Mulheres e criações artísticas na História: tramas e poderes / Dimensões / 2020

A historiadora da arte Gisela Breitling escreveu em capítulo publicado na coletânea Estéticas Feministas a seguinte frase: “De repente, me dei conta de que era sobretudo um problema de linguagem, de falar ou de sufocar, de um discurso artístico que tentava quebrar um voto de silêncio de mais de mil anos” (1986, p. 214). Ela vinha tentando responder à pergunta de como as artistas mulheres estavam elaborando, na esteira dos movimentos de emancipação dos anos 1970, um discurso próprio, ou seja, uma estética que ela chamou feminista. Essa nova linguagem irrompeu como uma força vital e criativa que levou as mulheres a colocarem questões com a ousadia de respondê-las, sendo esta disposição parte de um lento processo subversivo de desconstrução de representações e de um lugar social feminino estagnados na sociedade. Contudo, para a autora, ao passo que o problema de linguagem foi identificado, paradoxalmente, outro se impôs, revelando a tragédia oculta “da falta de tradição artística das mulheres, bem como de sua história silenciada” (1986, p. 214). No seio dessa contradição, as artistas desbravaram possibilidades de expressão, buscando novas imagens de si mesmas, principalmente, e como consequência, começaram a encontrar o caminho para abalar a falsa universalidade do masculino. Leia Mais