100 anos de República / Varia História / 1990

As datas históricas têm sido, às vezes, motivo de grandes comemorações por pa1e de governos ou de órgãos oficiais, sempre interessados em enaltecer este ou aquele feito de figuras destacadas de nossa História. Mas, em geral, nada se aproveita depois dessas comemorações, uma vez que os promotores das festividades preocupam- se, muito mais, com sua própria promoção pessoal do que com uma reflexão crítica a respeito do evento. Isto aconteceu, por exemplo com o bi- centenário da Inconfidência Mineira, onde, além de tudo, foram poucas ou quase nenhuma as comemorações por parte dos Governos Federal e Estadual. A mesma coisa pode ser dita a respeito da abolição da escravatura no Brasil. A não ser algumas festas folclóricas com muita capoeira, samba e axé, praticamente nada se fez para discutir a questão do negro na sociedade brasileira. E tem sido assim com quase todos os fatos históricos de grande relevância.

Os Cem Anos de República no Brasil não poderiam ser diferentes. Os governos, praticamente, nada fizeram. Não houve preocupação em financiar pesquisas ou trabalhos que pudessem contribuir com um conhecimento mais crítico deste nosso tão conturbado e tão longo período histórico. Mas, quem melhor soube falar sobre esta falta de visão crítica a respeito de nossa História é aquele que se insere entre os maiores nomes, se não o maior de todos, dentre os atuais historiadores brasileiros: o Professor Francisco lglésias. Em artigo publicado no jornal “O Estado de Minas”, de 16 / 08 / 89, onde comenta o livro de Carlos Guilherme Mota sobre a Revolução Francesa, ele diz: ·o bicentenário da Revolução Francesa provocou e provoca ainda centenas de livros na França: o importante é que eles são escritos em perspectiva crítica, única forma válida de comemoração de datas. Talvez haja mais volumes de contestação do movimento que de celebração – prova de maturidade nacional, de povo que não cede jamais na análise crítica, como estabeleceu no século XVII o filósofo Descartes – um dos símbolos da nacionalidade -, com a dúvida metódica. Só assim se justifica a história comemorativa, sem descambar para o badalativo, como se dá no Brasil, sempre evocando o passado em suas datas com reverência ingênua, júbilos às vezes indevidos. Entre nós, as de Minas ou do Brasil – autoridades só se lembram da História nos feriados, para louvores, em perspectiva não só ideológica como redutora de figuras ou fatos a seus interesses Foge-se da História como estudo para usá-la na defesa de situações presentes, como se viu nas poucas festas oficiais referentes à Inconfidência Mineira e decerto se verá nas referentes à República. Falta aos atuais dirigentes – autoridade para falar em tais eventos, que eles negam na prática, em geral até traindo-os”.

Pensando assim, como o Professor lglésias, é que um grupo de Professores dos Departamentos de História e Ciência Política, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, decidiu promover um Seminário de caráter nacional para discutir e tecer considerações críticas a respeito dos cem anos de República já vividos pelo Brasil. Para a realização deste evento os dois Departamentos envolvidos fizeram uma Comissão composta pelos Professores Leônidas Prates Lafetá e Domingos Antônio Giroletti (do Departamento de Ciência Política) e Evantina P. Vieira e Douglas Cole Libby (do Departamento de História) além da funcionária Marlene de Fátima Maciel como Secretária.

O programa desenvolvido durante o Seminário teve como preocupação fundamental uma diversificação de temas. Não se pretendia ficar discutindo somente as causas ou fatores históricos que levaram à Proclamação da República no Brasil. Assim pensando, foi desenvolvido uma temática abrangente o suficiente que permitisse o convite de Professores com preocupações as mais variadas de forma a dar ao seminário e, sobretudo aos seus participantes, uma oportunidade para uma reflexão bastante crítica de todo este período histórico. O programa ficou organizado da seguinte forma:

A Abertura do Seminário 100 ANOS DE REPÚBLICA NO BRASIL foi feita de maneira solene, tendo o Professor Paulo Roberto Saturnino Figueiredo, Diretor da FAFICH, presidido a primeira sessão onde o Professor Fábio Wanderley Reis proferiu a conferência sobre AUTORITARISMO E REPÚBLICA, (dia 21 / 11); no dia seguinte, na parte da manhã, o Professor Michael Hall, da UNICAMP discorreu sobre O SINDICATO NA REPÚBLICA BRASILEIRA e teve como debatedores os Professores Michel Marie le Ven (do Departamento de Ciência Política) e Eliana Regina F. Dutra (do Departamento de História). Na parte da tarde foi a vez da Professora Maria Célia Paoli, da USP, falar sobre MOVIMENTOS SOCIAIS NA REPÚBLICA e que teve como debatedores os Professores Malori José Pompermayer (do DCP), Maria Elisa P. Unhares e Maria Auxiliadora Faria (ambas do OH); no dia 23, à tarde, o Professor Ademir Gebara, da UNICAMP, falou sobre RESQUÍCIOS ESCRAVISTAS: A TRANSIÇÃO DO REGIME DE TRABALHO NA REPÚBLICA, tendo como debatedores os Professores Douglas C. Libby e Evantina Pereira Vieira (do OH) e Vera Alice Cardoso Silva (do DCP); na manhã do dia seguinte, 24, o Professor Renato Boschi, do IUPERJ, discorreu sobre o tema REPÚBLICA NO BRASIL: MODELO PLURALISTA, MODELO CORPORATIVISTA e teve como debatedoras as Professoras Mônica Mata Machado Castro (do DCP) e Lucília de Almeida Neves Delgado (do OH); na tarde deste mesmo dia o Seminário foi encerrado com uma brilhante conferência do Professor Francisco lglésias sobre 100 ANOS DE REPÚBLICA NO BRASIL: UMA AVALIAÇÃO. Nesta, como nas outras conferências, o público pôde debater com os Professores convidados.

Alguns dos conferencistas do Seminário deixaram textos escritos para publicação neste número especial e conjunto da REVISTA DE HISTÓRIA e dos CADERNOS DO DCP. Outros artigos foram gentilmente cedidos por Professores da FAFICH para compor este número especial que, além de celebrar o centenário da República no Brasil, é, também, um evento comemorativo dos 50 anos de fundação da FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DA UFMG.

Não seria justo, da parte dos membros da Comissão Organizadora do Seminário, esquecer de pessoas e órgãos que contribuíram de maneira definitiva para o brilho dessa organização. Assim sendo, gostaríamos de deixar os nossos agradecimentos em primeiro lugar aos professores e alunos que tiveram uma participação direta no evento seja como conferencistas, seja como debatedores. Em seguida, gostaríamos de enfatizar nossos agradecimentos ao Exmo. Sr. Ministro da Cultura, Dr. José Aparecido de Oliveira, que aprovou e determinou a liberação de recursos financeiros para a realização do Seminário, através do Instituto de Promoção Cultural que teve, na pessoa de seu Diretor Executivo, Dr. José Carlos da Costa Oliveira, um grande aliado para a realização deste evento; à Pró- Reitoria de Extensão da UFMG, que administrou os recursos ao Professor Paulo Roberto Saturnino Figueiredo, Diretor da FAFICH, que colocou toda a infra-estrutura da Faculdade à disposição do Seminário, possibilitando, assim, um bom andamento dos trabalhos; à professora Rúbia Roberta Rodrigues do Departamento de Comunicação Social e Coordenadora do Setor de Criação Gráfica do Centro Audiovisual da UFMG, pelo belíssimo trabalho na criação do cartaz que divulgou o Seminário; e, finalmente, ao CNPq, cujos recursos financeiros permitiram a publicação deste número especial dos CADERNOS DO DCP e da REVISTA DO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA.

Belo Horizonte, novembro de 1989.

Leônidas Prates Lafetá – Professor


LAFETÁ, Leônidas Prates. Apresentação. Varia História, Belo Horizonte, v.6, n.10, nov., 1990. Acessar publicação original [DR]

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