História do marxismo no Brasil | História & Luta de Classes | 2021

A corrente de ação e pensamento tributária à longa trajetória política e intelectual de Karl Marx e Friedrich Engels, desenvolvida por uma miríade de revolucionárias e revolucionários sob a sua inspiração, incorporada em diferentes organizações e reverberando em teorizações nos mais distintos campos, tem como uma de suas marcas a ampla difusão global. A circulação do marxismo acompanhou o próprio espraiar da sociedade burguesa: ao invadir todos os espaços do globo, não apenas a burguesia cria um mundo à sua imagem e semelhança, mas também desenvolve “um intercâmbio universal e uma universal interdependência das nações. E isso se refere tanto à produção material como à produção intelectual. As criações intelectuais de uma nação tornam-se patrimônio comum”1. Neste sentido, não é de estranhar que a ampliação das comunicações e migrações para a América tenha sido acompanhada de uma série de ideias radicais críticas que, enraizando-se no solo local, inspiraram a classe trabalhadora a não apenas pensar a sua inserção e situação em um mundo cada vez mais integrado pelo capital, mas também propor como superá-las.

Objeto assim longevo, a história do marxismo no Brasil não é tema novo na historiografia nacional. Esforços para a sua elaboração remontam às iniciativas de militantes diretamente envolvidos na formação da própria tradição marxista brasileira. É o caso de Astrojildo Pereira, um dos fundadores do PCB em 1922, que décadas após, já um experimentado quadro, narraria a trajetória da imprensa operária nos primeiros anos do século2. Discutir imprensa política é discutir esforço de organização a partir da circulação de ideias e da iniciativa de agitação e propaganda. É evidenciar como se trata de dar carne a um corpo de ideias, ou seja, tratar da própria constituição de um marxismo no Brasil e brasileiro. Leia Mais

E. P. Thompson | Mundos do Trabalho | 2013

Em 2013, dezenas de eventos acadêmicos e publicações ao redor do mundo registraram os 50 anos da publicação do livro A formação da classe operária inglesa e os 20 anos da morte de seu autor, o historiador inglês Edward Palmer Thompson. Homenagens que revelaram a amplitude verdadeiramente global da repercussão da obra thompsoniana. Algo que não deixa de ser curioso, visto que uma das características mais marcantes do seu trabalho como historiador tenha sido sua preocupação com o estudo das particularidades de cada contexto histórico, o que o fez circunscrever suas obras de análise histórica ao estudo de uma formação social específica e “peculiar”, a Inglesa. Por certo que a história da Inglaterra, primeira grande potência imperialista do mundo capitalista industrial, afetava e era afetada pela presença global do Império Britânico, o que poderia explicar porque a história das lutas sociais na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, estudadas por Thompson, interessaram a tanta gente. Além disso, como aquela foi a primeira sociedade a experimentar a formação de uma classe trabalhadora assalariada em sua forma contemporânea, talvez muitos dos leitores de Thompson levassem a sério a proposta internacionalista, explicitamente comprometida com o presente e o futuro, que ele apresentou no prefácio de A formação, quando escreveu que “causas que foram perdidas na Inglaterra poderiam ser ganhas na África e na Ásia”.1 Leia Mais