Paisagem Cultural: uma contribuição ao debate histórico / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2011

O conselho editorial da Revista Eletrônica História em Reflexão (REHR) tem o prazer de apresentar a sua X Edição (Jul / Dez de 2011), com o dossiê “Paisagem Cultural: uma contribuição ao debate histórico”. O conceito de Paisagem Cultural, compreendido a partir da Convenção da UNESCO de 1972, foi concebido para responder à crescente complexidade da sociedade contemporânea e a velocidade cada vez maior dos processos sociais econômicos e culturais. Para que a Paisagem Cultural se configure, esses fatores devem guardar uma relação complementar entre si, capaz de estabelecer uma identidade comum aos membros de uma mesma comunidade. Mesmo que a palavra “Paisagem” isoladamente encerra necessariamente uma dimensão territorial e uma dimensão natural. A Paisagem Cultural, não pode deixar ser uma paisagem natural fortemente humanizada e de elevado valor cultural.

Como não poderia ser diferente, a Paisagem Cultural, passa a ser também estudada e a dialogar com o Campo da História e da Historiografia. Nesse sentido, o objetivo desse dossiê é aproximar os objetos de estudo sobre paisagem cultural e a História. Assim são ricos os elementos que permeiam os artigos desse número da revista, como: como patrimônio, identidade, representação, entre outros. Os quais se encontram na ordem do dia em muitos dos trabalhos e das pesquisas no Campo Historiográfico. Abaixo seguem os trabalhos que constituem a X edição da Revista Eletrônica História em Reflexão.

O artigo que inicia o rol de textos do dossiê é de autoria de Amilcar Guidolim Vitor e de Julio Ricardo Quevedo dos Santos intitulado A construção social do patrimônio cultural através do processo de representações sociais. O trabalho aborda a influência do processo de produção de representações sociais na construção social do patrimônio cultural em relação ao Memorial Coluna Prestes, presente no município de Santo Ângelo do Estado do Rio Grande do Sul. Os autores procuraram verificar os interesses de grupos sociais conforme as representações criadas deste espaço de memória.

A seguir temos Concepções de cultura e etnia ucraniana, escrita por Janio Rodrigues, José Adilson Campigoto e Antônio Paulo Benatte. No artigo os autores tratam sobre a concepção de cultura e sua ampla utilização no âmbito da produção historiográfica em relação ao fenômeno da imigração ucraniana para o Estado do Paraná. De acordo com esse trabalho a forte presença ucraniana no Paraná, com seus falando a mesma língua, tendo a mesma região como lugar de origem e reconhecendo-se como grupo devido a várias práticas comuns, gerou um saber que chamaremos de discurso da etnicidade ucraniana.

Em Pantanal Sul mato-grossense a partir da construção poética de Manoel de Barros no Livro de pré-coisas (1985), Fernanda Martins da Silva discute sobre as características estéticas e identitárias do Livro de pré-coisas: roteiro para uma excursão poética no Pantanal (2003) de Manoel de Barros, escrito em 1985. Nesse artigo, a autora visou refletir sobre a apropriação do poeta em relação aos elementos pantaneiros ao transfigurá-los em poesia.

Já Carlos Almir Matias tem por objetivo refletir sobre a imagem apresentada no Evangelho de Judas, sobre a figura de Judas Iscariotes e dos doze discípulos. Em seu artigo intitulado A representação de judas e dos doze apóstolos no evangelho de Judas, o autor parte da hipótese de que esse evangelho faz uma alegoria apresentando Judas como o arquétipo do homem gnóstico perfeito, e que sofre perseguições por causa disso, enquanto que, os outros discípulos representariam a ala proto-ortodoxa da igreja.

O próximo trabalho foi elaborado por Tiago de Jesus Vieira cujo título Uma outra historiografia do punk fecha o rol de artigos do dossiê. Nesse texto o autor buscou estabelecer um outro balanço historiográfico acerca da temática punk que possa contribuir como complemento para a análise já existente da historiadora Ivone Gallo. Além disso, o autor discorre sobre diferenças entre os distintos grupos punks brasileiros.

Em seguida publicamos seis trabalhos da seção de artigos livres os quais enriqueceram a publicação da décima edição da revista. De início temos Articulação entre o pensamento foucaltiano e a Nouvelle Histoire: ressonâncias entre genealogia e historiografia, de autoria de Lucas de Almeida Pereira. Nesse artigo, o autor reflete sobre a relação dos Annales e o referencial teórico proposto por Michel Foucault. As discussões realizadas em seu texto se pauta no diálogo ocorrido nos anos 1970 entre os historiadores da nouvelle histoire e Foucault, buscando evidenciar o impacto deste diálogo na constituição da genealogia, modelo de análise histórico-filosófico desenvolvido pelo pensador.

Luciana Porto da Silva e Taíse Tatiana Porto da Silva apresentam o artigo Participação social nas conferências nacionais de Direitos Humanos: análise dos anos iniciais da gestão FHC e gestão Lula (1995-1996 / 2003-2004). De maneira geral, o texto uma análise da participação social nas políticas públicas de direitos humanos. Para tanto as autoras utilizam-se da I Conferência Nacional de Direitos Humanos, que ocorreu durante a gestão governamental de Fernando Henrique Cardoso. Do mesmo modo, são analisadas as medidas que dariam prosseguimento ao funcionamento dos órgãos instituídos e a realização da IX Conferência Nacional de Direitos Humanos, sob a gestão do governo Lula. Assim, verificam o processo participativo no Estado como política descentralizadora para o favorecimento da interlocução entre governo e sociedade civil.

O trabalho História e ficção no romance O Mulato de Aluísio de Azevedo: aspectos das relações “raciais” em São Luís do Maranhão na segunda metade do século XIX, cujo autor é Daniel Precioso reflete sobre a leitura histórica do romance O Mulato. Neste sentido, o objetivo do trabalho é dialogar com abordagens que o tomaram como documento, procurando entender como seus estudiosos lhe conferiram historicidade, sobretudo no que diz respeito à discussão das relações raciais em São Luís do Maranhão na segunda metade do século XIX.

Em Pela condução da ação política operária em Manaus: disputas entre os jornais Vida Operária e O Extremo Norte Luciano Everton Costa Teles discorre sobre dois jornais operários que veicularam em 1920. O objetivo central do artigo é caracterizar e diferenciar as propostas de condução política operária presentes nos jornais, pois tratavam-se de um espaço onde encontravam-se os ideais dos trabalhadores.

As eleições e o jornal O Progresso: estratégias discursivas (1954, 1958 e 1962) escrito por Fernando de Castro procura demonstrar as estratégias de Weimar Torres – político em Dourados pelo PSD, figura destacada na sociedade local –, e seu grupo político, na tentativa de conquista do poder na cidade localizada no sul do estado do Mato Grosso, utilizando como instrumento o periódico O Progresso, dirigido por ele. São analisados os discursos construídos pelo jornal durante as eleições de 1954, 1958 e 1962, com Weimar Torres e o PSD local usando as páginas do periódico para buscar alianças, propagandear as candidaturas do partido e criticar adversários.

O anticomunismo e a esquerda militar no Brasil: uma análise historiográfica de Carlos Henrique Lopes Pimentel, propõe um debate historiográfico sobre as práticas anticomunistas nas Forças Armadas Brasileiras e a existência de uma esquerda militar no país. Tal perspectiva baseia-se no entendimento que estas temáticas estão intimamente ligadas e se constituem como alicerces para a compreensão de importantes episódios da história republicana do Brasil, como os regimes de exceção de 1935-1937 e de 1964-1985, apesar de terem sido marginalizadas nos estudos históricos. Assim, a análise do autor se pauta em diversas obras, buscando o entendimento de seu tema.

O artigo de Roberto Mauro da Silva Fernandes fecha a seção de artigos livres. Em A Guerra do Paraguai: um evento que se originou devido ao segundo ciclo de Kondratieff de 1843 a 1896 o autor procurou compreender a relação dos ciclos sistêmicos da economia mundial e os ciclos de guerra com a Guerra do Paraguai. Conforme o autor, o estudo desses ciclos pode contribuir para se entender o conflito platino e qualquer processo conjuntural que leve a uma reviravolta na ordem política, social e geopolítica.

Ao finalizar essa edição trouxemos a resenha do livro O poder da arte de Simon Schama, elaborada pelo doutorando em história André Cabral Honor

O Conselho Consultivo e Editorial traz a público mais uma edição preparada com muito afinco a fim de colaborar com as reflexões que envolvem o conhecimento histórico. Desejamos uma boa leitura a todos!

Cássio Knapp

Fernanda Chaves de Andrade

Dourados Verão de 2011


ANDRADE, Fernanda Chaves de; KNAPP, Cássio. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 5, n.10, jul. / dez., 2011. Acessar publicação original [DR]

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