História, Matemática e Educação / HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática / 2018

Mediante a reunião de um coletivo de artigos produzidos por pesquisadores ativos em instituições de ensino superior que abrangem todas as regiões do País, trazemos no presente Número Temático da HISTEMAT uma amostra, a qual consideramos representativa de resultados de investigações na confluência de relações entre História, Matemática e Educação. Concordamos com Antonio Vicente Garnica, em artigo nesse número, quando este afirma que “[…] todo conhecimento é fruto de elaborações coletivas”. A partir de novos olhares, focos e temáticas diferenciadas, os autores refletem e exemplificam pesquisas realizadas tomando como fontes livros didáticos, fotografias, documentos manuscritos, a História Oral, trazendo a História da Matemática para a sala de aula, entre outros. Ubiratan D’Ambrosio relata que a partir de suas experiências internacionais, em 1976, teve a “[…] oportunidade para refletir sobre uma visão global, multicultural e multidisciplinar sobre a História da Matemática” e, assim, oportuniza com seu artigo intitulado O ensino da matemática elementar no Brasil que tomemos contato com as suas ideias daquela época. Andreia Dalcin com seu trabalho intitulado Fotografia, História e Educação Matemática: apontamentos para pesquisas sobre a cultura escolar aponta potencialidades do uso de fotografias como fontes na História da Educação Matemática. Ela aponta para a existência de variedade de possibilidades metodológicas: “[…] cabendo ao pesquisador decidir aquele que melhor atende a problemática da pesquisa e a sua sensibilidade”. Antonio Garnica em seu artigo intitulado Quase Memória: redizeres sobre a relação entre História e Educação Matemática afirma: “Eu penso que mais importante que as pesquisas que nós realizamos é o modo como essas pesquisas, ao serem realizadas têm ou não nos ajudado a formar professores”. Bruno Dassie, em seu artigo intitulado Analisar livros didáticos: trajetos e caminhos percorridos, objetiva mostrar percursos trilhados e interpretações nessas investigações. Ele enfatiza que “A constituição de acervos de livros didáticos, físicos ou digitais, ampliam a base documental para futuras pesquisas, bem como favorecem análises diversificadas”. O artigo de Claudia Lorenzoni em parceria com Ligia Sad intitulado História da Matemática e o “fazer matemática” na educação básica relata experiências de um fazer matemática na educação básica visando tornar professor e estudantes sujeitos atuantes da construção de conhecimento. Elas concluem: “Essa pode ser uma das grandes contribuições da História da Matemática na educação escolar […]”. Com o título As muitas mãos na escrita da História: a trajetória de um manual de Desenho do século XIX por meio de documentos manuscritos, Flávia Soares chama a atenção para a importância das fontes manuscritas na compreensão da educação no século XIX, no Brasil. Ela conclui que: “Embora esses documentos manuscritos necessitem de árduo trabalho de transcrição, que exige conhecimentos mínimos de paleografia, põe-se também o desafio de decodificar sua escrita, entendendo-a em seu contexto de criação, seus objetivos, suas tensões e suas intenções, tentando não estabelecer verdades definitivas, mas apenas parciais da história”. Maria Laura Magalhães no artigo nomeado Professoras que ensinaram matemática: memórias de Maria da Glória, Botyra e Felicidade conclui dizendo que “Focalizamos, nas memórias das professoras, outros componentes importantes de sua trajetória profissional: os papéis simultâneos de mãe e mestra, sua atuação além da docência nas comunidades em que trabalharam e o papel da religião católica”. O artigo de Michael Otte em pareceria com Luiz Barros intitulado Philosophy, Mathematics and Education analisa as relações entre História e Educação Matemática a partir de reflexões com apoio na Filosofia. Fazem uma crítica a Matemática Moderna dizendo que tanto ela quanto a lógica não produzem novas verdades na matemática. Concordando com Renê Thom, afirmam que nem a teoria abstrata dos conjuntos nem o estruturalismo de Bourbaki ou Piaget são adequados para introduzir a Matemática Moderna na escola. Concluem dizendo que “Perhaps more than any other practice, mathematical practice requires a complementarist approach, if its dynamics and meaning are to be properly understood”. No artigo intitulado Caracterização de saberes profissionais da Matematica para ensinar nos anos primeiros anos escolares: anotações metodológicas de Neuza Pinto em parceria com Bárbara Moraes, as autoras contribuem para uma discussão sobre aspectos teóricos das investigações em História da Matemática. Elas afirmam que: “Recorrendo à base teórica da sócio-história, o estudo conclui que os aspectos teórico-metodológicos problematizados apontam para a eficácia da parceria da história com a sociologia quando se trata de desnaturalizar conceitos arraigados nos modos de compreender a natureza dos saberes profissionais dos professores”. Rosilene Machado e Cláudia Regina Flores escrevem o artigo com o título: Da emergência do desenho como disciplina escolar: o território das artes como lugar de parada. Com ele, elas objetivam analisar como práticas de desenhar integraram o rol de conteúdos da disciplina de desenho na escola básica. A exclusão da disciplina de desenho é analisado pelas autoras e elas concluem: “[…] parece evidente que algumas disciplinas tivessem que ser substituídas; nessa ‘dança de cadeiras’, perderam aquelas cuja função de fabricação de corpos dóceis era mais intensa (tal como o desenho); ganharam, claramente, aquelas que se prestaram melhor à produção de corpos flexíveis. Trocou-se, assim, a ‘rigidez’ das réguas, esquadros e compassos pelo dinamismo dos programas computacionais…”. Os números decimais expostos no La Disme: atividades matemáticas como práticas sociais de autoria de Rosineide Jucá e Pedro Sá traz uma análise sócio histórica de um documento do século XVI. Os autores concluem que: “Ao analisar a obra La Disme (1585) de Stevin percebemos a importância da criação dos decimais para as práticas sociais da época”. Finalmente, Waléria Soares, em seu artigo intitulado Pesquisa documental sobre história da matemática escolar: um caminho a ser percorrido, reflete sobre o percurso metodológico de sua pesquisa de doutorado que tratou de construir uma história sobre a matemática escolar na cidade de São Luís, durante o século XIX. Ela afirma: “[…] não é justo olhar o passado com os olhos do presente; a escola é um lugar de produção de conhecimentos matemáticos; a matemática escolar se materializa também a partir do livro didático; por trás de todo livro didático existe uma voz que convém ser ouvida; o livro didático anseia por um espaço em uma instituição; e, ainda, quando uma pesquisa se ancora na Nova História Cultural”.

Boa leitura!

Circe Mary Silva da Silva (Editora convidada)


SILVA, Circe Mary Silva da. Apresentação. HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática. São Paulo, v.4, n.1, 2018. Acessar publicação original [DR]

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