Habitar as cidades e o espaço urbano na América Latina dos séculos XIX e XX/Revista Eletrônica da ANPHLAC/2022

Na América Latina, desde a segunda metade da década de 1970, a cidade despontou na História como categoria de imaginação e de pensamento social. Desde então, a cidade e o mundo urbano, além de lugares onde as pessoas habitam, vêm sendo interpretados e vistos como espaços em que diferentes classes sociais, culturas, estilos de vida, políticas e temporalidades se manifestam. Neste primeiro momento, a categoria de cidade latino-americana foi utilizada para abarcar todo o espaço nesta parte do continente. Era como se a diferença entre México, Havana, Bogotá, Caracas, Lima, La Paz, Buenos Aires, Montevideo, fosse apenas a disposição no mapa, pois, sob esta perspectiva, os problemas que estas cidades capitais enfrentavam seriam os mesmos. Leia Mais

Cidades nas ciências sociais no Brasil | Estudos Históricos | 2022

Fortaleza de Sao Jose de Macapa Foto SecomGEA
Fortaleza de São José de Macapá | Foto: Secom/GEA

Em Brancos e pretos na Bahia, publicado em 1942, o norte-americano Donald Pierson descreve da seguinte maneira a dinâmica da “ecologia humana” urbana de Salvador e o modo como questões raciais e de classe influenciam a distribuição da população pelos espaços da cidade:

Ao longo das elevações, acompanhando os acidentes do terreno, encontram-se em geral as ruas principais, com as mais importantes linhas de transporte, isto é, bondes, ônibus e automóveis. […] Não encontrando obstáculos, a refrescante brisa marítima torna estas elevações mais confortáveis, mais saudáveis, e por consequência mais desejáveis, como lugar de moradia. Ali se encontram, em geral, os edifícios mais modernos e mais ricos, as casas das classes “superiores”. […] Os vales, em contraste, oferecem lugares e residências menos confortáveis, menos saudáveis e menos convenientes, por consequência mais baratos. […] Estas áreas em que vivem as classes “baixas” são provavelmente mais saudáveis e em geral mais agradáveis, como lugares de residência, que os “slums” das cidades industriais europeias ou norte-americanas. Embora os casebres sejam construídos de modo muito rudimentar, pobremente mobiliados, são em geral limpos e sempre se erguem num cenário atraente, de folhagem tropical, por onde filtra a luz brilhante do sol, juntamente com o ar puro (Pierson, 1971: 65-67). Leia Mais

Cidades, História e Territórios | Revista Mosaico | 2021

O Dossiê Cidades, História e Territórios reúne pesquisas que versam sobre os temas pertinentes à ocupação territorial e como as relações entre os patrimônios materiais e imateriais expressam memórias, patrimônios culturais edificados e imateriais e os modos de apropriação e ocupação de territórios. Os artigos foram organizados a partir de três eixos principais, elencando abordagens transversais que permeiam as características sociais e culturais desses espaços e seus territórios, retratando sujeitos e representações sociais presentes ao longo da história.

Desse modo a composição do dossiê temático abrange nove artigos, que foram sistematizados a partir da compreensão das ações e transformações humanas que, em um determinado espaço, definem relações de poder, seja por disputas ou domínios territoriais, os quais, por sua vez, permitem elucidar também permanências que se expressam por um espaço social. Outros domínios das relações entre homem e espaço estão presentes nos artigos que envolvem espacialidades que abarcam, por vezes, práticas discursivas para delimitação de espaços e suas expressões culturais, relevando identidades, memórias e artefatos que, em conjunto, articulam. Leia Mais

Rio de Janeiro e a Cidade Global: Histórias comparadas de cidades na Era Moderna da Globalização / Almanack / 2020

Em seu livro, descrevendo os seis meses que passara no Brasil em 1846, o americano Thomas Ewbank escreveu que “os gritos em Londres são bagatelas quando comparados aos da capital brasileira. Escravos de ambos os sexos anunciam seus produtos em todas as ruas.” Quer fossem frutas ou vegetais; itens de vidro, porcelana ou prata; ou ainda sedas e jóias “tais coisas, e milhares mais, são vendidas pelas ruas diariamente”[5]. A comparação feita com Londres sugere que ao tentar traduzir a sua experiência com o Rio de Janeiro para os seus leitores, Ewbank achou necessário referenciar a cidade que, no imaginário Americano, estaria mais associada a um comércio urbano vibrante e abundância de mercadorias advindas de regiões mundiais mais diversas. Na mesma época em que Ewbank publicava seu livro, Friedrich Engels compunha sua obra A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, onde ele descreveu Londres como o centro comercial do mundo [6]. É pouco provável que Ewbank e seus leitores conheciam o texto de Engels, mas certamente saberiam da reputação da capital do império Britânico e do alcance global de suas instituições financeiras e mercantis. Ao comparar as duas cidades, Ewbank associava o Rio de Janeiro oitocentista à cidade global por excelência daquela época.

Para Ewbank, o ponto de comparação com Londres era a disponibilidade de qualquer produto comercial imaginável em qualquer momento que o cidadão urbano o requeresse. O Rio de Janeiro da metade do século XIX estava, de fato, inserido em uma complexa rede de trocas comerciais e financeiras que se estendia pelo interior do território brasileiro, pelo mundo atlântico, e além [7]. Assim como Londres, a cidade portuária brasileira atuava, desde o século XVII, como nódulo importante na rede de centros urbanos e portos que conectava diferentes cantos do mundo e promovia a movimentação global de produtos comerciais, ouro e prata, pessoas, ideias e práticas. Mesmo com as restrições econômicas e políticas de monopólio do antigo regime, diferentes historiadores apontam a participação crucial de comerciantes do Rio de Janeiro, e da cidade portuária em si, na circulação econômica no império português [8]. Mas não é somente a referência a mercadorias diversas que, na passagem do texto de Ewbank, ilustra as conexões transoceânicas que caracterizavam o Rio de Janeiro oitocentista. O breve comentário sobre escravos de ambos os sexos, encarregados de animar tantas trocas comerciais, invoca um outro lado do caráter transnacional ou global daquela cidade: o papel central que o Rio de Janeiro tivera no tráfego de africanos escravizados entre diferentes regiões do Atlântico e do Índico [9].

Essa curta passagem de Life in Brazil aponta, sem necessariamente se dar conta, para a globalidade potencial do Rio de Janeiro, ou seja, a centralidade da cidade em processos de circulação globais que animaram a definiram realidades do século XIX e experiências urbanas de viajantes, consumidores, e comerciantes grandes e pequenos, livres e escravos. A notável cacofonia da cidade, evidência de um setor comercial urbano ativo, representa mais do que conexões mercantis; ela invoca um ambiente urbano familiar, reconhecível. Descrições como essa, disseminadas por viajantes, indicam como o Rio de Janeiro contribuiu para reforçar a imagem do que era típico, esperado, ou desejado em uma cidade[10]. Contribuía assim para noções do urbano no mundo oitocentista.

A relação entre o urbano e o global é a questão histórica que esse dossiê propõe examinar. A fundação da cidade do Rio de Janeiro em 1565 é um dos eventos que marcou um primeiro processo histórico de globalização. A expansão marítima e projeto colonizador de Portugal, Espanha e, eventualmente, de outras comunidades europeias, integraram novas rotas Atlânticas, e mercados nas Américas, a existentes rotas marítimas e redes de trocas econômicas do Mediterrâneo e Oceano Índico. Os séculos XV ao XIX testemunharam, pela primeira vez, a circulação global de mercadorias e o contato entre as populações humanas de todos os continentes[11]. A articulação dessa rede global se deu nas águas e navios, feitorias e mercados, e nos vários centros de poder onde atividades mercantis e alianças políticas foram negociadas. Especificamente, grande parte desse processo se deu em cidades e vilas, tanto portuárias quanto algumas interioranas, onde atores urbanos moldaram espaços e práticas locais para manejarem melhor oportunidades e pressões criadas por forças e conexões globais. O urbano e o global, enquanto fenômenos históricos, interagiram de forma dialógica: dinâmicas urbanas sustentaram a criação de um mundo moderno globalmente conectado enquanto a movimentação global de pessoas, bens, ideias e práticas ajudou a definir realidades e imaginários urbanos. A perspectiva que salienta a interconexão entre a cidade e globalização—a cidade global—é corrente em estudos urbanos do fim do século XX e início de XXI[12].A adoção dessa mesma perspectiva analítica para o princípio do período moderno nos permite entender melhor o papel que cidades como o Rio de Janeiro e populações urbanas tiveram naquela era de globalização, assim como a maneira pela qual aquele momento histórico definiu a cidade.

Interrogar o diálogo entre o urbano e o global a partir de trabalhos somente sobre o Rio de Janeiro não seria suficiente. Estudos individualizados de cidades frequentemente produzem biografias de centros urbanos que tendem a exagerar o distinto ou excepcional de uma localidade e ignorar importantes conexões com outras localidades ou contextos para além do contexto nacional ou imperial [13]. A história global, enquanto disciplina, encoraja comparações e contextualizações amplas que revelam sincronicidades históricas, novas geografias de análise que não a nação ou império, e conexões entre eventos distintos e diacrônicos14. Histórias globais urbanas oferecem também comparações e contextualizações férteis, capazes de produzir narrativas e análises inovadoras, porém ancoradas em localidades e experiências humanas tangíveis15. É em busca dessa perspective urbana global, e seu potencial para elucidar o processo de globalização durante o período moderno e a centralidade da cidade nesse processo, que o dossiê O Rio de Janeiro e a Cidade Global combina textos de pesquisadores de renome internacional sobre o Rio de Janeiro e sobre outras comunidades urbanas do mundo Atlântico. Juntos, os sete artigos aqui reunidos contribuem duas principais intervenções historiográficas: expandir o corpo literário ainda limitado que aborda o Rio de Janeiro como um importante estudo de caso para a discussão sobre a história urbana global e sedimentar a relevância de uma perspectiva comparativa e voltada para o período moderno para estudos de cidades como agentes de globalização.

O leitor encontrará aqui uma análise de processos históricos que marcaram os séculos XVII ao XIX centrada em comunidades urbanas do mundo Atlântico. Luciano Figueiredo e Paul Musselwhite avaliam a relevância histórica de cidades—Rio de Janeiro e James Town, e cidades do mundo Atlântico Britânico, respectivamente—na construção de uma geografia política imperial de proporções globais. Eles ressaltam a importância de populações urbanas para o processo de articulação e negociação de vínculos políticos e econômicos entre o velho e o novo mundos. Em particular, eles demonstram a atuação de espaços urbanos como forjas de identidades políticas e palcos de conflitos e confrontações que reconfiguraram a relação entre colônia e metrópole num contexto imperial influenciado por processos globais.

Jesus Bohorquez e Fabrício Prado examinam comunidades e redes mercantis centradas no Rio de Janeiro, Montevideo, Buenos Aires e além, e sua relevância para a organização de uma economia, assim como alinhamentos políticos, trans-imperiais. Eles exploram os esforços feitos pelas coroas portuguesa e espanhola para regulamentar e controlar uma economia cada vez mais globalizada e assim proteger seus interesses e dominação política. Ao focarem, porém, conexões comerciais entre diferentes cidades, eles demonstram que mais do que projetos imperiais, essas redes de troca se materializaram graças às ações de agentes econômicos e mercados coloniais. Essa análise revela ainda a necessidade de se pensar as conexões econômicas dessa região inseridas numa geografia global muito mais ampla do que o Atlântico Sul e mais influentes na maturação das ambições políticas regionais do que os ideais pro-independência da era das revoluções atlânticas.

Emma Hart, Randy Sparks e Ynaê Lopes dos Santos dedicam seus artigos a uma discussão de populações urbanas comumente marginalizadas em narrativas da formação do mundo Atlântico e de processos globalizadores: trabalhadores manuais, imigrantes voluntários e forçados, africanos e seus descendentes, pessoas escravas e libertas. Os séculos XVIII e XIX testemunharam a intensificação de trocas comerciais e movimento de populações ao longo de rotas Atlânticas organizadas em torno de algumas cidades específicas. Hart, Sparks e Santos examinam a trajetória de Charleston, na Carolina do Sul, de Annamaboe, na Costa do Ouro, e do Rio de Janeiro. Dialogando com a historiografia que explica a centralidade de cada cidade em termos das atividades econômicas e poder político de elites e populações europeias ou euro-descendentes, os autores demonstram que foram as diferentes iniciativas e prioridades de populações marginalizadas, de agentes econômicos africanos e de escravos negros que moldaram Charleston, Annamaboe, e o Rio de Janeiro, respectivamente. Esses grupos urbanos, repetidamente ignorados em histórias dominantes do mundo Atlântico, construíram espaços, mercados, e práticas urbanas que viabilizaram articulações econômicas, sociais, e culturais cruciais à constituição do mundo setecentista e oitocentista.

O presente dossiê, através da comparação implícita entre a cidade do Rio de Janeiro e centros e comunidades urbanas do Atlântico britânico, espanhol, e da Costa do Ouro na África, oferece uma nova perspectiva da relação entre o urbano e o global durante o período moderno. Por um lado, ele ilumina a relação dialógica entre dinâmicas e experiências urbanas e a formação de redes de contato e troca globais que marcaram aquela era histórica. Por outro, ele revela a relevância de cronologias, geografias, e atores históricos ao processo de globalização centrado na cidade—e portanto ao fenômeno da cidade global—que são pouco explorados na literatura corrente, a qual tem se preocupado mais em focar o chamado norte global durante o final do século XX e começo do XXI.

Notas

5. EWBANKS, Thomas. Life in Brazil, or, A journal of a visit to the land of the cocoa and the palm. New York: Harper & brothers, 1856. p. 92-93.

6. ENGELS, Friedrich. The Condition of the Working Class in England in 1844. London: Sonnenschein & Co, 1892. p. 23.

7. COSTA, Sérgio; GONÇALVES, Guilherme Leite. A Port in Global Capitalism: Unveiling Entangled Accumulation in Rio de Janeiro. London: Routledge, 2019.

8. FRAGOSO, João Luís. Homens de grossa aventura: acumulação e hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro, 1790-1830. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. PESAVENTO, Fábio. “Para além do império ultramarino português: as redes trans, extraimperiais no século XVIII.” In: GUEDES, Roberto (org.). Dinâmica Imperial no Antigo Regime Português. Rio de Janeiro: Mauad Editora, 2013. p. 97-111. GUIMARÃES, Carlos Gabriel. Os ingleses no Rio de Janeiro da primeira metade do século XVIII: o caso da família Gulston, c. 1710-1720 – primeiras impressões.” In: MATHIAS, Carlos Leonardo Kelmer; SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de; GUIMARÃES, Carlos Gabriel; RIBEIRO, Alexandre Vieira. Ramificações Ultramarinhas: Sociedade Comerciais no Âmbito do Atlântico Luso. Rio de Janeiro: Mauad Editora, 2018. p. 93-114.

9. FLORENTINO, Manolo. Em Costas Negras: uma história do tráfico atlântico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro, séculos XVIII e XIX. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1995. BORUCKI, Alex. From Shipmates to Soldiers: Emerging Black Identities in the Río de la Plata. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2015. p. 25-56.

10. MARTINS, Luciana de Lima. O Rio de Janeiro dos viajantes: o olhar britânico (1800-1850). Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2001.

11. ABU-LUGHOD, Janet. Before European Hegemony: The World System A.D. 1250-1350. New York: Oxford University Press, 1989. CROSBY, Alfred. The Columbian Exchange: Biological and Cultural Consequences of 1492. Westport: Greenwood, 1972. PAGDEN, Anthony. Lords of All the Worlds: Ideologies of Empire in Spain, Britain, and France, c. 1500-c.1800. New Haven: University of Connecticut Press, 1995. RUSSELL-WOOD, A.J.R. The Portuguese Empire, 1415-1808: A World on the Move. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1998, p. 8-26.

12. SASSEN, Saskia. The Global City: New York, London, Tokyo. Princeton: Princeton University Press, 2013. TAYLOR, Peter; DERUDDER, Ben. World City Network: A Global Urban Analysis. London: Routledge, 2015. KING, Anthony. Writing the Global City: Globalization, Postcolonialism, and the Urban. New York: Routledge, 2016.

13. SAUNIER, Pierre-Yves; EWEN, Shane. Another Global City: Historical Explorations into the Transnational Municipal Moment. New York: Palgrave: 2008. NIGHTINGALE, Carl. Segregation: A Global History of Divided Cities. Chicago: University of Chicago Press, 2012.

14. CONRAD, Sebastian. What is Global History? Princeton: Princeton University Press, 2016.

15. ARAÚJO, Erick Assis de; SANTOS, João Júlio Gomes dos, Jr. (orgs.). História Urbana e Global: novas tendências e abordagens. Fortaleza: Editora UECE, 2018.

Referências

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Mariana Dantas – Ohio University. É autora do livro Black Townsmen: Urban Slavery and Freedom in the Eighteenth-Century Americas (2008). Ela foi a co-investigadora do projeto de rede de pesquisa internacional “Global City: Past and Present”, financiado entre 2015 e 2017 pelo Conselho de Pesquisa em Artes e Humanas do Reino Unido. http: / / orcid.org / 0000-0003-2691-5033

Emma Hart – University of St. Andrews. É autora dos livros Building Charleston: Town and Society in the Eighteenth-Century British Atlantic World (2010) e Trading Spaces: The Colonial Marketplace and the Foundations of American Capitalism (2019). Ela foi a investigadora principal do projeto de rede de pesquisa internacional “Global City: Past and Present”, financiado entre 2015 e 2017 pelo Conselho de Pesquisa em Artes e Humanas do Reino Unido. http: / / orcid.org / 0000-0003-0749-3701


DANTAS, Mariana; HART, Emma. O urbano e o global na era moderna em uma perspectiva comparativa. Almanack, Guarulhos, n.24, abr., 2020. Acessar publicação original [DR]

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Pólis, urbs e cidades no Mediterrâneo Antigo / Nearco – Revista Eletrônica de Antiguidade / 2019

[Pólis, urbs e cidades no Mediterrâneo Antigo]. Nearco – Revista Eletrônica de Antiguidade, Rio de Janeiro, v.11, n.2, 2019. Acessar dossiê [DR]

As cidades entre a memória, o imaginário e o patrimônio | Revista Latino-Americana de História | 2019

Ítalo Calvino (1990), em sua obra “As cidades invisíveis”, demonstra, a partir da literatura, como as cidades relacionam-se com variadas dimensões da experiência humana – a memória, o desejo, os símbolos, as trocas, os sonhos… todas essas representações podem descrevê-las, ou desvendar as múltiplas faces de uma mesma cidade. Cada urbe descrita revela uma vivência possível dentro de um universo de possibilidades que as mais diferentes e variadas cidades oferecem aos seus moradores.

Ao propor um dossiê envolvendo cidade, memória, imaginário e patrimônio, uma vasta gama de possibilidades foi aberta aos pesquisadores. Alternando temas, fontes, problemas, metodologias e abordagens, diversos artigos foram submetidos a Revista Latino-Americana de História. No entanto, todas as pesquisas apresentam a cidade como foco de análise e objeto de reflexão por parte dos autores. Leia Mais

Ensino de História, memória e cidades / Mnemosine Revista / 2017

Reconhecer a cidade como um texto, nos convida a mergulhar na polissemia das experiências urbanas. A trajetória de ensino, pesquisa e extensão direcionada à história e à geografia local mediada pelos narradores dos bairros, das praças e dos demais espaços públicos conduz ao encontro com as memórias individuais e coletivas locais. Investir em uma cultura política de resistência ao processo de globalização implica em reconhecer as vozes locais que foram silenciadas pela memória oficial celebrativa herdeira da História Positivista.

Conforme sugeriu Walter Benjamin, a história à contrapelo tem uma dimensão política muito profunda, as pesquisas que ousam adentrar o cotidiano dos corpos invisíveis da e na cidade do passado e do presente coloca os leitores em contato com o avesso da história oficial. Essa dobra no fazer historiográfico pode ser experienciada por diversos caminhos metodológicos como a Educação Patrimonial, a Pedagogia da Cidade, a história oral e outros percursos de caminhada pela cidade que apresentem a sua diversidade social e cultural no que diz respeito às dimensões étnicas, de classe, gênero e gerações e que demonstrem o quanto o fazer e o viver urbano é plural, contraditório e complexo.

Dando visibilidade a essa complexidade do viver urbano no Brasil e na Argentina, ou seja, em experiências urbanas latino americanas, caminhemos pelas diversas cidades brasileiras de estados da região Nordeste como Pernambuco com o olhar voltado para a cidade de Recife e mais intensamente no estado da Paraíba onde são narradas experiências urbanas da capital João Pessoa, de uma cidade média, a chamada Rainha do Agreste da Borborema, Campina Grande , adentremos cidades interioranas menores como Umbuzeiro e Pedro Velho. Ainda seguindo nossa caminhada pelo Nordeste, vamos ao encontro das experiências urbanas da cidade de Currais Novos no estado do Rio Grande do Norte. Do Nordeste em direção à região norte do país, Amazonas, mergulharemos nas experiências citadinas de Currais Novos. De modo a ampliar nossa cartografia enquanto caminhantes nos dirigimos ao Sudeste do Brasil por meio de uma experiência de pesquisa 8 histórica fundamentada na cultura política da cidade do Rio de Janeiro e dando passos mais ousados e internacionais, caminharemos pelas trilhas da cidade de Buenos Aires movidos pela pedagogia citadina museológica.

Esse dossiê expressa e enfatiza a pluralidade das sociabilidades e sensibilidades citadinas nordestinas, nortistas, norte rio-grandenses e da região sudeste, mais especificamente, cariocas e no âmbito internacional, as experiências urbanas de Buenos Aires, com o olhar voltado para os museus. Esse mergulho historiográfico amplia as possibilidades investigativas sobre as cidades e o ensino de história local, bem como nos convida a aprofundar o diálogo entre ensino e pesquisa no processo de educação histórica de modo a provocar nos educandos o desejo de ler suas cidades e escrever outras histórias citadinas para além da cidade vertical. Outros leitores, narradores, escritores e ouvintes das cidades entram em cena deshierarquizando quem faz e quem conta a história, entrelaçando saberes acadêmicos com saberes experienciais, dando passagem às vozes dos pescadores, barbeiros, antigos moradores, às crianças, aos militantes de movimentos sociais urbanos de modo a afirmar a polissemia do texto cidade em suas variadas temporalidades e espacialidades.

A autora Alana Cavalcanti nos convida a mergulhar no Rio Sanhauá e nas águas do mar da Praia de Tambaú nos possibilitando encontros com os pescadores, veranistas, e moradores do centro e do litoral pessoense movida pela inquietação com relação ao processo de mutação da vitrine urbana do centro para o litoral.

Em seu artigo “MEMÓRIAS FLUVIAIS DO IMAGINÁRIO PESSOENSE: O RIO SANHAUÁ COMO NASCEDOURO DA CIDADE DE JOÃO PESSOA- PB E CONSTRUTOR DE IDENTIDADES, ela enfatiza como o Centro da cidade, no final do século XIX a meados do século XX, foi palco das várias transformações da cidade de João Pessoa na Paraíba, como também precursor dos equipamentos modernos de acordo com o contexto. Partindo da escuta das histórias de vida de antigos moradores por meio da narrativa de suas memórias citadinas, a pesquisadora se fundamentou teórico e metodologicamente na História Cultural e suas múltiplas representações (CHARTIER,1990), entendendo a cidade como um texto (CERTEAU, 2014). A metodologia da história oral (BOSI, 2003) e (MONTENEGRO, 1992), também foi fundamental para o desenvolvimento dessa pesquisa. Dessa forma, o presente artigo, busca contribuir com os estudos e debates acerca da cidade, memória e história oral e as mudanças de representações dos espaços citadinos em sua historicidade local.

O segundo artigo escrito pela historiadora da UFRGS, Carmen Zeli de Vargas Gil intititulado” CONVIDA, INTERPELA E DESAFIA: mediações em instituições de memórias de Buenos Aires convida o leitor a reconhecer a importância do@ educador@ histórico como um mediador no conhecimento e reconhecimento das instituições de memórias no meio urbano. Propõe-se a discutir três experiências identificadas na cidade de Buenos Aires, durante o ano de 2015, em um intenso trabalho de acompanhar escolas em espaços de memórias nesta cidade que congrega tantos museus. Que pressupostos assumem em relação ao público escolar? Outorga-se aos alunos um lugar de escuta somente? Como a pergunta pode ser o fundamento da participação ou da transmissão de ideias e valores? Trata-se de interrogantes que estruturam as reflexões tecidas neste texto com ênfase no trabalho pedagógico do Parque de la Memoria, Casa Nacional del Bicentenario e o Museo Etnográfico Juan B. Ambrosetti. A autora enfatiza em seu texto como nessa trajetória dialógica de aproximação, foi possível perceber a importância da pergunta no processo de mediação; a pergunta que convida a olhar mais de perto, interpela, desafia e instiga o diálogo. Portanto, Freire é a inspiração para esta reflexão, assumindo que todo conhecimento começa com a pergunta ou a necessária curiosidade que produz a busca.

Saindo da experiência da Pedagogia da cidade na Argentina, mais especificamente na cidade de Buenos Aires e voltando às tramas citadinas brasileiras, nos deparamos com a narrativa histórica do autor carioca Charleston José de Sousa Assis, historiador vinculado à Universidade Federal Fluminense, que nos convida a pisar o chão carioca caminhando pelas ruas da cidade, pondo-nos em contato com os revoltosos e suas reivindicações no que concerne aos transportes locais, exercendo sua cidadania e buscando a materialidade de seus direitos enquanto moradores, à cidade. Os tumultos de 1987 pelo aumento nas tarifas de ônibus: apontamentos sobre classes populares e cultura política no Rio de Janeiro. Ele nos relata que em 30 de junho de 1987, milhares de pessoas participaram de uma revolta popular no Centro da cidade do Rio de Janeiro, cujo estopim foi um aumento das tarifas de ônibus. Durante cerca de oito horas foram depredados mais de 100 ônibus, entre vários outros alvos. Fundamentado no historiador E. P. Thompson, o autor ressalta que o anormal pode nos auxiliar a desvendar as normas do cotidiano, por esta razão este artigo parte daquele protesto para investigar a cultura política do carioca no período da transição da ditadura para a democracia, que teve como marcos fundamentais a Campanha Diretas Já, os eventos envolvendo a eleição e morte de Tancredo Neves e o sucesso efêmero do Plano Cruzado. Aos registros produzidos na cobertura daquele protesto serão cotejadas às falas de outros populares presentes em cartas encaminhadas à Assembleia Nacional Constituinte e em produtos culturais. No referido período, assistiu-se ao surgimento de uma unidade comum entre os setores populares e os médios empobrecidos em torno de valores como democracia, soberania popular e justiça social, derivados de experiências comuns tanto no campo material quanto no simbólico e vivenciadas, pelo menos, desde meados dos anos 1970, quando da reorganização popular contra a ditadura. A julgar pelas evidências, os manifestantes de 30 de junho de 1987 foram resultado da cultura política surgida tanto do efeito pedagógico daqueles eventos quanto das inúmeras frustrações reiteradamente experimentadas pela sociedade em função dos arbítrios da ditadura.

Do Rio de Janeiro diretamente para a Rainha da Borborema, o historiador Cid Douglas Souza Pereira nos leva a olhar para A CIDADE DE CAMPINA GRANDE CONTEMPLADA POR SEGMENTOS LABORAIS: MEMÓRIA, TRABALHO E VIDA. Conforme afirmou, este artigo apresenta uma discussão em torno das categorias conceituais de trabalho e outras demarcações que fundamentaram a sua pesquisa de Mestrado. Para tentar compreender o mundo do trabalho e dos trabalhadores, em especial os antigos barbeiros de Campina Grande – PB, entre os anos de 1960 a 1980, o autor diz que almejou, a partir da memória, recompor o cenário urbano desses labutadores, os quais fazem do seu ofício uma arte que caminha na contramão das implementações da modernidade, e praticam isso no momento em que, em nome de costumes e hábitos, conservam antigas tradições. Dessa forma, assim como os de “cima”, as pessoas comuns são capazes de narrarem sua trajetória de vida e a história da cidade onde vivem, entrelaçando memória individual e coletiva. Aprenderemos muito com os barbeiros narradores campinenses, uma vez que as barbearias eram e são potenciais espaços pedagógicos masculinos, onde os homens aprendem e ensinam ser homens e a ser citadinos.

Ainda caminhando pelo estado da Paraíba, vamos ao encontro de outros personagens históricos militantes que foram invisibilizados pela história e memória oficial paraibana. A historiadora Eliete de Queiroz Gurjão Silva em seu artigo “PARAÎBA 1817: HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO”, ao mesmo tempo que denuncia o silenciamento de uma memória local de extrema relevância, mostra o protagonismo da Paraíba na Revolucão de 1817; a importãncia desta no contexto do início do século XIX; recuperando e ressignificando sua memória; conforme a autora descreveu em seu texto, ela procurou descrever e divulgar seu patrimônio sobrevivente na cidade de João Pessoa-PB. Neste sentido faz uma crítica à historiografia que praticamente ignora a participação das demais províncias na rebelião, narrando-a como apenas A Revolução Pernambucana, tecendo, assim, um véu de esquecimento que apagou-a da memória dos paraibanos. Esse processo de construção de uma nova narrativa com relação á Revolução de 1817 e de denúncia do silenciamento dessa experiência social foi constatado através da execução do projeto que é relatado no final do texto. A historiadora caminhou pela pesquisa-ação ao ir ao encontro das narrativas que reconhecem os protagonistas da revolução de 1817 na Paraíba ao realizar uma pedagogia da cidade por meio de um projeto de extensão cujos objetivos foram: salvar o que restava do patrimônio e da memória da Revolução de 1817 na Paraíba, restaurar placas referentes à Revolução e realizar um trabalho de Educação Patrimonial, tentando sensibilizar parte da população local sobre a importância e significado desse patrimônio, procurando reforçar seu sentimento de pertença e autoestima.

E por falar em lutas, movimentos sociais e invisibilidade dos protagonistas militantes, façamos uma viagem espaço-temporal da cidade de João Pessoa para a comunidade Pedro Velho numa temporalidade bem mais próxima de nós leitores. A autora Ellen Layanna de Lima em seu artigo “UMA COISA É VOCÊ SE MUDAR DE ONDE VOCÊ MORA OUTRA COISA É VOCÊ SER EXPULSO”: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGEM NA PARAÍBA” narra as tramas políticas e sociais da comunidade de Pedro Velho no ano de 2004 que foi vítima de uma experiência significativa de perda material e simbólica com o rompimento da barragem de Argemiro Figueiredo (Acauã) na Paraíba. Segundo a historiadora, este fato acarretou o aprofundamento das desigualdades sociais, ao passo que produziu centenas de famílias que além de pobres, ficaram sem terra para manter a atividade agrícola, atividade que garantia o sustento da maioria dos Pedro velhences. Para além de um prejuízo econômico, a população ainda enfrentou a suplantação de bens culturais e a perda de suas referências tradicionais. Acreditando no rompimento das “barreiras do silencio” a autora nesse artigo contou um pouco da história de Pedro Velho, comunidade inundada no mês de Janeiro de 2004, e seus desdobramentos (sendo um de seus principais a formação do Movimento dos Atingidos por Barragens) a partir do olhar de moradores e militantes. Sua pesquisa teve como principal ferramenta metodológica a história oral. Ao adentrar o cotidiano dessa comunidade em ‘ruìnas’ através das narrativas dos moradores militantes, não militantes e de diversas gerações , a pesquisadora chega a conclusão que a perda de referência no âmbito material e cultural foi algo presente na fala dos entrevistados, tal perda engrenou a produção de estratégias de adaptação e resistência. Neste sentido, para ela, a memória, a organização social e a inspiração pela luta, foram pontos notáveis na fala dos narradores que procuramos destacar.

As crianças também são protagonistas urbanos, o historiador Humberto da Silva Miranda, professor da UFRPE trata de uma pedagogia da cidade por meio da ênfase do seu trabalho na importância da participação das crianças na escrita desse texto cidade de modo horizontal, combatendo o olhar vertical com relação à urbs. Em seu artigo”-QUANDO A RUA SERÁ MINHA? HISTÓRIA, INFÂNCIAS E O DIREITO DE VIVER A CIDADE” o autor, conforme ele mesmo afirma, objetiva debater a relação entre a cidade e o “viver a infância” a partir da preocupação de como foi construída, historicamente, a noção de criança cidadã. Tendo como foco o âmbito da rua, ele procurou discutir como esses espaços se tornaram, ao longo do século XX, cenários das mais diferentes formas de sociabilidades nas cidades. As ruas como espaço de brincadeiras e de conversas tornaram-se locais de moradia, de trabalho e até de exploração sexual. A grande pergunta que moveu o seu caminho investigativo é como o Sistema de Justiça brasileiro produziu dispositivos legais a fim de garantir o direito das crianças viverem o espaço urbano? A partir desta pergunta, o historiador analisou textos legais como o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária investigando como estas leis produziram o discurso sobre o direito da criança viver a cidade.

Dando continuidade a essa reivindicação do direito á cidade pelos moradores comuns e da relevância de sua participação social na cena urbana, voltamos á cidade de Campina Grande e chegamos ao maior bairro da cidade dessa cartografia citadina, uma vez que possui mais de 30.00 habitantes, o bairro das Malvinas que conforme enfatizado pela historiadora Keila Queiroz e Silva, esse bairro diz muito de Campina Grande e seus moradores ao gritarem por justiça e pertencimento local. O artigo “OS BAIRROS DIZEM A CIDADE: O MAPEAMENTO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DOS “OUTROS” MORADORES URBANOS” coloca em evidência os outros cartógrafos de uma cidade plural e dos de baixo, denunciando e estranhando as narrativas históricas e midiáticas que dão visibilidade aos grupos políticos dominantes e invisibilizam as tramas históricas locais dos sujeitos ordinários e suas artes de fazer, fazendo uam viagem certeauniana e também benjaminina pela cidade de Campina Grande. A nossa escolha teórico-metodológica historiográfica certeauniana e benjaminiana deu passagem a outras vozes, a outros rostos, a outras paisagens, a outras formas de luta, resistência e sociabilidade que nos permitiram reescrever o texto cidade, colocando em cena novos personagens e novas sensibilidades urbanas, reconhecendo o protagonismo histórico dos sujeitos ordinários (CERTEAU:1994) que não aparecem nos livros didáticos, nem nos documentos oficiais. Amparada na metodologia da história oral, a autora trabalhou com histórias de vida dos moradores de bairros populares da cidade de Campina Grande e identificou a partir de suas narrativas, o patrimônio cultural tecido por eles em seu cotidiano do trabalho, do lazer e da sociabilidade dentro do bairro. Através de sua atuação no Programa Pet-Educação, a pesquisadora juntamente com seus alunos orientandos fez um mapeamento do patrimônio cultural imaterial dos moradores e registrou esse legado através da produção de um documentário com relatos biográficos dos artistas mapeados.

Retomando nessa caminhada por diversas trilhas urbanas geográficas, adentremos o universo das “MEMÓRIAS DO TRABALHO NA MINERAÇÃO BREJUÍ: PROPOSTA PARA USO DA HISTÓRIA LOCAL NO ENSINO MÉDIO INTEGRADO EM MINERAÇÃO, EM CURRAIS NOVOS / RN”, artigo esse que tem como autores os historiadores Cléia Maria Alves, Francisco das Chagas Silva Souza, Olivia Morais de Medeiros Neta.

Neste artigo eles narram que entre os anos de 1945 a 1981, a Mina Brejuí, em Currais Novos-RN, se destacou nacionalmente pela produção de sheelita. Ela hoje é um parque temático e guarda uma memória do trabalho. Logo, é um lócus constitutivo de uma memória histórica de um determinado grupo social, os mineradores. Portanto, possui um potencial educativo à medida que expressa algo memorável, contribuindo de forma que os educandos possam situar-se como sujeitos históricos em um processo de construção e compreensão de tempos e espaços dos “lugares de memória”. A pesquisa do referido autor tem o objetivo de discutir sobre proposta de uma unidade didática sobre a História Local da Mineração Brejuí como contributo para as aulas de História e as reflexões sobre o mundo do trabalho, no Ensino Médio Integrado em Mineração, na Escola Estadual Manoel Salustino, em Currais Novos-RN. Podemos considerar que o autor educador contribui para a escrita de uma pedagogia da cidade de Currais Novos, história escrita com os seus educandos, entrelaçando ensino e pesquisa.

Cruzando as fronteiras entre o Nordeste e o Norte brasileiro, seremos convidados a ler o artigo do autor Paulo de Oliveira Nascimento. Tendo esses narradores como nossos guias citadinos, chegaremos na cidade de Eurunepé no estado do Amazonas. O artigo “NARRADORES DE EIRUNEPÉ: Oralidade, Narrativa e Ensino de História na (re) construção de uma Memória Coletiva urbana”.

Nascimento afirma que a memória coletiva possui uma significativa gama de vestígios do passado de uma cidade. Segundo esse autor, Na Amazônia, esta memória coletiva desempenha um papel muito importante enquanto fonte histórica, dada a quase inexistência de quaisquer outros vestígios. Memória reatualizada, Memória disputada, Memória viva, esta chega à sala de aula através da fala dos alunos e alunas, que ouvem as histórias de seus pais e avós. Neste texto, eles tratam das relações entre a Memória Coletiva e o Ensino de História, a partir de sua experiência didático-pedagógica com alunos e alunas da 1ª e 2ª série do Ensino Médio, do IFAM / Campus Eirunepé. Esse relato de experiência de ensino e pesquisa se destaca como mais uma colaboração nesse dossiê no sentido de repensar e ampliar os caminhos metodológicos no processo de educação histórica.

De volta à Paraíba, mais especificamente à cidade de Umbuzeiro na Paraíba e encerrando nossa caminhada por diversas cidades e suas complexidades, encontramos o artigo de Tatiane Vieira da Silva “AZUL OU ENCARNADO, NÃO IMPORTA A COR DO ORNATO, A MATIZ É UMA SÓ. É FESTA EM UMBUZEIRO, É DIA DE VAQUEJADA!”. Nesse artigo a autora enfatiza que a cultura local exerce um papel singular no cotidiano dos pequenos centros urbanos, na medida em que provoca sociabilidades, integra as referências identitárias e os sentimentos de pertença. Ela diz a cidade de Umbuzeiro ressaltando A cidade paraibana de Umbuzeiro, sediou por várias décadas uma das vaquejadas mais antigas da região. Essa prática rural adentrou o espaço urbano, conquistou adeptos, atraiu multidões e se tornou a melhor e mais afamada festa daquelas paragens. Sua pesquisa foi norteada pela metodologia da história oral (ALBERTI, 2011) e das fontes jornalísticas (LUCA, 2011). O que possibilitou que a referida pesquisadora investigasse a historicidade da vaquejada de Umbuzeiro e mergulhasse nas experiências vividas, relembrando hábitos, valores, e práticas da vida cotidiana daqueles que vivenciaram aquelas festas, conforme ela mesma salienta em seu trabalho. Começamos nossa caminha entre o rio e o mar pessoense e concluiremos imersos na experiência das vaquejadas da cidade de Umbuzeiro. Desejo uma prazerosa caminhada pelas cidades aqui apresentadas e representadas a todo@s os@s leitore@s.

Keila Queiroz e Silva – Doutora (UAED / UFCG)


SILVA, Keila Queiroz e. Apresentação. Mnemosine Revista, Campina Grande – PB, v.8, n.4, out / dez, 2017. Acessar publicação original [DR]

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Cidades e Culturas Urbanas / Projeto História / 2017

Cidades e culturas urbanas em memórias, linguagens e perspectivas de presente

A proposta temática sobre cidades e culturas urbanas, apresentada pela Revista Projeto História, surgiu do nosso interesse e da avaliação sobre a importância dos estudos que buscam dar visibilidade aos modos culturais de viver, considerados na multiplicidade de práticas, valores e sentimentos que caracterizam as diversas experiências sociais, lutas e resistências dos sujeitos históricos.

Ao priorizar o tema Cidades, volta-se o presente dossiê para a discussão sobre os processos de constituição das culturas urbanas. Trata-se de promover o debate sobre viveres e fazeres dos trabalhadores e grupos populares, sua vida material e simbólica, seus territórios de memória, seus projetos, dissidências, práticas, tradições e relações com o meio ambiente, além de articulações com outros grupos sociais. Isto implicou em não perder de vista os desafios teóricos e metodológicos propostos por diferentes registros (em suportes materiais diversificados) que se apresentam à pesquisa histórica na atualidade, como expressões de experiências de sujeitos sociais nas cidades, surpreendidos em sua diversidade profissional, étnica, etária e de gênero no confronto entre culturas e modos de viver e trabalhar.

Assim, também as pesquisas aqui apresentadas refletem sobre a cidade como uma categoria da prática social, como elemento constitutivo dos processos históricos e da construção de seus moradores, tendo explorado as várias articulações entre a concretude mais visível das cidades e sua dimensão imaginária, quer a reflexão se centre mais em uma ou em outra dimensão.

Das análises históricas desses artigos, observamos a noção de território como espaço vivido e inventado por sujeitos sociais, em processos por meio dos quais heranças e tradições rurais se reinventam na cidade, tornando-se dimensões importantes de sua constituição. Do mesmo modo, hábitos, costumes, tradições engendrados na cidade penetram as vivências rurais. Logo, processos de territorialização e desterritorialização (movimentos migratórios, lutas por posse de terra, lutas por habitação, trabalho) inscrevem a luta de classes na espacialidade. Nessa perspectiva, a noção de território, ao questionar a ideia de cidade e de campo como meros cenários de práticas e experiências, possibilita-nos a percepção de que as temáticas do urbano e do rural se entrelaçam com as do trabalho.

Nessa linha, Agenor Sarraf Pacheco, no atual número da Projeto História, apresenta artigo em que “acompanha o fazer-se do urbano e do rural em contínuas simbioses”, problematizando questões acerca dos viveres sociais pelo tema da cultura e suas festas na Amazônia marajoara de 1930 a 2000. Leonara Lacerda Delfino analisa experiências e articulação de fazeres sociais urbanos em “rituais de separação e de incorporação no além-túmulo” na Irmandade do Rosário de São João del-Rei, de 1782 a 1828. Rodrigo Otávio dos Santos apresenta análise dos quadrinhos de Chiclete com Banana, por perspectivas da formação política da juventude urbana brasileira de 1985 a 1990, destacados amplos diálogos sociais naquelas páginas. O autor Magno Santos aborda a “escrita da história das espacialidades e da cultura urbana da Cidade de Alagoas no oitocentos”, destacados os caminhos interpretativos sobre manifestações religiosas da época em relatos de viajantes e cronistas vinculados ao Instituto Arqueológico e Geográfico alagoano. A pesquisa de Verônica Sales Pereira apresentada neste volume traça paralelos temáticos entre a produção social da memória, movimentos migratórios em São Paulo e a questão da forte especulação imobiliária no bairro da Mooca, São Paulo, no início do século XXI. José Otávio Aguiar revaloriza em seu artigo dimensões de resistências de grupos sociais por reformas urbanas na cidade de Campina Grande, e possibilidades interpretativas no campo da história ambiental. Fechando o atual dossiê temático, Henry Marcelo Martins Silva problematiza “modernidade e exclusão na belle époque sertaneja”, e o papel de elites dirigentes no processo de formação do meio social urbano na cidade de São José do Rio Preto durante a chamada “primeira república” brasileira.

Na seção artigos livres, traz a revista importantes reflexões. Marcos Silva problematiza temas e amplas interfaces da literatura de Jorge Amado com a formação de um mundo histórico de paz social e econômica, e esperança política, na passagem dos anos 50 para a década seguinte do século XX. A partir da análise de difícil momento de desvalorização integral de conquistas de direitos das sociedades socialistas, em face das graves violências do totalitarismo estalinista, amplamente divulgadas naquelas décadas, o autor pensa problemas em torno do controle autobiográfico de Jorge Amado sobre sua própria obra, bem como a relevância do trabalho do escritor baiano para o ensino de história. Laura Antunes Maciel, a partir de documentação produzida pela “Comissão Rondon”, ressalta a presença de outros sujeitos e suas memórias, histórias não expurgadas de contradições, forjadas em meio ao ocultamento de experiências sociais de excluídos da sociedade. A autora pensa a produção da memória em torno do controle de projetos de formação de patrimônio, observadas perspectivas de disputas entre concepções de nação e de estado como lugares sociais recobertos pela ideologia do planejamento. Nessa mesma seção, Nelson Tomelin Jr. e Maria do Rosário da Cunha Peixoto apresentam experiências de resistência de trabalhadores e trabalhadoras na Amazônia brasileira a partir de processos trabalhistas travados na Junta de Conciliação e Julgamento da cidade Itacoatiara durante a ditadura, e no seu período posterior. Tomados tais processos como fontes, os autores problematizam as experiências de homens, mulheres, inclusive crianças, em difíceis disputas trabalhistas vivenciadas naquele momento social de acirrada luta de classes.

Na seção notícias de pesquisa, o atual número traz a contribuição de significativos relatos. Marilu Santos Cardoso nos fala de investigação no campo da criação musical nos anos de 1960 a 1990, e as implicações acerca da produção do esquecimento e da minimização da importância de artistas na sociedade autoritária brasileira daquele período. Matheus da Silva analisa resistências urbanas de trabalhadores na ditadura civil-militar em motins de 1983 contra a fome e o desemprego na cidade de São Paulo. Também nessa seção, Vanessa Miranda apresenta a trajetória de criação da AMISM – Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé, em Manaus, no período de 1995 a 2014. A autora, ao revalorizar a organização social de indígenas no estado do Amazonas, suas reivindicações por saúde e amplos direitos, como a participação política, evidencia perspectivas históricas da construção da democracia naquela cidade.

Destacamos ainda a colaboração de Giuseppe Roncalli Ponce Leon de Oliveira e Marinalva Vilar de Lima em resenha do livro “Ditaduras do cinema: Brasil, 1964 / 1985-1965 / 2006”, coletânea de textos organizada por Marcos Silva.

Finalmente, apontamos aqui o esforço de dar publicidade para relevantes trabalhos de pesquisa que enfatizam o espaço urbano como constitutivo de práticas sociais, tradições e hábitos conflitantes. Tais trabalhos desenvolvem reflexões sobre o exercício da escrita e da leitura, a respeito da produção musical e iconográfica, festas e rituais, comemorações e memórias, assim como outras formas de expressão e comunicação, dimensões importantes da construção das cidades e seus modos de vida.

O presente número reúne trabalhos que assumem as perspectivas de presente como campo de reflexão historiográfica e prática profissional. Afirmam esses pesquisadores a cultura como campo de construção de hegemonias e de projetos alternativos, articulando, em suas temáticas, modos de viver e trabalhar em diferentes espaços urbanos e temporalidades.

Maria do Rosário da Cunha Peixoto

Nelson Tomelin Junior.


PEIXOTO, MARIA do Rosário da Cunha; TOMELIN JUNIOR, Nelson. Apresentação. Projeto História, São Paulo, v.58, 2017. Acessar publicação original [DR]

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“Cultura, Modernidade, Cidades” / Tempos históricos / 2016

Em “Marcovaldo ou as estações na cidade”, Ítalo Calvino (1997) [3] convidava os leitores a entrar no universo cômico e dolorido de Marcovaldo, sujeito que experenciava uma estranha relação com a cidade: “semáforos”, “buzinas”, “vitrines”, “letreiros luminosos” ou “cartazes” não detinham a sua atenção; mas uma “folha amarelando num ramo”, “uma pena que se deixasse prender numa telha”, o “buraco de cupim numa mesa” ou a “casca de figo se desfazendo na calçada” jamais escapavam ao seu olhar e crivo.

Por meio desta forma peculiar de apreender o “real”, Marcovaldo buscava “decifrar” a cidade (e até “encontrar-se”) em meio às transformações do mundo moderno. Era como se, para conhecer melhor e com maior complexidade, as múltiplas experiências da cidade, fosse preciso distanciar-se delas, a ponto de, no limite, deixar entrever (revelar?) a “artificialidade”, as “normatizações”, as “convenções”, as “tensões”, os “conflitos” e o “caos” inerentes a vida urbana…

Paradoxalmente, nada mais “familiar” aos olhos de Marcovaldo do que a necessidade de experenciar a cidade ao avesso (o amor pela natureza) ou, como diria Walter Benjamin – na senda do materialismo dialético de Marx – por meio do “estranhamento”, o que, neste caso, colocaria aos sujeitos modernos o objetivo de “varrer a história a contrapelo”.

Este foi, em grande medida, o intento que moveu os organizadores do dossiê e os autores dos artigos abaixo apresentados.

Em “A crônica urbana de São Paulo pela luneta invertida do historiador (1910- 1922)” – singela homenagem ao historiador Nicolau Sevcenko (1952-2014) – Elias Thomé Saliba convida o leitor a adentrar ao universo irreverente e humorístico de um conjunto de cronistas paulistas (Juó Bananére, Iago Joé, Silvio Floreal, Galeão Coutinho, dentre outros) que, por diferentes perspectivas, procuraram representar o processo histórico de urbanização na capital paulista durante a Primeira República. Tratam-se, segundo Saliba, de registros históricos pouco conhecidos e de grande valia para os estudos de cultura urbana, posto que ofuscados pela “metropolização” de São Paulo e a hegemonia do movimento modernista de 1922.

Significativo também para as reflexões sobre cultura, modernidade e experiências urbanas é o tema da medicina e da saúde pública, com destaque para uma visada específica: o incipiente processo de “medicalização” social na cidade entre o último quartel do século XIX e a primeira metade do século XX. É esta a proposta central do artigo “Medicina casera, remedios y curanderos en los inicios de la medicalización de la ciudad moderna. Buenos Aires, 1870-1940”, de Diego Armus, que, ao focalizar a capital argentina, analisa as contradições e os impasses da ciência médica e seus agentes oficiais diante da presença de formas híbridas de medicalização, representadas nos jornais da época pela ação de “curandeiros” e “charlatães”.

De volta ao território brasileiro, mas igualmente preocupada em debruçar-se sobre as interfaces entre cidade, modernidade, modernização e saúde pública, temos o artigo “Santos – porto-cidade: modernização, saneamento e viagem”, de Maria Izilda Santos de Matos. A historiadora busca analisar as transformações e tensões urbanas vividas em Santos – as epidemias e a reforma do porto, as relações entre saneamento e modernização, os projetos urbanísticos – tendo por eixo problematizador as narrativas sobre a cidade existentes nos relatos deixados por viajantes de diferentes nacionalidades que estiveram na cidade portuária paulista, entre a segunda metade do século XIX e as décadas iniciais do século XX, de modo a compreender, de acordo com a autora, os “olhares” e as “representações” sobre a cidade de Santos.

Ainda nos domínios dos projetos de modernização urbana em cidades-capitais brasileiras, temos o artigo de Fabiano Quadros Rückert intitulado “Porto Alegre e o problema das “materias fecaes”: o serviço de asseio público e a construção da primeira rede de esgoto na capital do Rio Grande do Sul (1879-1912)”. O objetivo do autor é o de explorar os projetos de saneamento e salubridade urbana na capital sul rio-grandense levados a cabo pelo poder público municipal – com especial atenção para os serviços de coleta e descarte dos materiais fecais – por meio de dois “marcos” de intervenção pelas autoridades públicas (prefeitos, vereadores, médicos, engenheiros): o serviço de Asseio Público, em 1879, e a construção da primeira rede de esgoto, em 1912.

No Sul do país, nos tempos das charqueadas, além dos projetos de modernização e saneamento um outro estudo procurou focalizar as transformações sociais e urbanas por intermédio da (re)produção das riquezas numa localidade específica durante o Brasil Imperial: é o caso do artigo ““Entre ricos e pobres””: desigualdade econômica, diversidade ocupacional e estratificação social no Brasil oitocentista: uma análise da cidade de Pelotas-RS (1850-1890)”, de Jonas Moreira Vargas. Como o próprio autor alude, tomando Pelotas como eixo norteador de seu texto, ele procura deslindar a diversidade profissional e a estrutura social de uma cidade (e uma população) que se urbanizava, enquanto mote de análise de um processo articulado de concentração de riquezas e de desigualdades sócio-econômicas.

A então capital do Império, Rio de Janeiro, experienciou processo histórico de modernização urbana que incidiu não apenas sobre os espaços públicos e privados, como, notadamente, nos hábitos, comportamentos e sujeitos considerados “indesejados” que perambulavam por suas ruas. Este último “alvo” é o mote principal do artigo de Monique de Silveira Gonçalves, em “Pelas ruas da cidade: mendicidade, vadiagem e loucura na Corte Imperial (1850-1889)”, que analisa uma das faces perversas deste processo: as práticas violentas e excludentes do Estado e da opinião pública (jornais) de reprimir e ocultar “mendigos”, “loucos” e “vadios” das ruas da cidade em defesa de uma “ordem urbana” ancorada em discursos médicos, com o objetivo de afastá-los da cena pública.

Os projetos de modernização da cidade do Rio de Janeiro nos tempos do Império envolveram também estratégias de regulação e controle do poder público sobre o comércio local. Um dos “problemas” apontados pelas autoridades municipais era a presença das negras quitandeiras, mulheres escravas ou livres, que vendiam gêneros alimentícios pelas áreas públicas do Rio. Tal “problema”, entretanto, desdobrou-se em disputas e conflitos litigiosos pela ocupação destas áreas entre o poder público e a comunidade negra. Esse é o objetivo do artigo de Fernando Vieira de Freitas, “As negras quitandeiras no Rio de Janeiro do século XIX pré-republicano: modernização urbana e conflito em torno do pequeno comércio de rua”, ao abarcar as relações entre modernidade e conflitos na capital imperial.

Com o enfoque na história de africanos e afrodescendentes no Brasil e, em particular, em Curitiba, Paraná, a contar do final da abolição da escravatura, o artigo de Joseli Maria Nunes Mendonça, “Escravidão, africanos e afrodescendentes na “cidade mais europeia do Brasil”: identidade, memória e história pública”, tem por objetivo central desconstruir narrativas sobre a identidade e a memória regional que ocultaram a presença e a participação da população africana / afro-brasileira na produção de outras histórias que também guardam sentido de pertencimento à história regional do Paraná. Para sustentar seu objeto de análise, a autora apropria-se das contribuições teóricas e metodológicas da vertente historiográfica denominada “História Pública”, visando apresentar uma concepção mais democrática de identidade e memória.

Para finalizar, Antônio Gilberto Ramos Nogueira e André Aguiar Nogueira em “Patrimônio cultural do litoral de Fortaleza: os desafios da pesquisa histórica” promovem reflexões metodológicas e discutem experiências sobre tradições e sociabilidades urbanas constituintes do patrimônio cultural de Fortaleza / CE. Partindo do uso e análise de entrevistas, os autores buscam inventariar “práticas culturais e representações sociais”, bem como “lugares”, “memórias” e “personagens” identificados ao processo de modernização do litoral, que fazem parte da história e da memória do lugar – caso das “comunidades praianas” e dos “trabalhadores do mar”, formados por pescadores, portuários, meretrizes, operários, surfistas, pequenos comerciantes e trabalhadores informais.

Entendendo que o eixo temático deste dossiê atravessa, por diferentes caminhos e perspectivas, os textos aqui apresentados, e que neles podemos reconhecer um conjunto de estudos que procuram “varrer a contrapelo” as diversas experiências de modernidade urbana para apreendê-las e interpretá-las com outros olhos – como os de Marcovaldo, que “estranho à cidade, é o cidadão por excelência” – é que convidamos os leitores a dividir conosco a “estranha familiaridade” de viver a (e na) cidade.

Uma ótima leitura!

Notas

3. A primeira edição italiana da obra é de 1963

Humberto Perinelli Neto – Docente do IBILCE / Unesp / São José do Rio Preto e do Programa Multidisciplinar Interunidades de Pós-Graduação Strictu Sensu “Ensino e Processos Formativos” (UNESP São José do Rio Preto / Ilha Solteira e Jaboticabal). E-mail: [email protected].

Rodrigo Ribeiro Paziani – 2 Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de Marechal Candido Rondon. E-mail: [email protected].

Os Organizadores


PERINELLI NETO, Humberto; PAZIANI, Rodrigo Ribeiro. Introdução. Tempos Históricos, Paraná, v.20, n.1, 2016. Acessar publicação original [DR]

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Cidades e Sociabilidades / Urbana / 2012

Em 1938, a fotógrafa suíça Hildegard Rosenthal, recém radicada no Brasil, registrou dentre suas diversas cenas urbanas a imagem intitulada “Vendedor de Frutas”. Na fotografia percebemos os espaços ocupados por diferentes camadas sociais, o consumo a partir de um vendedor de rua, as roupas, a arquitetura e parte de um espaço de sociabilidade na primeira metade do século XX.

A imagem captada por Hildegard Rosenthal nos possibilita inferir sobre as relações em torno do vendedor de frutas. Transeuntes subindo a ladeira, um grupo de homens formais que conversam, os vendedores ambientados no cenário, um homem negro que saboreia seu pedaço de fruta e uma mulher que encara a fotógrafa antes de provar o alimento. Seriam essas pessoas assíduas na banca? Conhecidas pelo vendedor por seus nomes? Discutiriam elas sobre o tempo e as questões políticas enquanto compravam frutas? Ou eram apenas cidadãos anônimos da paisagem, que cotidianamente passavam por este lugar?

Como nos fragmentos escritos por Walter Benjamin em “Rua de mão única”, onde os temas ganham significações e atenção para aquilo que é visto nos detalhes das fotografias, do cinema, do teatro, da música, dos anúncios, dos outdoors, dos selos, das cartas, dos cheiros, dos sabores, das paisagens e afins, é que talvez se saliente o punctum da imagem de Rosenthal.

Na contramão dos labirintos invisíveis e inventados entre os espaços citadinos, o número 5 da Revista Urbana apresenta algumas das contribuições recebidas para o dossiê Cidades e Sociabilidades. Entre a panóplia de estudos que tem interessado pesquisadores de diversas áreas do saber, compõe esta edição as pesquisas que abordam a interação social entre os indivíduos, em diferentes contextos que são significados e resinificados pelas experiências no espaço urbano, que se representam na vivência individual ou coletiva, nas ruas, nas festividades, nos espaços institucionais, nas associações, nos estabelecimentos comerciais, nas intrigas, entre outros lugares.

Com o texto de Adilson de Souza Moreira e Luiz Eduardo Fontoura Teixeira compreendemos as trocas socioculturais e simbólicas vivenciadas pelos indivíduos nos espaços de sociabilidade de Florianópolis, analisando as mudanças, permanências e atividades exercidas nas ruas do centro da cidade. Em outros cenários da mesma localidade, Sabrina Melo apresenta diferentes formas de sociabilidades nos cinemas, bares, cafés e teatros, destacando a vivência em espaços fechados. Carlos Alexandre Barros Trubiliano examina os embates sociais entre a elite e personagens urbanos nos espaços de modernização da cidade de Campo Grande, dando ênfase às questões da normatização e do controle social. Em Vitória, as sociabilidades são representadas pelos conflitos abordados no artigo de Fa ola Martins Bastos e Philipe Gomes Alves Pinheiro, apresentando-nos as ruas da capital na segunda metade do século XIX.

O significado das festas religiosas e a sua organização são discutidos por Mauro Dillmann Tavares, demonstrando como os cultos podem ser analisados a partir das práticas sociais em seu entorno. Sílvio Marcus de Souza Correa analisa por meio da imprensa alemã a particularidade das sociabilidades associativas na cidade portuária de Lüderitzbucht. Por fim, a s Troncon Rosa reflete sobre os espaços urbanos e a pobreza, oferecendo subsídios para investigações na área.

O presente número também é acompanhado de uma resenha sobre a história do turismo relacionada às férias e o tempo livre na Argentina, na qual a cidade balneária de Mar del Plata é analisada por Elisa Pastoriza, que demonstra historicamente as transformações sociais, políticas, culturais nesta sociabilidade veraniega. Na tradução de artigos, trouxemos um texto de Martin Jay, “The Senses in HistoryIn the Realm of the Senses: An Introduction”, oferecendo subsídios para os pesquisadores no Brasil.

Agradecemos a todas pelas contribuições enviadas ao dossiê Cidades e Sociabilidades e aos pareceristas, que colaboraram com suas avaliações acuradas para a composição deste número. Na contramão dos saberes, convidamos os leitores a apreciarem os textos e desfrutarem das sociabilidades presentes nas particularidades da história dessas cidades.

Boa leitura,

Carlos André de Moura

Joana Carolina Schossler


MOURA, Carlos André de; SCHOSSLER, Joana Carolina. Apresentação. Urbana. Campinas, v.4, n.2, jul. / dez., 2012. Acessar publicação original [DR]

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Os eruditos e a cidade / Urbana / 2012

Trajetória ou biografia? Uma ou outra seriam aproximações indistintas para estudos sobre a experiência vivida por algum personagem? Poderíamos dizer que a ideia de trajetória remete imediatamente ao aspecto profissional dessa experiência pessoal e, portanto, equivaleria à trajetória profissional? Seria a biografia justificável somente pela abordagem da experiência pessoal, por uma suposta singularidade? Ou ainda, seria possível falar em biografia profissional, como uma “entrada” híbrida, que remeteria necessariamente para a experiência profissional e pessoal, entrecruzadas? Sem eleger, de antemão, uma entre essas abordagens, a proposta do dossiê “Os eruditos e a cidade” apresenta uma oportunidade para se discutir o tema.

A opção foi favorecer o diálogo, nem sempre convergente, entre diversos campos disciplinares a partir das seus aportes conceituais, resultando em diferentes visões sobre a questão, o dossiê priorizou propostas que buscassem pensar o papel, a atuação, as proposições de representantes dos saberes em suas ações sobre a cidade. Médicos, engenheiros, urbanistas, arquitetos, artistas, entre outros personagens que de modos diversos tematizaram o urbano figuram entre aqueles que fizeram dos saberes eruditos seu referencial para problematizar e atuar na cidade, seja na construção das infra-estruturas urbanas, dos sistemas viários, dos planos para moradias e saneamento habitacional, dos planos de expansão urbana, dos planos de intervenção urbana, das obras de abastecimento de água, ou ainda na configuração de um campo profissional para se pensar a cidade, por meio de associações, conferências, instituições de ensino, na administração municipal, entre outras atuações. O interesse do Dossiê “Os Eruditos e a Cidade” é justamente perscrutar a atuação daqueles que a partir de sua formação técnica e erudita atuaram na construção do sistema urbano brasileiro ou na forma de se pensar a cidade, sobretudo pela ação direta nas municipalidades.

Perscrutar a vida de uma pessoa não é tarefa simples. A vida profissional pode ser algo fugidia ao pesquisador, sobretudo quando os vestígios da sua trajetória profissional são restritos quantitativamente, ou ainda restritos qualitativamente, quando se depara com aspectos “lacunares” dessa vida, por vezes destituídos de vestígios documentais mais amplos que propiciem uma interpretação substantiva e profunda. Cartas, ofícios, memoriais, projetos, filiações institucionais, interlocutores e tantas outras categorias documentais que viabilizariam uma interpretação mais detalhada, articulada às tramas técnicas, sociais e profissionais que cada vida consubstanciou, orientam, portanto, (e justamente pela eventual inexistência de uma documentação mais densa) uma interpretação interessada não apenas em sua trajetória, digamos, individualizada ou singularizada, mas antes ampliada para as articulações desse personagem, e dos saberes que orientam suas propostas, às questões em pauta em cada momento histórico.

A partir dessas considerações sobre as possibilidades para se pensar a atuação dos profissionais na construção das cidades, o Centro Interdisciplinar de Estudos da Cidade convida à leitura deste número da revista Urbana, manifestando a gratidão dos editores pelas importantes contribuições recebidas.

Rodrigo de Faria – Professor Doutor (UnB)

Josianne Cerasoli – Professora Doutora (Unicamp)


FARIA, Rodrigo de; CERASOLI, Josianne. Apresentação. Urbana. Campinas, v.4, n.1, jan. / jun., 2012. Acessar publicação original [DR]

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História, Arte e Cidades / Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade / 2011

O número 6 da Revista Cordis: Revista de História Social da Cidade, tem como tema as relações entre História, Arte e Cidades. Os artigos da presente publicação visam registrar a historicidade de diversas experiências artísticas erigidas nas cidades, em que as vivências humanas são recuperadas a partir de estudos na área da cultura. E é por meio de textos, que dialogam com diferentes vertentes da Nova História Cultural, que é dada visibilidade aos símbolos, valores e comportamentos criados / recriados pelos sujeitos sociais em suas tramas na cidade. Nessa perspectiva, os escritos desatam alguns dos fios das tessituras sociais e expressam uma preocupação em incorporar homens e mulheres de múltiplas temporalidades nas cidades, deixando fluir suas sociabilidades, subjetividades, modos de vida, valores e sentimentos que são engendrados no conflituoso e tenso cotidiano da realidade social.

Os textos estão consubstanciados na noção de que documento é tudo o que registra a ação e a experiência humana. Essas reflexões apontam que os ecos das vozes dos sujeitos sociais emergem a partir de olhares, de interpretações históricas atentas às práticas presentes no cotidiano comum e que não estejam contempladas apenas em documentos textuais de arquivos oficiais. Dentro dessa dimensão de análise, os artigos estão coadunados com o que foi enfatizado pelo historiador francês Lucien Febvre, da “Escola dos Annales”, ao afirmar que todo documento ao exprimir o homem, seus gostos e sua maneira de ser é objeto da História.

O eixo temático História, Arte e Cidades parte do pressuposto teórico-metodológico de que a linguagem artística na cidade é fruto da ação de diferentes grupos sociais e que a cada dia inventam / reinventam suas cidades ideais e singulares. Os habitantes das cidades deixam cravadas as marcas de suas passagens no tempo-espaço, enquanto lugares de memória. Seguindo essa linha de raciocínio, os textos expressam o viver urbano por meio de uma diversidade de fontes documentais: literatura, escultura, biografia e logradouros públicos.

As pesquisas que se debruçam sobre a literatura como documento histórico apresentam análises que interrogam as representações produzidas por escritos sobre a sociedade em questão, de modo a apreender o imaginário dos autores e suas implicações político- -ideológicas. É o caso dos textos de “Sessão das Moças: sociabilidades por escrito”, de Alexandre Sardá Vieira; “Habitar o tempo: entre Recife, Barcelona e Sevilha de João Cabral de Melo Neto (1947- 1959)”, de Fernanda Rodrigues Galve e “Relações de gênero e situações de violência no romance O Cortiço, de Aloísio de Azevedo”, de Tânia Regina Zimmermann.

As narrativas que debatem as identidades dos sujeitos históricos e as relações entre história e memória são elaboradas pelos artigos: “O monumento e a cidade. A obra de Brecheret na dinâmica urbana”, de Irene Barbosa de Moura; “Como um canteiro de linguagens e identidades, de história e de arte do Cemitério Municipal São José, Ponta Grossa (PR)”, de Maristela Carneiro; “Praça Willie Davis – Londrina (PR): espaço como memória”, de Lorraine Oliveira Nunez e “Espaço urbano, supermercado de rede: aproximação e distanciamento”, de Desirée Blum Menezes Torres.

A abordagem que entrecruza História, arte e biografia é a de Eugênia Desirée Frota, no artigo “Linguagem e coerência na obra de Pasolini”, em que apresenta as bases político-sociais da obra poética, crítica e contundente, de Pasolini. E, há também o texto “A dança na Ribalta: o Cuballet em Goiânia (1995-2000)”, de Rejane Bonomi Schifino, que investiga as relações entre dança e cidade, a partir de uma perspectiva histórica.

Completam este número, os tópicos: entrevista, resenhas e pesquisas de graduação, que apresentam reflexões inseridas nos novos rumos da escrita historiográfica sobre a cidade.

São Paulo- SP, junho de 2011.

Yvone Dias Avelino (PUC-SP)

Marcelo Flório (Universidade Anhembi Morumbi)

Os Editores


AVELINO, Yvone Dias; FLÓRIO, Marcelo. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 6, jan. / jun., 2011. Acessar publicação original [DR]

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Cidades e Bens Culturais / Tempo e Argumento / 2011

Para o italiano Ítalo Calvino, cada cidade tem a forma e o sentido que lhe atribui quem lança sobre ela seu olhar. Os olhares sobre a cidade deveriam, então, não apenas observar suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas as respostas possíveis que elas podem fornecer às nossas perguntas.1

Os artigos do Dossiê Cidades e Bens Culturais, apresentado neste terceiro ano da revista Tempo e Argumento, do Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), trazem olhares distintos sobre as cidades e os bens culturais evidenciando que ainda que as cidades e as narrativas produzidas sobre elas não sejam idênticas, apresentam inúmeros pontos de contato, possibilidades de leituras e de reflexões.

O artigo que abre o Dossiê é assinado por Artur Simões Rozestraten, intitulado Belém do Pará, Maceió e a sobrevivência dos “Portadores do Modelo de Arquitetura”. O autor trata das interações das expressões dos promesseiros do Círio de Nazaré em Belém do Pará, dos “brincantes” do auto-natalino do Guerreiro Alagoano e o universo dos modelos arquitetônicos, com o motivo artístico do “portador do modelo de arquitetura”, figuração característica da arte medieval, que apresenta um personagem tendo nas mãos um objeto de tamanho reduzido e formas arquitetônicas, como uma maquete.

Educação e Patrimônio Cultural: diálogos entre cidade e campo como lugar de identidades ressonantes de Elizabete Tamanini e Zilma Isabel Peixer é apresentado na sequência. Nesse artigo, as autoras procuram delinear as interfaces entre educação popular, patrimônio cultural, campo e cidade tecendo um quadro ainda novo na construção de conhecimento e nos debates na área de Educação e patrimônio cultural.

Marcos Sorrilha Pinheiro traz o artigo Lima, uma cidade entre a aristocracia e a plebe (1950-1980) onde problematiza as transformações ocorridas na cidade de Lima ao longo dos últimos sessenta anos. Mais do que alterações em seu plano urbanístico, sustenta o autor, Lima teria passado por uma reconfiguração étnica e social que dariam novas cores e novos padrões comportamentais e culturais à capital peruana. A chegada do migrante à cidade provocou a reação conservadora da elite local e evidenciou a separação existente entre a aristocracia e a plebe da cidade.

A historiadora Ilanil Coelho em Embarques e desembarques na estação da memória em Joinville interpreta, a partir da historiografia, os embates travados no processo de patrimonialização de uma antiga estação ferroviária na cidade de Joinville, Santa Catarina.

O artigo Florianópolis: espaço urbano, Poder público e disciplinarização (Décadas 1910 e 1920) de Sandro da Silveira Costa discute o aprimoramento do aparato legislativo implantado em Santa Catarina e em sua Capital, especialmente durante as décadas de 1910 e 1920, que pretendeu melhor organizar e controlar o deslocamento dos veículos – motorizados e / ou operados por força motriz animal – pelas vias intermunicipais e pelas ruas do perímetro urbano da cidade de Florianópolis. Para o autor essas ações disciplinadoras objetivaram adequar esse espaço às posturas civilizatórias propagadas pelas elites locais, observadas naquelas facções ligadas ao viés republicano que almejavam – pelo menos em teoria – o progresso material e moral da sociedade brasileira da época.

O Bar Palácio, fundado na cidade de Curitiba da década de 1930, é objeto de estudo de Mariana Corção. No artigo De espaço de inovação a lugar de tradição, bar Palácio como espectador e ator da dinâmica urbana de Curitiba (1930-2006) a autora explora fontes impressas que defendem a tradicionalidade do Bar Palácio diante das intensas transformações ocorridas em seu entorno (somadas a algumas mudanças internas). Desta forma, a relativa imutabilidade do Palácio, em relação às transformações urbanas de Curitiba ao longo do século XX, valoriza-o enquanto espaço de rememoração.

Fechando o Dossiê, temos o artigo Entre o campo e a cidade: memória e preservação na Fazenda do Quilombo em Minas Gerais assinado por Elizabeth Aparecida Duque Seabra. O artigo discute como se elaboram reflexões sobre a história, a memória e a preservação de bens culturais a partir do contato com o patrimônio cultural em visitas educativas. A autora toma como suposto que os sujeitos em situações educativas de visita se tornam parte constitutiva do movimento de produção e disponibilização de novos sentidos para o patrimônio cultural.

Na seção Artigos apresentamos Do Rio de Janeiro para a Sibéria tropical: prisões e desterros para o Acre nos anos de 1904 e 1910 de Francisco Bento da Silva. No artigo se observa a discussão de aspectos de dois acontecimentos que marcaram a nascente República brasileira no alvorecer do século XX: a Revolta da Vacina (1904) e a Revolta dos Marinheiros (1910). Para o autor há obscuridades na história desses acontecimentos, sobretudo no que concerne o envio de homens e mulheres do período, condenados ao desterro, para o Território do Acre, na Amazônia.

O artigo Família, modernização capitalista e democracia: retomando alguns marcos do antigo debate sobre as transformações da família no Brasil de Maria de Fátima Araújo analisa as transformações da família no Brasil ocorridas sob a influência da modernização capitalista e dos movimentos sociais libertários em defesa da democracia, da liberdade e igualdade, reconhecimento das diferenças e dos direitos humanos e individuais.

Felipe Augusto dos Santos Ribeiro, no artigo Pronta para ajudar os operários que a elegeram: vereadora Ilza Gouvêa e a militância das tecelãs de Magé / RJ, analisa a militância política das tecelãs mageenses, com destaque para a operária Ilza Gouvêa, eleita vereadora em 1950.

E, por fim, Soraia Carolina de Mello no artigo Um trabalho naturalmente feminino? Discussões feministas no Cone Sul (1970-1990) discute a história sobre a naturalização do trabalho doméstico nos feminismos de Segunda Onda do Cone Sul, utilizando como fonte as produções impressas desses feminismos, com ênfase em periódicos, mas não somente.

Na seção Resenhas Tânia Regina Zimmermann apresenta o livro de Ivone Gebara Vulnerabilidade, Justiça e Feminismos: antologia de textos, publicado em 2010, e Rogério Duarte Fernandes dos Passos resenha o livro de organizado por José Camilo dos Santos Filho e Silvia E. Moraes Escola e Universidade na Pós-Modernidade, também de 2010.

Fechando este número da revista, temos a seção Entrevistas, com a entrevista feita com o Prof. Dr. Daniel Aarão Reis Filho, assinada por Mariana Joffily e Sergio Luis Schlatter.

Nota

1 CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. 2. ed. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.

Os Editores


Comitê editorial. Editorial. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.3, n.1, 2011. Acessar publicação original [DR]

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Cidades: Processos Migratórios e Imigratórios / Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade / 2009

Cidades: Processos Migratórios e Imigratórios é o título central da temática do segundo número da Revista Cordis. Os escritos que integram a presente publicação visam divulgar socialmente alguns estudos que se interessam pelas muitas faces e fases experienciadas pelos sujeitos que, em algum momento, partiram de um território para outro ou se depararam com a presença de sujeitos de outras plagas em “seus” territórios.

As cidades brasileiras, nos séculos XIX e XX, em especial neste último, foram constituídas sobremaneira por meio das colaborações de migrantes e imigrantes. Alguns vieram de outros continentes, como os portugueses; outros, como os indígenas, fizeram migrações “dentro” de um mesmo território. Esse processo quase sempre tem razões históricas e motivações pontuais de ordem econômica ou política, mas inegavelmente a primeira é superior a segunda.

Situação semelhante ocorreu e ainda ocorre em urbes de outras partes do globo. Seja por causa de questões políticas, culturais, científicas, interesses econômicos, sociais ou culturais, o fluxo de sujeitos de um território para outro, ou por vezes outros, é um fator decisivo na alteração e mesmo transformação das realidades citadinas e também rurais. Quase toda a humanidade é, em algum sentido, – ou já foi – migrante.

Os textos que integram a Revista Cordis contemplam diversas formas de migração, imigração e inclusive emigração. As abordagens também não são estanques: há enfoques que utilizam análises antropológicas, outros históricas. Alguns se aproximam e dialogam criticamente com as interpretações que a Sociologia e a Política vêem desenvolvendo nas últimas décadas. A Lingüística também tem contribuído de modo fundamental para problematizar antigas indagações, tensionando fontes e documentos antes tidos como “neutros” ou culturalmente positivos.

As reflexões propostas pelos autores indicam que os indivíduos vindos de outras plagas, neste caso os imigrantes, sobretudo os europeus, trouxeram para o Brasil concepções políticas que se confrontaram com as leis e os valores da sociedade dominante; a presença destas pessoas alterou qualitativa e quantitativamente o cotidiano das cidades, imprimindo costumes e práticas antes inexistentes ou não efetivados pela comunidade em que se instalaram, seja amistosa ou forçosamente. A fixação destas pessoas proporcionou a viabilização de algumas tecnologias e a perenidade de certos trabalhos no espaço citadino.

A reterritorialização, com a chegada de outras pessoas, foi inevitável. Criaram-se fronteiras e desfizeram-se parte das existentes. Na cidade de São Paulo, determinadas regiões passaram a ter “bairros étnicos”, se bem que na realidade não o eram de todo. Construiu-se a imagem de que havia “bairro de italianos”, “bairro de japoneses”, “bairro de portugueses”, dentre outros.

Os migrantes e imigrantes ajudaram a modernizar a cidade, embora nem sempre tenham usufruído materialmente desta modernização física. Passaram por privações e chegaram a ser criminalizados em razão da origem, do credo, da língua e do trabalho que realizavam, sendo explorados não somente pela elite nacional, que os via mais como mão-de-obra – seriam escravos mais civilizados –, mas também pelos próprios conterrâneos.

Finalmente, esperamos, com a divulgação virtual destes textos, mostrar os processos migração e imigração como realidades variadas dentro da urbe, cada qual portadora de cotidianos distintos. Essa realidade, porém, sempre foi materializada por pessoas concretas que, em contato com outros sujeitos, igualmente concretos, humanos, fez surgir conflitos, tensões, rupturas, confrontos entre sujeitos que buscavam, ao seu modo, construírem – o mais adequado é reconstruírem – as suas próprias histórias, forjar suas vidas diante de realidades já constituídas.

São Paulo- SP, junho de 2009

Nataniél Dal Moro

Editor assistente


MORO, Nataniél Dal. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 2, jan. / jun., 2009. Acessar publicação original [DR]

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Deslocamentos humanos. Cidades – Memórias / Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade / 2018

 

[Deslocamentos humanos. Cidades e memórias]. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 21 jul. / dez., 2008. Acessar dossiê [DR]

 

Cidades / Revista Brasileira de História / 2007

De uma cidade, não aproveitamos
as suas sete ou setenta e sete
maravilhas, mas a resposta
que dá às nossas perguntas.

Ítalo Calvino

Decorre da proposta de Calvino o esforço dos historiadores no sentido de colocarem perguntas pertinentes ao mundo urbano. Assim, o presente número da Revista Brasileira de História dedica-se a perscrutar algumas entre as múltiplas acepções do tema em questão.

Os estudos históricos sobre as cidades vêm acompanhando as significativas mudanças do seu objeto, ao mesmo tempo em que procuram desvendar o crescimento das tensões urbanas. Desta forma, a produção historiográfica busca decifrar as cidades e suas representações, recuperando múltiplas experiências urbanas vivenciadas de forma fragmentada, diversificada e contrastante.

As cidades se impõem como desafios aos historiadores que visam entender seus emaranhados de enigmas, de representações, de tempos, de espaços e de memórias. Sob a sua materialidade fisicamente tangível, descortinam-se ‘cidades análogas invisíveis’, com tramas de memórias e de esquecimentos do passado, contendo impressões recolhidas ao longo das experiências urbanas. Nas cidades estabelecem-se conflitos e tensões, solidariedades e acolhimentos, mobilidade e enraizamento, planificação e representações, tudo envolto em confrontos infindáveis que redimensionam incessantemente o pulsar urbano. É dentro desse universo de significados que a Revista Brasileira de História, em seu 53º número, pretende movimentar-se.

Dessa forma, os artigos do presente dossiê percorrem caminhos variados, contando inicialmente um valioso texto introdutório de Sandra Jatahy Pesavento, “Cidades visíveis, cidades sensíveis, cidades imaginárias”, que nos oferece reflexões sobre questões e perspectivas da produção historiográfica.

Os estudos em torno da modernidade, racionalidade e urbanização, que tanto vêm envolvendo a historiografia, fizeram-se presentes em vários artigos: “A Belle Époque caipira: problematizações e oportunidades interpretativas da modernidade e urbanização no Mundo do Café (1852-1930)”, de José Evaldo de Mello Doin e Humberto Perinelli Neto; “Limites da utopia: cidade e modernização no Brasil desenvolvimentista (Florianópolis, década de 1950)”, de Reinaldo Lindolfo Lohn; “Carrosséis urbanos: da racionalidade moderna ao pluralismo temático (ou territorialidades contemporâneas)”, de Maria Bernardete Ramos Flores e Emerson César de Campos, e “O processo de urbanização paulista: a medicina e o crescimento da cidade moderna”, de Márcia Regina Barros da Silva.

As sensibilidades urbanas emergem particularmente focalizadas em “A cidade como sentimento: história e memória de um acontecimento na sociedade contemporânea — o incêndio do Gran Circus Norte-Americano em Niterói, 1961”, de Paulo Knauss, e em “Os dramas da cidade nos jornais de São Paulo na passagem para o século XX”, de Valéria Guimarães, assim como estiveram presentes nos relatos das crônicas da imprensa analisadas em “Cajuína e cristalina: as transformações espaciais vistas pelos cronistas que atuaram nos jornais de Teresina entre 1950 e 1970”, de Francisco Alcides do Nascimento.

Análises sobre imagens e paisagens da cidade aparecem na maioria dos artigos, mas em especial nos de Zita Rosane Possamai, que privilegiou Porto Alegre em “Narrativas fotográficas sobre a cidade”, e de Charles Monteiro, “Imagens sedutoras da modernidade urbana: reflexões sobre a construção de um novo padrão de visualidade urbana nas revistas ilustradas na década de 1950”, como também no enfoque das vilas do ouro por Alexandre Mendes Cunha, em “Espaço, paisagem e população: dinâmicas espaciais e movimentos da população na leitura das vilas do ouro em Minas Gerais ao começo do século XIX”.

Além dessas variadas experiências urbanas, ‘outras histórias’ foram focalizadas nas análises de Edwar de Alencar Castelo Branco e Francisco José Gomes Damasceno, respectivamente em “Táticas caminhantes: cinema marginal e flanâncias juvenis pela cidade” e “As cidades da juventude em Fortaleza”.

Conselho Editorial


Conselho editorial. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.27, n.53, jan. / jun., 2007. Acessar publicação original [DR]

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Cidades / Canoa do Tempo / 2007

Já sabemos todos que o tempo não pode ser detido em sua marcha inexorável na direção do que ainda não sabemos. Mas o tempo pode ser recuperado e uma das formas possíveis de se fazer isso é percorrê-lo ao inverso, pela memória, pela narrativa em suas diversas formas e, claro, pela escrita historiográfica.

A revista Canoa do Tempo nasce com este anseio de percorrer o tempo, e, às margens de um rio tão belo, profundo e misterioso quanto são os rios do passado. Nada mais natural, portanto, do que evocar, no início de nosso percurso, a imagem dos pequenos e aparentemente frágeis barcos tão caros aos nossos ribeirinhos.

A imagem de nossos pequenos barcos, cruzando os longos rios de nossa Amazônia não poderia mesmo ser mais evocativa de uma jornada que pretende ancorar em vários portos e deixar-se levar ao infinito, sem jamais, no entanto, esquecer o lugar de onde partiu. E, como no fim de todas as viagens, para vê-lo com novos e atentos olhos ao retornar.

Em sua primeira viagem, nossa canoa aportou nas cidades e, em suas múltiplas manifestações e formas de vida, defrontou-se com as áfricas imaginárias na belle époque paulistana, adentrou os igarapés setecentistas dos líderes indígenas da colônia e foi ainda mais longe em busca dos indivíduos medievais. E este foi apenas o início de sua viagem, esperemos, então, que muitas outras se sigam a esta.

Sínval Carlos Mello Gonçalves –  Coordenador do Programa de Pós-Graduação em História.

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Experiências Urbanas / Revista Brasileira de História / 2003

A Revista Brasileira de História, a RBH da Anpuh, chega ao seu 46° número cada vez mais fortalecida pelo prestígio que os historiadores brasileiros lhe atribuem. Ao longo de sua trajetória, já contada em décadas, a RBH publicou centenas de autores nacionais e estrangeiros, contribuindo para a divulgação de temas e teses importantes para a historiografia. A RBH foi, também, dirigida por dezenas de professores universitários que, em suas participações nos Conselhos Editoriais, orientaram a entrega ao público de artigos de excelência científica. O levantamento dos assuntos tratados nesses textos pode apontar, guardadas as limitações relativas, os interesses mais enfocados no período de sua existência. Apenas considerando o início dos anos 90 até os dias atuais, isto é, os 32 últimos números editados, a RBH publicou principalmente dossiês de teoria da história ou historiografia, cerca de 25% do total — o que atesta vivamente que o ofício do historiador, seus métodos e dificuldades, apresentam-se como a preocupação mais constante da comunidade. Espaço pouco inferior ocuparam os dossiês sobre política — nacional, internacional e / ou teórica — indicando a questão do poder como sempre parceira dos caminhos do pensamento. Como temática de época, registrando o encontro com objetos historiográficos menos tradicionais, os assuntos de gênero e família aparecem em terceiro lugar entre os dossiês mais publicados. Mas não se restringem a estes nomeados os temas centrais do período: tratou-se também de ensino da história, de religião, de viagens, de escravidão, de artes, de ciências, de migrações, de história da América etc.

Levando em consideração essa distribuição temática que a história do periódico legou, o Conselho Editorial que ora passa a dirigir a RBH, houve por bem reafirmar a conveniência de dar continuidade ao andamento editorial já consolidado, acrescentando como parâmetros a atenção com problemas sugeridos pela conjuntura e a cobertura de dossiês / temáticas ainda não aquinhoados pelos números anteriores.

É nesse sentido que apresentamos o número que está em suas mãos. Nele concentram-se artigos sobre Experiências Urbanas, justamente numa circunstância social em que tanto nossas vidas nas pequenas ou médias aglomerações humanas, como nas metrópoles globais, merecem reflexão e cuidado especiais. O pensamento histórico que o dossiê atual oferece, percorre caminhos variados que vão de Campina Grande ao Rio de Janeiro, de São Paulo a Piracicaba ou São José do Rio Preto, passando pela cidade de Goiás, tudo dentro de um registro temporal significativo: a passagem do século XIX ao XX, incluindo sua primeira metade. Um espaço de tempo caracterizado pela criação das condições para o Brasil atual. Esses estudos da vida urbana atravessam temas variados: Mônica Schpun esquadrinha a São Paulo de Mário de Andrade, para captar uma sensibilidade talvez perdida; Fábio Sousa estuda a atribulada reforma urbana de Campina Grande, para entender a teatralização do poder que acompanhou “o advento das cidades modernas no Brasil”; André L. Paulillo avalia “as relações que a administração pública estabeleceu com saberes escolares e práticas educativas”, no Rio de Janeiro dos anos 20 do século passado; Graciela Oliver e Tamás Szmrecsányi examinam o “processo de ressurgimento da agroindústria canavieira paulista”, lançando luzes sobre o crescimento daquela atividade num período em que a crise do café ocupava as atenções; Maria da Conceição Silva discute a atuação do “clero no sentido de normalizar o comportamento das pessoas por meio da celebração do casamento na cidade de Goiás”; e Airton Cavenaghi apresenta o cotidiano da São José do Rio Preto de seus primórdios, por meio da análise de fotografias.

Os artigos que se seguem ao dossiê ocupam-se de diplomacia (Eugênio V. Garcia), política (Sandro Coelho), historiografia (José A. Cavenaghi), colonização (André F. Rodrigues) e violência (Myrian S. dos Santos), formando um verdadeiro panorama diversificado dos interesses historiográficos contemporâneos. Entre si, no entanto — e somados aos artigos componentes do dossiê — configuram um número da RBH integralmente dedicado ao estudo da história ou historiografia brasileiras.

O próximo número desta revista, que circulará em meados de 2004, cuidará do Brasil: do ensaio ao golpe (1954-1964), numa tentativa, uma vez mais, de abrir suas páginas para o entendimento da cultura política que cercou a relação entre democracia e autoritarismo, entre vida pública e privada, naquela turbulenta quadra da vida nacional. Os números seguintes tratarão da produção e divulgação de saberes históricos e pedagógicos, e da relação entre história e manifestações visuais, incluindo o estudo das fontes concernentes.

A definição dessas temáticas, a partir da análise dos pregressos dossiês, acompanha a reformulação da identidade visual da RBH, que agora ganha uma personalidade única e reconhecível para o período de vigência do atual Conselho Editorial.

Conselho Editorial


Conselho editorial. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.23, n.46, 2003. Acessar publicação original [DR]

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Cultura e cidades / Revista Brasileira de História / 1984-1985

DECCA, Edgar Salvadori de; ARRUDA, José Jobson de Andrade. Editorial. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.5, n.8-9, set. 1984 / abr., 1985. Acesso apenas pelo link original [DR]

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Documentário Iconográfico de Cidades e Monumentos do Brasil | Anais do Museu Histórico Nacional | 1953

Organizador

Gustavo Barroso – Diretor do M. H. N.

Referências desta apresentação

BARROSO, Gustavo. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v. 7, 1953. Acesso apenas pelo link original [DR]

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Catálogo das moedas brasileiras do Museu Histórico Nacional: moedas da República 1889-1946 | Anais do Museu Histórico Nacional | 1950

Catálogo das moedas brasileiras do Museu Histórico Nacional: moedas da República 1889-1946 | Anais do Museu Histórico Nacional | 1950, BARROSO Gustavo (Org d), Moedas (d), América – Brasil, Séc. 19-20, Museu Histórico Nacional (d),

Referências desta apresentação

[Catálogo das moedas brasileiras do Museu Histórico Nacional: modas da República 1889-1946]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.11, 1950.

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IV Centenário do Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 1965

IV Centenário do Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 1965, MONTELLO Josué (Org d), Centenário do Rio de Janeiro IV (d), América – Brasil, Séc. 20

Organizador

Josué Montello – Diretor do Museu Histórico Nacional.

Referências desta apresentação

MONTELLO, Josué. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.15, 1965. Acesso apenas no link original [DR]

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1º Centenário da Batalha do Tuiuti  | Anais do Museu Histórico Nacional | 1967, Centenário da Batalha do Tuiuti I (d),

1º Centenário da Batalha do Tuiuti  | Anais do Museu Histórico Nacional | 1967

Referências desta apresentação

[1º Centenário da Batalha do Tuiuti]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.17, 1967. Acessar dossiê [DR]

Imperador D. Pedro II | Anais do Museu Histórico Nacional | 1975

Imperador D. Pedro II | Anais do Museu Histórico Nacional | 1975, Imperador D. Pedro II (d), América – Brasil, Séc. 19

Referências desta apresentação

Editorial. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.26, 1975. Acesso apenas no link original [DR]

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OBS: No editorial não apresenta o autor (a)

75 anos de Fundação do Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 1997

75 anos de Fundação do Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 1997, Museu Histórico Nacional (d), América – Brasil, Séc. 20, TOSTES Vera Lúcia Bottrel (Org d)

Organizador

Vera Lúcia Bottrel Tostes – Museóloga. Mestre em História Universidade de São Paulo. Diretora do Museu Histórico Nacional.

Referências desta apresentação

TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.29, 1997.  Acesso apenas no link original [DR]

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Bicentenário de D. Pedro | Anais do Museu Histórico Nacional | 1998

Bicentenário de D. Pedro | Anais do Museu Histórico Nacional | 1998, Bicentenário de D. Pedro (d), América – Brasil, Séc. 19, TOSTES Vera Lúcia Bottrel (Org d)

Organizador

Vera Lúcia Bottrel Tostes – Museóloga. Mestre em História Universidade de São Paulo. Professora de Heráldica e Genealogia Universidade do Rio de Janeiro. Diretora do Museu Histórico Nacional.

Referências desta apresentação

TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.30, 1998. Acesso apenas no link original [DR]

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  1. João VI | Anais do Museu Histórico Nacional | 1999
  2. João VI | Anais do Museu Histórico Nacional | 1999, TOSTES Vera Lúcia Bottrel (Org d), D João VI (d), América – Brasil, Séc. 19

Organizador

Vera Lúcia Bottrel Tostes – Museóloga. Mestre em História Universidade de São Paulo. Professora da Universidade do Rio de Janeiro (UNI-Rio). Diretora do Museu Histórico Nacional.

Referências desta apresentação

TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.31, 1999. Acesso apenas no link original [DR]

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Fotografia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2000

Fotografia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2000, MAUAD Ana Maria (Org d), Fotografia (d)

Organizador

Ana Maria Mauad – Doutora em História. Professora Adjunta Universidade Federal Fluminense.

Referências desta apresentação

MAUAD, Ana Maria. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.32, p.10-14, 2000. Acesso apenas pelo link original [DR]

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Expressões da expansão Luso-Atlântica no Museu Histórico Nacional  | Anais do Museu Histórico Nacional | 2000

Expressões da expansão Luso-Atlântica no Museu Histórico Nacional  | Anais do Museu Histórico Nacional | 2000

Referências desta apresentação

[Expressões da expansão Luso-Atlântica no Museu Histórico Nacional]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.32, 2000.

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Coleção | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001

Coleção | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001, Coleção (d), KNAUSS Paulo (Org d)

Organizador

Paulo Knauss

Referências desta apresentação

KNAUSS, Paulo. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.33, p.19-22, 2001. Acesso apenas no link original [DR]

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Centro de Referência Luso-Brasileira 2000-2001 | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001

Centro de Referência Luso-Brasileira 2000-2001 | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001, BITTENCOURT José (Org d), Centro de Referência luso-Brasileira (d), Séc. 20-21

Organizador

José Bittencourt

Referências desta apresentação

BITTENCOURT, José. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.33, p.155-159, 2001. Acesso apenas no link original [DR]

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Acervos-indumentária | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001

Acervos-indumentária | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001, LIMA Vera Lúcia (Org d), Acervos (d), Indumentária (d)

Organizador

Vera Lúcia Lima – Museóloga. Pesquisadora do Museu Histórico Nacional. Curadora da Coleção de indumentária do Museu Histórico Nacional.

Referências desta apresentação

LIMA, Vera Lúcia. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.33, p.237-240, 2001. Acesso apenas no link original [DR]

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Arquitetura  | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002

Referências desta apresentação

Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p.7-10, 2002. Acesso apenas no link original [DR]

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Arquitetura | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002

Arquitetura | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002, KESSEL Carlos (Org d), Arquitetura (d)

Organizador

Carlos Kessel – Arquiteto e Historiador pesquisador associado do Centro de Referência Luso-Brasileira do Museu Histórico Nacional.

Referências desta apresentação

KESSEL, Carlos. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p.19-20, 2002. Acesso apenas no link original [DR]

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Historiografia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002

Historiografia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002, GUIMARÃES Manoel Luís Salgado (Org d), Historiografia (d)

Organizador

Manoel Luís Salgado Guimarães – Historiador. Professor Adjunto departamento de História UFRJ.

Referências desta apresentação

GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p.67-70, 2002. Acesso apenas no link original [DR]

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Museografia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002

Museografia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002, BITTENCOURT José Neves (Org d), Museografia (d)

Organizador

José Neves Bittencourt

Referências desta apresentação

BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p.149-152, 2002. Acesso apenas no link original [DR]

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Potencialidades | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002

Potencialidades | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002, ALMEIDA Cícero Antônio Fonseca de (Org d)

Organizador

Cícero Antônio Fonseca de Almeida

Referências desta apresentação

ALMEIDA, Cícero Antônio Fonseca de. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p.223-226, 2002. Acesso apenas no link original [DR]

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Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002

Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002, BITTENCOURT José Neves (Org d), Acervos (d)

Organizador

José Neves Bittencourt

Referências desta apresentação

BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p. p.295-296, 2002. Acesso apenas no link original [DR]

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Cidade do Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003

Cidade do Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003, TAVARES Luiz Edmundo (Org d), Cidade do Rio de Janeiro (d), América – Brasil

Organizador

Luiz Edmundo Tavares

Referências desta apresentação

TAVARES, Luiz Edmundo. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.35, p.13-14, 2003. Acesso apenas no link original [DR]

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O papel dos Museus na melhoria de vida no Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003

O papel dos Museus na melhoria de vida no Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003, BITTENCOURT José Neves (Org d), BITTENCOURT José Neves (Org d); TOSTES Vera Lúcia Bottrel (Org d)

Organizadores

José Neves Bittencourt

Vera Lúcia Bottrel Tostes

Referências desta apresentação

BITTENCOURT, José Neves; TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.35, p.105-106, 2003. Acesso apenas no link original [DR]

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Olhares sobre Gustavo Barroso | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003

Olhares sobre Gustavo Barroso | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d), Gustavo Barroso, América – Brasil, Séc. 20

Organizador

Aline Montenegro Magalhães

Referências desta apresentação

MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.35, p.177-178, 2003. Acesso apenas no link original [DR]

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O Rio no acervo do Museu Histórico Nacional  | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003

O Rio no acervo do Museu Histórico Nacional  | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003, BITTENCOURT José Neves (Org d), Rio de Janeiro (d), Acervo (d), Museu Histórico Nacional (d)

Organizador

José Neves Bittencourt

Referências desta apresentação

BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.35, p.267-270, 2003. Acesso apenas no link original [DR]

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Olhares sobre o Mundo Lusófono  | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003

Olhares sobre o Mundo Lusófono  | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003, FREIXO Adriano de (Org d), Mundo Lusófono (d)

Organizador

Adriano de Freixo

Referências desta apresentação

FREIXO, Adriano de. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.35, p.387-388, 2003. Acesso apenas no link original [DR]

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Museologia na prática | Anais do Museu Histórico Nacional | 2004

Museologia na prática | Anais do Museu Histórico Nacional | 2004, FERNANDES Lia Silvia Peres (Org d), Museologia (d)

Organizador

Lia Silvia Peres Fernandes

Referências desta apresentação

FERNANDES, Lia Silvia Peres. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.36, p.21-24, 2004. Acesso apenas no link original [DR]

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Anais, nova série-dez volumes de sucesso  | Anais do Museu Histórico Nacional | 2004

Anais, nova série-dez volumes de sucesso  | Anais do Museu Histórico Nacional | 2004, BITTENCOURT José Neves (Org d), Anais do Museu Histórico Nacional (d)

Organizador

José Neves Bittencourt

Referências desta apresentação

BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.36, p.99-102, 2004. Acesso apenas no link original [DR]

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Cultura Material-MHN | Anais do Museu Histórico Nacional | 2004

Cultura Material-MHN | Anais do Museu Histórico Nacional | 2004, BITTENCOURT José Neves (Org d), Cultura Material (d), Museu Histórico Nacional (d)

Organizador

José Neves Bittencourt

Referências desta apresentação

BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.36, p.205-208, 2004. Acesso apenas no link original [DR]

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Trajetórias do Patrimônio | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005

Trajetórias do Patrimônio | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d), Patrimônio (d)

Organizador

Aline Montenegro Magalhães

Referências desta apresentação

MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.37, p.38-40, 2005. Acesso apenas no link original [DR]

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Museus e Tecnologia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005

Museus e Tecnologia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005, GOUVEIA Inês (Org d), Museus (d), Tecnologia (d)

Organizador

Inês Gouveia

Referências desta apresentação

GOUVEIA, Inês. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.37, p.100-103, 2005. Acesso apenas no link original [DR]

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Objetos e construções simbólicas | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005

Objetos e construções simbólicas | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005, BITTENCOURT José Neves (Org d), Objetos (d), Construções Simbólicas (d)

Organizador

José Neves Bittencourt

Referências desta apresentação

BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.37, p.154-157, 2005. Acesso apenas no link original [DR]

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Cultura Material no Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005

Cultura Material no Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d), Cultura Material (d), Museu Histórico Nacional (d)

Organizador

Aline Montenegro Magalhães

Referências desta apresentação

MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.37, p.222-225, 2005. Acesso apenas no link original [DR]

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Arqueologia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006

Arqueologia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006, LIMA Pablo Luiz de Oliveira (Org d), Arqueologia (d)

Organizador

Pablo Luiz de Oliveira Lima

Referências desta apresentação

LIMA, Pablo Luiz de Oliveira. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.38, p.20-24, 2006. Acesso apenas no link original [DR]

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Numismática | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006

Numismática | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006, VIEIRA Rejane Maria Lobo (Org d), Numismática (d)

Organizador

Rejane Maria Lobo Vieira

Referências desta apresentação

VIEIRA, Rejane Maria Lobo. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.38, p.130-132, 2006. Acesso apenas no link original [DR]

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Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006

Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006, BEZERRA Rafael Zamorano (Org d), Acervos (d)

Organizador

Rafael Zamorano Bezerra

Referências desta apresentação

BEZERRA, Rafael Zamorano. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.38, p.208-211, 2006. Acesso apenas no link original [DR]

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Reserva técnica dos Anais | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006

Reserva técnica dos Anais | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006, BITTENCOURT José Neves (Org d), Reserva Técnica (d), Anais do Museu Histórico Nacional (d)

Organizador

José Neves Bittencourt

Referências desta apresentação

BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.38, p.250-252, 2006. Acesso apenas no link original [DR]

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Pintura de História | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007

Pintura de História | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007, CHRISTO Maraliz de Castro Vieira (Org d), Pintura de História (d)

Organizador

Maraliz de Castro Vieira Christo

Referências desta apresentação

CHRISTO, Maraliz de Castro Vieira. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.39, p.44-48, 2007. Acesso apenas no link original [DR]

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Museus e Público Jovem | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007

Museus e Público Jovem | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d); PEREIRA Marcelle R. N. (Org d), Museus (d), Público Jovem (d)

Organizadores

Aline Montenegro Magalhães

Marcelle R. N. Pereira

Referências desta apresentação

MAGALHÃES, Aline Montenegro; PEREIRA, Marcelle R. N. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.39, p.242-244, 2007. Acesso apenas no link original [DR]

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Conservação e Restauro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007

Conservação e Restauro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007, CESTARI Jussara Faria (Org d), Conservação (d), Restauro (d)

Organizador

Jussara Faria Cestari

Referências desta apresentação

CESTARI, Jussara Faria. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.39, p.364-366, 2007. Acesso apenas no link original [DR]

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Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007

Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d), Acervos (d)

Organizador

Aline Montenegro Magalhães

Referências desta apresentação

MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.39, p.416-420, 2007. Acesso apenas no link original [DR]

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Reserva técnica dos Anais do Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007

Reserva técnica dos Anais do Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007, BEZERRA Rafael Zamorano (Org d), Reserva Técnica (d), Anais do Museu Histórico Nacional (d)

Organizador

Rafael Zamorano Bezerra – Historiador. Mestre em Ciência Política pela UFRJ. Pesquisador e editor dos Anais do Museu Histórico Nacional.

Referências desta apresentação

BEZERRA, Rafael Zamorano. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.39, p.512-521, 2007. Acesso apenas no link original [DR]

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Comemorações | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008

Comemorações | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008, ABREU Marcelo Santos (Org d), Comemorações (d)

Organizador

Marcelo Santos Abreu – Universidade de Uberlândia. Professor Assistente de História da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História Social da UFRJ.

Referências desta apresentação

ABREU, Marcelo Santos. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.40, p.30-33, 2008. Acesso apenas no link original [DR]

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Representação dos Negros em museus | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008

Representação dos Negros em museus | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008, BARBOSA Nila Rodrigues (Org d), Representação (d), Negros (d), Museus (d)

Organizador

Nila Rodrigues Barbosa – Bacharel em História. Especialista em Organização de Arquivos. Especialista em Estudos Africanos e Afro-brasileiros. Membro da equipe técnica do Museu Abílio Barreto da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte.

Referências desta apresentação

BARBOSA, Nila Rodrigues. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.40, p.144-147, 2008. Acesso apenas no link original [DR]

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Patrimônio Lusófono: ações educativas de valorização | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008

Patrimônio Lusófono: ações educativas de valorização | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d), Patrimônio Lusófono (d), Ações Educativas (d)

Organizador

Aline Montenegro Magalhães – Historiadora. Mestre em História Social pela UFRJ e doutoranda pela mesma universidade. Coordenadora do Centro de Referência Luso-Brasileira do Museu Histórico.

Referências desta apresentação

MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.40, p.278-281, 2008. Acesso apenas no link original [DR]

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Conservação e Restauro. Uma abordagem metodológica e conceituação | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008

Conservação e Restauro. Uma abordagem metodológica e conceituação | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008

Organizador

Rafael Zamorano Bezerra – Historiador. Mestre em Ciência Política. Pesquisador do Museu Histórico Nacional.

BEZERRA Rafael Zamorano (Org d)

Referências desta apresentação

BEZERRA, Rafael Zamorano. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.40, p.346-349, 2008. Acesso apenas no link original [DR]

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Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008

Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d), Acervos (d)

Organizador

Aline Montenegro Magalhães – Historiadora. Mestre em História Social pela UFRJ e doutoranda pela mesma universidade. Coordenadora do Centro de Referência Luso-Brasileira do Museu Histórico.

Referências desta apresentação

MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.40, p.432-435, 2008. Acesso apenas no link original [DR]

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José de Alencar | Anais do Museu Histórico Nacional | 2009

José de Alencar | Anais do Museu Histórico Nacional | 2009, PELOGGIO Marcelo (Org d), José de Alencar (d)

Organizador

Marcelo Peloggio – Professor Adjunto de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Ceará. Possui Graduação em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1996). Mestrado em Letras pela Universidade Federal Fluminense (2001). E doutorado em Letras pela Universidade Federal Fluminense (2006).

Referências desta apresentação

PELOGGIO, Marcelo. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.41, p.24-28, 2009. Acesso apenas no link original [DR]

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Estudos sobre Imigração no Brasil | Anais do Museu Histórico Nacional | 2009

Estudos sobre Imigração no Brasil | Anais do Museu Histórico Nacional | 2009, BENCHETRIT Sarah Fassa (Org d), Estudos sobre Imigração (d), América – Brasil (d)

Organizador

Sarah Fassa Benchetrit – Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Mestrado em Sociologia na Universidade Hebraica de Jerusalém. Assessora da Direção do Museu Histórico Nacional.

Referências desta apresentação

BENCHETRIT, Sarah Fassa. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.41, p.178-184, 2009. Acesso apenas no link original [DR]

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Museus e Museologia em Foco | Anais do Museu Histórico Nacional | 2009

Museus e Museologia em Foco | Anais do Museu Histórico Nacional | 2009, Museus (d), Museologia (d)

[Museus e Museologia em Foco]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.41, 2009. Acessar dossiê [DR]

Museu Histórico Nacional  | Anais do Museu Histórico Nacional | 2010

Museu Histórico Nacional  | Anais do Museu Histórico Nacional | 2010, Museu Histórico Nacional (d)

Referências desta apresentação

[Museu Histórico Nacional]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.42, 2010. Acessar dossiê [DR]

Museus e Turismo | Anais do Museu Histórico Nacional | 2010

Museus e Turismo | Anais do Museu Histórico Nacional | 2010, Museus (d), Turismo (d)

[Museus e Turismo]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.42, p.105-106, 2010. Acessar dossiê [DR]

Perspectivas Teóricas sobre Museus, Patrimônios e Coleções | Anais do Museu Histórico Nacional | 2011

Perspectivas Teóricas sobre Museus, Patrimônios e Coleções | Anais do Museu Histórico Nacional | 2011, Teorias sobre Museus (d), Patrimônios (d), Coleções (d)

Referências desta apresentação

[Perspectivas Teóricas sobre Museus, Patrimônios e Coleções]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.43, 2011. Acessar dossiê [DR]

Museus e Coleções | Anais do Museu Histórico Nacional | 2011

Museus e Coleções | Anais do Museu Histórico Nacional | 2011, Museus (d), Coleções (d)

Referências desta apresentação

[Museus e Coleções]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.43, 2011. Acessar dossiê [DR]

Estudos Temáticos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2011

Estudos Temáticos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2011

Referências desta apresentação

[Estudos Temáticos]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.43, 2011. Acessar dossiê [DR]

O patrimônio cultural coreano | Anais do Museu Histórico Nacional | 2013

O patrimônio cultural coreano | Anais do Museu Histórico Nacional | 2013, TOSTES Vera Lúcia Bottrel (Org d), Patrimônio Cultural Coreano (d), Ásia – Coréia

A história da institucionalização das práticas patrimoniais do mundo ocidental é bastante conhecida no universo acadêmico brasileiro, principalmente graças ao trabalho de historiadores do calibre de Dominique Poulot e Françoise Choay. No Brasil a trajetória das práticas patrimoniais foi objeto de estudos de historiadores como Márcia Chuva, Lúcia Lippi, Aline Montenegro, Leila Bianchi, entre outros. Todos os autores que se debruçam sobre o tema afirmam que o patrimônio cultural configura-se como um fenômeno mundial, estando relacionado com as transformações dos modos de vida tradicionais e da modernização resultante das revoluções industriais e tecnológicas das últimas décadas.

A característica dessa “razão patrimonial”, usando aqui o termo cunhado por Poulot, leva o filósofo francês Henry Pierre Jeudy a considerar que as cidades modernas, ao passar por processos de revitalização em seus centros históricos, acabam contraditoriamente se tornando mais homogêneas e menos interessantes, configurando aquilo que ele considera uma petrificação e estetização das cidades.

Todavia, a instauração dos patrimônios culturais está intimamente relacionada com os projetos nacionais e políticos de cada país, suas experiências históricas, estratégias de afirmação de identidades, relações internacionais, entre outros. Conhecer as práticas patrimoniais distantes da nossa realidade latino-americana é um caminho para pensar como o patrimônio cultural configura-se como um fenômeno global e local, fruto das relações históricas e políticas que marcam cada nação.

Assim, os Anais do Museu Histórico Nacional, v. 45, ano 2013, apresentam um dossiê cuja temática é inédita no Brasil: o patrimônio cultural coreano. A oportunidade é ímpar, uma vez que neste ano comemora-se o 50o aniversário da imigração coreana ao Brasil. O dossiê é formado por textos de autores novos e consagrados como a professora da Universidade da Califórnia, Hyung Il Pai, autora de Constructing “Korean” origins, um dos maiores best-sellers sobre o patrimônio coreano, e que gentilmente nos autorizou a traduzir um artigo seu para este volume, o pesquisador norte-americano Roger Janelli, a curadora coreana Hyeon Mi Chung, o professor italiano Andrea De Benedittis da universidade de Ca’ Foscari, o filipino Gian Carlo e o pesquisador do MHN e organizador do dossiê Rafael Zamorano Bezerra.

No ano de 2012, o historiador Rafael Zamorano Bezerra foi contemplado com uma bolsa para intercâmbio com o Korean Folk Museum, em Seul. Compartilhar conhecimentos possibilitou, além da experiência pessoal do funcionário, o estreitamento das relações museológicas entre as duas instituições. Constitui, portanto, especial satisfação inserir o dossiê dedicado ao patrimônio cultural coreano no volume 45 dos Anais, conjugando a celebração do aniversário com o reconhecimento ao acolhimento do funcionário do Museu Histórico Nacional.

Em harmonia com esse dossiê apresentamos artigos sobre práticas patrimoniais em cidades e museus brasileiros, artigos esses enviados gentilmente pelos autores para avaliação dos nossos pareceristas. A leitura do volume abre uma série de possibilidades e estudos sobre a história das trajetórias de patrimonialização em dois países que, apesar de distantes geograficamente, encontram saberes e práticas na visão do patrimônio.

Organizador

Vera Lúcia Bottrel Tostes – Museóloga e diretora do Museu Histórico Nacional.

Referências desta apresentação

TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.45, p.8-10, 2013. Acessar publicação original [DR]

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André Desvallées: entre museologias | Anais do Museu Histórico Nacional | 2015

André Desvallées: entre museologias | Anais do Museu Histórico Nacional | 2015, BRULON Bruno (Org d), André Desvallées (d), Museologias (d)

Existem, talvez, duas maneiras de se conhecer uma pessoa: a partir dos resultados de seu trabalho e pessoalmente. Eu conheci André Desvallées, primeiro, a partir do seu trabalho no Comitê Internacional de Museologia – ICOFOM e de sua trajetória emblemática no contexto dos museus franceses. Enquanto estudante da graduação em museologia, no início dos anos 2000, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, eu conheci a figura de André Desvallées por meio de suas obras, e em particular seus inúmeros textos no ICOFOM Study Series, publicação anual do Comitê de Museologia, desde os anos 1980. Em seguida, aprendi a respeitar e admirar o trabalho desse comitê graças aos grandes nomes da museologia mundial que estavam associados a ele. Nesse primeiro contato, eu conheci o Desvallées “do papel”, por meio de sua boa escrita, do amor pelos museus e, sobretudo, do amor por uma museologia renovada, investida da prática e da teoria críticas.

Com o passar dos anos, André Desvallées, o ICOFOM e as ideias da “nova museologia” se tornaram parte do meu objeto de estudo, quando eu começava a traçar um caminho pela pesquisa em museologia no Brasil. Mas foi somente em 2006, no primeiro simpósio do ICOFOM em que participei, em Córdoba e Alta Gracia, na Argentina, que eu conheci André Desvallées pessoalmente. Nesse primeiro encontro trocamos apenas algumas palavras e ele já sugeria leituras direcionadas para a minha pesquisa de mestrado. Alguns anos mais tarde, em 2011, quando eu estava em Paris para a pesquisa de doutorado, ele se tornaria o principal ator de uma tese em construção. Na França, eu tinha muitas questões e André Desvallées me deu não apenas as respostas, mas outras questões fundamentais e indispensáveis para a reflexão sobre o meu objeto de estudo. Nos meses em que permaneci em Paris, entre 2011 e 2012, eu conheci Desvallées, o professor, o informante generoso, o verdadeiro museólogo e pensador por detrás do papel.

A proposta inicial de organizar um dossiê em torno da obra escrita de André Desvallées para ser publicado nos Anais do Museu Histórico Nacional surgiu do próprio desejo desse autor de ver os seus pontos de vista sobre a museologia traduzidos ao português em um periódico brasileiro. A partir de uma entrevista realizada no dia 30 de março de 2012, em Paris, e de diversos outros encontros, trocas de e-mails, envios de documentos, o próprio Desvallées sugeriu que organizássemos juntos uma só entrevista para ser traduzida ao português e publicada no Brasil. A partir de sua ideia, e da generosa oferta de se organizar um dossiê por parte dos editores dos Anais do Museu Histórico Nacional, teve início um processo de seleção de outros textos para que fossem traduzidos compondo a presente obra.

Da seleção dos textos – processo do qual participou Desvallées ativamente e em todas as etapas – pode-se dizer que muitas podiam ter sido as escolhas e os caminhos tomados na museologia desvalleéesiana. Sua obra escrita é correspondente à vastidão mesma de sua atuação no campo da museologia e dos museus. Da museografia tradicional aos ecomuseus, da expografia (termo este criado por ele) à comunicação do patrimônio global… André Desvallées atuou no limiar entre museologias que se pensavam distintas e que foram moldadas e renovadas por suas próprias ideias e práticas, que influenciaram diversos seguidores ao longo dos anos e que fizeram aflorar uma só museologia, praticada e reconhecida nos quatro cantos do mundo, debatida criticamente nos textos aqui apresentados.

Para a seleção final dos textos, considerou-se, preponderantemente, o que havia de mais relevante – ainda que pontual – para duas trajetórias específicas que estes trabalhos devem testemunhar: de uma lado a própria trajetória pessoal e profissional de André Desvallées, que ao lado de Georges Henri Rivière, atuando como responsável pela realização das galerias do Musée national des Arts et Traditions populaires, teve a sua entrada no mundo da museologia marcada por um olhar questionador sobre os próprios modelos e conceitos fundadores desse campo profissional e disciplinar; de outro, há a trajetória da própria museologia, atravessada pela eclosão do movimento da Nova Museologia (anos 1980) que Desvallées ajudou a criar e pelo advento dos ecomuseus, que se tornaram objetos de sua investigação ao passar a fazer parte da Inspeção Geral de Museus – IGM, a partir do final da década de 1970.

O que se pretendeu foi marcar os diversos momentos da história da museologia em que as contribuições desse autor – que nunca se definiu como um teórico, mas como um homem “da prática” em suas próprias palavras – alteraram significativamente a ordem da museologia internacional, ou instauraram uma nova. O primeiro breve artigo, O ecomuseu: museu grau zero ou museu fora das paredes?, de 1985, publicado na renomada revista de etnologia Terrain, foi escrito com o propósito de questionar as próprias limitações da compreensão da noção de ecomuseu, mas também tem valor de manifesto, uma vez que foi publicado no momento em que Desvallées reivindicava o apoio do Ministério da Cultura francês a esse novo tipo de instituição.

O segundo texto, do mesmo ano, intitulado Museologia Nova (1985), e publicado pelo ICOFOM no boletim Nouvelles muséologiques, n. 8, editado por esse comitê, é o registro de uma conferência proferida por Desvallées em 1984, a pedido do ICOM, respondendo aos idealizadores do Movimento Internacional por uma Nova Museologia – MINOM, que reivindicavam a criação de um comitê, no ICOM, sobre ecomuseus, e, paralelamente, o reconhecimento do MINOM como organização associada. Nessa ocasião, Desvallées explica como criou o termo “nova museologia”, proposto inicialmente como “museologia (nova)” na sua atualização do verbete de Germain Bazin para a Encyclopedia Universalis de 1981. O texto original de 1981, segundo o próprio autor, não apresenta nada de revolucionário, e ele mesmo me desencorajou a traduzi-lo para o presente volume. O segundo texto, aqui traduzido, não apenas apresenta o termo explicitando o sentido proposto por seu idealizador, como também evidencia os seus antecedentes históricos, chamando a atenção para a falta de legitimidade de um discurso que pregava a ruptura entre uma museologia ampla e crítica estudada pelo ICOFOM, e a “nova museologia”, ou a “ecomuseologia” – correntes essas que foram disseminadas em primeiro lugar dentro desse mesmo comitê, e que se basearam nas ideias geminais de Georges Henri Rivière e Hugues de Varine, os principais responsáveis em lhes conferir algum sentido.

Uma das características mais marcantes da museologia, segundo André Desvallées, é exatamente a ausência de rupturas e de oposições revolucionárias que tenham interrompido o curso de uma só museologia contínua, em sua prática e na teoria. Nessa vertente, as mudanças são parte inerente do curso dos processos museais (no termo mais usado por Desvallées – seriam “museológicos” no Brasil) e se mostram flagrantes tanto na museologia quanto na museografia das últimas décadas do século 20. No artigo publicado em 1987 na revista Brises, Desvallées faz referência a Uma virada da Museologia, que teria levado à concepção de novos modelos teóricos e práticos. Como agente nesse campo de mudanças, ele aponta a evidente confusão terminológica que atesta o processo de estruturação da museologia. E fica claro, nesse sentido, que a virada a que se refere diz respeito a um movimento de (re)contextualização dos museus e dos objetos que eles expõem, seguindo a vertente contextual da museologia francesa que, como ele demonstra, não está completamente distante da via de pensamento aberta pelos teóricos do leste europeu. Nessa perspectiva, é então apresentada ao leitor uma revisão do que se reconhecia como a teoria da museologia na época e a diversidade de novos termos para designar as formas adotadas pelos museus. Desvallées realiza um tipo de análise terminológica cuja preocupação principal é com a historicidade dos conceitos, que é semelhante a que se veria de modo ampliado mais tarde na sua busca incansável pela definição de uma terminologia da museologia, e no Dictionnaire encyclopédique de muséologie, que organizaria junto com o seu mais atuante discípulo, François Mairesse1.

Podemos dizer, com certa precisão, que foi a sua “museologia (nova)” que levou Desvallées a perseguir o exercício de investigar os conceitos por detrás dos termos, exercício este que ele assume como constante a partir de então – e sobretudo em sua atuação no ICOFOM. Com efeito, a sua produção textual ao longo das décadas de 1980 e 1990 se vê marcada pela busca de um historicismo e de uma terminologia para o campo. Na Apresentação escrita para a coletânea sobre textos da Nova Museologia publicada com o título de Vagues, Une anthologie de la Nouvelle muséologie, Desvallées descreve com precisão de testemunho o contexto em que surgiu o movimento ao tentar historicizar os seus antecedentes. A partir dos textos coletados para sua “antologia”, inédita em seu propósito congregador dos olhares sobre a “nova museologia”, e que haviam sido publicados pelos diversos autores ao longo do processo de revisão da museologia que se deu nos anos 1970 e 1980, Desvallées torna evidente em sua análise os limites supostos de um movimento cuja definição exata não estava clara para muitos.

Tais fronteiras definidoras da museologia contemporânea são novamente mencionadas e reafirmadas no texto final desse dossiê, que reúne as informações necessárias para que o leitor comece a desenvolver uma plena percepção histórica e geopolítica do campo da museologia no mundo. A entrevista, realizada em 2012, traz para a atualidade a confirmação dos fundamentos da museologia (nova) – e a atual – proposta por Desvallées nos anos 1980. A instauração dos novos modelos de museus experimentais, as correntes de pensamento que os sustentavam, as idiossincrasias da política de museus na França e a constituição do Comitê de Museologia são alguns dos temas abordados por ele nessa conversa entre dois museólogos, saindo dos confins de suas próprias museologias para investigar as suas bases.

Entre as ondas de uma museologia que é pensada como una por um de seus maiores transgressores, contempla-se o conjunto de correntes e influências que levaram à estruturação de um campo disciplinar a partir do alargamento dos seus ideais e dos princípios que, segundo Desvallées, já estavam na base da museologia com a qual alguns desavisados pretendiam romper. Na perspectiva desse museólogo (no sentido mais amplo dado ao termo pelos franceses), a museologia, em suas formas de diferenciação ou de assimilação de novas correntes teóricas e práticas, é composta por confluências e afluências que a conduzem a desembocar sempre no mesmo oceano, ainda que alterado.

Nota

1 Cf. DESVALLÉES, André & MAIRESSE, François. Dictionnaire encyclopédique de muséologie. Paris: Armand Colin. 2011.

Organizador

Bruno Brulon – Professor de Museologia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

BRULON Bruno (Org d)

Referências desta apresentação

BRULON, Bruno. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.47, p. 9-14, 2015. Acessar publicação original [DR]

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Mídias | Anais do Museu Histórico Nacional | 2017

Mídias | Anais do Museu Histórico Nacional | 2017, MONTEIRO Christiano Britto (Org d); PEREIRA Wagner Pinheiro (Org d), Mídias (d)

Cinema, games e museus: meios, usos e mediações dos acervos históricos na era das audiovisualidades

O presente dossiê apresenta um conjunto representativo de algumas das pesquisas mais atuais e instigantes sobre as relações entre história, cinema, games e museus na constituição das interfaces, interdisciplinaridades e especificidades dos “meios, usos e mediações”1 dos acervos históricos na “Era das Audiovisualidades”.

Na primeira metade do século XX, os estudiosos da chamada Escola de Frankfurt – como Theodor Adorno2, Max Horkheimer3, Walter Benjamin4, seguidos mais à frente por pesquisadores contemporâneos como Guy Debord5, Jean Baudrillard6, Douglas Kellner7, Néstor García Canclini8, Jesús MartinBarbero9, Pierre Lévy10, dentre outros, têm refletido sobre a sociedade de massas na “Era do espetáculo dos meios de comunicação” e avaliado o papel das novas mídias nas práticas sociais e culturais que, cada vez mais, tem valorizado uma postura interativa do público espectador frente às “obras de arte na época da sua reprodutibilidade técnica”.11

Indubitavelmente, a emergência de uma cultura da mídia e o desenvolvimento tecnológico das audiovisualidades, em pleno processo dialético com suas sociedades massificadas, representou um paradigma para as formas de construção da narrativa da História e da configuração das representações da memória histórica. Neste sentido, o presente dossiê objetiva congregar estudos que apresentem propostas e experiências de teorias, metodologias e pesquisas que, marcadas pelo caráter multidisciplinar, discutam como a cultura das audiovisualidades gerou mudanças comportamentais que afetam a noção de tempo, de espaço e dos dados históricos, conceitos fundamentais para o trabalho historiográfico, assim como reflitam acerca da forma como o espaço da memória histórica de museus e seus acervos são incorporados, ressignificados e trabalhados pelos recursos das audiovisualidades: cinema, televisão, games, vídeos, aplicativos, smartphones e as demais tecnologias de informação e comunicação (TICs).

Refletir sobre as possíveis conexões, convergências, diálogos e interações entre as novas tecnologias midiáticas dos séculos XX e XXI e os museus, acervos e patrimônios históricos possibilita aprofundar, potencializar e incorporar os instigantes debates contemplados nestas distintas áreas. O intuito é problematizar o intercâmbio do conhecimento sobre novas mídias, bem como viabilizar novas metodologias de divulgação e ludicidade aplicadas aos acervos museológicos.

Os artigos do dossiê estão agrupados de acordo com uma ótica estrutural organizada em três eixos temáticos principais, a saber:

O primeiro grupo contempla os artigos dedicados às diferentes fontes e temáticas que envolvem as relações História, Cinema e Televisão.

O artigo “Meridional Filmes: trajetórias desconhecidas do cinema pernambucano durante o Estado Novo (1937-1945)”, do doutorando em História pela UFPE, Arthur Gustavo Lira do Nascimento, realiza uma análise das produções da empresa cinematográfica Meridional Filmes, contratada diversas vezes pelo governador pernambucano Agamenon Magalhães para realizar filmes sobre as ações políticas do Estado Novo em Pernambuco.

O artigo de Quezia Brandão, Mestra em História Social pela USP, apresenta uma análise sobre “A poética cinematográfica latino-americana de Glauber Rocha: Uma análise do filme A Idade da Terra (1980)”. Partindo do estudo do roteiro cinematográfico nunca produzido de “América Nuestra” (1965), a historiadora investiga as transformações sofridas pelo projeto original de Glauber Rocha até a produção do filme A Idade da Terra, considerado por Quezia Brandão como a “obra síntese” da filmografia do cineasta baiano Glauber Rocha. Para auxiliar o leitor a decifrar o “filme maldito” e mais incompreendido do maior expoente do Cinema Novo Brasileiro, a autora discute aspectos externos que envolveram a produção cinematográfica, assim como se dedica, com sensibilidade, a desvendar a linguagem estética e as alegorias crísticas presentes no último filme de Glauber Rocha.

Concluímos este primeiro bloco com o artigo “Controle e Espetáculo: Imagens cinematográficas da televisão dos anos 1990”, de Thiago Henrique Felício, doutorando em História pela UFPR, que através do estudo dos filmes O Efeito Ilha (dir. Luiz Alberto Pereira, 1994), Como Nascem os Anjos (dir. Murilo Salles, 1996) e Um Céu de Estrelas (dir. Tata Amaral, 1996), discute como essas produções refletiram sobre algumas das questões e dilemas da década de 1990. Segundo expõe o autor, essas obras foram bastante críticas, pois procuraram apontar para uma certa banalização da cultura pelas imagens, bem como para a alienação e para o controle provocados e exercidos através dos melodramas televisivos, que se tornavam cada vez mais onipresentes com a repetição das suas mensagens nos mais diferentes meios de divulgação.

Estes dois últimos artigos auxiliam a compreensão das relações da produção de cinema e TV com a transição da ditadura civil-militar para o período democrático no Brasil República.

O segundo grupo temático reúne artigos que refletem sobre as questões que permeiam as relações entre História e videogames.

Em “O espaço virtual da reconstituição histórica em Assassin’s Creed III (2012)”, Robson Scarassati Bello, doutorando em História Social pela USP, levando em conta que os jogos de videogame apresentam uma nova forma de representar e simular a realidade histórica através do espaço virtual, reflete como o jogo Assassin’s Creed III representou a Guerra Franco-Indígena e a Revolução Americana (1776), transformando os eventos históricos em uma espécie de parque de diversões.

Também trabalhando com a cultura dos games, temos o artigo de Diogo Trindade Alves de Carvalho, doutorando em História pela UFBA, que se debruçou na análise temática “Civilizados, Incivilizados e Primitivos no jogo Victoria 2 (2010): uma análise dos diários de desenvolvimento publicados no fórum da Paradox”. Neste artigo, o autor aponta que o jogo Victoria 2 reproduz um discurso eurocêntrico e racista na busca de glorificar a visão conservadora de um passado glorioso para da história do Império Britânico, entre 1836-1946, período no qual o jogo transcorre e que constrói a memória em torno de eventos históricos e objetos museológicos.

O terceiro bloco é composto por textos que debatem as relações da História com cinema, games e museus, que também perpassam a educação e suas influências na forma de trabalho e de percepção dos artefatos e objetos museológicos.

Nesta senda, o artigo “Um salão de belas novidades: um olho no cinematógrafo, outro no museu!”, de Geyzon Bezerra Dantas, mestre em Letras (Literatura e Cultura) pela UFPB, reconstitui através da história da primeira sala de cinema instalada no Rio de Janeiro, no final do século XIX, como o advento da novidade tecnológica produziu efeitos no imaginário e na vida cultural carioca. À margem das instituições museais que também se formavam no período, surge no contexto do entretenimento popular um museu integrado ao espetáculo cinematográfico. Dessa forma, o autor analisa a presença desse museu popular, na primeira época do cinema brasileiro (1896- 1912), destacando ainda o aspecto de confluência entre a exibição de filmes e a exposição de objetos durante a Exposição Nacional de 1908.

Na sequência, Marta Dile Robalinho, pós-graduanda em História do Brasil pós-30 pela UFF, no artigo “Museu, objeto e o digital no Ensino de História”, reflete sobre como podemos pensar o ensino de História a partir da leitura de objetos museais através do digital. Para isso, a autora realiza uma pesquisa de objetos pertencentes ao século XIX da exposição do Museu da República, no Rio de Janeiro, e da forma como eles podem ser trabalhados com alunos do Ensino Fundamental II de uma escola pública. A partir desse exercício, a autora nos apresenta subsídios para a elaboração do roteiro de atividades em aplicativo para smartphone e tablet.

Já “Produção de Museu Virtual na Escola: uma experiência didático-pedagógica para estudos africanos”, artigo de produção conjunta dos autores Larissa de Souza Reis, doutoranda em Educação e Contemporaneidade da UNEB, Alfredo Eurico Rodrigues Matta, doutor em Educação pela UFBA/ Université Laval (Canadá), e Francisca de Paula Santos, doutora em Educação pela UFBA, dedica-se a apresentar o processo de construção do Museu Virtual de Contos Africanos e Itan (MUCAI), resultante da pesquisa decorrente da Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da UNEB, desenvolvida no período de 2015 a 2017 e patenteada em uma escola municipal de Salvador, com turmas do 4º ano do Ensino Fundamental I. Para isso, os autores utilizaram-se de “contações de histórias”, oficinas de produções artísticas com desenhos e teatro, além da criação do portal resultante das práticas pedagógicas, o que possibilita a realização de um relevante diálogo em torno do currículo da Educação das Relações Étnico-Raciais, além do compartilhamento deste material didático-pedagógico com profissionais da área e demais interessados pela valorização da História e da Cultura Afro-Brasileira.

O penúltimo artigo “Experiências sensoriais: o Museu do Festival de Cinema de Gramado na perspectiva das novas tecnologias”, obra conjunta de autoria de Daniel Luciano Gevehr, doutor em História pela UNISINOS, Franciele Berti, doutoranda em Turismo pela UCS, e Roger Pierre Vidal, mestre em Desenvolvimento Regional pela FACCAT, investiga o processo que envolveu a criação e a reformulação do Museu do Festival de Cinema de Gramado (MFCG), no Rio Grande do Sul, que após passar por um trabalho de reconfiguração de suas ambiências, buscando se aproximar da ideia de museu interativo, valeu-se, segundo demonstrado pelos autores, de novas tecnologias visuais, que permitem a interação do público com os recursos disponíveis na expografia do museu, dedicada a contar a história do cinema brasileiro e da trajetória percorrida pelo Festival de Cinema de Gramado, explorando, para tanto, a exposição de imagens – fotografia a audiovisual – que permitem a veiculação das narrativas visuais.

O último artigo do dossiê, “O século XXI e a educação histórica: Patrimônio Cultural, Museus e Jogos Eletrônicos”, de autoria de Paulo Sérgio Micali Junior, mestre em História pela UEL, elabora uma proposta educativa aos moldes de aula-oficina, amparada em mediadores culturais e tendo em vista o avanço tecnológico e a liquefação das relações humanas, com a finalidade de desenvolver uma prática educacional que envolva dos preparativos que antecedem a visita museal ao emprego de gameplays para estimular os alunos acerca dos elementos dotados de patrimonialidade.

Diante desta breve apresentação, é possível ao leitor perceber que encontrará neste dossiê uma reunião de artigos que, através da pluralidade de olhares de seus autores e dos recortes temáticos de suas pesquisas, apresenta interessantes e intrigantes formas de se relacionar as audiovisualidades com os museus e a educação. Dessa forma, o leitor verá contemplada uma vasta gama de temas, fontes e abordagens teórico-metodológicas, que possibilitam traçar um panorama da cultura audiovisual contemporânea.

Gostaríamos de finalizar essa apresentação do dossiê agradecendo a significativa contribuição de todos os autores que colaboraram nesta presente edição, assim como a dedicação dos editores dos Anais do Museu Histórico Nacional, que nos possibilitou apresentar ao público leitor um conjunto diversificado, sério e atualizado da produção acadêmica dedicada aos estudos das audiovisualidades e de suas relações com a História e os museus. Temos convicção de que o público leitor apreciará os artigos deste dossiê. Uma excelente leitura!

Notas

1 Expressão de: MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2009.

2 HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor W. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

3 HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor W. “A indústria cultural. O Iluminismo como mistificação de massa”. In: LIMA, Luis Costa (org.). Teoria da Cultura de Massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010. p.169-214.

4 BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Primeira Versão”. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas – volume 1. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.165-196.

5 DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo / Comentários Sobre a Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 1997.

6 BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Elfos, 1995.

7 KELLNER, Douglas. A Cultura da Mídia. Identidade Política Entre o Moderno e o Pós-moderno. Bauru, SP: EDUSC, 2001.

8 GARCIA CANCLINI, Néstor. Consumidores e Cidadãos. Conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2001.

9 MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2009.

10 LÉVY, Pierre. Que é o Virtual? Rio de Janeiro: Editora 34, 2003.

11 Expressão cunhada pelo filósofo alemão Walter Benjamin, no texto “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica” Op. cit.

Organizadores

Christiano Britto Monteiro – Doutor em História e professor adjunto da Universidade Federal Fluminense (UFF). Autor da dissertação “Medal of Honor e a construção da memória da Segunda Guerra Mundial”, pelo PPGH – UFF e da tese “Medal of Honor e Call of Duty: uma comparação entre missões do videogame e eventos históricos”, pelo PPGHC/UFRJ.

Wagner Pinheiro Pereira – Doutor (2008) em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), onde também realizou o Pós-Doutorado (2010). Atualmente é professor adjunto de História da América e História do Audiovisual nos cursos de Bacharelado em História e de Bacharelado em Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

Referências desta apresentação

MONTEIRO Christiano Britto; PEREIRA Wagner Pinheiro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.49, n.1, p.6-12, 2017. Acessar publicação original [DR]

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Museus, sujeitos e itinerários | Anais do Museu Histórico Nacional | 2018

Museus, sujeitos e itinerários | Anais do Museu Histórico Nacional | 2018, FARIA Ana Carolina Gelmini de (Org d); POSSAMAI Zita Rosane (Org d), Museus (d), Sujeitos (d), Biografias (d)

O dossiê “Museus, sujeitos e itinerários” reúne estudos que investigam as relações entre sujeitos, seus itinerários biográficos e profissionais e os museus, especialmente em perspectiva histórica. Campo, intelectual, mediador e rede de sociabilidade são algumas das categorias operacionais utilizadas na bibliografia brasileira e internacional sobre museus e Museologia, oferecendo oportunidades de conhecer as ideias e práticas de indivíduos no âmbito da formação de coleções, do funcionamento dos museus e na conformação disciplinar da Museologia.

Naturalistas, artistas, historiadores, arquitetos, conservadores de museus, educadores, escritores, advogados, entre outros povoam esse universo no Brasil. Entretanto, alguns personagens são constantemente visitados pelos pesquisadores, a ponto de haver identificação entre as instituições museológicas e seus gestores. Isso decorre de uma história dos museus que privilegia a atuação de seus diretores, majoritariamente homens. E como é característico das operações da memória, na visibilidade de determinados sujeitos, outros são deixados na penumbra.

Portanto, este dossiê traz um duplo desafio: propor novas abordagens sobre personagens cujas atuações já foram investigadas; e dar visibilidade a sujeitos, homens, mulheres, LGBT+, ainda parcamente conhecidos no âmbito da Museologia e da história dos museus.

Abrem o dossiê dois artigos que miram um espaço de interações específicas vinculadas à Museologia e aos museus. Essa abordagem permite compreender, por um lado, a conformação de um campo particular de atuação e, por outro, a invisibilidade de profissionais que atuam em determinado ofício.

Assim, o artigo “O campo dos museus no Brasil: indícios das relações instituídas em meados do século XX”, de autoria das organizadoras deste número especial, propõe caracterizar a configuração de um campo dos museus no Brasil entre as décadas de 1930 e 1950. Nesse campo homens, mulheres e organizações compartilhavam um espaço de disputas e negociações relacionadas às questões museológicas, entre os quais foram identificados naturalistas, conservadores de museus, artistas, entre outros. Para as autoras, no contexto em estudo o conceito de campo apresentou-se como adequado para abordar processos marcados por relações entre inúmeros sujeitos, em vez de uma abordagem que privilegia a ação solitária de determinadas personalidades.

No mesmo sentido, o artigo “Sujeitos ocultos dos museus: os profissionais dos Laboratórios de Conservação e Restauração do Museu Imperial e do Museu de Astronomia e Ciências Afins”, de Marcus Granato, Eliane Marchesini Zanatta e Cláudia Penha dos Santos, aborda os profissionais vinculados a aspectos específicos da cadeia operatória museológica e que dividem um espaço de atuação relativo a práticas e saberes compartilhados. Como o título sugere, o estudo focaliza os profissionais ligados especialmente à conservação nos laboratórios do Museu Imperial e do Museu de Astronomia e Ciências Afins. Os autores almejam valorizar esses sujeitos invisíveis, por considerarem seus ofícios e atuação inestimáveis para a existência dos acervos e para o cumprimento da missão dos museus. Ao comparar dois museus com características diversas, os autores concluem que a “invisibilidade” desses profissionais se manifesta independentemente dessas diferenças.

Pesquisar o itinerário de determinados indivíduos implica no esforço de buscar e cruzar documentos e arquivos localizados em países diversos, como é o caso do artigo “Domingos Vandelli: mediador de dois mundos”, de Letícia Julião, Marta Eloísa Melgaço Neves e Verona Campos Segantini. As autoras analisam a trajetória de Domingos Vandelli, compreendendo-a como estruturante e referencial de práticas colecionistas engendradas no império luso-brasileiro. Por meio de uma mirada cruzada entre documentos provenientes do velho e do novo continente e ainda pouco explorados pela historiografia, as autoras propõem considerar Vandelli como mediador entre dois mundos, por ter proporcionado o intercâmbio entre o centro colecionador português e os domínios colonizados a serem explorados. No pensamento museológico do naturalista, a filosofia natural iluminista articulava-se ao projeto político pombalino.

Para além do período colonial, o desenvolvimento científico e a consolidação das instituições museológicas no Brasil foram marcados pela presença de inúmeros pesquisadores estrangeiros. Em “O legado de Betty Meggers na constituição de acervos museológicos no Brasil”, Camilo de Mello Vasconcellos e Mariana Moraes de Oliveira Sombrio lançam um olhar sobre as coleções reunidas pela arqueóloga norte-americana Betty Jane Meggers (1921-2012), provenientes das expedições arqueológicas realizadas por ela e seu esposo, Clifford Evans, na região do Baixo Amazonas, entre os anos de 1948 e 1949. Os autores analisam os critérios de divisão, documentação, organização e trabalho com essas coleções no Museu Nacional e no Museu Paraense Emílio Goeldi, e Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, vol. enfatizam os trânsitos, itinerários e relações envoltas na circulação desses objetos. A análise dos artefatos coletados por Meggers e Evans proporcionou interpretações sobre o modo de vida de grupos já extintos que habitaram a antiga Amazônia e continuam sendo referências fundamentais dos conhecimentos arqueológicos sobre a região.

O artigo de Vasconcellos e Sombrio também dá a ver a presença e atuação das mulheres nos museus, podendo ser inserido nas recentes abordagens com foco em relações de gênero na Museologia brasileira. Diferente de pesquisar as representações da mulher nas coleções, abordagem necessária para compreender o lugar da mulher na sociedade brasileira, neste dossiê as mulheres são consideradas protagonistas, seja como cientistas, seja como gestoras dos museus, e compartilham um espaço de interações predominantemente masculino.

Essa perspectiva é adotada por Ana Lúcia de Abreu Gomes e Maria Margaret Lopes no artigo “Agentes e agências na proteção do patrimônio antes do Patrimônio: Heloisa Alberto Torres e o Museu Nacional”, no qual abordam o protagonismo de Heloisa Alberto Torres, primeira mulher a ingressar como professora no Museu Nacional e a assumir a direção daquela instituição, cargo que ocupou entre 1938 e 1955. As autoras analisam a resposta de Heloisa Alberto Torres à consulta solicitada por Rodrigo Melo Franco sobre o anteprojeto elaborado por Mário de Andrade para a criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional (Span). Em carta 9 de maio de 1936, Heloisa expõe sua discordância em relação à proposta apresentada por desmembrar as coleções científicas do Museu Nacional, ameaçando sua integralidade. Para as autoras, compreender determinados itinerários biográficos exige conhecer as questões práticas das ações de homens e mulheres. Por outro lado, nas palavras de Gomes e Lopes “(…) retomar aqui o protagonismo de Heloisa Alberto Torres na construção do Sphan busca reforçar que também as construções sobre o patrimônio no país dependeram muito mais das ações, disputas e contradições entre diversos agentes e agências do que foram obras de algum homem-monumento”.

Além das mulheres, o dossiê abre espaço para a presença LGBT+ nos museus e na Museologia, por meio do artigo “Clóvis Bornay: memória de um centenário esquecido!”, de Ivan Coelho de Sá, Anna Laudicea Itaborai Echternacht e Raquel Villagrán Reimão Mello Seoane. Os autores procuram valorizar a memória do carnavalesco e museólogo Clóvis Bornay, explorando a contradição entre uma imagem pública perpetuada por intensa atuação no carnaval brasileiro e o apagamento de sua importante trajetória como museólogo. Além disso, os autores buscam valorizar a memória LGBT+ presente na Museologia e muito pouco conhecida.

Essa pequena amostra de estudos aqui apresentados sobre os sujeitos que habitaram e habitam nossos museus e a Museologia no Brasil não pretende constituir um inventário, nem esgotar as possibilidades de pesquisa. Ao contrário, almeja inspirar e suscitar novos olhares para documentos e museus constantemente visitados ou ainda a serem descobertos, a partir dos quais a ação de homens e mulheres possa ser conhecida.

Organizadores

Ana Carolina Gelmini de Faria – Graduada em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), mestre e doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Docente do curso de Museologia da UFRGS. E-mail: [email protected]

Zita Rosane Possamai – Graduada, mestre e doutora em História pela UFRGS. Docente do curso de Museologia, do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio, todos da UFRGS. E-mail: [email protected]

Referências desta apresentação

FARIA, Ana Carolina Gelmini de; POSSAMAI, Zita Rosane. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.50, p.8-12, 2018. Acessar publicação original [DR]

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Educar e aprender em museus. Perspectivas para o ensino de História | Anais do Museu Histórico Nacional | 2019

Educar e aprender em museus. Perspectivas para o ensino de História | Anais do Museu Histórico Nacional | 2019, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d); COSTA Carina Martins (Org d); RAMOS Francisco Regis Lopes (Org d), Educar (d), Aprender (d), Museus (d)

As pesquisas sobre educação em museus cresceram enormemente nas últimas duas décadas, ainda que a área de História não ocupe um lugar de proeminência, sendo subsumida pelas Ciências Naturais e pelas Artes. Ademais, o universo dos museus e suas práticas monológicas e lineares foram intensamente bombardeados tanto pelos movimentos sociais, como por pesquisadores/as e profissionais desse campo, ensejando rupturas e densidades nas narrativas museais, tendo na educação, muitas vezes, a plataforma para atualização memorial e diálogo com as diferentes demandas sociais.

É possível perceber, assim, uma inflexão ético-política no debate sobre representações históricas nos museus, que se aprofunda nas reflexões sobre nossa própria capacidade de historicizar e narrar experiências tão diversas em relação à temporalidade. Evidentemente, tal debate também questiona a possibilidade dos museus atuarem como atores importantes nas disputas memoriais e na projeção (ou mesmo alargamento) de novos horizontes de experiência, tão estrangulado pelo presentismo e pelas demandas consumistas da contemporaneidade.

O esforço de reunir pesquisadores/as pertencentes a diferentes gerações e campos de atuação visa ainda subsidiar novas estratégias de apropriação dos museus pela História, transcendendo diagnósticos pessimistas acerca da relação entre poder e memória, vitalizando, dessa forma, novas possibilidades de exercitar o poder da memória. Da mesma forma, a compreensão transdisciplinar promove uma rica reflexão para o ensino de História, por meio dos olhares advindos da Educação, da Museologia, da Antropologia, da Arte e da História. O respeito à diversidade, coerente com as escolhas temáticas do dossiê, coaduna com o esforço em reunir pesquisadores de diferentes regiões do Brasil, com representatividade indiciária para pensar a agenda das pesquisas recentes em ensino de História nos museus. A contribuição de uma pesquisadora argentina atuando no Canadá busca internacionalizar os diálogos propostos.

Dessa forma, o dossiê abarca três dimensões articuladas ao “boom” da memória e das demandas por História — em primeiro lugar, historicizar os projetos de educação em museus, com o objetivo de mapear sujeitos, narrativas e práticas. Nessa perspectiva, o artigo “Educar em museus históricos: entre deveres e devires da memória”, de Carina Martins Costa, destaca ações educativas realizadas no Museu Mariano Procópio (Juiz de Fora-MG), durante parte da gestão da diretora Geralda Armond. Trata-se de um projeto de ensino da história posto em prática sob a égide de uma “pedagogia de coturno”, que lamentavelmente, encontra ressonância nos tempos atuais. Francisco Régis Lopes Ramos, por sua vez, no artigo “A pedagogia dos antiquários: Gustavo Barroso e o passado que objetos e palavras podem conter”, propõe uma reflexão sobre uma “pedagogia antiquária” identificada na escrita da história de Gustavo Barroso, na qual o primeiro diretor do Museu Histórico Nacional estabelece relações entre passado e presente mediadas por objetos e representadas na tensa fronteira entre História e ficção. Já o artigo “Notas sobre a Diáspora Africana na exposição e nas ações educativas do Museu Histórico Nacional”, escrito por Aline Montenegro Magalhães, Erika Azevedo, Fernanda Castro e Stephanie Santana traz uma contribuição profícua, oriunda do encontro entre olhares e diálogos dos núcleos de pesquisa e educação do Museu Histórico Nacional. Ao abordarem as narrativas sobre negros/negras na exposição, demonstram evidências de ignorância, desconhecimento, reiteração de estereótipos e invisibilização, transmutadas, pela ação de pesquisa e educação, em conhecimento, problematização e protagonismos.

A segunda dimensão visa aprofundar o debate sobre a diversidade nos museus, com um olhar apurado para práticas museais relacionadas ao gênero, ao debate étnico-racial e às memórias silenciadas. Em conexão com o artigo anterior, Valdemar de Assis Lima e Elisom Paim, no artigo “Educação museal e educação escolar: diálogos para uma sociedade antirracista”, exploram, ancorados na interculturalidade crítica e na perspectiva decolonial de educação, as narrativas de professoras e educadoras museais sobre as experiências de situação de visita dos públicos escolares, aos museus que preservam acervos de matriz cultural africana e afro-brasileira. A pesquisadora Andrea Roca, no artigo “Os usos do patrimônio e dos museus no ensino da História”, traz uma importante contribuição sobre experiências de problematização da história oficial argentina em relação ao povo indígena Mapuche, encetadas no Museu Etnográfico de Buenos Aires entre 2000 e 2010. Face à ausência de materiais escolares e de divulgação científica em contexto de ataques aos direitos indígenas, a autora demonstra a potência das ações educativas do museu e a importância de sua conexão com o tempo presente.

A terceira dimensão propõe-se a refletir sobre a apropriação de professores/as e alunos sobre narrativas e linguagem museal. Neste sentido, a compreensão do artefato, da expografia e da tecnologia museal torna-se ferramenta para a construção de outras linguagens e reflexões, incluindo aqui desvios e interpretações a contrapelo de narrativas consideradas oficiais. Marcele R. N. Pereira, no artigo “Museus Escolares: trajetória histórica e desafios à luz da museologia social”, historiciza os museus escolares e, sob a perspectiva da museologia social e da educação museal contemporâneas, aponta para possibilidades de um novo tipo de museu escolar, comprometido com a comunidade a que pertence. Já os artigos “Museu e imaginação histórica”, de Isabella Carvalho de Menezes e Lana Mara de Castro Siman, e “Do patrimônio musealizado à produção de exposições por estudantes de escolas públicas, de Alyne Mendes Fabro Selano e Benílson Mario Iecker Sancho, apresentam ações educativas nas quais os estudantes foram diretamente envolvidos como protagonistas na produção de material pedagógico e exposições mobilizados para o ensino de História em museus. No primeiro caso, inspiradas na noção de imaginação histórica, de Robin Collingwood, as autoras analisam a criação de um jogo de cartas produzidas com base no acervo do Museu do Ouro (MG), cuja trama foi elaborada pelos alunos. Já no segundo, o foco é dado a duas exposições protagonizadas por estudantes do nono ano do Ensino Fundamental de escolas públicas. Experiências pedagógicas que se constituíram na interface entre escola, museu e universidade, desenvolvidas pelos autores, no âmbito do Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Nesse dossiê sobre educar e aprender nos e com os museus, procuramos reunir variadas formas de aproximação e de leitura que articulam, em perspectivas teóricometodológicas diversas, o material ao imaterial, o local ao global, os processos de silenciamento aos gritos, a cronologia ocidental às temporalidades decoloniais. Assim, esperamos oferecer uma contribuição aos/às professores/as e aos/às pesquisadores/as do ensino de História.

Organizadores

Aline Montenegro Magalhães – Doutora em História Social pelo PPGHIS/UFRJ. Bolsista de pós-doutorado sênior do CNPq e pesquisadora no Museu Histórico Nacional. Professora do MBA em Gestão de Museus da UCAM e do PROFHISTÓRIA da Unirio. E-mail: [email protected]

Carina Martins Costa – Doutora em História, Política e Bens Culturais (FGV-CPDOC), mestre em Projetos Sociais e Bens Culturais (FGV- CPDOC), mestra em Educação (UFJF) e licenciada em História (UFJF). Professora adjunta na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ESDI-DAU). E-mail: [email protected]

Francisco Regis Lopes Ramos – Professor Titular do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisador do CNPq (bolsa produtividade nível 2). E-mail: [email protected]

Referências desta apresentação

MAGALHÃES, Aline Montenegro; COSTA, Carina Martins; RAMOS, Francisco Regis Lopes. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.51, p.7-10, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Educação Museal | Anais do Museu Histórico Nacional | 2020

Educação Museal | Anais do Museu Histórico Nacional | 2020, CASTRO Fernanda Santana Rabello de (Org d), Educação Museal (d)

Em 2018 celebraram-se os sessenta anos da realização do Seminário Regional da Unesco sobre a função educativa dos museus, sediado no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, em setembro de 1958. O evento e o seu relatório1 produzido por Georges Henry Rivière representam um marco internacional para a educação museal, que mereceu ser destacado em seu sexagésimo aniversário, especialmente por manter-se ainda atual.

Por sugestão da Rede de Educadores em Museus e Centros Culturais do Rio de Janeiro (REM-RJ), que comemorou seus quinze anos de fundação, esse tema pautou a realização de dois seminários em uma parceria que envolveu a REM-RJ, o Museu Histórico Nacional e o Museu da República. Sendo parte das atividades da 12a Primavera dos Museus, as celebrações começaram com o seminário A Função Educacional dos Museus 60 anos depois, realizado no Museu da República, no Museu Imperial, no Museu de Arte Moderna, no Museu das Remoções e no Museu Histórico Nacional, incluindo mesas redondas, conferências e visitas técnicas, entre os dias 18 e 21 de setembro de 2018.

Na sequência, encerrando as atividades da parceria, ocorreu entre os dias 9 e 11 de outubro de 2018, o Seminário Museu e Educação: 60 anos da Declaração do Rio de Janeiro.2 Essa versão do Seminário Internacional do Museu Histórico Nacional, que celebra em outubro o aniversário do museu, contou com convidados internacionais e nacionais. Foram realizadas quatro conferências, duas mesas redondas, além de quatro painéis temáticos com a apresentação de 43 comunicações orais, e de uma mesa de relatos de experiências nos museus do Ibram.3 O evento contou ainda com uma exposição sobre a história da educação museal no Brasil, que reuniu acervo bibliográfico do Museu Histórico Nacional e de educadores colaboradores.

Este dossiê dos Anais do Museu Histórico Nacional é uma edição especial que contém artigos com os temas das apresentações dos conferencistas e palestrantes do seminário realizado no MHN. Na conferência de abertura, Mário Chagas, museólogo, poeta e professor, refletiu sobre o tema do seminário, e aqui seu artigo “O Seminário Regional da Unesco sobre a função educativa dos museus (1958): sessenta anos depois” abre o dossiê. Baseado na fala do autor, ele analisa o contexto e os bastidores do evento de 1958, sua composição, resultados e documentos históricos de referência.

Em seguida, na primeira mesa redonda, Andrea Costa, educadora museal da Seção de Assistência ao Ensino do Museu Nacional e professora da Escola de Museologia da Unirio, abordou a contribuição do Museu Nacional para a constituição da história e da memória dos projetos e ações em educação museal no Brasil. No artigo “A educação museal no Brasil pré-seminário de 1958: a atuação precursora do Museu Nacional”, escrito em coautoria com a professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Guaracira Gouvêa, as autoras ressaltam a atuação intelectual e prática de educadores e demais profissionais de museus que atuaram no período anterior a 1958.

Na mesma mesa, Maria Esther Alvarez Valente, pesquisadora da Coordenação de Educação em Ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) e docente do curso de pós-graduação Preservação de Acervos de Ciência e Tecnologia (PPACTMAST), apresentou um panorama histórico do desenvolvimento da educação museal no Brasil. Seu artigo, “Panorama da história da educação museal no Brasil: uma reflexão”, aborda aspectos educativos que prevaleceram nos museus nos séculos XIX e XX, com especial atenção às décadas que antecederam o seminário de 1958 e destacando a relação museu-escola.

No mesmo debate, Milene Chiovatto, educadora coordenadora do Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca do Estado de São Paulo e, naquele momento do evento, presidente do Comitê de Educação e Ação Cultural (CECA) do Conselho Internacional de Museus (ICOM), narra em “CECA- ICOM: suas raízes, historias, atividades e dilemas contemporâneos” os atos de criação do ICOM e do CECA que se deram no contexto do seminário de 1958. Sublinha influências e permanências nos dias atuais das discussões realizadas por essas organizações, evidenciando a importância dos desdobramentos do evento na constituição das instituições e suas práticas, e de todo o pensamento museal na segunda metade do século XX, e, ainda hoje, com destaque para as ideias de cultura, democracia cultural e educação que engendraram.

Na segunda mesa redonda, Fernanda Castro, educadora do Museu Histórico Nacional e gestora da Rede de Educadores em Museus do Brasil, expôs um panorama das políticas públicas de educação museal no Brasil. No artigo “História das políticas públicas de educação museal no Brasil” ilumina a participação da sociedade civil organizada na formação dos campos político, profissional e prático da educação museal, pontuando que a prática e atuação dos educadores museais historicamente orientou a constituição de políticas públicas para a área, e que as sugestões do evento de 1958 refletem-se ainda nas políticas contemporâneas. Toma por base uma análise comparativa entre o relatório daquele seminário regional e a Política Nacional de Educação Museal (PNEM), definida em 2017 pelo IBRAM.

Por fim, Francisco Régis Lopes Ramos, docente da área de História, na Universidade Federal do Ceará, traz-nos um artigo referente à conferência de encerramento do Seminário do MHN. Em “A história sem vergonha do tempo: uma leitura da Política Nacional de Educação Museal (PNEM)”, brindando-nos com uma mescla de literatura, história e memória da trajetória de educação museal no Brasil até a constituição da PNEM. Num exercício de interdisciplinaridade, o artigo nos leva a experimentar etimologias, pesquisas, instituições e lembranças afetivas da conformação de uma prática educativa que tem tanto dos profissionais, quanto dos próprios seres viventes das experiências educativas em museus.

Portanto, trazemos ao volume 52 dos Anais do Museu Histórico Nacional uma degustação memorial do que foi o Seminário Museu e Educação: 60 anos da Declaração do Rio de Janeiro. Esperamos que os textos aqui apresentados contribuam para a consolidação do campo da educação museal, sua história e trajetória política, estabelecendo pontes entre o passado e o presente. Acreditamos que este dossiê colabore para a difusão do conhecimento específico produzido e que sirva para a constante reflexão sobre a prática educativa museal, apoiando sua profissionalização e o fortalecimento de um campo científico próprio pautado na prática, na teoria e na ação política.

Notas

1 A primeira versão completa do relatório de Georges Henry Rivière foi traduzida em português no livro publicado pelo Museu da República, fruto do seminário realizado em setembro nessa parceria: CHAGAS, M. e MACRI, M. (orgs.). A função educacional dos museus: 60 anos do Seminário Regional da Unesco. Disponível no link: http://museudarepublica.museus.gov.br/wpcontent/uploads/2019/05/Livro_seminario_WEB.pdf.

2 O nome do seminário do MHN merece uma nota. Em meio às pesquisas que deram base à organização do seminário, surgiu uma dúvida quanto à nomeação de um texto intitulado “Declaração do Rio de Janeiro”, publicado em coletânea sobre a legislação de museus, organizada pela Câmara dos Deputados: Legislação sobre museus (recurso eletrônico). Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012, disponível em: http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/14599/legislacao_museus.pdf?sequence=5. O texto em questão é um extrato do relatório do evento de 1958, de George Henry Rivière, traduzido por M. Pierina Camargo e por Maria Cristina Bruno. Esta última contatada por nós, afirmou que não deu esse título à tradução, apenas traduziu o trecho selecionado, remetendo-o ao solicitante, o Instituto Brasileiro de Museus. Acreditamos que o editor da publicação criou um título para o trecho traduzido, sem fazer a necessária menção de que o relatório de Georges Henry Rivière não apresentava esse título.

3 Os resumos expandidos dos trabalhos apresentados nos painéis temáticos e na mesa de relatos de experiências integram o Caderno de Resumos do Seminário Museu e Educação de 2018, disponível na biblioteca virtual do Museu Histórico Nacional, na base Docpro.

Organizador

Fernanda Santana Rabello de Castro – Doutora em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação pela UFF, professora do PROFHISTÓRIA/UNIRIO, educadora museal no Museu Histórico Nacional/IBRAM e integrante do Comitê Gestor da Rede de Educadores em Museus do Brasil. E-mail: [email protected]

Referências desta apresentação

CASTRO Fernanda Santana Rabello de. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.52, p.6-10, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Do Rio para o mundo: na rota do café (com escala no Real Gabinete) | Anais do Museu Histórico Nacional | 2020

Do Rio para o mundo: na rota do café (com escala no Real Gabinete) | Anais do Museu Histórico Nacional | 2020, TELLES Angela (Org d), Rio de Janeiro (d), Café (d), Real Gabinete de Leitura (d)

No intuito de realizar um encontro de pesquisadores interessados na história do café no Segundo Reinado, o Polo de Pesquisas Luso-Brasileiras (PPLB), vinculado ao Centro de Estudos do Real Gabinete Português de Leitura, promoveu nos dias 12 e 13 de setembro de 2019, o seminário Do Rio para o mundo: na rota do café (com escala no Real Gabinete).

O Real Gabinete Português de Leitura conserva importante acervo documental relativo às exposições nacionais e internacionais de café organizadas pelo Centro da Lavoura e Comércio (1881-1884), sediado no Rio de Janeiro. O centro era uma associação não-governamental, considerada o principal elo entre os cafeicultores brasileiros e os consumidores internacionais. Tal acervo pode ser explicado pelo fato de os comerciantes portugueses Eduardo Lemos e Joaquim Ramalho Ortigão terem sido membros fundadores do Centro da Lavoura e Comércio e, ao mesmo tempo, presidentes do Real Gabinete Português de Leitura. Ambos foram, também, responsáveis pela construção do atual prédio desta biblioteca, cujo teto traz em relevo ramos de café. Dentre as obras relativas à história do café no Brasil cabe destacar os Relatórios da primeira e segunda exposição de café (1881-1882), publicados pelo referido centro, bem como o Catálogo da Exposição de Amsterdã (1883), de autoria de Eduardo Lemos, e que serviu de modelo para Paranhos Júnior, futuro Barão do Rio Branco, quando da exposição de café, em São Petersburgo.

Importante apontar que no final do século XIX foi dado um grande impulso no campo do comércio internacional. Tratados e convenções bilaterais passaram a ser firmados além de serem padronizadas as regras de intercâmbio diplomático e econômico. O Centro da Lavoura e Comércio, a convite do governo imperial, apresentou propostas econômicas que foram aceitas e implementadas. Além disso, percebia-se como eram fundamentais as exposições internacionais e as bolsas de café. Sabe-se que os EUA eram o maior importador de café do Brasil, tendo sido criada, em 1882, a bolsa de café em Nova Iorque. Como pode-se observar no Catálogo da Exposição de Amsterdã, organizado por Eduardo Lemos, “Decidiu-se, em princípio, somente se ocupar dos cafés chamados ‘Rio’, e abriram-se as operações afixando dois boletins recebidos do Rio de Janeiro por cabo, indicando a situação no mercado da capital brasileira”.1

O período era de remodelação do sistema capitalista mundial entre 1873 a 1896, considerado uma reviravolta decisiva da economia mundial. Discutia-se, naquele momento no Brasil, a substituição da mão de obra escravizada, ao mesmo tempo em que os grandes produtores do Vale do Paraíba no Rio investiam em maquinário sofisticado para o beneficiamento do café. Vivia-se sobre o impacto das transformações produzidas pela segunda revolução industrial. Um mundo que passou a ser movido a vapor. Um mundo mais interconectado através de cabos submarinos, que possibilitaram a criação de uma bolsa de café em Nova York, só para negociar o café “Rio”.

A região do Vale do Paraíba fluminense foi suplantada pela produção paulista somente a partir de 1890. Era o café “Rio” que alavancava a economia brasileira no exterior. Sabe-se que cerca de 80% da produção mundial de café no século XIX deveu-se ao Brasil.

Pode-se observar que os trabalhos apresentados no seminário Do Rio para o Mundo: na rota do café (com escala no Real Gabinete) revelaram uma história do café encoberta e esquecida por grande parte da historiografia nos últimos setenta anos. Apesar da relevância das exposições de café para a compreensão da política comercial do país no final do império, não há estudos sobre essas mostras, nem seus autores. Percebe-se que a historiografia sobre o assunto, depois da obra clássica de Taunay (A História do Café no Brasil, 1939), silenciou-se. Salvo a historiografia diplomática que, preocupada com a memória de Rio Branco, focaliza a exposição de café do Brasil na Rússia,. Destaca-se na historiografia diplomática: a Biografia de Rio Branco (1945), de Álvaro Lins; o trabalho de S. Topick, publicado em Rio Branco: a América do Sul e a modernização do Brasil (2002), organizado por Carlos Henrique Cardim e João Almino; e a documentação da exposição de São Petersburgo do próprio Barão do Rio Branco, conservada no Arquivo Histórico do Itamaraty, divulgada nos Cadernos do CHDD (2012).

Breve comentário sobre os artigos derivados dos trabalhos apresentados no seminário Importante observar que os trabalhos de Humberto Fernandes Machado (UFF), “Rio de Janeiro: sede da Corte e dos primeiros cafezais”, e de João Marcos Mesquita (UFF), “Negócios oitocentistas: Manoel Pinto da Fonseca e o enriquecimento no Rio de Janeiro (1835-1850)”, abordam as primeiras décadas do império brasileiro, em que o café estava começando a se expandir no Vale do Paraíba fluminense, onde a mão de obra escravizada sofreu um aumento em sua demanda. Os demais trabalhos irão focalizar a última década do império, momento em que se discutia a crise mundial que impactava a economia cafeeira e a substituição da mão de obra escravizada. Foi o momento das exposições internacionais de café, organizadas pelo Centro da Lavoura e Comércio, que propiciaram a divulgação do produto mundo afora, vinculando definitivamente o nome do café ao país.

No artigo “Do Rio para o mundo: as exposições de café organizadas pelo Centro da Lavoura e Comércio na década de 1880” pode-se verificar que os documentos disponíveis relativos à história do café no Brasil Imperial, conservados no acervo do Real Gabinete, forneceram pistas que auxiliaram na compreensão do papel de comerciantes e financistas na condução da política imperial relacionada à economia cafeeira em um momento de grande reviravolta na economia mundial. Lemos e Ortigão fizeram parte de um grupo de empresários do café sediados no Rio, que tiveram um papel relevante na organização e realização das mostras nacionais e internacionais de café do Brasil, bem como na condução da política referente ao comércio exterior no final do império, que tinha como mola propulsora o café. Verificou-se também que o café “Rio” foi o mais valorizado internacionalmente até o final desse período. Além disso, pode-se observar que várias mulheres eram administradoras de fazendas, produzindo café de alta qualidade, participando das exposições nacionais e internacionais do Brasil. Sabe-se que o porto do Rio de Janeiro até o final do império era o de maior movimentação comercial do Brasil, por onde se escoava o grosso das exportações de café. Partia do Rio de Janeiro a rota das exposições internacionais de café (1881-1884) organizadas pelo Centro da Lavoura e Comércio.

Maria Pace Chiavari (UFRJ), no trabalho “Vistas das de fazendas de café encomendadas ao pintor Facchinetti para as exposições de propaganda do produto”, focaliza as pinturas das fazendas de café realizadas pelo artista ítalo brasileiro Nicolò Facchinetti (1824-1900), que respondiam ao propósito de resgatar a sofisticação no uso da linguagem adotada pelos organizadores das exposições nacionais e internacionais na promoção do seu produto. Segundo Maria Pace, a partir da forma de divulgação, é possível evidenciar o espírito empreendedor e a nova lógica que regula o sistema de tal produção agrícola, indícios do desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro no final do século XIX e de seu ingresso na modernidade.

Em “A fazenda do Lordello e a aristocracia cafeeira: a marquesa do Paraná”, Ana Pessoa (FCRB) comenta, por meio de cartas e depoimentos, a trajetória da austera Maria Henriqueta Carneiro Leão (1809-1887), a marquesa do Paraná, e sua atuação como administradora de uma grande propriedade de café, a fazenda do Lordello, em Sapucaia, Rio de Janeiro.

No artigo “Entre os mundos da fazenda e da Corte: trajetória da baronesa de Paraná”, Ana Lucia Vieira dos Santos (UFF) analisa o papel de Zeferina Carneiro Leão, baronesa de Paraná. Zeferina esteve ligada durante toda a sua vida ao mundo rural do cultivo de café, seja na fazenda Cortiço, onde nasceu, seja na fazenda Lordello, de propriedade dos marqueses de Paraná, herdada por seu marido. Por outro lado, teve participação ativa na vida da Corte, no Rio de Janeiro. A baronesa de Paraná atuou também em obras sociais, tendo sido uma das financiadoras dos cursos femininos implantados no Liceu de Artes e Ofícios. Atuou ainda na promoção de jovens artistas e de eventos de artes plásticas, participando, com aquarelas e trabalhos manuais, de exposições destinadas à difusão do café brasileiro.

Otto Reuter Lima (UFF), em “O Congresso Agrícola (1878) e a crise do capitalismo mundial (1873-1896)”, enfoca temas discutidos no Congresso Agrícola de 1878, como a substituição da mão de obra escravizada, o crédito agrícola, uma reforma tributária, a criação de um banco nacional para a agricultura e “o problema dos ingênuos”. Otto salienta que o congresso fez parte dos anseios de uma classe agrícola brasileira que enfrentava momentos de dificuldades ocasionados pelo processo de fim da escravidão e por uma crise do sistema capitalista global. Nas palavras de Otto Lima, o centro capitalista global, até então latino-americano, foi transferido, no final do século XIX, para o sudeste asiático devido a fluxos e refluxos globais, não só do capital, mas também de mão de obra.

Nota

1 LEMOS, Eduardo. Catálogo da Exposição de Amsterdã, 1883.

Organizador

Angela Telles – Doutora em História. Diretora da Biblioteca do Real Gabinete Português de Leitura, integrante do polo de pesquisa sobre relações luso-brasileiras e professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá nos cursos de História e Relações Internacionais. E-mail: [email protected]

Referências desta apresentação

TELLES, Angela. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.53, p.7-11, 2020. Acessar publicação original [DR]

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