Cidades: Processos Migratórios e Imigratórios / Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade / 2009

Cidades: Processos Migratórios e Imigratórios é o título central da temática do segundo número da Revista Cordis. Os escritos que integram a presente publicação visam divulgar socialmente alguns estudos que se interessam pelas muitas faces e fases experienciadas pelos sujeitos que, em algum momento, partiram de um território para outro ou se depararam com a presença de sujeitos de outras plagas em “seus” territórios.

As cidades brasileiras, nos séculos XIX e XX, em especial neste último, foram constituídas sobremaneira por meio das colaborações de migrantes e imigrantes. Alguns vieram de outros continentes, como os portugueses; outros, como os indígenas, fizeram migrações “dentro” de um mesmo território. Esse processo quase sempre tem razões históricas e motivações pontuais de ordem econômica ou política, mas inegavelmente a primeira é superior a segunda.

Situação semelhante ocorreu e ainda ocorre em urbes de outras partes do globo. Seja por causa de questões políticas, culturais, científicas, interesses econômicos, sociais ou culturais, o fluxo de sujeitos de um território para outro, ou por vezes outros, é um fator decisivo na alteração e mesmo transformação das realidades citadinas e também rurais. Quase toda a humanidade é, em algum sentido, – ou já foi – migrante.

Os textos que integram a Revista Cordis contemplam diversas formas de migração, imigração e inclusive emigração. As abordagens também não são estanques: há enfoques que utilizam análises antropológicas, outros históricas. Alguns se aproximam e dialogam criticamente com as interpretações que a Sociologia e a Política vêem desenvolvendo nas últimas décadas. A Lingüística também tem contribuído de modo fundamental para problematizar antigas indagações, tensionando fontes e documentos antes tidos como “neutros” ou culturalmente positivos.

As reflexões propostas pelos autores indicam que os indivíduos vindos de outras plagas, neste caso os imigrantes, sobretudo os europeus, trouxeram para o Brasil concepções políticas que se confrontaram com as leis e os valores da sociedade dominante; a presença destas pessoas alterou qualitativa e quantitativamente o cotidiano das cidades, imprimindo costumes e práticas antes inexistentes ou não efetivados pela comunidade em que se instalaram, seja amistosa ou forçosamente. A fixação destas pessoas proporcionou a viabilização de algumas tecnologias e a perenidade de certos trabalhos no espaço citadino.

A reterritorialização, com a chegada de outras pessoas, foi inevitável. Criaram-se fronteiras e desfizeram-se parte das existentes. Na cidade de São Paulo, determinadas regiões passaram a ter “bairros étnicos”, se bem que na realidade não o eram de todo. Construiu-se a imagem de que havia “bairro de italianos”, “bairro de japoneses”, “bairro de portugueses”, dentre outros.

Os migrantes e imigrantes ajudaram a modernizar a cidade, embora nem sempre tenham usufruído materialmente desta modernização física. Passaram por privações e chegaram a ser criminalizados em razão da origem, do credo, da língua e do trabalho que realizavam, sendo explorados não somente pela elite nacional, que os via mais como mão-de-obra – seriam escravos mais civilizados –, mas também pelos próprios conterrâneos.

Finalmente, esperamos, com a divulgação virtual destes textos, mostrar os processos migração e imigração como realidades variadas dentro da urbe, cada qual portadora de cotidianos distintos. Essa realidade, porém, sempre foi materializada por pessoas concretas que, em contato com outros sujeitos, igualmente concretos, humanos, fez surgir conflitos, tensões, rupturas, confrontos entre sujeitos que buscavam, ao seu modo, construírem – o mais adequado é reconstruírem – as suas próprias histórias, forjar suas vidas diante de realidades já constituídas.

São Paulo- SP, junho de 2009

Nataniél Dal Moro

Editor assistente


MORO, Nataniél Dal. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 2, jan. / jun., 2009. Acessar publicação original [DR]

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