Nação-Região; Memórias: abordagens, escritura / História & Perspectivas / 2004

Reunindo trabalhos que tratam de momentos decisivos da história da ocupação da terra e da gestão da população em Minas e no Triângulo Mineiro, este número 31 da revista História & Perspectivas abre-se com um dossiê composto por alguns estudos relacionando as transformações regionais com a história política, econômica e cultural do país.

O abrangente campo destas relações nação-região é visto sob vários aspectos: primeiramente através de um artigo sobre as forças militares da Capitania de Minas Gerais na segunda metade do século XVIII num contexto de intenso recrutamento militar devido às guerras de fronteiras no sul; em seguida estas relações são consideradas numa perspectiva sócio-econômica em dois estudos que examinam, num caso, o trabalho escravo na economia de subsistência do Triângulo Mineiro no processo de inserção da região na economia capitalista, e no outro, a política agrícola implementada nos anos 1960 a 1985, a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural e os custos sociais desta modernização rural em termos regionais e nacionais. Ainda no campo destas relações nação-região, publicamos uma análise sobre a influência do catolicismo e das características culturais regionais na expansão da religião kardecista no Brasil.

Este número apresenta também um outro conjunto temático formado por três artigos sobre a memória. Eles abordam, segundo seus diferentes objetos de análise, as formas de produção social, individual, os modos de representação e de escrita da memória – ou do esquecimento, conforme trata deste último o texto sobre a construção de uma memória histórica paulista que cria seus mitos, mas exclui importantes aspectos de seu passado. A questão das representações da memória é trabalhada através das experiências cotidianas da mulheres brasileiras na passagem do século XIX para o XX, vistas na escrita literária de Júlia Lopes de Almeida. Este conjunto se encerra com uma reflexão metodológica sobre uma modalidade específica de documento histórico, o diário pessoal, registro que, na maioria dos casos, permanece anônimo e restrito a uma determinada localidade, mas pode, no entanto, ser fonte de extração de várias possibilidades temáticas por parte do historiador.

Este número traz ainda dois artigos, os quais, por meio de temáticas distintas, e situando-se em abordagens disciplinares diferentes, uma delas referente à sociologia política e a outra à história da cultura brasileira na segunda metade do século XX, tratam da cultura democrática no Brasil contemporâneo. O primeiro tem como tema a discussão sobre a agenda política presente na atual reforma do estado, observando a necessidade de uma reflexão teórica na qual o problema da responsabilidade institucional seja equacionado considerando-se as dificuldades existentes para estabelecer escolhas sociais democráticas no meio sócio-político brasileiro. No segundo, a questão da democracia na cultura nacional é analisada sob uma outra perspectiva: aquela da sua supressão durante a ditadura militar instaurada a partir de 1964 e vista por meio de uma análise do jornal O Pasquim, que na sua oposição à ditadura redefiniu a imprensa alternativa brasileira por meio da crítica dos costumes, do humor e da inovação da linguagem jornalística.

Encerrando este número, publicado por ocasião do quadragésimo aniversário do golpe de 1964, apresentamos um texto da dramaturgia brasileira que é um testemunho contundente da situação de rebaixamento político e moral gerada pela violência imposta ao país durante a ditadura militar: trata-se de uma seleção de trechos da peça Torquemada, de Augusto Boal, que retrata a covardia, a violência física e psicológica da prática degradante da tortura.


Nação-Região; Memórias: abordagens, escritura. História & Perspectivas, Uberlândia, n.29-30, jul./dez., 2003 – jan./jul., 2004. Acessar publicação original [DR].

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