História, imagem e cinema / Nearco – Revista Eletrônica de Antiguidade / 2014

Este número da Revista Eletrônica de Antiguidade NEARCO ratifica o Núcleo de Estudos da Antiguidade (NEA / UERJ) como um lugar de divulgação e produção do saber acadêmico. Nesses dezesseis anos de organização estabelecemos diversas publicações que tiveram a preocupação não somente de publicar artigos de professores renomados, mas de alunos de graduação e de pós-graduação com propostas de trabalhos interessantes e inovadoras.

Estamos na modernidade, ou na pós-modernidade e como historiadores devemos acompanhar as transformações do mundo. Quando divulgamos pesquisas em meios eletrônicos, novas formas de mídia e internet, nós objetivamos estabelecer ações que valorizem o diálogo interdisciplinar que permita ao historiador importar técnicas, teorias, métodos e problemáticas de outras áreas da ciência, contribuindo para uma análise histórica abrangente que proporcione a comunidade científica abordar temáticas associadas à instrumentalização e utilização de novas tecnologias.

Partindo desse pressuposto, a Revista NEARCO publica alguns artigos oriundos da XI Jornada de História Antiga da Universidade do estado do Rio de Janeiro que abordou o tema “História, imagem e cinema”. Os trabalhos publicados discutem assuntos que complementam ou ampliam o que alguns livros tratam de forma mais generalizada. Assim, ao divulgarmos tais pesquisas históricas procuramos enriquecer, ampliar o debate, propor novas metodologias e potencialidades originadas do senso crítico dos pesquisadores.

Boa Leitura!

Maria Regina Candido – Professora Doutora.

Junio Cesar Rodrigues Lima – Professor Mestre.


CANDIDO, Maria Regina; LIMA, Junio Cesar Rodrigues. Editorial. Nearco – Revista Eletrônica de Antiguidade, Rio de Janeiro, v.7, n.2, 2014. Acessar publicação original [DR]

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XIII Jornada de História Antiga – Temas, Fontes e Métodos / Nearco – Revista Eletrônica de Antiguidade / 2013

História Antiga no Brasil – perspectivas sobre temas, objetos e pesquisa

Mediante os estudos recentes sobre a produção brasileira, da área de História Antiga, foi possível notarmos uma ampliação deste campo histórico nas universidades públicas e privadas. Ao dialogarmos com os escritos do pesquisador Pedro Paulo A. Funari, na coleção de textos didáticos Repensando o Mundo Antigo, nº47-2005, podemos indicar que para além da formulação de textos em nosso idioma, também houve um crescimento das traduções de documentos históricos e de publicações estrangeiras, o que possibilitou o acesso para muitos estudantes.

Em nossas concepções, a referida ampliação ocorreu devido a elementos como: o uso da internet para pesquisas de livros, artigos, e podemos acrescentar o próprio acesso as documentações conservadas no exterior. Também chamamos atenção para o aumento da massa crítica interessada em Antiguidade, que seria oriunda de espaços como a indústria cinematográfica e os periódicos infanto-juvenis (quadrinhos) com temáticas relacionadas com o mundo antigo.

Apesar do grande desenvolvimento da História Antiga, em terras brasileiras, nós ainda enfrentamos alguns entraves nas produções científicas. Assim salientamos que em muitos casos, assumimos uma posição mais de consumidores da produção estrangeira, do que produtores de publicações na área. Contudo, as pesquisas nacionais existentes têm nos mostrado um trabalho de total qualidade e que está atenta a reflexões teóricas e metodológicas aplicadas ao documento, a partir de suas problemáticas. Segundo Fábio Faversani, em Entrevista para o Jornal Philía nº32 – 2009, há uma necessidade no Brasil de que os profissionais de História Antiga comecem a valorizar as produções nacionais e também se leiam. O historiador citado assinala que a utilização da historiografia brasileira, nos cursos de graduação, não se iguala ao quantitativo de livros que são elaborados, pelos especialistas nacionais. Faversani nos convoca a superarmos tais obstáculos, a fim de fomentarmos os debates de forma enriquecedora, inserindo os nossos estudos na prática de ensino e pesquisa.

A partir de tais reflexões mencionadas surgiu a oportunidade de estabelecermos uma parceria entre o Programa de Pós-graduação em Letras Clássicas da UFRJ, o NEA / UERJ e o POIEMA / UFPel para a elaboração de um evento sobre ensino e pesquisa em História Antiga. Ratificamos em nosso escrito, que o trabalho coletivo entre os centros de pesquisa é uma iniciativa fundamental para o desenvolvimento acadêmico no Brasil. Assim a XIII Jornada de História Antiga – Temas, Fontes e Métodos da UFPel foi desenvolvida, em um clima de comprometimento e fraternidade entre os integrantes, no período de 21 a 23 de janeiro de 2013.

A publicação, neste volume da NEARCO / 2013.2, apresenta os textos resultantes de comunicações realizadas durante a jornada, assim coroa com êxito os objetivos que levaram a selar nossa cooperação nesta edição da jornada, sendo, certamente, a primeira de várias outras experiências de cooperação acadêmica a serem desenvolvidas entre estes grupos.

No dossiê podemos verificar artigos como o de Alessandra Serra Viegas, com o texto O amor de Aquiles: de quem é o coração do herói mais belo da Ilíada de Homero? Pátroclo ou Briseis? A autora convida a todos os leitores para revisitarmos a Ilíada de Homero, a fim de refletirmos sobre os diversos níveis que integravam as relações interpessoais no período Arcaico da Hélade e analisarmos os processos sócioculturais helênicos como o da Philía. Outro texto que podemos ressaltar é o de Carolyn Souza Fonseca da Silva, que chama atenção para uma temática tão cara as sociedades ocidentais, que é a democracia, através do artigo Sólon na democracia e na cidadania de Atenas no século VI a.C.. Silva objetiva analisar a figura de Sólon e os pressupostos democráticos da sociedade grega, em especial a pólis ateniense, que atuava sob a alcunha do princípio da isonomia – termo precursor da democracia e que representava a igualdade perante a lei.

Ainda nos estudos helênicos podemos contar com a contribuição de Alair F. Duarte, em Uma análise sobre os cultos religiosos e a projeção do poder marítimo ateniense através do porto do Pireu no século V a.C.. O autor destaca a área portuária do Pireu na pólis dos atenienses, como um lugar cosmopolita no V séc. a.C. Na região havia culto para divindades locais e estrangeiras, assim como a circulação de navios e pessoas de diversas etnias mantendo uma intensa interação sociocultural. Agregamos ao nosso dossiê os estudos desenvolvidos por Jussemar W. Gonçalves e Matheus Barros da Silva, em a Tragédia Grega e o Político. Os pesquisadores apontam que o Teatro Grego no decorrer do V século a.C., retratou em cena questões que diziam respeito à pólis.

Como o século V a.C. foi um momento histórico de grandes transformações na Hélade, podemos lançar olhares sobre outras regiões. O artigo de Luis Filipe Bantim de Assumpção intitulado O discurso de Xenofonte e o processo de formação na Esparta Clássica contribui para os estudos atuais sobre a historicização da sociedade espartana. Sendo assim, Assumpção analisa o discurso de Xenofonte acerca do processo de formação espartano, por meio das críticas e comparações que o mesmo estabelece com a sociedade ateniense do V século a.C.. Ao passarmos para os estudos do século IV a.C. podemos somar as pesquisas elaboradas por Fabio Vergara Cerqueira e Eduarda Peters, com o texto Mulheres em Atenas, no século IV a.C. O testemunho do Contra Neera, de Demóstenes. O presente texto discorre sobre a vida de algumas prostitutas e concubinas que se tornaram famosas pelos bens e prestígio que conquistaram em Atenas, e objetiva, através de relatos da época, demonstrar como era a vida de então, especialmente da mulher do período e de seu papel na sociedade.

O dossiê também conta com a colaboração de Otávio Zalewisk, com o artigo Literatura helenística com roupagem judaica: o caso da Carta de Aristeas a Filocrates. O artigo nos apresenta os processos de interações culturais entre gregos e judeus no período que ficou conhecido como helenístico. Marcello de Albuquerque Maranhão, em Recuperando historiadores fragmentários: o problema da recuperação da História da Sicília grega em Timeu demonstra aos historiadores possibilidades de análise sobre documentos históricos fragmentários, como no caso dos escritos de Timeu.

Agregamos ao grupo de textos que visa problematizar o campo teórico aplicado aos estudos helênicos, o artigo A sociologia do conhecimento como suporte metodológico para uma análise da tessitura sociopolítica de Sociedades Antigas de Luis Fernando Telles D`Ajello. A partir das propostas de Berger e Luckmann, D’ Ajello trata desta área do conhecimento como um plano metodológico para a compreensão da construção social da realidade. Outra análise importante que integra nosso dossiê foi sobre a guerra, no artigo elaborado por Fabio Vergara e Ricardo B. da Silva, A guerra na política grega, formas de combate e constituições políticas na Grécia Antiga. Os autores salientam que a guerra é e foi um importante definidor cultural, e, nesse aspecto, veremos no texto como as constituições políticas das principais póleis gregas foram influenciadas pelo caráter guerreiro de suas sociedades.

O evento contou com contribuições no campo dos estudos romanos, como os que foram elaborados por Deivid Valério Gaia e Diego Rosa em Análise da fonte Commentarii de Bello Gallico, de Julio Cesar. Neste artigo foi abordada uma visão sócio-política sobre o processo de expansão romana pela região da Gália transalpina, além das expedições pela costa sul da atual Inglaterra e através das margens germânicas do rio Reno entre os anos 58 a.C e 51 a.C. com base em uma interpretação da obra “Commentarii De Bello Gallico” (Em português, “Comentários sobre a Guerra Gálica”), escrita pelo próprio César durante esta campanha. Ainda sobre os estudos envolvendo a figura do cidadão romano, Júlio César, podemos ressaltar a participação no dossiê de Kassia Amariz Pires, Adriana Mocelim de Souza Lima e Etiane Caloy Bovkalovski com o artigo A Vida de Júlio César sob a visão de Plutarco e Suetônio (século I d.C.). O artigo apresenta uma comparação dos escritos de Plutarco e Suetônio sobre a vida de Júlio César. As autoras analisaram através de fontes, os discursos dos pensadores clássicos e apresentaram estudos atuais sobre a composição de seus livros.

Marcos Antonio Collares nos brinda com uma preciosa reflexão teórica aplicada aos estudos romanos, com o texto História Antiga e documentação textual: considerações sobre temas e contextos-formas. No referido artigo, Collares tece algumas considerações sobre a constituição de temas e no trato com os mais diversos documentos textuais legados da Antiguidade. Quanto ao Império Romano no século IV d.C. coube aos pesquisadores Deivid Gaia e Gustavo S. Ribeiro, produzir o texto intitulado os Aspectos econômicos na obra “A Vida de Santa Melânia”: o impacto das doações. O objetivo do artigo foi o de analisar o contexto histórico, onde Santa Melânia, a Jovem, viveu. Procurando compreender a situação complexa em que se encontrava a sociedade romana no século IV d.C., os autores apontaram suas primeiras impressões sobre os impactos econômicos causados pelas volumosas doações feitas por Melânia durante suas viagens pelo Mediterrâneo. Como fonte, os mesmos recorreram à biografia de Santa Melânia, a Jovem, escrita por um homem chamado Gerontius durante o século V d. C.

Encerramos o dossiê através do artigo História e Egiptomania de uma pirâmide em Caxias do Sul (1984-2006) de Wellington Rafael Balem e Cristine Fortes Lia. O trabalho analisa traços culturais da antiguidade egípcia re-significados em um edifício piramidal de Caxias do Sul, RS, ao longo de seus usos. Trata-se de uma réplica, reduzida em escala, da pirâmide de Quéops, que sediou o Centro de Pesquisas Metafísicas (1984-1996) e a Rosacruz, AMORC (1997-2006). A temática aborda-se à luz da egiptomania.

Além do dossiê ainda expomos em nossa edição, a contribuição de três artigos na sessão de temas livres. Desta forma apresentamos o texto de Fábio Feltrin de Souza intitulado de O paradoxo do tempo nas Histórias de Heródoto. Souza propõe uma aproximação com a filosofia e a sofística dos séculos V e IV, investigando o que considerou como “desvio operado no pensamento grego” e a emergência de uma experiência do tempo, em que chronos e aion, dessacralizados, passaram a conviver de maneira paradoxal. Outra participação que devemos destacar neste volume é a de Andréia Tamanini, com o artigo Livia para os íntimos: imagem e estratégia sobre camafeus. A autora frisa que a análise dos camafeus busca observar as transformações que as representações de Livia sofreram desde a vitória sobre Marco Antônio e Cleópatra, e a subsequente instituição do principado, até a morte da imperatriz. Desta forma Tamanini aponta para uma crescente “divinização” da imagem de Livia, que foi subsumida numa tipologia iconográfica que vai do que chamaremos da mater mundi à imperatrix aeterna.

No que tange as práticas mágicas no Império Romano, o NEARCO apresenta o artigo de Luis Augusto Schmidt Totti em A magia em um texto técnico agronômico da Antiguidade Romana: o Opus Agriculturæ, de Paládio. No artigo o autor apresenta algumas receitas expostas por Paládio, denominadas de remedia, para a proteção da propriedade rural e da horta contra pragas e fenômenos climáticos, como o granizo e os nevoeiros.

Em suma os editores deste volume ratificam a necessidade do trabalho em conjunto para o desenvolvimento do campo histórico no Brasil. O ato de caminhar em conjunto em nossa área de estudo, nos propiciará ir mais longe do que se ficarmos isolados. Uma boa leitura a todos

Carlos Eduardo da Costa Campos – Docente e o coordenador da área de Estudos Romanos do Curso de Especialização em História Antiga e Medieval da UERJ. O mesmo integra o corpo de docentes do Curso de Especialização em Educação, Patrimônio e Cidadania – CEPEC / SP. Campos é membro do Núcleo de Estudos da Antiguidade, coordenando a área de atividades de extensão e publicações. Campos também atua como pesquisador do membro do grupo Arq. Histórica / UNICAMP e Atrium / UFRJ.

Deivid Valério Gaia – Professor de História Antiga na Universidade Federal de Pelotas e doutorando em História Econômica e Social pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales – Paris, sob a orientação de Jean-Michel Carrié (dir. E.H.E.S.S.), Jean Andreau (E.H.E.S.S) e de Norberto Guarinello (USP) em cotutela com a Universidade de São Paulo.

Fábio Vergara Cerqueira – Professor Associado do Departamento de História da Universidade Federal de Pelotas, atuando nas disciplinas de História Antiga. Na mesma universidade, integra o Programa de Pós-Graduação em História e o Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural. Atua ainda como membro do Polo Interdisciplinar de Estudos do Mundo Antigo, do Laboratório de Estudos da Cerâmica Antiga, do Laboratório de Antropologia e Arqueologia, do Museu Etnográfico da Colônia Maciel. Editor da publicação “Cadernos do LEPAARQ. Textos em Antropologia, Arqueologia e Patrimônio”. Bolsista Produtividade CNPq.

Maria Regina Candido – Professora associada da área de História Antiga da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A mesma integra o Programa de Pós-Graduação da UERJ e o Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UERJ. Candido atua como coordenadora do Núcleo de Estudos da Antiguidade, o Curso de Especialização em História Antiga e Medieval da UERJ e o Curso de Especialização em Educação, Patrimônio e Cidadania – CEPEC / SP.


CAMPOS, Carlos Eduardo da Costa; GAIA, Deivid Valério; CERQUEIRA, Fábio Vergara; CANDIDO, Maria Regina. Editorial. Nearco – Revista Eletrônica de Antiguidade, Rio de Janeiro, v.6, n.2, 2013. Acessar publicação original [DR]

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Relação de Poder no Mediterrâneo Antigo / Revista Maracanan / 2013

Os artigos que integram o dossiê da Revista Maracanan intitulado Relação de Poder no Mediterrâneo Antigo tornou-se uma edição especial de 2013 pelo fato de nos possibilitar repartir a nossa satisfação em comemorar os 15 anos da trajetória bem sucedida do Núcleo de Estudo da Antiguidade (www.nea.urj.br) como centro produtor de saber em sociedades do mundo antigo. Coordenar uma equipe de pesquisadores de excelência requer empenho, dedicação, generosidade e acima de tudo espírito de equipe. Tudo se torna mais fácil quando estamos diante de um grupo que acredita na solidariedade, reciprocidade e na cumplicidade, mas, acima de tudo acredita na possibilidade em realizar pesquisas de qualidade nas águas brasileiras.

O longo tempo de existência do NEAUERJ se deve ao apoio incondicional dos professores, pesquisadores e alunos da UERJ assim como das parcerias institucionais e as amizades que fizemos ao longo desse caminho sempre defendendo o compromisso de realizar pesquisas de qualidade através do dialogo, parcerias e colaboração com os diversos núcleos de pesquisa no solo brasileiro e no exterior, a todos o nosso particular agradecimento.

A temática que compõem o dossiê transita pelo poder e os espaços por onde se manifestam o político visando demarcar que nem sempre essas ações tornam-se explicitas, ou seja, suas operações nem sempre aparecem materializadas, muitas vezes perpassam o imaginários social e nem por isso deixam de fomentar conflitos de representação que exige a necessidade de recuo, embate ou mesmo negociação.

A pesquisadora Katia Maria Paim Pozzer, no artigo Relação de Poder no Império – Arqueologia e Iconografia da Conquista de Lakiš, nos alerta que nos últimos anos a discussão sobre a ascensão e queda de impérios e estados antigos tornou-se um tema de história política e social comparada e as questões relativas à dinâmica dos impérios têm sido entendidas como fazendo parte de amplas transformações culturais. A edição prossegue analisando as configurações de poder no Oriente Antigo, com a contribuição do saudoso egiptólogo Ciro Flamarion Santana Cardoso (In Memorian), que nos agraciou com o artigo intitulado A teologia régia: o faraó segundo a ideologia monárquica do antigo Egito (segundo milênioa. C.). O texto de Ciro Cardoso nos possibilita perceber a necessidade de cotejar documentos de diversos gêneros, para a construção da pesquisa histórica. Cardoso foi um pesquisador atuante no Brasil e um dos principais responsáveis pela construção e consolidação da área de História. É necessário demarcar que Ciro Cardoso foi um dos precursores no processo de formação dos especialistas brasileiros, em História Antiga. Logo, a Revista Maracanã homenageia e rememora os feitos deste grande historiador. A temática das relações de poder no Antigo Egito, também podem ser contempladas por meio dos escritos dos pesquisadores Liliane C. Coelho e Moacir Elias Santos, os quais nos apresentam o artigo intitulado As Cartas de Amarna e as Relações Internacionais no Egito do final da XVIII dinastia.

Com o titulo Synoicismo: controle politico através da unificação geográfica da Ática, a helenista Maria Regina Candido, traz o tema sobre a Reforma Territorial de Clistenes como forma de revisitar o debate em torno do processo de unificação geográfica da Ática visando cotejar indícios da formação do segmento social de poucos recursos identificado como os thetai. Maria Cecilia Colombani, com o titulo de Saber, poder y matrimonio: ritualización de la práctica y signos de la dominación, nos apresenta a perspectiva filosófica ao considerar a dimensão do casamento como uma prática política e institucional composta de acentuada ritualização, o que coloca o casamento como parte das relações de poder em um registro de observação único na história do Ocidente. O grupo do LABECA – USP se faz presente através da pesquisadora Elaine Farias Veloso Hirata que introduz os conceitos de espacialidade do poder e paisagem política no estudo das relações de poder das poleis gregas no artigo A espacialidade do poder na cidade grega antiga.

A pesquisadora Claudia Beltrão no artigo Religião, Gênero e Sociedade: ordem romana, ordem sagrada tece uma breve análise de alguns dos rituais do mês de março, tomados como exemplo, permite a observação da complexa inter-relação, no sistema ritual, dos elementos “masculinos” e “femininos” na Roma antiga. A pesquisadora Arlete Motta no texto A decisão de Priapo, na sátira I, 8 de Horácio: a fuga das feiticeiras como representação de uma nova era usa o riso como mecanismo de poder ao partir do principio de que dentre os mecanismos do riso, a sátira, ao expor questões comportamentais, pode servir como um meio de veiculação dos ideais político-sociais de uma época.

Norma Musco Mendes, especialista em sociedade romana, nos traz a reflexão sobre a interação entre a cultura política que norteava as práticas políticas e o desenvolvimento do culto imperial no artigo O Culto imperial como “transcrito público”. A pesquisadora Renata Lopes Biazotto Venturini em parceria com Tiago, França com o titulo Escrita e Relações de Poder em Suetônio, estabelecem uma analise visando entender melhor conceitos sobre a sociedade romana na obra A Vida dos Doze Césares.

Finalizando esta edição temos duas resenhas: uma da epigrafista Maricí Martins Magalhães analisando a obra de MORELLI, A.L. Madri di uomini e di dèi. La rappresentazione della maternità attraverso la documentazione numismatica di epocaromana e a do arqueologo Pedro Paulo Abreu Funari, José Antônio Dabdab Trabulsi, Le Présent dans le Passé. Autour de quelques Périclès du XX e siècle et de la possibilite d’une vérité en Histoire.

Deste modo, a Revista Maracanan deseja a todos uma boa leitura!

Maria Regina Candido – Professora Doutora. Coordenadora do Núcleo de Estudos da Antiguidade- NEA / UERJ


CANDIDO, Maria Regina. Apresentação. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, v.9, n.9, 2013. Acessar publicação original [DR]

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Periodização histórica – debates e questionamentos / Nearco – Revista Eletrônica de Antiguidade / 2013

 Como historiadores nos deparamos com um problema constante em nosso ofício: explicar determinadas periodizações históricas, para contextualizarmos o objeto de pesquisa. Como profissionais que lidam com o homem no tempo e no espaço devemos ter em mente que uma categorização temporal é o produto de um lugar social específico, o qual visa elaborar um discurso de normatização para que os eventos passados possam ser inteligíveis as necessidades atuais. Deste modo, o presente dossiê intitulado de “Periodização histórica – debates e questionamentos”, da Revista NEARCO 2013.1 pretende lançar novos olhares para os recortes temporais, afim de desnaturalizar tais sistematizações, que em muitos casos passam por despercebidas. A empreitada foi árdua, contudo como diz um antigo provérbio: caminhando sozinho podemos chegar em algum lugar, contudo caminhando em conjunto chegaremos mais longe. De tal forma recorremos aos nossos parceiros de longa data para formularmos esta publicação, que comemora os nossos quinze anos de democratização do saber a sociedade. As temáticas contidas nesta edição perpassam pelas demarcações históricas da Antiga Mesopotâmia, passando pelo período denominado de Antiguidade Tardia e findando com o recorte intitulado de Medievo.

A pesquisadora Katia Pozzer explicita que no mundo antigo, diferentes sistemas de contagem do tempo foram utilizados, segundo as regiões e a época. Os gregos, por exemplo, contavam os anos a partir da primeira olimpíada, os romanos a partir da fundação de Roma. No que tange aos habitantes do Oriente Próximo, os mesmos se referiam aos anos dos reinados de seus soberanos ou aos nomes de seus dignitários. O calendário das civilizações antigas era baseado no ritmo das atividades agrícolas e religiosas e era marcado por intervalos de tempo naturais, dados pelo deslocamento do sol no horizonte, pelo ciclo das colheitas e pelo movimento da lua. Assim a autora pretende analisar o calendário mesopotâmico, o qual era composto de um ano solar, com meses lunares e de um dia solar. Já o Prof. Dr. André Bueno visa em seu artigo problematizar a questão da relação entre tempo e história na China Antiga. Bueno para dar conta de sua proposta se utiliza dos textos de Confúcio (-551 a -479) e Sima Qian (-145 a -85), que são considerados como os dois principais fundadores da historiografia chinesa. O trabalho do autor, além de inovador, nos possibilita conhecer sobre um importante campo, que ainda apresenta certa escassez de produção no Brasil.

As nossas análises sobre as periodizações também envolveram outras regiões orientais como da Antiga Índia. O texto produzido pelo Prof. Dr. Edgard Leite foi direcionado nos convida a desenvolver algumas questões teóricas sobre os problemas de periodização da Índia antiga. O referido pesquisador nos aponta as dificuldades que envolvem a comparação com processos históricos fundadores que são verificados no Ocidente, assim o mesmo destaca o papel da Revolução Neolítica no entendimento das grandes transformações estruturais na história. Além da Índia Antiga, os nossos escritos buscaram refletir eventos que envolveram a sociedade Persa. Em virtude do exposto recorremos ao Prof. Dr. Vicente Dobroruka que analisou a apocalíptica persa. Assim o referido estudioso frisa em seu artigo os diferentes usos das periodizações históricas num apocalipse persa conhecido como Zand-i Wahman Yasn (ZWY). Em sua proposta enfatiza-se que ao longo do apocalipse citado são utilizadas matrizes diferentes dos temas tradicionais dos metais, das idades do mundo e dos impérios mundiais.

Ao nos direcionarmos para os estudos que envolvem a sociedade helênica buscamos o apoio da Prof.ª Dr.ª Maria Regina Candido. A referida helenista focou em seu artigo nos estudos que envolvem o período entre 1200 a 800 antes de nossa era, cujo resultado foi à emergência da polis. O período ora é identificada como Idade do Bronze, Tempos obscuros, Idade Media dos gregos ou simplesmente Dark Ages pela historiografia anglo-americana. Os pesquisadores afirmam que o termo se deve ao “retrocesso cultural” e econômico que ocorreu na região helênica como ausência da escrita, dificuldade em estabelecer assentamentos e assim como a perda dos contatos e rotas comerciais no Mar Egeu. Sendo assim, a autora almeja analisar os termos junto a historiografia, além de expor como o conceito tem sido aplicado, os seus possíveis significados e criticas junto aos pesquisadores helenistas. Complementando os estudos helênicos, nosso dossiê contou com a participação do pesquisador Luis Filipe Bantim de Assumpção. O autor salienta que as periodizações são sistematizações acadêmicas passíveis de um processo de historicização. Desse modo, o mesmo objetiva analisar a maneira como as periodizações históricas de “Arcaico, Clássico e Helenístico” foram desenvolvidas para dar conta das especificidades existentes nas sociedades helênicas.

No que tange ao recorte histórico denominado de República Romana, nosso dossiê teve como autora a Prof.ª Dr.ª Claudia Beltrão da Rosa. A especialista argumentou que a periodização tradicional dos estudos históricos é um modelo que, como todos os modelos, deve existir em benefício da análise e da interpretação dos dados, e não o contrário. Logo, a autora frisa que algumas questões sobre a pertinência do modelo monarquia / não monarquia para o estudo da religião romana na “República”, assim como o período denominado de republicano necessitam ser estudados pelos pesquisadores, a fim de contextualizar seu objeto de pesquisa. Além dos escritos de Claudia Beltrão da Rosa, os pesquisadores Gilvan Ventura da Silva e Carolline da Silva Soares foram vitais nas análises que envolvem a periodização romana. Assim o artigo de Silva e Soares é voltado para refletir os limites e possibilidades dos conceitos mais comuns utilizados para definir o sentido das transformações operadas no Império Romano a partir da morte de Cômodo (192), transformações estas que culminaram na redefinição do sistema imperial romano e, do ponto de vista da longa duração, na sua gradual desagregação à medida que avança o século V.

Ao nos depararmos com a periodização da sociedade islâmica recorremos ao estudioso Ian Morris, o qual indica que as sociedades que formavam o império islâmico emergiram na Antiguidade Tardia. Para o autor a fragmentação política e espiritual de tal área imperial ocorreu entre c.700-950, o que decididamente constituiu as comunidades medievais sob comando das dinastias islamizadas. Seguindo pela perspectiva cronológica chegamos aos escritos da historiadora Renata Rozental. As reflexões da autora são voltadas para a formação de consciências históricas entre os judeus da Idade Média. Desta forma, Rozental salienta que a memória apresenta-se como instrumento narrativo e configura-se como parte da nova identidade judaica entre os séculos XIV-XVI. Neste estudo é possível perceber o uso social do tempo como campo legítimo de estudo do historiador.

Além das sociedades mencionadas podemos ressaltar pesquisas como as de Dominique Vieira Coelho dos Santos e Renan Marques Birro, que analisam respectivamente a sociedade Céltica e Nórdica, as quais o modelo de periodizações históricas tradicionais não são apropriados para as suas especificidades culturais. Dominique Vieira Coelho dos Santos apresenta uma reflexão acerca do modo pelo qual os historiadores produzem suas narrativas sobre os celtas a partir da construção de formas e periodizações. Logo, o artigo convida ao leitor a repensar as periodizações e seus usos, além de contribuir para novas perspectivas sobre a História da Irlanda. No caso de Renan Birro, o mesmo destacou que a utilização de temporalidades (ou eras) para o Estudo da Europa Nórdica (compreendida sem limites muito estritos como os atuais países Nórdicos, o Leste da Alemanha e o Leste Europeu) foi empreendida como um exercício didático para simplificação dos estudos e detecção de tendências artístico-estilísticas, culturais, sociais e tecnológicas durante a Antiguidade e o Medievo. Todavia, Birro ressalta que os avanços da Arqueologia, de estudos comparativos e micro-analíticos tem pulverizado esse panorama conforme a observação minuciosa de regiões específicas. Assim, o autor se propõe realizar uma breve retrospectiva até a quase reinvenção das palavras “Viking” e “Era viking” no contexto do nacionalismo, pós-colonialismo e na busca de identidade da Inglaterra vitoriana no século XIX e seus usos através das últimas centúrias.

Quanto ao aspecto teórico o dossiê conta com os estudos do historiador João de Oliveira Ramos Neto. O referido autor apresenta de forma introdutória as concepções de tempo histórico em Durval Muniz de Albuquerque Júnior, François Hartog, Reinhart Koselleck, Antoine Prost, José Carlos Reis e Paul Ricoeur, propondo um breve debate entre eles na tentativa de compreender a relação do historiador com o tempo que oscila entre a concepção natural e a concepção filosófica. No artigo são tratados temas e conceitos como calendário, estrutura, conjuntura, fato histórico e regime de historicidade.

Além do dossiê, a revista apresenta a sessão de artigos livres que contém a produção de Jorge Durbano. O presente artigo visa debater sobre as funções institucionais e administrativas que um cidadão ateniense no período clássico deveria executar para o acesso e manutenção de seu cargo na polis de Atenas. Além do referido texto, a revista NEARCO também expõe a resenha efetuada por Guilherme Keller Fragomeni da obra Medeia- Mito e Magia, de autoria da helenista Maria Regina Candido. O referido trabalho visa apresentar os principais pontos que constituem o livro sobre um dos personagens históricos mais debatidos na história.

Em suma, o conselho editorial da Revista NEARCO deseja a todos uma boa leitura!

Carlos Eduardo da Costa Campos – Membro do Núcleo de Estudos da Antiguidade, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, na linha de pesquisa: Religião, Mito e Magia no Mediterrâneo Antigo. O mesmo atua como docente do Curso de Especialização em História Antiga e Medieval, CEHAM – UERJ. E-mail: [email protected]

Maria Regina Candido – Docente associada em História Antiga e coordenadora do Núcleo de Estudos da Antiguidade, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A mesma atua como membro da coordenação do Curso de Especialização em História Antiga e Medieval, CEHAM – UERJ e como Professora do Programa de Pós-Graduação em História da UERJ e do Programa de Pós-Graduação em História Comparada, da UFRJ.


CAMPOS, Carlos Eduardo da Costa; CANDIDO, Maria Regina. Editorial. Nearco – Revista Eletrônica de Antiguidade, Rio de Janeiro, v.6, n.1, 2013. Acessar publicação original [DR]

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Práticas religiosas no Mundo Antigo / Nearco – Revista Eletrônica de Antiguidade / 2012

Neste dossiê perpassaremos pelos caminhos da religião, do mito e a magia na Antiguidade. Poderíamos afirmar que os referidos temas foram abandonados com o advento da modernidade, confirmando, assim, a famosa teoria da secularização; ou que as narrativas míticas e as práticas da magia se esvaíram do mundo em meio ao processo de desencantamento? A temática religião, mito e magia, são inerentes as sociedades humanas desde os primórdios da humanidade e permanece no cotidiano de inúmeros grupos sociais nos séculos XX e XXI como resultado de uma busca por certezas as quais a Ciência demonstrou certa incapacidade de explicação.

Na Antiguidade, é perceptível a ação do sagrado regendo diversas etapas da vida dos indivíduos. O Dossiê: Práticas Religiosas no Mundo Antigo objetiva conceder a comunidade acadêmica e aos demais interessados em História Antiga, através do diálogo interdisciplinar, a possibilidade de desvendar como as práticas religiosas nas sociedades egípcia, judaica, romana e grega serviram como cenário histórico-sociológico para o desenvolvimento das relações políticas, econômicas e sociais entre indivíduo e sociedade, alterando em alguns casos as relações culturais entre as diversas sociedades mediterrâneas.

O Dossiê dessa edição apresenta dez artigos produzidos por historiadores e pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento. O primeiro deles se trata de uma produção do Prof. Mestrando Alex Aparecido Costa da Universidade de Maringá. Costa aborda o tema “Aspectos da divinização do príncipe na concepção pliniana” objetivando analisar alguns aspectos relativos ao culto imperial e à divinização dos imperadores romanos durante o Alto Império a partir da análise do Panegírico de Trajano de Plínio, o Jovem. Segundo ele, condição especial para a divinização dos imperadores era a posse do imperium, um poder recebido do deus Júpiter e que estava presente no pensamento romano para indicar uma força capaz de criar e ordenar, agindo sobre a realidade de acordo com a vontade de seu detentor. Na obra de Plínio, diz Costa, o imperador é apresentado como um legado do deus, encarregado de administrar o mundo enquanto Júpiter governa o céu.

O segundo artigo do Dossiê, “De Thot a Hermes Trismegisto: o Egito antigo e o hermetismo árabe” foi desenvolvido pela Profª. Drª. Cintia Prates Facuri da Universidade de São Paulo. Facuri procura demonstrar o modo como ocorreu a transmissão dessa lenda e de seus conhecimentos, com enfoque principalmente na formação do Hermes árabe e o papel por ele exercido, levando em conta o estatuto desse material no mundo e no pensamento árabe.

Em terceiro lugar, orientado pela Profª. Drª. Cláudia Beltrão da Rosa da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Jhan Lima Daetwyler apresenta o artigo “DEAE SVLI MINERVAE: os pedidos de justiça à deusa das águas medicinais”. Nele Daetwyler faz uma abordagem das interações religiosas romano-bretãs na Britannia romana, tratando mais especificamente das práticas religiosas vinculadas aos defixiones bretões encontrados na nascente do templo de Sulis Minerva, buscando compreender o modo de vida dos grupos humanos no passado.

No quarto artigo do Dossiê: Práticas Religiosas no Mundo Antigo, o Prof. Ms. João Batista Ribeiro Santos do PPGH-UERJ aborda o tema “As fontes epigráficas e as antigas narrações judaicas da origem mediterrânea do antigo Israel”. Ribeiro Santos coloca as narrações mais antigas da Bíblia hebraica sobre os eventos fundadores do povo de Israel em diálogo com os testemunhos materiais, apresentando sua hipótese de que existiu um povo israelita no final do segundo milênio a. C. e uma dinastia davidica no início do primeiro milênio a. C., e que esse povo manteve relações diplomáticas e períodos de guerra com os países da Transjordânia pelo predomínio na terra de Canaan.

Após o artigo de Ribeiro dos Santos, encontramos o trabalho do Prof. Mestrando José Provetti Júnior da Unioeste, na qual o autor discute sobre “A alma na Hélade”. Nele Provetti Júnior investiga o conceito de alma na Hélade, em especial na filosofia présocrática, enquanto conceito que encerra em si os princípios da teoria do conhecimento e da criatividade científica dos primeiros físicos, responsáveis pela reedição do modo discursivo mítico da palavra eficiente para o modo discursivo racional da palavra representação, instaurando nova concepção e equipagem teórica adequada às novas tecnologias provenientes da reintrodução da escrita, possibilitando assim, o que o filósofo da ciência Karl R. Popper indica como o “resgate” da inventividade crítica dos primeiros tempos da Filosofia e sugere a superação da exclusividade do método indutivo criado por Aristóteles e endossado posteriormente por Francis Bacon como paradigma irrefutável do fazer ciência.

O sexto artigo do Dossiê foi desenvolvido pela Profª. Doutoranda Liliane Cristina Coelho – “Arquitetura doméstica e uso dos espaços: o exemplo da vila de trabalhadores de Akhetaton”. Segundo a autora, não é correto afirmar que toda cidade egípcia surgiu em função de um templo, mas a importância de um deus local é facilmente perceptível pela presença de pelo menos um local de adoração em cada assentamento urbano. Cristina Coelho pretende a partir do estudo das Estelas de Fronteira de Akhetaton – uma cidade erigida na região conhecida atualmente como El-Amarna, a estreita relação existente entre o indivíduo e sua cidade e, consequentemente, com o deus associado à localidade.

Em seguida, sendo orientado pela Profª. Msª. Ana Paula Magno Pinto da Universidade Gama Filho, Marco Aurélio Neves Junior trata do tema “Mito egípcio da criação do mundo – Versão Heliopolitana”, objetivando mostrar o quanto a religião e a mitologia do antigo Egito e da humanidade pode ser belas e tentar explicar os diversos termos de religião, aplicadas ao antigo Egito e mostrar que esta civilização poderia não ser politeísta no sentido da palavra que entendemos hoje, ensinando conceitos de religião como monoteísmo, politeísmo, monolatria, henolatria.

O oitavo artigo do Dossiê: Práticas Religiosas no Mundo Antigo se trata de uma ação conjunta dos professores Orestes Jayme Mega, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva e Lennon Oliveira Matos. Os autores abordam o tema “Arqueologia mítica: um breve esboço sobre a importância de abordagens mitológicas na arqueologia”, esboçando as inquietações levantadas à Arqueologia que se pratica sem a preocupação de se estabelecer diálogos mais profundos com outras fontes além da cultura material. Os autores defendem um maior uso dos mitos e da ciência da mitologia comparada, além da psicologia analítica, como fontes importantes de reflexões que podem se revelar de grande auxílio na interpretação do registro arqueológico.

Em seu artigo “A religiosidade dos construtores de tumbas no Egito antigo”, Rennan de Souza Lemos, orientado pelo Prof. Dr. Ciro Flamarion Cardoso estuda a religiosidade dos antigos egípcios do Reino Novo (c. 1550-1070 a. C.), com base no material escavado em dois sítios arqueológicos do período: a Vila dos Trabalhadores em Amarna e a vila de Deir el-Medina. Segundo ele, esta última abrigou, durante a maior parte do Reino Novo, os encarregados da construção e decoração das tumbas reais no Vale dos Reis, na parte ocidental de Tebas, enquanto a Vila dos Trabalhadores em Amarna possivelmente serviu para o mesmo propósito: abrigar os trabalhadores responsáveis pela construção e decoração das tumbas real e da elite na parte oriental de Amarna.

No penúltimo artigo do Dossiê, Renato Nunes Bittencourt analisa as críticas de Giorgio Colli sobre a interpretação nietzschiana acerca da tipologia valorativa do princípio apolíneo – expressão de uma experiência ética e religiosa caracterizada pelo rigoroso respeito pela justa-medida, em seu trabalho “Apolo de duas faces”. E, finalmente, concluindo o Dossiê: Práticas Religiosas no Mundo Antigo publicamos o artigo da Profª. Doutoranda Sandra Ferreira dos Santos do PPGArq-UFRJ, intitulado como “A magia para o amor e para a fertilidade no mundo grego”. A autora utiliza os katadesmoi para postular que a prática da magia no mundo grego pretendia, em especial, vingar uma ofensa ou proteger o seu realizador, mas, também, era empregada com finalidades amorosas e para propiciar a fertilidade – ou, ao contrário, a contracepção. Segundo ela, o estudo dessas fontes pode nos trazer novos olhares sobre as relações sociais neste período da História. Nesta edição da Revista Eletrônica de Antiguidade Nearco também publicamos outros artigos de interesse da comunidade científica e demais interessados em História Antiga, além de uma resenha do livro “Escrita e Poder na Antiguidade”.

Concluímos que o mundo foi e permanece sendo um entrelaçado de tradições, superstições, magia e religiões as quais impregnam os indivíduos e as comunidades nas suas formas de pensar e agir. Essa visão esclarece como a magia fazia parte do cotidiano romano e de outras sociedades. Notamos que pensar em superioridade da religião sobre a magia é esvaziar todo o contexto social que a prática mágica possuía. Um dos principais desafios na atualidade é justamente o de compreender o espaço da magia na sociedade e as motivações dos indivíduos, para recorrem a elas. Em suma, como o antropólogo Bronislaw Malinowski, nos apontou a relação homem-religião-magia são elementos existentes desde a Antiguidade e se encontram imbricados nas mais diversas sociedades (MALINOWSKI, 1948:01).

Referências

MALINOWSKI, Bronislaw. Magia, Ciência e Religião. Tradução de Maria Georgina Segurado. Rio de Janeiro: Edições 70, 1948.

MAUSS, Marcel e HUBERT, Henri. Ensaio Sobre a Natureza e a Função do Sacrifício. In; Ensaio de Sociologia, 2º ed., São Paulo, Perspectiva, 2001.

Carlos Eduardo Campos (UERJ)

Junio César Rodrigues Lima (UERJ)

Maria Regina Candido (UERJ)


CAMPOS, Carlos Eduardo; LIMA, Junio César Rodrigues; CANDIDO, Maria Regina. Editorial. Nearco – Revista Eletrônica de Antiguidade, Rio de Janeiro, v.5, n.2, 2012. Acessar publicação original [DR]

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