Rememoración: entre agencia y actualidad del passado | História da Historiografia | 2022

Detalle del mural de artista Diego Rivera con el famoso eslogan de Emiliano Zapata Tierra y Libertad Imagem Wikipedia
Detalle del mural de artista Diego Rivera con el famoso eslogan de Emiliano Zapata: “Tierra y Libertad” | Imagem: Wikipedia

Durante los primeros años del siglo XXI, la opinión pública renovó las querellas provenientes de la filosofía de la historia y de los llamados estudios de la memoria. En el plano político, recientemente, una nueva versión del neoliberalismo —especialmente en América Latina— ha reformulado sus modos de lidiar con los sentidos históricos. Parece haber allí una invitación a la deshistorización del presente, mas que a prima facie se comprende como un dispositivo de un supuesto agenciamiento que impulsaría al sujeto a ser autosuficiente y a conseguir autónomamente sus objetivos. ¿Pero no estaría en la base de dicho empoderamiento el hecho de que aquello que los sujetos van a buscar libremente no es siempre nada muy distinto a lo que ya existe? ¿No daría esto lugar a una formulación hipócrita de usos del pasado, con sus correspondientes relatos, mitos políticos y hazañas de origen? En este contexto, ¿se alojaría el mito en un uso hipócrita del pasado o en la propia pretensión de Verdad? ¿Existiría, en todo caso, un “por fuera” del mito? ¿No estaremos atrapados en el círculo de lo mítico, en el que la fantasía mítica última consistiría, justamente, en pretender escapar de él? Nuevamente es la teoría de la historia la que viene a informar estos interrogantes. La tesis de que la historia no puede ser comprendida como continuum o como historia magistra vitae no ha perdido vigencia y, sin embargo, eso no entra en contradicción con la inapelable necesidad de los distintos sentidos históricos para la acción colectiva.

En este contexto y en la búsqueda de una actualización histórica, la estructuración de las dimensiones temporales se conjuga con lo social, dando lugar a conflictos teóricopolíticos. La intervención de usos del pasado, que disponen de vivencias y recuerdos colectivos, vuelve nuestro tiempo pretérito un campo de batalla. Así, los modos de construcción del conocimiento histórico se ubican en el centro de la escena, despertando disputas por el sentido del pasado y las formas de acceder a él. A su vez, las diversas interacciones entre historia y memoria y memoria y olvido estructuran tanto nuestro espacio de experiencias como nuestro horizonte de expectativas, forjando distintas perspectivas para el futuro y modos de narrar el pasado. Este dossier es un llamado a reflexionar nuevamente sobre los conceptos clásicos y reversionados de la filosofía de la historia, tales como rememoración, experiencia, aceleración, prognosis y estratos del tiempo, entre otros, a efectos de alumbrar la potencia contemporánea, la politicidad, la agencia y las posibilidades para la movilización que presenta la historia. Leia Mais

Rebeldia disciplinada? Introdução à ‘História como (in)disciplina’ | História da Historiografia | 2021

Clio Musa da Historia Johannes Moreelse2
“Clio – Musa da História” | Pintura de  Johannes Moreelse (antes de 1634)

À guisa de advertência

O dossiê que aqui apresentamos instaura, de imediato, uma situação curiosa, e não menos paradoxal: pretendemos trazer aos nossos leitores um panorama razoavelmente expressivo dos debates em torno da (in)disciplinarização da história, justamente em uma revista acadêmica, a qual integra sistemas de produção, avaliação e publicação altamente especializados e construídos dentro de uma lógica disciplinar que metrifica carreiras, desempenhos e programas de pós-graduação. Pode haver estranheza maior do que falar de indisciplina em um espaço tão profundamente disciplinado?

Talvez a resposta nos obrigue a considerar o peso que a cultura disciplinar ainda impõe sobre o trabalho intelectual especializado. História, Filosofia, Sociologia, Psicologia, Literatura, Antropologia, Economia, Geografia e outras designam “disciplinas” científicas. Platitude afirmá-lo, porém necessário. Há, pelo menos, dois modos elementares de compreender a gênese das disciplinas, sua sedimentação em domínios distintos circunscritos por fronteiras e as modalidades de intercâmbio entre elas – usualmente designadas de inter e/ou transdisciplinaridade. Leia Mais

História da Historiografia Medieval: Novas Abordagens / História da Historiografia / 2020

Decolonizar a historiografia medieval: Introdução à ‘História da Historiografia Medieval – Novas Abordagens’

“Entendemos por consciência histórica o privilégio do homem moderno de ter plena consciência da historicidade de todo presente e da relatividade de toda opinião.”

Hans-Georg Gadamer, 1963

“Há muito tempo acredito que as formas medievais e pós-modernas de consciência histórica são similares, de modo que a narrativa fundamental da ruptura modernista com o passado medieval encontra pouco crédito e que, em realidade, é o modernismo que representa o momento estranho da concepção ocidental de história”.

Gabrielle Spiegel, 2016

“Os passados subalternos são indicações dessa fronteira [temporal]. Com eles atingimos os limites do discurso da história. A razão de ser disto reside, como afirmei, no facto de os passados subalternos não fornecerem ao historiador um princípio de narração que possa ser racionalmente defendido na vida pública moderna”

Dipesh Chakrabarty, 2000

Nossa relação com o período medieval é ambígua. Por vezes, a Idade Média é negada, distante e estrangeira. Por outras, é muito próxima, senão presente, um passado vivo que nunca se furta aos mais criativos usos. Dentro dessa oscilação entre identidade e alteridade, nesse jogo entre a imagem de uma “origem” e o papel de um “outro ausente”, alguns desejam conhecê-la, outros querem sê-la (SPIEGEL 1997, p. 59; ANKERSMIT 2005, p. 327; CHAKRABARTY 2005, p. 227). O passado, afinal, não costuma aflorar sem a agência humana. Para tanto, é preciso que se organize, na esteira das políticas do tempo, toda uma série de “práticas de sincronização” (JORDHEIM 2014). As mais vulgares dessas práticas utilizam o procedimento clássico dos paralelos: vociferam Deus Vult e inundam a internet com releituras da “descoberta” do Brasil no âmbito de uma “Última Cruzada” (PACHÁ 2019; LANZIERI JÚNIOR 2019; COELHO; BELCHIOR 2020). As mais sofisticadas argumentam sobre a permanência de estruturas de longa duração, relegando-nos, ainda assim, à condição de débito eterno para com a Europa. Outras perspectivas abrem contra as primeiras um combate de morte, e em seu lugar performam os símbolos dos excluídos, das bruxas em luta e dos camponeses em jacquerie. Nelas, alegorias mobilizadas pelos feminismos decoloniais chegam a questionar as consequências políticas da própria sincronização (Cf. OLIVEIRA 2020). No centro dessas tensões, e tentando atravessar tais fenômenos como problemas históricos, estão os dois sentidos tradicionalmente atribuídos ao termo historiografia: o estudo da escrita da história pelos medievais, interessado pela pesquisa de um conjunto limitado de fontes narrativas que permitam a problematização de uma “operação historiográfica” êmica; e os estudos historiográficos que discutem modelos interpretativos, fazem análises de recepções, identificam apropriações, registram efeitos e simultaneidades entre tempos heterogêneos, chegando a denunciar usos e abusos ético-políticos que da Idade Média são feitos desde o mundo contemporâneo (GUENÉE 1980, p. 11-12). Em suma, continuamos a encontrar o presente no passado e o passado no presente. Leia Mais

O que faz da história algo pessoal? / História da Historiografia / 2019

The articles made available to the reader in this theme section of História da Historiografia constitute the second moment of our attempt to answer a question presented as a thematic symposium proposed and organized by Kalle Pihlainen at the IV Congreso Internacional de Filosofía de la Historia in Buenos Aires in November 2017: “What makes history personal?” While ensuing discussions have continued on several fronts, the authors who now publish here — with the exception of the organizers of this section — are not the same who presented in Buenos Aires two years ago. In the intervening time, and through our evolving discussion, we have seen that the question is amenable to a wide range of responses and attracts attention on diverse fronts.

Given the range and variety of potential, relevant opinions and proposals, we have not attempted to definitively systematize or answer the question here — as if that were conceivable in any such endeavor — but to leave it, instead, to be rehearsed, tested, and experimented on by each contributor in the ways they see best. With this, we intend our theme section to shed light on possible approaches to the question of the personal from theoretical viewpoints and concrete situations with distinct provenances. Leia Mais

Teoria da História e História da Historiografia na América Latina e no Caribe / História da Historiografia / 2018

La constitución de la historia como disciplina en América Latina y el Caribe durante los siglos XIX y XX coincidió con el proceso de emergencia y consolidación de los Estados nacionales a los que proveyó de relatos e interpretaciones sobre sus orígenes, su evolución, sus rasgos particulares y su identidad. De ese modo, las narrativas históricas tomaron a la nación como principal escala de análisis y, mucho más importante aún, como sujeto protagónico de los procesos históricos.

Hasta mediados del siglo XX, y aunque con importantes diferencias regionales, la historiografía de los países latinoamericanos se desarrolló en buena medida por fuera de los sistemas universitarios. Los historiadores eran en general políticos, funcionarios, escritores, médicos o abogados, que podían estar ligados o no a instituciones como las academias de historia, los institutos históricos o las sociedades de estudios históricos. Después de la Segunda Guerra Mundial, y sobre todo a partir de la década de 1960, las universidades comenzaron a concentrar la producción de conocimiento histórico. Tributaria de una tradición local de ensayismo crítico, y enriquecida por el contacto con la historia social marxista y annaliste -contacto que en parte se debió al exilio provocado por las dictaduras militares-, la historiografía latinoamericana fue entonces objeto de una notable renovación teórico-metodológica que promovió la incorporación de nuevos temas, problemas y abordajes. En ese sentido se destaca la consideración de América Latina y el Caribe como un espacio con una historia común que era pensada con categorías como dependencia, desarrollo, modernización o formación económico-social. Sin embargo, y a diferencia de lo sucedido con otras disciplinas como la filosofía, la sociología o la economía, esta caracterización no fue una condición suficiente para que la historiografía produjera interpretaciones y narraciones de conjunto capaces de trascender la suma de casos nacionales. Leia Mais

Historiadores e historiadoras, esses desconhecidos: Quem e como se escreve a História / História da Historiografia / 2016

Quem assistiu a Monty Python em busca do cálice sagrado (1975) talvez se lembre de que a certa altura do filme as hilárias desventuras do rei Arthur e seus Cavaleiros da Távola Redonda são interrompidas por uma claquete e o anúncio de uma voz em off: “História para a escola, tomada oito. Ação!”. Um homem já idoso, de terno, lenço, gravata borboleta e cabelos desgrenhados, põe-se a falar de imediato. Trata-se, diz a legenda, de “um famoso historiador”. Em pé diante de árvores e ruínas e olhando para a câmera, ele começa a explicar de modo didático como, após fracassar na tomada de um castelo controlado por franceses, Arthur mudara de estratégia para encontrar o Graal; inesperadamente, então, um cavaleiro medieval surge num rompante e o decapita com sua espada.

Se o insólito da situação provoca o riso no espectador, em nós, historiadores e historiadoras, ela não deixa de gerar também certo desconforto. Afinal, a ácida ironia dessa sequência de pouco mais de trinta segundos remete às convenções que caracterizam a nossa profissão, às representações sobre nossa figura e às relações entre presente e passado – sempre tensas, ainda que, para a nossa sorte, dificilmente um vulto de outros tempos esteja à nossa espreita em um arquivo ou em uma biblioteca. Em outras palavras, nós nos reconhecemos naquele desafortunado colega fictício, nós nos vemos, sem dificuldade, fazendo o mesmo que ele, quem sabe até com linguajar e trejeitos semelhantes. É como, enfim, se estivéssemos diante de um reflexo: um reflexo distorcido, é verdade, mas que ainda assim não deixa de refletir a nossa imagem. Leia Mais

A história e seus públicos. A circulação do conhecimento histórico: espaços, leitores e linguagens / História da Historiografia / 2016

 Desde hace mucho tiempo, los historiadores de la historiografía hemos estado atentos a los procesos de producción de conocimiento histórico, a las obras y a los historiadores cuyos aportes se consideraron más relevantes y a las instituciones, grupos y publicaciones que en cada momento fueron reconocidos como referentes de cambios significativos respecto del problema que se plantearon, del enfoque que le dieron a viejos o nuevos temas, de los métodos que utilizaron para abordarlos o de los cambios interpretativos que impulsaron. Hemos estado inclinados a destacar al mismo tiempo la novedad con el rigor de los cultores de un oficio que se ha renovado sin dejar de reconocer sus lazos de familia con antecedentes distantes en el tiempo.

Sin duda, estos temas seguirán estando en nuestra agenda. Sin embargo, el horizonte de cuestiones que orientan la reflexión actual en nuestro campo de estudios se ha ampliado notoriamente al incluir a los lectores, los contextos de lectura, sus gustos e intereses, los medios a través de los cuáles públicos amplios acceden al conocimiento histórico y a las fuentes de ese conocimiento. Nuevas preguntas surgen de dicha apertura: ¿Qué relación ha existido y existe entre el conocimiento del pasado y las diversas formas, espacios, medios y lenguajes a través de los cuales circula en la sociedad? ¿Cómo se difunde el conocimiento histórico en distintos espacios pero también en diferentes contextos sociales, culturales y temporales? ¿De qué manera se construye la imagen –verdadera o falsa- que vastos sectores sociales tienen de su pasado y qué consecuencias tiene para el futuro que se imponga alguna de ellas? Leia Mais

Historicidade e literatura / História da Historiografia / 2014

Este dossiê tem como objetivo pensar a historicidade a partir de sua complexa e por vezes conflitiva relação com a literatura. Com “literatura”, algumas vezes, os acadêmicos se referem a escritos literários geralmente ficcionais, como os romances, e centram suas análises na questão da demarcação entre a disciplina historiográfica e o trabalho criativo de escritores não constrangidos pelas fontes documentais nem pelo que realmente ocorreu. No contexto dessa discussão, surgem os sempre vigentes debates filosóficos em torno da possibilidade de conhecer o passado, da questão do ceticismo, do realismo, do relativismo histórico e, é claro, da relação entre história e ciência. Todas essas questões conformam um corpus de problemas subsumidos sob a denominação filosofia crítica da história, criada para distingui- -la da filosofia substantiva da história. Esta última, também denominada filosofia especulativa da história, busca desvelar o sentido ou finalidade do devir humano, lendo no teatro de horrores que a humanidade atravessou e atravessa a presença de etapas no caminho progressivo até a realização de uma sociedade moralmente melhor. Os historiadores acadêmicos e os filósofos críticos da história têm se afastado da especulação sobre o sentido da marcha da história, mas por diferentes razões pelas quais se distinguiram da literatura. A diferença entre as referidas áreas de conhecimento e a literatura residia no propósito de contar ou não o que realmente havia acontecido e na necessidade ou não de constrangimento em vista das evidências. Por sua vez, o rechaço da filosofia substantiva da história adveio de sua pretensão de referir-se ao passado em si para emitir juízos avaliadores acerca do futuro sem ater-se às fontes documentais. A filosofia especulativa, a bem da verdade, aproximava-se mais da literatura que a investigação científica, ainda que de maneira não intencional. Leia Mais

A história em questão: diálogos com a obra de Manoel Luiz Salgado Guimarães / História da Historiografia / 2013

O tempo entre o sopro e o apagar da vela

Paulo Leminski (1976, p. 23).

Which is to say, I guess, that in the end I come back to Aristotle’s insight

that history without poetry is inert, just as poetry without history is vapid

Hayden White (2010, p. XI).

Aquele “probleminha” que Aristóteles causou a alguns historiadores durante muito tempo em decorrência do que escreveu no capítulo IX de a Poética – a ideia de que a poesia era superior à história por tratar do geral enquanto a história tratava apenas do singular – não afetava muito nosso Manoel. Até onde sabemos nunca perdeu o sono por causa disso. Ao contrário, seus escritos e aulas revelavam um professor e pesquisador aberto às formas eruditas de existência, nas quais os gêneros ficcionais e a história conviviam, como se não tivessem sido afetadas pelo anátema aristotélico, muito menos pelo estatuto cientifico da história adquirido no século XIX.

Manoel Luiz Lima Salgado Guimarães (1952-2010) foi um exemplo de incentivo à diferença, respeito à pluralidade temática e à tolerância teórica. De muitos foi professor, e de muitos se tornou amigo. Daqueles com os quais podíamos contar. Desde o empréstimo de um livro difícil de se conseguir na biblioteca até o conselho solidário e maduro. Manoel foi um parceiro intelectual de primeira hora. Acima de tudo um acadêmico rigoroso, que acreditava na pesquisa e em certa capacidade regenerativa do conhecimento histórico. Expliquemos: Manoel acreditava que a história poderia ser útil para alguma coisa: para a crítica constante de sua própria evidência; e para a vida! Leia Mais

Teoria da história da historiografia / História da Historiografia / 2013

Dificilmente alguém questionaria que a história da historiografia é uma especialidade recente. Podemos dizer que o amadurecimento e a famosa “consolidação” institucional virão com o tempo.

Mas se a tal consolidação significar encastelamento, se se confundir com procedimentos viciados, leituras requentadas, diálogos entre poucos iniciados e tudo o mais que seja sinônimo de incapacidade de enxergar a historiografia de outra forma – bom, este futuro deverá ser evitado e será melhor manter-se cambaleando. Leia Mais

Os cursos de história: lugares, práticas e produções / História da Historiografia / 2013

No final de 2012, a aprovação pelo Senado Federal do Projeto de Lei 368 / 09 que regulamenta a profissão de historiador no Brasil produziu um curioso movimento. Por um lado, o reconhecimento e a regulamentação do trabalho que nós, historiadores, realizamos foram celebrados pela nossa categoria, que, vale lembrar, os reivindicava havia décadas; por outro, foram também alvo de críticas diversas, cujo tom geral era o da “preocupação” com as implicações do “monopólio” e do “controle” que supostamente passaremos a exercer sobre o passado a partir de agora.

Embora tais críticas, veiculadas mídia afora, não tenham ficado sem resposta, como sabemos (e decerto por isso diminuíram em volume e intensidade, o que não significa que os críticos estejam convencidos…), nós as retomamos aqui por nelas perceber algo de muito significativo para iluminar o presente dossiê. Centradas na atuação do historiador, deixaram em segundo plano, senão simplesmente ignoraram, aquilo que a antecede e lhe dá sentido: a formação do historiador, como se esta fosse inata, pautada apenas pelo “gosto pelo passado” ou, ainda, redutível ao “acúmulo de conhecimentos históricos”, como sugeriu na Folha de São Paulo o colunista Fernando Rodrigues, infelizmente sem explicitar o que isso significa. Leia Mais

Diálogos Historiográficos: Brasil e Portugal / História da Historiografia / 2012

No lançamento deste dossiê formulou-se um convite à reflexão sobre problemas, debates e formas de abordagem que de um modo ou de outro vêm caracterizando as historiografias portuguesa e brasileira desde meados do século XIX.

Os sócios fundadores do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro viveram o duplo dilema de construir uma historiografia de cariz “nacional”, tendo por base um legado que se queria sobretudo “português” e um conjunto de fontes relativamente escassas, desorganizadas ou muito distantes. Vários esforços se empreenderam para ultrapassar esses obstáculos. E as sucessivas missões brasileiras a Portugal, inauguradas por Francisco Adolpho de Varnhagen, foram certamente de uma enorme importância. Ainda assim, oitenta anos mais tarde Caspistrano de Abreu confessava por carta ao seu amigo João Lúcio de Azevedo que, tanto pela dificuldade de acesso aos documentos, como pela falta de uma genuína tradição arquivística, a história do Brasil parecia ser “uma casa edificada na areia”. Leia Mais

História e biografia: aproximações, desafios e implicações teóricas no campo historiográfico / História da Historiografia / 2012

“A distinção entre biografia e história é tão antiga quanto a historiografia grega”. A frase sintetiza o estudo célebre em que Arnaldo Momigliano (1971) demonstra como tal diferenciação originária, ao contrário de interditar, possibilitou as relações de proximidade e / ou de distanciamento entre ambas. Na conformação da história e da biografia como gêneros discursivos, entre a Antiguidade clássica e a atualidade, tal distinção tornou-se uma de suas decorrências, carreando consigo debates e tensões acerca de suas idiossincrasias e interseções.

Se, por um lado, a biografia por vezes carregou o estigma – ou, quem sabe, a virtude – de se apresentar como uma narrativa híbrida ou “bastarda”, como ponderou Virgínia Woolf e outros que apostaram no valor cognitivo de narrativas vivenciais, no alvorecer do século XX; por outro, como sabemos, a história não perdurou como modalidade discursiva “pura” e inalterável, desde que começou a ser escrita entre os antigos. Leia Mais

Historiografia na América Espanhola / História da Historiografia / 2011

O dossiê Historiografia na América Espanhola pretende diminuir a distância entre os pesquisadores de história da América brasileiros e as áreas dedicadas aos estudos historiográficos no país. Esta distância já vem sendo superada em alguns países americanos de fala espanhola, com destaque para a Argentina e o México, onde os estudos de historiografia e cultura histórica hispano- -americanas ganharam grande desenvolvimento nas últimas décadas graças aos trabalhos de Elias José Palti, Enrique Florescano, Fabio Wasserman, Natalio Botana, entre muitos outros. No Brasil ainda precisamos investir bastante na consolidação dessa área de pesquisa. Estudos comparativos entre a historiografia brasileira e a hispano-americana ainda são raros. Ainda mais incomuns são as aproximações destas com a produção norte-americana. No entanto, acreditamos que tal diálogo traria novas e interessantes perspectivas sobre a própria historiografia brasileira, vista agora no quadro de um contexto continental que enfrenta muitas questões e dilemas em comum. Os trabalhos aqui reunidos são um passo para essa aproximação, trazendo para um periódico não especializado em história da América um conjunto de problemáticas que vem sendo discutido nos países hispano-americanos.

Em entrevista concedida durante uma passagem pelo Brasil, o historiador equatoriano Jorge Cañizares-Esguerra, que vem se destacando nos últimos anos com um erudito e original conjunto de trabalhos sobre a história cultural da América Colonial, fala sobre uma série de possibilidades de redefinição de nossa compreensão da experiência colonial hispano-americana e propõe alternativas para estudos comparativos com a da América do Norte, como o realizado por ele no livro Puritan conquistadors. Cañizares-Esguerra defende, entre outras sugestões, a necessidade de repensar certas visões da história latino-americana que oscilam entre o quase exclusivamente trágico e o folclórico, visões que marcaram muito a visão dos públicos norte-americano e europeu sobre o continente. No mesmo sentido, questiona a oposição centro-periferia, defendendo a originalidade da produção intelectual hispano-americana do período colonial, como no caso dos debates sobre a escrita da história no século XVIII, estudadas no seu livro How to write the history of the New World. Leia Mais

Historiografia alemã: abordagens e desenvolvimentos / História da Historiografia / 2011

Entre nós, e, arriscaríamos dizê-lo, mesmo em outros países, o estudo da historiografia alemã precisa superar o mesmo obstáculo do estudo da história da Alemanha: ser refém de clichês e imagens fortes. De um lado, a imagem de Adolf Hitler simplifica e divide a compreensão de um acidentado processo. Na formação básica do estudante, a palavra Alemanha só é mencionada ao se falar de fascismo e, quando muito, de formação (tardia) de Estado nacional. Liga-se, portanto, a uma visão ainda por demais presa à história política. Do outro lado, temos Leopold von Ranke, sério candidato a historiador mais ofendido e menos compreendido da era moderna. Felizmente, aqueles que optam por irem além da superfície da discussão historiográfica já sabem do óbvio: faz mais sentido falar em Ranke como “historicista” do que como um “positivista”.

O propósito deste dossiê, oferecido ao leitor de “História da Historiografia”, é aprofundar a discussão sobre a historiografia alemã dos séculos XIX e XX. Aprofundar significa torná-la mais complexa, mesmo que isto implique em torna-la também mais lacunar, episódica e menos redutível a um sentido consagrado. Leia Mais

A história da historiografia e os estudos clássicos / História da Historiografia / 2010

O dossiê intitulado “A história da historiografia e os estudos clássicos” congrega seis artigos de pesquisadores que têm se debruçado sobre a escrita da História na Antiguidade Clássica, em seus mais diversos temas e formas. Em todos, é perceptível como nossos paradigmas atuais de investigação têm orientado nossos olhares em direção a um passado que, por vezes, parece tão distante no tempo e no espaço, mas que de nós se aproxima pelas temáticas abordadas, pelos conceitos utilizados e pelo modo como os documentos, com as mais variadas naturezas e apresentados nos mais diversos suportes, têm sido relidos de forma crítica.

No artigo dos professores Pedro Paulo Abreu Funari e José Geraldo Costa Grillo (Unicamp), tem-se um painel de como a historiografia acerca das atividades bélicas na Grécia Antiga se alterou ao longo do tempo, por meio da passagem de um modelo narrativo baseado nos relatos de batalhas para uma abordagem histórico-cultural. A guerra deixou de ser vista apenas como negócio de Estados e passou a ser encarada como uma prática cultural, plena de símbolos e insígnias, pela análise de documentos textuais e arqueológicos, resgatados da cultura material do povo grego antigo. Leia Mais

A historiografia em época de crise: 1750-1850 / História da Historiografia / 2010

A história da historiografia pós Giro Linguistico: para além da metáfora dos lugares

Independentemente das avaliações que possamos fazer das polêmicas produzidas pelo Giro Linguistico, a historiografia que hoje praticamos foi profundamente afetada por ele. Uma melhor compreensão dos aspectos não representacionais da linguagem revelou ao historiador uma nova extensão da realidade. A forma como lemos os textos transformouse, não estamos mais limitados aos seus conteúdos imediatos, aprendemos a perguntar por estruturas e fenômenos da linguagem, pela dimensão performativa dos discursos. Não apenas decifrar o sentido, mas descrever seus significados contextuais. A noção de contexto deixou de coincidir com o enquadramento dos objetos no estado-da-arte da história social; ele foi desnaturalizado, tornando-se um problema / objeto da pesquisa. No lugar do famigerado “contexto histórico”, aprendemos a desconstruir as imagens historiográficas e apontar novos problemas. Os diferentes campos da historiografia são afetados de modo distinto, mas na medida em que esse outro continente vai revelando sua extensão, os resultados dessas pesquisas afetam nossa compreensão da história.

A escrita da história deve ser estudada pelo uso de múltiplas ferramentas teórico-metodológicas. Durante muito tempo a metáfora do lugar pareceu dar conta dessas diferentes dimensões da escrita, mesmo que ela implicasse pontos cegos relevantes, como o da garantia epistemológica do lugar do qual se poderia analisar criticamente. A metáfora dos lugares parece ainda devedora da determinação externa da linguagem, sem permitir ver a própria linguagem como um lugar. Talvez pudéssemos substituí-la pela pergunta pelas situações ou modos de produção da historiografia, incluindo a linguagem em sua dimensão performativa. Não parece ser acidental que as principais fontes de inspiração para as novas agendas de pesquisa caminhem na direção de metáforas temporalizadas ou multidimensionais, tais como cronótopos, regimes, experiências, contextos, horizontes e expectativas. Leia Mais

Da Monarquia à República: questões sobre a escrita da história / História da Historiografia / 2009

A passagem é conhecida: “a pesquisa histórica no Brasil nasceu com a fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro”. José Honório Rodrigues, o autor dessas palavras, utilizou-a para introduzir a segunda parte de seu livro publicado originalmente em 1952, tendo por título A pesquisa histórica no Brasil. Sua evolução e problemas atuais. O ano de 1838, data da fundação do IHGB, assim como a obra principal de Francisco Adolfo de Varnhagen, História geral do Brasil (1854-57), aparecem recorrentemente como marcos constituintes do saber histórico brasileiro. O fato é plenamente compreensível e proveitoso pelo volume de conhecimento sobre o tema produzido. Mas por conta disso, é possível notar uma relativa disparidade na quantidade de estudos dedicados, de um lado, a investigar o cânone, seja para reafirmá-lo, seja para desmistificá-lo, e de outro, os estudos ocupados com momentos distintos mas igualmente importantes: em uma ponta, a historiografia “brasílica” do século XVIII e aquela produzida no contexto conturbado e rico da independência política; na outra, a historiografia de fins do regime monárquico e primeiros passos da república instaurada no país (ainda que haja ali uma vasta produção nos campos da história literária e do pensamento social brasileiro).

Na última década, contudo, notou-se uma considerável amplitude, tanto quantitativa como qualitativamente falando, das pesquisas que tematizavam as “margens”, por assim dizer, da historiografia imperial. Quer seja pela publicação de livros e artigos, quer seja pela elaboração de dissertações e teses que, mesmo com as dificuldades próprias do formato, acabam por circular entre os pesquisadores, os momentos à montante e à jusante do “núcleo” da historiografia oitocentista vêm sendo problematizados de forma persistente e revigorada, por conta das novas possibilidades de pesquisa que se abrem com a sistematização de outros corpus documentais e também com as mudanças de perspectiva que abordagens variadas têm permitido. Leia Mais

História da Historiografia | UFOP | 2008

Historia da Historiografia1 2

Mais uma revista acadêmica. Com a explosão do espaço virtual, não há como ignorar o resmungo de um leitor que constate, com o nascimento de mais uma publicação, o crescimento desmesurado do número de textos para conhecer e informações para assimilar. Portanto, considerando que a multiplicação de artigos científicos parece, em algumas ocasiões, uma perigosa metástase, há uma necessidade de se apresentar ao público, cuja atenção precisa ser valorizada.

Pensamos que parte da sensação de cansaço deve-se a uma evidência na realidade acadêmica brasileira: as revistas estão, em geral, atadas aos programas de pós-graduação; e os programas se estruturam em linhas de pesquisa que precisam ter sua produção contemplada. É justo e prático que assim seja, claro. Há, porém, um preço: a indefinição dos perfis e a dispersão da produção acadêmica. Para o pesquisador especializado – por vezes precocemente especializado – é extremamente difícil encontrar uma referência que lhe permita rastrear e colher os textos de sua bibliografia, sobretudo, aquela produzida no Brasil. É comum termos um interlocutor em nossa língua, quando nos imaginamos isolados em uma área de pesquisa ainda não consolidada.

A proposta de História da Historiografia (Ouro Preto, 2008-), portanto, não consiste em dispersar e fragmentar ainda mais a produção acadêmica, mas em oferecer um espaço de convergência da produção crescente, em volume e qualidade, no campo da teoria e história da historiografia – por isso a vocação interinstitucional da revista. Afinal, foi em uma série de encontros, ocorridos ao longo dos anos e em diferentes cidades do Brasil, que se percebeu que o olhar reflexivo sobre a Historiografia não é tão insólito quanto se poderia imaginar. Claro: esta atividade reflexiva se expressa de várias maneiras, seja por meio da filosofia da história mais tradicional, seja pelo que dela mais se espera, ou seja, ponderações epistemológicas sobre o ofício do historiador e sobre os diferentes modos de se escrever história ao longo do tempo, no Brasil e no Ocidente como um todo.

Afinal, da mesma maneira que criticaríamos uma formação musical que desprezasse Bach e Villa-Lobos, ou o escritor que desconhecesse Machado de Assis e Cervantes, os historiadores procuram cada vez mais perceber a importância da leitura aberta dos clássicos, além de compreender as transformações sofridas por seu ofício. Não se fará aqui uma história canônica. Os trabalhos que o leitor encontrará são tentativas de relembrar e elaborar as diferentes motivações que levaram os seres humanos a pensar e representar suas vidas historicamente. A História da Historiografia aqui debatida ultrapassa – embora não exclua – o debate historiográfico indispensável na discussão especializada e nos projetos de pesquisa; ela procurará, destarte, explorar a riqueza desse campo de pesquisa particular sem isolá-lo do conjunto maior do qual faz parte.

Periodicidade quadrimestral.

Acesso livre.

ISSN 1983-9928

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