A Cultura Escrita em Perspectiva / Revista Maracanan / 2017

Cultura escrita – conhecimento e poder: duas faces da mesma moeda?

Mesmo que não sejamos exclusivamente uma sociedade baseada na cultura escrita e embora tenha perdurado no Brasil uma forte tradição oral, resultante do persistente alto índice de analfabetismo – estimado em 82,3% da população no primeiro censo oficial realizado em 1872 e ainda parte do cenário nacional no ano 2000, registrando a marca de 16,7% [1] –, já foi extensivamente demonstrado pelos estudos historiográficos o papel crucial exercido pela escrita, seja ela manuscrita ou impressa, no processo de construção do Brasil. Ademais, sua produção, assim como o seu posterior arquivamento possibilitaram aos historiadores do século XX expandir suas indagações acerca de diversos objetos, acompanhando de perto a produção historiográfica mundial, principalmente a partir dos anos 1970, quando se iniciou a expansão dos programas de pós-graduação no país.

Assim, se por um lado os manuscritos, atualmente tomados como fontes históricas, têm sido crescentemente explorados e problematizados pelos historiadores dedicados ao período anterior à permissão oficial para a instalação de tipografias no Brasil (entre 1808 e 1820), também os impressos produzidos em território nacional, a partir do Oitocentos, têm sido alvo crescente de investigações. Ademais, foi ao longo do século XIX que a palavra (então impressa), no Brasil, conseguiu alçar uma mentalidade abstrata [2] que lhe conferiria legitimidade, permitindo-lhe ocupar um lugar estratégico nesta sociedade. Além do mais, a produção de conhecimento, enquanto base de uma cultura fortemente influenciada por uma mentalidade iluminista [3] − perpassada pela cultura escrita −, passou a ocupar um papel central também no Brasil a partir do XIX, com o efervescente processo de criação de instituições como museus, faculdades, bibliotecas e etc.

Tanto através de instituições forjadas pelo Estado, como por meio de iniciativas particulares de cunho comercial – a exemplo das casas tipográficas e livrarias – foi se construindo um ambiente crescentemente familiar a essa cultura escrita, conhecida pela população diretamente ou indiretamente, “por ler, ouvir ler ou ouvir falar”. Pois, como destaca Marialva Barbosa, mesmo aqueles indivíduos analfabetos faziam parte do mesmo universo comunicacional dos letrados, através de um imbricamento entre o oral e o escrito.

De forma geral, como asseveram autores dedicados à história do livro e da leitura, como Robert Darnton e Roger Chartier, foi “revolucionário” o impacto da invenção de Gutenberg para a cultura escrita nas sociedades ocidentais. A impressão, ao possibilitar a reprodução, cada vez mais eficiente e barata, de vários exemplares idênticos ao mesmo tempo, possibilitou uma aceleração do processo de circulação de ideias nacional e internacionalmente. Processo que se intensificou com a agilização dos transportes terrestres e marítimos no século XIX. As novas tecnologias tipográficas e de transportes possibilitaram, portanto, uma intensificação das trocas de informações e conhecimentos entre intelectuais e cientistas de diferentes países do hemisfério.

Ao mesmo tempo, a cultura escrita adquiria, paulatinamente, mais importância nas dinâmicas societárias de poder, associadas ao desenvolvimento científico, cultural, político e econômico. Cultura escrita, conhecimento e poder passaram a constituir “faces de uma mesma moeda”, faces em constante interação e sobreposição com diferentes resultantes de acordo com os variados atores e contextos em questão.

Tendo em vista as questões sumariamente apresentadas, vamos tratar dos artigos que compõem a Edição nº 16 da Revista Maracanan, cujo tema proposto para o dossiê foi Cultura escrita em perspectiva. Pretendíamos com esta chamada reunir trabalhos inéditos, resultantes de pesquisas que versassem sobre a cultura escrita em suas mais diversificadas manifestações, focando em manuscritos ou impressos, e com atenção para as correlações entre a cultura escrita e a política, a cultura, a economia e a ciência, sob diferentes enfoques teóricos e metodológicos.

Na atual edição conseguimos reunir, após rodadas de avaliações dos textos submetidos à pareceristas ad hoc, 14 artigos, sendo: 7 pertencentes ao Dossiê, 3 à seção de artigos livres, 2 notas de pesquisa e 2 resenhas.

Abrindo o dossiê, trazemos o artigo do historiador Ronaldo Vainfas que apresenta um balanço historiográfico de uma produção bibliográfica nacional sobre a colonização do Brasil, em especial sobre o período filipino (1580-1640), abarcando obras clássicas de autores como Francisco Adolfo de Varnhagen, Capistrano de Abreu, Pedro Calmon, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior (entre outros), até pesquisas universitárias mais recentes. Intentando “reforçar a importância do estudo da colonização no período filipino como problema de investigação relevante e não apenas como acidente de percurso cronológico”, argumenta se tratar de um período histórico crucial, devido à relevante inflexão produzida pela governação filipina na formação colonial do Brasil com a introdução do “exclusivo comercial”.

O artigo oferece panorama completo e atualizado para todos aqueles que intentam enveredar por essa temática, além de apresentar as premissas defendidas por um historiador bastante experiente e premiado, autor de livros e artigos sobre a história ibérica e ibero-americana na época moderna. O segundo artigo, de autoria de Maria Cristina Bohn Martins, intitulado Cultura escrita e projetos coloniais: “A Descrição da Patagônia” de Thomas Falkner, apresenta uma análise sobre um manuscrito produzido pelo jesuíta Thomas Falkner, acerca de um período de quase 40 anos em que morou na região do Rio da Prata, em especial nos territórios da Pampa-Patagônia da atual República Argentina. O livro analisado, publicado em 1774, a partir deste relato, apresentava um “quadro de informações inéditas ao público europeu, especialmente inglês, sobre territórios que mesmo os espanhóis pouco conheciam”. Martins destaca a singularidade deste texto em comparação aos produzidos contemporaneamente por religiosos jesuítas (interessados no trabalho de evangelização dos nativos). Falkner veio para a América comissionado pela Royal Society de Londres, como os viajantes naturalistas típicos de sua época e seu interesse era decodificar o mundo a partir da ciência, não rememorar o trabalho missionário dele e de seus colegas. A contribuição da autora vai, no entanto, além de uma análise dos aspectos que perfazem a obra, já que ele atenta para questões relacionadas à sua edição, publicação e recepção, se constituindo como um bom exercício de aplicação de uma metodologia bem embasada nos debates concernentes ao campo da história do livro e da leitura.

O artigo de Felipe Cittolin Abal, O Relato como vingança: as memórias de Stanislaw Szmajzner, consiste numa análise do livro Inferno em Sobidor: a tragédia de um adolescente judeu de Stanislaw Szmajzner, escrito por um ex-prisioneiro do campo de extermínio de Sobibor na Polônia que, posteriormente, passou a residir no Brasil onde publicou suas memórias. A escrita e a publicação desta obra autobiográfica, escrita por um sobrevivente sobre os horrores dos campos de concentração nazista, evidenciam, para Abal, o desejo do autor de imortalizar-se como um herói e vítima dos horrores nazistas. A publicação de suas memórias atenderia ao seu sentimento de vingança frente às humilhações e agressões sofridas, ao passo que pretendia servir como uma lição, um alerta para que os horrores não mais se repetissem. Ao que conclui que Szmajzner teria feito um bom uso dos abusos da memória, ao fazer de seu livro uma forma de buscar justiça ao genocídio cometido contra os judeus. Apesar de se tratar de um tema denso, o autor busca aporte em uma extensa discussão bibliográfica acerca da escrita autobiográfica para analisar a obra em questão, problematizando-a.

Saindo das fronteiras nacionais, trazemos a pesquisa de Madalina Elena Florescu. As autobiografias também são o seu tema no artigo “Autobiografias angolanas”: um gênero em questão. A autora desenvolve um interessante esforço de debate teórico e metodológico com foco nas potencialidades e problemáticas associadas à análise de memórias autobiográficas angolanas. O ponto fulcral de sua proposta consiste na utilização da metáfora do “palimpsesto” para pensar a textualidade como uma forma de memória. Tal metáfora, segundo Florecu, busca evitar os “guetos etnolinguísticos ou etnográficos” dos discursos nativista ou pós-colonial. Além de apresentar relevante contribuição concernente ao debate sobre a produção e análise de memórias históricas, memórias autobiográficas e biografias, a autora mergulha em um estudo de caso através da análise da obra intitulada Minhas origens e aprendizagem: uma autobiografia, do cardeal angolano Alexandre do Nascimento, publicada pela imprensa do governo de Angola em 2006.

Alexandre Guilherme da Cruz Alves Junior, em Memórias de um pornógrafo: a revista Hustler, liberdade de expressão e a política nos Estados Unidos (1970 – 1980), analisa as memórias do polêmico Larry Flint, fundador e editor-chefe da Hustler magazine, sobre o período de lançamento e consolidação da revista no mercado pornográfico norte-americano nos anos 1970-1980. Enfatiza, por outro lado, a sua atuação na revista como um meio de atuação política e cultural estadunidense, haja vista que Flint alcançou, nos anos 1990, o status de militante pela defesa da liberdade de expressão e imprensa nos Estados Unidos. Suas conturbadas memórias evidenciam como mesclou a luta pela liberdade de expressão e de imprensa com business, passando por diversas polêmicas, processos judiciais e até mesmo por um atentado à bala que o deixou numa cadeira de rodas.

Fernando Cezar Ripe e Giana Lange Do Amaral analisam um conjunto de obras publicadas em Portugal (de fins do XVII ao XVIII) que tratavam dos cuidados relativos à infância, no artigo intitulado O dispositivo da cultura escrita na constituição do sujeito infantil moderno: evidências em impressos portugueses do século XVIII. A partir do arcabouço teórico construído por Michel Foucault, defendem que “foi somente com a modernidade que a população se tornou objeto tanto de interesse de diferentes campos do saber como de gerenciamento do Estado”. Tal interesse se traduziria, pois, pela utilização de impressos como dispositivos estratégicos de busca de homogeneização dos comportamentos da sociedade portuguesa no que concernia às questões morais, religiosas e políticas. Tais dispositivos são legitimados, segundos os autores, por uma extensa lista de publicações que colocavam as crianças como alvos de cuidados, proteção e educação a serem implementados por uma sociedade paulatinamente pautada por códigos disciplinares.

Fechando o dossiê, trazemos o artigo de Antônio Sérgio Pontes Aguiar e Ruben Maciel Franklin, intitulado Romantismo nos trópicos: motivos literários no Brasil Oitocentista. O texto apresenta o resultado de reflexões acerca da emergência do romantismo no Brasil, a partir dos debates promovidos por romancistas e críticos ao longo do século XIX. Analisam, assim, as principais obras lançadas no Oitocentos, visando compreender o romantismo como um movimento literário e artístico que trouxe à tona uma série de questões concernentes à afirmação de uma identidade nacional, num contexto de afirmação da Nação recém-independente.

Iniciamos a seção de artigos livres com o texto de Carlos Augusto Bastos intitulado Demarcações e circulações nas fronteiras da Amazônia ibérica (c.1780-c.1790). Com ele, retornamos ao tema das disputas entre Portugal e Espanha, agora no tocante à demarcação das fronteiras ultramarinas, no século XVIII. Na América do Sul, conforme destaca Bastos, a Amazônia figurava como uma das áreas de conflitos fronteiriços entre as duas coroas ibéricas e as demarcações de limites realizadas na região pelas comissões demarcadoras, entre 1780- 1790, procuraram definir as soberanias territoriais hispano-portuguesas, assim como viabilizaram diferentes formas de circulação na região de fronteira. Neste âmbito, são exploradas pelo autor, as relações permeadas por tensões e auxílios, aproximações e desconfianças, alianças e competições entre as comissões demarcadoras de Portugal e Espanha que, ao mesmo tempo em que cumpriam seus trabalhos de demarcação (com vistas ao controle de áreas confinantes), alimentavam interações e circulações nessa região do continente.

Henrique Pinheiro Costa Gaio, em Entre passado e futuro: pessimismo e ruína em Retrato do Brasil de Paulo Prado, volta suas atenções para a obra de Paulo Prado, Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira (1928), em especial ao seu Post-Scriptum. O autor propõe um novo olhar sobre esse clássico, pois considera equivocada a leitura corrente que enfatiza somente o aspecto pessimista de sua interpretação do Brasil. Assim, considerando o seu Post-Scriptum argumenta que neste texto Paulo Prado muda a sua postura frente a um passado pouco edificante apresentado em Retrato do Brasil, revelando uma “disposição combativa que visa romper com o peso do passado e com o que acredita ser o equivocado desenrolar da história nacional”.

O trabalho de Gustavo Granado, A Ascenção da Extrema-direta na França, é o terceiro e último texto da seção de artigos livres. Nele, o autor analisa o fortalecimento da Frente Nacional (partido de extrema-direita francês), principalmente após a posse de François Hollande. Partindo de sua fundação em 1972, quando surgiu como um partido político “cuja ideologia era lutar contra a imigração, internalização da economia e a valorização constante do nacionalismo francês”, vai demonstrando como que, mesmo de forma tímida, o partido foi ganhando representatividade no cenário nacional a ponto de se tornar um partido político temido pelos partidos tradicionais a partir de 2014.

Entre as notas de pesquisa temos os artigos de Raphael Silva Fagundes e Mariana Albuquerque Gomes. Fagundes, em Uma nação fundada com lágrimas: uma análise da retórica nas cerimônias fúnebres do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1839-1848), analisa a estratégia retórica utilizada por membros do IHGB “para a promoção de um projeto político que visava à construção de uma identidade nacional una e indivisa”. Centrando-se na Revista do IHGB, distribuída em diversas províncias do Império do Brasil, analisa os discursos fúnebres, argumentando que eles se constituíam como um investimento numa retórica ligada às emoções. Assim, pretendiam construir um discurso unívoco, face à possibilidade de dispersão, enfatizando uma retórica da nacionalidade que procurava forjar a existência da nação com base na figura de “brasileiros” exemplares, ali alçados a representantes da nação.

Mariana Gomes, por outro lado, propõe compreender as experiências estéticas simbolistas que pensaram o corpo no final do século XIX, no Brasil. Em Pierrot, entre risos e zombarias: notas sobre a tendência coloquial-irônica das experiências estéticas simbolistas, a autora apresenta resultados parciais de uma análise centrada no hebdomadário literário e ilustrado Pierrot, publicado no Rio de Janeiro a partir de 1890. Pierrot, segundo a autora, “apresentava uma proposta de crítica irônica e irreverente, valendo-se dos temas do cotidiano, da oralidade e dos signos da cultura popular como motes de zombaria e sátira” o que fazia com que suas matérias reverberassem em outras publicações como A Tribuna, Cidade do Rio e Gazeta de Notícias. Destaca, assim, a importância da independência desta publicação que não contava com vínculos institucionais, anúncios ou formas de financiamento, para a atuação autônoma tão fundamental para os escritores simbolistas do período.

Encerram a edição as resenhas dos livros de Robert Darnton, Censores em ação: como os estados influenciaram a literatura (2016), e de Emília Salvado Borges, A Guerra da Restauração no Baixo-Alentejo (2015), respectivamente de autoria de Fabiano Cataldo de Azevedo e Luiz Felipe Vieira Ferrão.

Não poderíamos dar por encerrada esta apresentação sem antes nos manifestar sobre a grave crise pela qual passa a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A Universidade é, sem dúvida, o corolário de uma sociedade pautada pela cultura escrita. Ela é a base de toda a produção e divulgação acadêmica. É através da escrita que trazemos à tona as pesquisas que desenvolvemos na Universidade, tornando-as públicas e por isso, passíveis de serem incorporadas pela sociedade. É também a cultura escrita a base do ensino e da extensão de toda Universidade. Portanto, tratar dessa cultura escrita em um momento de completo descaso com uma Universidade como a UERJ nos faz refletir sobre a importância, ou melhor, sobre a falta de importância conferida pela sociedade ao ensino e à pesquisa no nosso país, no atual contexto político e econômico. Esta é, com certeza, uma oportunidade de refletirmos sobre a importância desse conhecimento construído nas fronteiras universitárias e sobre a relação que o poder estabelece com esse conhecimento.

As condições em que essa edição vem ao ar são deploráveis. Salários e bolsas de professores e estudantes envolvidos atrasados, além de uma estrutura física completamente sucateada pela falta de interesse do poder público pela manutenção deste espaço de excelência em ensino, pesquisa e extensão.

A capa, com detalhes pretos, é a expressão do sentimento de luto compartilhado pela comunidade acadêmica neste triste momento. A publicação desta revista um ato de resistência. Mas até quando isso será possível?

Notas

  1. É importante destacar que somente no Censo de 1960 foi registrado um índice de analfabetismo inferior a 50%, perfazendo 46,7% da sociedade brasileira.
  2. BARBOSA, Marialva. A história cultural da imprensa: Brasil, 1800-1900. Rio de Janeiro: Mauad X, 2010.
  3. PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. A imprensa como uma empresa educativa do século XIX. Caderno de Pesquisa, São Paulo, n.104, p.144-161, jul. 1998. Para uma visão mais geral sobre o conhecimento ver: BURKE, Peter. Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.

Monique de Siqueira Gonçalves – Doutora em História das Ciências pela Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz) e atualmente desenvolve pesquisa de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em História da UERJ, como bolsista Nota 10 FAPERJ.

Tânia Bessone – Doutora em História pela USP, professora Associada da UERJ / IFCH / Departamento de História, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em História, Procientista, Pesquisadora Bolsista do CNPq, sócia Honorária do IHGB.


GONÇALVES, Monique de Siqueira; BESSONE, Tânia. Apresentação. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, n.16, 2017. Acessar publicação original [DR]

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20 anos do PPGH-UERJ / Revista Maracanan / 2015

É preciso despedaçar o que permitiria o jogo consolante dos reconhecimentos. Saber, mesmo na ordem histórica, não significa “reencontrar” e, sobretudo, não significa “reencontrar-nos”. A História será “efetiva” na medida em que ela reintroduzir o descontínuo em nosso próprio ser. Ela dividirá nossos sentimentos, dramatizará nossos instintos; multiplicará nosso corpo e o oporá a si mesmo (…). É que o saber não é feito para compreender, ele é feito para cortar.

Michel Foucault

A epígrafe anuncia uma provocação: não existe uma história definitiva, pois esta sempre será escrita sob o signo da mudança. Esse sentido ilumina o número especial da Revista Maracanan 20 anos de PPGH. A data memorável, ou melhor, tornada memorável pela comemoração, destaca a criação, mas não historiciza as dificuldades. Será que a palavra esclarece a coisa nomeada por ela? Não basta afirmar como política a história que fazemos, é preciso discutir de que história se está falando? E, como pensar a política como um campo de produção de conhecimento sem cair na armadilha da “verdadeira” História, nem nos limites de suas fronteiras como explicante do universal?. Ao contrário, é justamente esse apelo que exige explicação. Sabemos também que os campos da nossa disciplina são múltiplos espaços de exercícios de pensamento e não de regras de procedimentos e muito menos de recitação dos “mitos fundadores” de nós mesmos como nação. O que obriga a problematizar o lugar da História Política na formação de “singularidades somáticas” diversas do já entendido como indivíduos ou cidadãos. História como exercício de pensamento no desmonte dos resgates, das narrativas cronológicas contínuas e seguras, cuja memorização visaria a criar “cidadãos críticos” em “velhos corpos disciplinados”. Uma maneira eficiente de questionar a inevitabilidade de nossas práticas correntes, por mais evidentes que estas possam parecer.

Simultaneamente registro e rememoração do caminho iniciado há duas décadas, esta edição realça os momentos de criação e amadurecimento do Programa, que obteve nota cinco na última avaliação trienal da CAPES. Examinando aspectos do projeto inicial, é possível perceber a vitalidade do compromisso que rendeu frutos: mestres e doutores formados, pesquisas que se consolidaram e hoje são referência, profissionais ligados ao Programa e que, mesmo em outras casas, são interlocutores assíduos e dão continuidade às propostas surgidas na UERJ. Transformação e adaptação fazem parte desse percurso, no qual eventuais “correções de rota”, ao contrário de comprometerem, confirmam o acerto da aposta inicial. Mantendo-se fiel à proposta de “renovação da história política” que animou o plano original, o Programa busca constante atualização teórica e historiográfica em suas duas linhas de pesquisa – Política e Sociedade e Política e Cultura –, fortalecendo assim sua identidade no cenário acadêmico nacional.

O Dossiê destaca as complexas maneiras do fazer não apenas da história política, mas as especificidades e dilemas do fazer História. O estudo da documentação, os lugares socioinstitucionais da produção do discurso historiográfico e as indispensáveis premissas teórico-metodológicas da pesquisa reafirmam as exigências da escrita da História como trabalho de um profissional submetido às regras e normalizações ditadas pelo ofício. O artigo de Lúcia Maria Bastos e Tânia Maria Bessone abre o percurso criterioso, oferecendo um mapa dos fazeres e das diferentes ancoragens historiográficas que conformaram o Programa de Pós-Graduação em História Política da UERJ. A reflexão permite não apenas familiarizar-se com a trajetória do PPGH desde sua fundação, em 1995, bem como perceber seu dinamismo: na avaliação das autoras, além do aprimoramento de seu papel no interior do mundo acadêmico, a pós-graduação deve reavaliar constantemente sua contribuição para a sociedade, investindo num projeto educacional que resulte também na “melhoria do ensino básico, médio e de graduação”. Lúcia Bastos e Tânia Bessone apontam ainda os esforços no sentido de assegurar a visibilidade nacional do Programa e a sua gradual internacionalização, aspecto no qual se destacam alguns dos laboratórios de pesquisa que mantêm, hoje, um sólido intercâmbio com instituições de ensino no exterior, bem como com pesquisadores estrangeiros.

A seguir Bruno Groppo traz a questão da fragmentação e da incompletude que marca a relação memória e história. Les problèmes non résolus de la mémoire russe (Problemas não resolvidos da memória russa) propõe uma densa reflexão acerca da identidade russa após a dissolução da União Soviética. Enfrentando o problema da constituição de uma memória coletiva separada da memória oficial, Groppo descreve os impasses da Rússia diante do “ajuste de contas” com um passado de violência do Estado, em especial no período stalinista. Para o historiador, trata-se de um percurso não linear, no interior do qual modificam-se historicamente as avaliações sobre o passado soviético, desde a rejeição total à União Soviètica até a reconsideração de aspectos mais favoráveis num quadro de desilusão política e crise econômica. Com Wladimir Putin, por exemplo, voltam a se acentuar as realizações do periodo soviético, como a dinamização da indústria, a expansão territorial e política e a conquista do espaço. A reabilitação mostrou-se eficiente, uma vez que a maior parte da população russa hoje endossa uma percepção positiva, de acento nacionalista, acerca do seu passado recente. No entanto, o que dizer da memória dos milhões de vítimas da violência em massa praticada pelo “Partido-Estado”? A memória russa permanece incompleta e fragmentária e a restituição da experiência pretérita se vê ainda confrontada com a negação de seus aspectos sombrios.

As zonas de sombra impostas à história, o direito à memória e os limites do esquecimento são também temas da análise de Heloisa Starling em Silêncios da ditadura. Num artigo que é, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre o passado recente do Brasil e uma oportunidade de avaliação sobre a historiografia acerca deste período, a professora titular em História do Brasil da UFMG avalia de modo preciso o que considera uma “narrativa simplificadora” sobre o passado. A partir da indagação sobre quem promoveu, sustentou e apoiou a ditadura civil e militar, Starling reflete sobre o que chamou os “três silêncios” que organizam a memória recente do Brasil: sobre a participação dos empresários na estrutura repressiva, sobre a violência cometida pelo Estado contra populações e comunidades específicas – em especial os camponeses e a população indígena – e, finalmente, sobre a estrutura de informação e repressão que se produz sob uma “burocracia da violência”, cristalizada numa rotina de interrogatórios, desaparecimentos e tortura. Diante de fatos extremos, escreve a historiadora, é o papel da testemunha que deve ter realce. Não apenas aquela que viu e viveu o acontecimento, mas também a memória dos que vêm depois dos que viveram efetivamente a experiência. Estes, que somos nós, são convidados a ampliar o conceito de testemunha; instigados a “passar e repassar o Rio dos Mortos, para transgredir deliberadamente a fronteira do passado e do presente, ouvir as vozes sem se recusar diante delas”, como escreve Starling.

A oportunidade de rever certa tradição de abordagem teórica das fontes imagéticas e visuais entre os pesquisadores brasileiros é o ponto de partida de James Roberto Silva, professor da Universidade Federal do Amazonas, em Ver é conhecer? Representações visuais na pesquisa em Ciências Humanas. O artigo apresenta pistas importantes para o amadurecimento do campo entre historiadores e cientistas sociais. O ponto central da argumentação de Silva é a problematização de certa tradição do pensamento científico e especulativo no que concerne à reflexão sobre a imagem em si ou sobre a compreensão da experiência histórica por intermédio da imagem. O autor questiona, justamente, a convicção de que a fonte visual possui significados inatos e oferece-se ao observador como transparência de sentidos. Para tanto, remonta à tradição dos métodos fisionômicos, amparados na confiança nas analogias e semelhanças observáveis nas imagens e nos supostos correlatos “morais” entre o visível e o significado por ele encerrado. Silva mostra como a representação visual, ao apresentar-se como dimensão sensível da experiência exige, a cada caso, uma abordagem singular, não uniformizadora, aberta aos muitos sentidos que se constroem através do visível no interior do grande campo de investigação das representações sociais.

A religião no Império compreendida a partir de manuscritos pessoais, artigo da historiadora Beatriz Piva Momesso, da Universidade Federal Fluminense, explora os arquivos do político José Thomáz Nabuco de Araújo (1813-1878), depositados no IHGB. Um conjunto de bilhetes, cartas e cópias de fragmentos de obras europeias seguidas de comentários pessoais permite compor a visão do senador do Império acerca do “catolicismo liberal brasileiro”, enfatizando o jogo político entre a maçonaria e a Igreja e permitindo vislumbrar o modo como a religião oficial é praticada e também avaliada no contexto local. Partindo da aposta na verificação das “origens” das ideias e da apropriação intelectual, a autora propõe um exame da “gênese de uma nova cultura política em seu aspecto relativo às práticas católicas no Segundo Reinado”. Num exercício de reflexão que incorpora o dinamismo do próprio conceito de “cultura política”, Momesso mostra a importância de Nabuco de Araújo na afirmação de uma liberdade religiosa proporcionada por mecanismos internos do Estado brasileiro e não diretamente obediente a Roma.

Uma análise de um caso singular de controle social do operariado brasileiro no pós-1930, identificado nas ações das visitadoras sociais, é o eixo do artigo de Ana Lúcia Vieira, professora da Universidade Federal do Amazonas, em Normalizando as formas de viver: uma política de gestão do capital humano. A autora aprofunda e debate a utilização de situações de “vulnerabilidade social” como argumento legitimador do cerceamento de modos de viver de parcelas significativas da sociedade. Ana Lúcia explora as consequências não triviais da exigência de conformação do operário e de suas famílias ao modo de produção capitalista. A partir da consideração de diversas matrizes discursivas, a historiadora investiga os modos de gerir a vida – ou a “biopolítica normativa”, na terminologia de Michel Foucault – que acabam por submeter o trabalhador ao controle social.

Tatyana de Amaral Maia, da Universidade Severino Sombra, encerra o Dossiê com o artigo Uma comunidade de espírito e de cultura: a construção do ideário luso-brasileiro na Sociedade de Geografia de Lisboa (1956-1974). Trata-se da problematização de uma definição única capaz de integrar Brasil, Portugal e seus domínios no Ultramar na condição de projeto cultural e político. Como mostra a autora, tal esforço de qualificação foi marcado por clivagens intelectuais, apropriações políticas, leituras e ênfases distintas, mobilizando projetos políticos que atendessem às realidades nacionais e aos ambientes culturais específicos.

Na seção Depoimentos, combinam-se memória afetiva e profissional, dando ao leitor uma percepção mais próxima das expectativas, interesses e, mesmo, dos conflitos vividos no momento de construção do Programa de Pós-Graduação em História da UERJ. Mantidos no presente, os vestígios do passado organizam-se em três tipos de discursividades: a da testemunha, a do historiador e a do comemorador, como explica Tzevtan Todorov,

(…) enquanto testemunhas e historiadores podem facilmente completar-se uns aos outros , entre e o historiador e o comemorador há uma diferença tanto de objetivos quanto de métodos, que dificilmente compatiliza as posições deles (…). A história complica o nosso conhecimento do passado; a comemoração a simplifica, já que seu objetivo mais frequente é o de nos fornecer ídolos a venerar ou inimigos a abominar. A primeira é sacrílega, a segunda sacrilizante.1

Na condição de protagonistas e instigados pela comemoração, historiadoras e historiadores convidados para compor a seção mostram diferentes “lugares de fala” em seus depoimentos, confirmando a pluralidade de vozes que constituiu e ainda constitui a pós-graduação. Através de Lena Medeiros de Menezes é possível acompanhar o grande esforço institucional e o engajamento dos professores-pesquisadores num projeto que se destacasse no cenário acadêmico nacional. Entre os fios da trama: o vir a ser do PPGH registra os desafios enfrentados pelo grupo que se envolveu na luta para que o Programa pudesse ser viabilizado e, principalmente, para que pudesse obter o necessário credenciamento perante a CAPES. Trata-se da rememoração de um combate que não pode ser esquecido ou naturalizado, como se o Programa tivesse, desde os primórdios de sua existência, trilhado caminhos fáceis e previsíveis no dizer da historiadora.

Lúcia Maria Paschoal Guimarães procura inquirir a densa historicidade que enforma a criação do Programa de Pós-Graduação em História, destacando a opção pela concentração em História Política e sua renovação como campo autônomo como o maior diferencial do projeto. O depoimento destaca a formação comum aos professores que viriam a criar o PPGH. Doutorados pela USP em sua maioria, os pesquisadores da UERJ conduziam pesquisas individuais que, entretanto, partilhavam o interesse pela cultura política, alinhando-se a uma abordagem que ganhava cada vez mais força no cenário da teoria e da historiografia internacionais. Conforme Lúcia Guimarães, embora não tivesse sido compreendida de imediato, a proposta assegurava ao Programa um lugar de “vanguarda” no contexto acadêmico dos anos 90. Em seu depoimento, a historiadora destaca que a fidelidade ao projeto inicial não significa abrir mão de novas reflexões: novas tendências historiográficas são incorporadas com sucesso ao Programa, através da oferta de cursos e seminários, confirmando assim a vitalidade da aposta inicial. O depoimento é também um roteiro da emergência do PPGH e ajusta o foco às condições de possibilidades da história dos estudos historiográficos sobre a política, identificando suas matrizes discursivas.

Da cena “autoral” – ou fundadora – passa-se à trajetória particular. Dois depoimentos enriquecem ainda mais a seção. Valdei Lopes de Araujo, professor da Universidade Federal de Ouro Preto, e Ana Carolina Eiras Coelho Soares, da Universidade Federal de Goiás, pesquisadores cujos laços com a UERJ, desde a graduação, se mostraram decisivos na escolha da carreira do magistério superior, compartilham sua experiência pessoal e institucional, expondo, assim, a conexão entre a história que se fez e a história que os fez.

Em Uma experiência integral de vida acadêmica, destaca-se a articulação feita por Valdei Lopes de Araujo entre o projeto da UERJ e o contexto político brasileiro, um enlace em que sobressai a importância da universidade nos processos de inclusão e democratização do ensino, especialmente a partir dos anos 80. Uma articulação na qual as conquistas sociais da própria universidade constituem oportunidade decisiva no seu percurso individual. A recomposição da trajetória particular, contudo, se oferece ao historiador como ocasião para refletir sobre a especificidade da UERJ como projeto de universidade pública no Brasil, com todo o seu “vigor e fragilidade”. Entre os pontos salientados no depoimento, está o caráter inovador do PPGH num cenário acadêmico ainda dominado pela história social: “Não seria exagero afirmar que o retorno ao político e ao indivíduo como fenômenos historiográficos têm como marco no Brasil a criação do Mestrado em História Política da UERJ”, destaca o professor.

Em As mulheres afinal têm história? Uma trajetória profissional e acadêmica, Ana Carolina Eiras Coelho Soares divide com o leitor recordações que entrelaçam memória pessoal e descoberta de um percurso intelectual. A historiadora compartilha a definição de seu interesse em pesquisas voltadas para a área de estudos de gênero, foco no qual teve papel decisivo a formação no campo de estudos da história cultural e política. A partir da perspectiva interdisciplinar experimentada na UERJ, acompanha-se o processo de constituição de seu objeto de pesquisa, em torno dos discursos que normatizam e definem os limites sociais dos gêneros. O interesse conduz ao aprofundamento do estudo sobre o discurso jurídico e as leis que materializavam a regulação legal dos papéis sociais feminino e masculino. Da mesma forma, outros campos e fontes se apresentaram como centrais para o desenvolvimento da pesquisa: a literatura e a imprensa – configurações das “sensibilidades construídas na história”.

Em Notas de Pesquisa abre-se espaço para os questionamentos, métodos, riscos e diferentes trajetórias intelectuais. Destaca-se, aqui, a proposta de conhecer um “trabalho em progresso”, possibilitando uma aproximação com a produção da tese no momento dinâmico de sua construção: em seu movimento e em sua forma problemática.

Os Arquivos das Ordens e Congregações Religiosas do séc. XX português: fonte para a História da missionação na África lusófona, de Nuno de Pinho Falcão, da Universidade do Porto, ilumina o universo religioso, social e econômico das missões cristãs na África. O pesquisador mergulha em documentação privada, pouco conhecida, recuperando parte do quotidiano colonial e pós-colonial do continente. A importância do arquivo é igualmente o ponto de destaque na investigação de Daniel Thomaz Mandur. No texto Quando um documento nos descobre: notas sobre a dimensão aurática da documentação, somos colocados diante da dimensão do imprevisto e do acaso durante o processo de pesquisa. Seguindo a chave da desconstrução e questionando a “monumentalização” do arquivo, Mandur relata o seu contato com os arquivos do escritor Antônio Callado conservados na BBC, em Reading, Inglaterra, e lacrados desde a década de 1940. A Nota apresenta uma nova possibilidade de reavaliar a obra do autor e de articular essa experiência particular à análise mais ampla da participação, em solo europeu, de intelectuais brasileiros e latino-americanos na Segunda Guerra Mundial, examinando o impacto do conflito em suas trajetórias políticas e estéticas. Antônio Carlos da Silva, por sua vez, desloca o olhar de arquivos como inventários post-mortem, relatórios governamentais e relatos de viajantes para investigar o cotidiano oitocentista do Vale do Paraíba Fluminense através das páginas de jornal. Em O cotidiano da imprensa e a imprensa no cotidiano: Surgimento e consolidação de espaços públicos na Vila de Valença no século XIX o objetivo é identificar agentes e estratégias que garantiram a consolidação e a permanência no poder de algumas famílias locais. A pesquisa se concentra no reconhecimento dos interesses comuns que garantiram o posicionamento de destaque político, social e econômico dessas famílias, investindo na leitura desafiadora de “algo imaterial”, como as ideias que circulam sob a forma de jornal.

A duas colaborações que compõem a seção Artigos Avulsos resultam do fluxo contínuo que alimenta o banco de textos da revista. Mariano Bonnano, da Universidad Nacional de La Plata, propõe rever a cosmologia egípcia a partir dos espaços destinados ao castigo dos condenados e representados nos Livros das Cavernas. Em La Htmjt en los Textos de las Cavernas como espacio de disolución ontológica, o autor explora um aspecto que vem merecendo pouca atenção nos estudos do campo: a questão do “lugar de aniquilação”, ou Htmjt, espaço em que se efetua a chamada “segunda morte” como garantia da restituição do equilíbrio divino. Sérgio Barra, da PUC do Rio de Janeiro, explora o potencial polissêmico da experiência boêmia a partir de um dos seus principais cronistas. No artigo Luiz Edmundo e a boemia literária do seu tempo, o autor apresenta uma reflexão acerca dos diferentes sentidos dados à boemia pelo escritor e memorialista, relacionando tais variações às percepções que se reconfiguram na escrita sob o influxo de diferentes temporalidades vividas pelo autor.

Da heterogeneidade de abordagens e temas tratados nessa edição da Revista Maracanan, a memória – sempre “fiel e móvel”, como escreveu certa vez Jacques Le Goff – é o fio que une as diferentes colaborações aqui reunidas. Por fim, a atual edição é um convite à atividade leitora que, no dizer de Michel de Certeau, “faz das palavras as soluções de história mudas”. O acontecimento se transforma, ganha historicidade, rompe com a rotina e se inscreve numa história do possível e de seus efeitos de saber e de poder.

Nota

1. TODOROV, Tzevtan. Memória do mal, tentação do bem: indagações sobre o século XX. São Paulo: Arx, 2002, p.151.

Marilene Rosa Nogueira da Silva – Professora Associada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro lotada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, com atuação no Departamento de História; membro efetivo do Programa de Pós-Graduação em História desde 1997; Coordenadora do Laboratório do Estudo das Diferenças e Desigualdades Sociais / LEDDES.

Laura Moutinho Nery – Doutora pela PUC-Rio, é professora visitante do Departamento de História da UERJ, onde atua como pesquisadora dos Laboratórios Redes de Poder e Relações Culturais (Redes) e do Laboratório de Estudos das Diferenças e Desigualdades Sociais / LEDDES.


SILVA, Marilene Rosa Nogueira da; NERY, Laura Moutinho. Apresentação. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, n.12, julho, 2015. Acessar publicação original [DR]

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