografia em época de crise: 1750-1850 / História da Historiografia / 2010

A história da historiografia pós Giro Linguistico: para além da metáfora dos lugares

Independentemente das avaliações que possamos fazer das polêmicas produzidas pelo Giro Linguistico, a historiografia que hoje praticamos foi profundamente afetada por ele. Uma melhor compreensão dos aspectos não representacionais da linguagem revelou ao historiador uma nova extensão da realidade. A forma como lemos os textos transformouse, não estamos mais limitados aos seus conteúdos imediatos, aprendemos a perguntar por estruturas e fenômenos da linguagem, pela dimensão performativa dos discursos. Não apenas decifrar o sentido, mas descrever seus significados contextuais. A noção de contexto deixou de coincidir com o enquadramento dos objetos no estado-da-arte da história social; ele foi desnaturalizado, tornando-se um problema / objeto da pesquisa. No lugar do famigerado “contexto histórico”, aprendemos a desconstruir as imagens historiográficas e apontar novos problemas. Os diferentes campos da historiografia são afetados de modo distinto, mas na medida em que esse outro continente vai revelando sua extensão, os resultados dessas pesquisas afetam nossa compreensão da história.

A escrita da história deve ser estudada pelo uso de múltiplas ferramentas teórico-metodológicas. Durante muito tempo a metáfora do lugar pareceu dar conta dessas diferentes dimensões da escrita, mesmo que ela implicasse pontos cegos relevantes, como o da garantia epistemológica do lugar do qual se poderia analisar criticamente. A metáfora dos lugares parece ainda devedora da determinação externa da linguagem, sem permitir ver a própria linguagem como um lugar. Talvez pudéssemos substituí-la pela pergunta pelas situações ou modos de produção da historiografia, incluindo a linguagem em sua dimensão performativa. Não parece ser acidental que as principais fontes de inspiração para as novas agendas de pesquisa caminhem na direção de metáforas temporalizadas ou multidimensionais, tais como cronótopos, regimes, experiências, contextos, horizontes e expectativas. Leia Mais