Relação de Poder no Mediterrâneo Antigo / Revista Maracanan / 2013

Os artigos que integram o dossiê da Revista Maracanan intitulado Relação de Poder no Mediterrâneo Antigo tornou-se uma edição especial de 2013 pelo fato de nos possibilitar repartir a nossa satisfação em comemorar os 15 anos da trajetória bem sucedida do Núcleo de Estudo da Antiguidade (www.nea.urj.br) como centro produtor de saber em sociedades do mundo antigo. Coordenar uma equipe de pesquisadores de excelência requer empenho, dedicação, generosidade e acima de tudo espírito de equipe. Tudo se torna mais fácil quando estamos diante de um grupo que acredita na solidariedade, reciprocidade e na cumplicidade, mas, acima de tudo acredita na possibilidade em realizar pesquisas de qualidade nas águas brasileiras.

O longo tempo de existência do NEAUERJ se deve ao apoio incondicional dos professores, pesquisadores e alunos da UERJ assim como das parcerias institucionais e as amizades que fizemos ao longo desse caminho sempre defendendo o compromisso de realizar pesquisas de qualidade através do dialogo, parcerias e colaboração com os diversos núcleos de pesquisa no solo brasileiro e no exterior, a todos o nosso particular agradecimento.

A temática que compõem o dossiê transita pelo poder e os espaços por onde se manifestam o político visando demarcar que nem sempre essas ações tornam-se explicitas, ou seja, suas operações nem sempre aparecem materializadas, muitas vezes perpassam o imaginários social e nem por isso deixam de fomentar conflitos de representação que exige a necessidade de recuo, embate ou mesmo negociação.

A pesquisadora Katia Maria Paim Pozzer, no artigo Relação de Poder no Império – Arqueologia e Iconografia da Conquista de Lakiš, nos alerta que nos últimos anos a discussão sobre a ascensão e queda de impérios e estados antigos tornou-se um tema de história política e social comparada e as questões relativas à dinâmica dos impérios têm sido entendidas como fazendo parte de amplas transformações culturais. A edição prossegue analisando as configurações de poder no Oriente Antigo, com a contribuição do saudoso egiptólogo Ciro Flamarion Santana Cardoso (In Memorian), que nos agraciou com o artigo intitulado A teologia régia: o faraó segundo a ideologia monárquica do antigo Egito (segundo milênioa. C.). O texto de Ciro Cardoso nos possibilita perceber a necessidade de cotejar documentos de diversos gêneros, para a construção da pesquisa histórica. Cardoso foi um pesquisador atuante no Brasil e um dos principais responsáveis pela construção e consolidação da área de História. É necessário demarcar que Ciro Cardoso foi um dos precursores no processo de formação dos especialistas brasileiros, em História Antiga. Logo, a Revista Maracanã homenageia e rememora os feitos deste grande historiador. A temática das relações de poder no Antigo Egito, também podem ser contempladas por meio dos escritos dos pesquisadores Liliane C. Coelho e Moacir Elias Santos, os quais nos apresentam o artigo intitulado As Cartas de Amarna e as Relações Internacionais no Egito do final da XVIII dinastia.

Com o titulo Synoicismo: controle politico através da unificação geográfica da Ática, a helenista Maria Regina Candido, traz o tema sobre a Reforma Territorial de Clistenes como forma de revisitar o debate em torno do processo de unificação geográfica da Ática visando cotejar indícios da formação do segmento social de poucos recursos identificado como os thetai. Maria Cecilia Colombani, com o titulo de Saber, poder y matrimonio: ritualización de la práctica y signos de la dominación, nos apresenta a perspectiva filosófica ao considerar a dimensão do casamento como uma prática política e institucional composta de acentuada ritualização, o que coloca o casamento como parte das relações de poder em um registro de observação único na história do Ocidente. O grupo do LABECA – USP se faz presente através da pesquisadora Elaine Farias Veloso Hirata que introduz os conceitos de espacialidade do poder e paisagem política no estudo das relações de poder das poleis gregas no artigo A espacialidade do poder na cidade grega antiga.

A pesquisadora Claudia Beltrão no artigo Religião, Gênero e Sociedade: ordem romana, ordem sagrada tece uma breve análise de alguns dos rituais do mês de março, tomados como exemplo, permite a observação da complexa inter-relação, no sistema ritual, dos elementos “masculinos” e “femininos” na Roma antiga. A pesquisadora Arlete Motta no texto A decisão de Priapo, na sátira I, 8 de Horácio: a fuga das feiticeiras como representação de uma nova era usa o riso como mecanismo de poder ao partir do principio de que dentre os mecanismos do riso, a sátira, ao expor questões comportamentais, pode servir como um meio de veiculação dos ideais político-sociais de uma época.

Norma Musco Mendes, especialista em sociedade romana, nos traz a reflexão sobre a interação entre a cultura política que norteava as práticas políticas e o desenvolvimento do culto imperial no artigo O Culto imperial como “transcrito público”. A pesquisadora Renata Lopes Biazotto Venturini em parceria com Tiago, França com o titulo Escrita e Relações de Poder em Suetônio, estabelecem uma analise visando entender melhor conceitos sobre a sociedade romana na obra A Vida dos Doze Césares.

Finalizando esta edição temos duas resenhas: uma da epigrafista Maricí Martins Magalhães analisando a obra de MORELLI, A.L. Madri di uomini e di dèi. La rappresentazione della maternità attraverso la documentazione numismatica di epocaromana e a do arqueologo Pedro Paulo Abreu Funari, José Antônio Dabdab Trabulsi, Le Présent dans le Passé. Autour de quelques Périclès du XX e siècle et de la possibilite d’une vérité en Histoire.

Deste modo, a Revista Maracanan deseja a todos uma boa leitura!

Maria Regina Candido – Professora Doutora. Coordenadora do Núcleo de Estudos da Antiguidade- NEA / UERJ


CANDIDO, Maria Regina. Apresentação. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, v.9, n.9, 2013. Acessar publicação original [DR]

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