História Antiga: passado em conexão com o presente e diversidade nas abordagens / Faces da História / 2017

A proposta de publicação do Dossiê “História Antiga: passado em conexão com o presente e diversidade nas abordagens” está intrinsecamente relacionada com aspectos que permeiam o estudo da Antiguidade no Brasil e, tem como principais objetivos ressaltar a relevância dos estudos de História Antiga no país e evidenciar as contribuições promovidas por essas pesquisas nas pautas e questões da contemporaneidade.

Em tempos de intensos debates e indícios de que retrocessos sociais são cada vez mais possíveis – tanto em âmbito nacional, quanto internacional – o Dossiê enfrenta a tarefa de problematizar e desnaturalizar tópicos contemporâneos, a partir de objetos do passado. Tratam-se assim, notadamente, das discussões de gênero, dos direitos homossexuais e do sempre presente debate sobre a relação entre religião e política.

As pesquisas apresentadas no Dossiê estão em consonância com os principais expoentes teóricos de temas relacionados a questões de gênero e sexualidade, assim como destacam a voz de diferentes identidades através de perspectivas como a dos estudos pós-coloniais. Também possibilitam o debate sobre a complexa relação entre religião e política em um momento em que o princípio do Estado Laico tem sido ignorado.

Os artigos do dossiê foram organizados espacial e cronologicamente em quatro partes: I – Oriente / África; II – Grécia; III – Roma; IV – Usos do Passado. Dessa forma, os artigos integrantes desse dossiê congregam diversidades temáticas e de abordagem, contemplando assim, a força simbólica dos estudos desenvolvidos por autores de diferentes instituições universitárias do país.

Na parte I – Oriente / África, o foco está nos debates historiográficos relacionados aos estudos sobre a África Antiga. O artigo Miradas afrocêntricas em torno da africanização do Egito Antigo: entre racialização e identidades, de Raisa Barbosa Wentelemn Sagredo apresenta uma importante discussão da historiografia relacionada à África Antiga que considera corrente do afrocentrismo e os debate sobre as perspectivas de identidades e racialização. Em Antiguidade, afrocentrismo e crítica: invenção e mito na História Antiga, Gustavo de Andrade Durão evidencia o debate sobre a influência dos conceitos afrocentrismo e eurocentrismo nas análises da História Antiga.

A Parte II – Grécia é composta por artigos que atentam para aspectos como a etnicidade, sexualidade e política e, evidenciam diferentes formas de abordagens. No artigo A democracia ateniense e o ideal de liberdade na obra Os Heráclidas, de Eurípides, de Bruna Moraes da Silva, observa-se através da análise discursiva da tragédia elementos relevantes para a compreensão da sociedade ateniense. Por sua vez, o texto O relacionamento homoerótico na Grécia Antiga: uma prática pedagógica, de Tiago de Souza Monteiro de Andrade, discorre a respeito do homoerotismo e a construção social da sexualidade. Já Relações étnicas na obra de Eurípides (século V a.C.): uma análise de Alceste, Héracles e Andrômaca, de Renata Cardoso de Sousa, estabelece uma interessante análise sobre etnicidade e sua presença nos discursos, dos quais as tragédias faziam parte.

A parte III – Roma, os artigos trazem discussões sobre as perspectivas política, social e da historiografia romana. Adriele Andrade Ceola e Renata Lopes Biazotto Venturini, no artigo A interação entre o passado e o presente na construção da imagem imperial de Galba em Tácito, tratam da perspectiva da narrativa histórica taciteana e sua visão específica da figura imperial de Galba. Em A construção dos comportamentos cívicos: uma análise dos exempla no livro I de ab vrbe condita, Suiany Bueno Silva analisa o papel da historiografia antiga na manutenção da comunidade cívica. No artigo Eleições e boatos: O presente (de Trump) em conexão com o passado (de César), Ana Lucia Santos Coelho e Ygor Klain Belchior destacam, de acordo com a perspectiva dos Usos do Passado, uma discussão muito pertinente para a reflexão do atual cenário político. Nelson de Paiva Bondioli, no artigo Panegírico de Trajano: Da Antiguidade ao Presente, apresenta uma importante discussão sobre o trabalho com as fontes da Antiguidade e analisa a perspectiva das traduções do Latim para língua vernácula, aspecto de extrema importância no estudo da História Antiga.

Na parte IV – Recepção e Usos do Passado, o artigo O campo da História Antiga na Pós-Modernidade: do produtivismo ao consumo hipermidiático, de Rafael Virgilio de Carvalho e Daniela Dias Gomide, problematiza o lugar da cultura clássica na sociedade contemporânea, resultado das mudanças no campo científico.

Finalmente, os textos selecionados demonstram a diversidade de olhares e abordagens dos estudos desenvolvidos no contexto acadêmico atual. Dessa forma, pretendeu-se, com esse dossiê, evidenciar as temáticas sobre a Antiguidade e contribuir para os debates presentes.

Boa Leitura!

Andrea Lúcia Dorini de Oliveira Carvalho Rossi – Doutora (UNESP / Assis)

Amanda Giacon Parra – Doutora (UNESP / Assis)

Isadora Buono de Oliveira – Doutoranda (UNESP / Assis)

Organizadoras


ROSSI, Andrea Lúcia Dorini de Oliveira Carvalho; PARRA, Amanda Giacon; OLIVEIRA, Isadora Buono de. Apresentação. Faces da História, Assis, v.4, n.2, jul / dez, 2017. Acessar publicação original [DR]

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Historiadores, Passado e Presente: espaços de atuação / Aedos / 2013

Na décima segunda edição da revista Aedos decidimos por tratar como dossiê temático a questão do ofício e áreas de atuação do historiador. O dossiê temático intitulado “Historiadores, Passado e Presente: espaços de atuação” foi inspirado pela candente discussão em meio a nossa área sobre como nos posicionarmos frente a sociedade enquanto classe. Mais do que a definição política frente a nossos concidadãos o tema sugere uma revisão sobre nossas interações com aqueles considerados “fora do meio”. Este tema propicia discussões de legitimidade do passado e o envolvimento do historiador no processo de tal legitimação; acerca do estatuto cientifico, ou se poderia ser assim definido; relações entre historiadores e outros profissionais; inserções profissionais e formas de atuação.

Apesar das diversas possibilidades e do calor das discussões em âmbito nacional sobre a profissionalização da profissão de historiador acreditávamos serem poucos os pesquisadores brasileiros dedicando tempo a tais questões de maneira mais específica. Ficamos muito felizes em encontrarmo-nos enganados. Temos nesta edição cinco artigos para o dossiê. Todos os temas supra mencionados sendo abordados pelos trabalhos de Caroline Silveira Bauer em seu artigo “O papel dos historiadores nas garantias dos direitos à memória, à verdade e à justiça”, de Julierme Morais e Rodrigo Francisco Dias com “Reflexões em torno do “ofício do historiador” e sua legitimidade epistemológica: o que Veyne, White, Certeau, Gay e Chartier têm a nos dizer?”, Daniel Marcilio no artigo intitulado “O Historiador e o Jornalista: A História imediata entre o ofício historiográfico e a atividade jornalística”, Lucas Giehl Molina em seu relato de experiência em meio digital através de “Jogos digitais como espaço de atuação do historiador: o caso Avant-Garde”, e Eduardo Roberto Jordão Knack com seu artigo “História, ensino e pesquisa em museus: uma experiência no Museu Histórico Regional (MHR)”.

Em nossa seção de entrevista um de nossos editores, Rafael Bassi, entrevistou o historiador norte-americano James Green. Tratando não só sobre seu mais recente livro “Apesar de Vocês: a Oposição à Ditadura Militar brasileira nos EUA”, mas também sobre sua perspectiva em relação às políticas brasileiras atuais que tratam, ou deixam de tratar apropriadamente, sobre memórias e pesquisas da ditadura. Em uma entrevista que mistura questões sobre a ditadura civil-militar no Brasil e a atuação do historiador Rafael Bassi e James Green inserem-se perfeitamente entre o tema do dossiê deste número e o tema do dossiê do número seguinte, que está em processo editorial e traz o tema da ditadura incluído no tema “Democracias Ameaçadas”.

Na seção de artigos sobre assuntos diversos temos autores tratando de questões gerais acerca da história do Brasil; Fagner dos Santos e suas “Histórias possíveis ou possibilidades da História: derivando Koselleck, Skinner e Tilly para uma análise do pensamento político no Brasil do início do século XX”; Alessandro Batistella com “O Trabalhismo Getulista-Reformista do Antigo PTB e o ‘Novo Trabalhismo’ do PDT: Continuidades e Descontinuidades”; Bárbara Virgínia Groff da Silva tratando de “Políticas de Saúde no Brasil: elaboração, institucionalização e implantação do Sistema Único de Saúde entre as décadas de 1980 e 1990”; Mateus Filippa Meireles em seu artigo “Entre o subdesenvolvimento e o ‘Milagre’: considerações sobre o capitalismo brasileiro em Ruy Mauro Marini e Francisco de Oliveira”; e Luiz Felipe Cezar Mundim versando sobre a “ESG e campo cultural no Brasil – Apontamentos para o estudo da relação entre os Militares e o Estado Brasileiro (1930-1964)”.

Ainda tratando de questões da história brasileira outros autores presentes nesta edição tratam de maneira mais específica, seja de temas ou de regiões brasileiras, para abordar os temas que lhes instigaram à pesquisa, tais como Ana Claudia Martins dos Santos em “Os constantes receios de uma invasão: ameaça e estratégia de defesa da província de Mato Grosso (1850-1864)”; Diego Speggiorin Devincenzi com “Entre a ciência e a política: o caso da Faculdade de Medicina de Porto Alegre (1898-1932)”; Anderson Marcelo Schmitt que escreve sobre “O Despacho Para o Uruguai de Bens Legalistas Durante a Guerra Civil Rio-Grandense (1835-1845)”; e Fabiano Quadros Ruckert em suas “Leituras da História do Saneamento na cidade de São Leopoldo, RS”.

Cabe destacar a presença de um artigo que versa sobre questões que caberiam bem no dossiê de nosso número seguinte mas que por bem tornou-se presente já nesta edição; Larissa Silva Nascimento aponta como tratar com fontes incomuns aos historiadores, mas que demonstram importante reflexão e demandam atenção de pesquisadores, em “A Detalhista Resistência em Maus, de Art Spiegelman, e Persépolis, de Marjane Satrapi”. Por fim temos nesta edição também um artigo versando sobre a presença de uma das mais famosas imagens femininas da história nas obras de um dos mais polêmicos tragediógrafos no que tange o tratamento de mulheres, Larissa de Oliveira Soares aponta as visões euridipianas (chamadas de misógenas mas também de feministas) sobre Helena, a mais bela das mulheres em seu artigo “Rostos de Helena na literatura Euripidiana”.

Por fim dispomos de duas resenhas neste número. Mateus Dagios, “Redescobrindo o Teatro de Dionísio: novas possibilidades para o teatro antigo”

Avalia o livro editado por Peter Wilson (ed.), “The Greek Theatre and Festivals. Documentary Studies. Oxford Studies in Ancient Documents. Oxford: Oxford University Press, 2007”; e Carolina Corbellini Rovaris em “Outros olhares acerca da Revolução Francesa” apresenta sua resenha de “HUNT, Lynn. Política, cultura e classe na Revolução Francesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2007”.

Neste número temos também o prazer de apresentar uma revista recém reavaliada pelo CAPES-QUALIS e digna de portar uma qualificação B2. Para tanto foi preciso o trabalho árduo de diversas gestões de alunos da Pós-Graduação de História da UFRGS compondo o conselho editorial. Temos ainda de notar o apoio inestimável de nosso conselho consultivo que certamente nos ajudou a manter não só uma boa qualificação perante o QUALIS mas uma boa qualidade a ser apresentada a nossos leitores.

Até o próximo número.

Conselho editorial

Gestão 2012-2013


Conselho Editorial. Editorial. Aedos, Porto Alegre, v.5, n.12, jan / jul, 2013. Acessar publicação original [DR]

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