Religiões Mediúnicas e a Hiatória / Revista Brasileira de História das Religiões / 2017

Em mais um espaço, aberto pela Revista Brasileira de História das Religiões, vários profissionais reúnem-se para discutir a temática das Religiões Mediúnicas. Trata-se de um assunto extremamente presente na cultura e no cotidiano do povo brasileiro, assumindo a dimensão de um valor caro e partilhado. A crença nos Espíritos, para muito além do Espiritismo é algo vivenciado e orientador do viver individual e coletivo entre nós. Por outro lado, a familiaridade com o invisível, presente nas “mesas” kardequianas e nas “giras” de Umbanda, há muito que se impôs ao repertório das vivências capazes de caracterizar a forma de exteriorizar-se culturalmente do povo brasileiro. Sem fronteiras muito definidas, ultrapassando projetos identitários, essas crenças e vivências são fundamentais para quem se aventura a pensar o Brasil. É com satisfação que vemos hoje, aumentar o número de historiadores, cientistas sociais e cientistas da religião interessados nesses fenômenos e comprometidos com projetos editoriais e de investigação sobre os mesmos.

Neste Dossiê temos, inicialmente, a presença de Pedro Paulo Amorim, abordando a temática da imprensa espírita, em um recorte temporal que vai do século XIX até a década de 1960. Marcos Diniz Silva, por sua vez, estuda a afirmação e legitimação do Espiritismo no campo religioso cearense. Em seguida, Deise Maria Albuquerque de Lima Saraiva e Emanuela Sousa Ribeiro abordam uma questão importantíssima para conhecermos os contornos da literatura espírita produzida entre nós: o papel do negro na mesma. Ainda, sobre o Espiritismo, há o meu artigo, remetendo à discussão sobre as relações entre Espiritismo, Educação e Estado Laico. Pensando as religiões afro-brasileiras, Vanda Serafim aborda as aproximações teóricas entre Nina Rodrigues e Tylor. Já Cairo Katrib contribui com um artigo sobre a controversa figura do Exu no campo umbandista, enquanto os pesquisadores João Luiz Carneiro e Érica Jorge Carneiro refletem sobre a importância da Umbanda Esotérica na conformação da Umbanda no Brasil.

Em nome de todos os escritores que aqui escrevem, agradeço à equipe da Revista Brasileira de História das Religiões por se mostrar sensível e aberta ao assunto que ora reúne os profissionais presentes neste Dossiê. O volume também agrega artigos livres que exploram a diversidade do campo religioso.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Dr. Artur Cesar Isaia


ISAIA, Artur Cesar. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.10, n.28, maio / sete., 2017. Acessar publicação original [DR]

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História, Religiões Mediúnicas e Afro-Brasileiras / Esboços / 2010

O Dossiê escolhido para este número da Revista Esboços traz como tema de discussão “História, Religiões Mediúnicas e Afro-Brasileiras”. Com isso nossa publicação continua contemplando a pluralidade temática, a diversidade teórico-metodológica e o diálogo interdisciplinar, tão salutares à prática historiográfica.

O tema das religiosidades e, mais precisamente, das religiões mediúnicas e afrobrasileiras é familiar às pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em História, nos trabalhos de Graduação do nosso Departamento, bem como no Laboratório de Religiosidade e Cultura da UFSC. A “Esboços”, com esse Dossiê, contempla não somente uma realidade de pesquisa própria ao lugar institucional que a abriga, mas também um interesse acadêmico mais amplo, atestado pela crescente presença desta temática nas teses de doutoramento e dissertações de mestrado, o que demonstra uma abertura da academia a realidades culturais extremamente relevantes ao pensarmos nosso país e nosso povo.

Colaboram neste Dossiê: Durval Muniz de Albuquerque Jr, Artur Cesar Isaia, Raquel Marta da Silva, Cristiana Tramonte, Emerson Giumbelli, Roberto Motta, Luis Nicolau Parés, Reginaldo Prandi e José Jorge de Morais Zacharias.

No primeiro artigo, Durval de Albuquerque Jr estuda o olhar do pensador potiguar Câmara Cascudo sobre a cultura africana e suas peculiaridades ao abordar a presença negra na formação histórico-cultural brasileira. Após temos uma reflexão a respeito do discurso médico-psiquiátrico sobre o transe mediúnico, enfocando a produção de Xavier de Oliveira, psiquiatra ligado à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX, o que é feito por mim. Abordando o espiritismo, Raquel Marta da Silva enfoca a importância que o “Pacto Áureo” (tentativa nacional de unificação doutrinária espírita) teve no movimento espírita mineiro da primeira metade do século XX. A religiosidade afro-brasileira em Florianópolis aparece no artigo de Cristiana Tramonte, que mostra as relações entre as mesmas e um universo cultural bastante difuso, no qual aparecem as práticas de curas e as benzeduras. A presença da África na produção dos primeiros intelectuais da umbanda é analisada por Emerson Giumbelli, que evidencia a importância negra, malgrado as aparências de desvalorização africana por aqueles intelectuais. As reflexões de Roberto Motta contemplam a abertura das religiões afro-brasileiras a outras realidades culturais, notadamente as reflexões de cientistas sociais, em dias mais recentes, o que, em sua opinião, pode ocidentalizar e intelectualizar aquelas religiões. Luis Nicolau Parés aborda em seu artigo a presença consolidada de práticas religiosas jejes e nagôs, já nos anos 1860 em Salvador, bem como o processo de hegemonia nagô no final do século XIX, como resultado de disputas entre crioulos afro-brasileiros. Reginaldo Prandi apresenta uma reflexão sobre uma entidade das mais importantes nas religiões afro-brasileiras: a Pombagira. Esta entidade é apresentada aqui a partir de uma de suas numerosas lendas, como indício da fuga ao dualismo ético judaico-cristão pela religiosidade afro-brasileira. Já José Jorge de Morais Zacharias, aborda a relação entre os indivíduos e os Orixás tomando como base a teoria de Jung e comparando-a com a cultura africana, na qual se pode ver, igualmente, um sistema de explicação das diferenças individuais.

Uma boa leitura para todos (as) e, desde já, os nossos agradecimentos por sua atenção e divulgação desse trabalho coletivo.

Artur Cesar Isaia – Organizador do Dossiê. Professor do Departamento de História da UFSC. E-mail: [email protected]

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