Reinvenções da sociedade do trabalho / História – Questões & Debates / 1998

O dossiê deste número da História: Questões & Debates está profundamente comprometido com a história presente. Ao eleger o tema “reinvenções da sociedade do trabalho” — assim mesmo, no plural! —, a revista realiza uma complexa referência à historiografia recente: resgata o tema do trabalho no campo da história — particularmente rico no Brasil dos anos 80 com as contribuições teóricas da nova esquerda inglesa — e, com ele, o tema da “invenção da sociedade do trabalho”, tão cara aos estudos sobre o século XVIII e XIX.

Mas, ao fazê-lo pelo forte viés de uma história presente, obrigatoriamente “reinventa” de maneira aberta e inacabada esta sociedade. Por isso a reinvenção apresenta-se no plural. Ao mesmo tempo, ao se abrir para a possibilidade de reinvenções, de uma certa forma questiona — mas sem fazê-lo explicitamente — a unicidade dada à invenção original.

E vai ao seu limite, pergunta o que é a categoria trabalho na sociedade neoliberal do desemprego estrutural. Constata como esta situação compromete categorias até então consolidadas na sociedade do trabalho, tais como estado, democracia, sindicato, mercado de trabalho, entre outras.

É esse o itinerário das inquietações presentes na discussão sobre o regime de oito horas entre os Socialistas Fabianos, sobre o novo sindicalismo brasileiro dos anos 60 / 70, e principalmente sobre as novas relações no mundo do trabalho dos anos noventa.

Talvez por conta do abandono do tema no campo da história, é forte a presença, nesses artigos, de uma sociologia do trabalho. Ou, ainda, talvez reflita a tendência da história de buscar nas ciências vizinhas os seus modelos teóricos, como esse da nova sociedade do trabalho.

Fora do eixo temático, o texto de C. Haroche toma como referência a problemática do assédio sexual para discutir a diferença entre a política do respeito às diferenças e a democracia cotidiana na sociedade contemporânea, particularmente na norte-americana.

O artigo de V. Costa discute a capacidade dos objetos tecnológicos exercerem — no Brasil do iníco do século — um imaginário de fascínio e poder.

Com esses assuntos pouco usuais, História: Questões & Debates no seu décimo quinto ano de existência reafirma sua postura ensaísta e polêmica, tão salutar nas ciências humanas.

Luiz Carlos Ribeiro – Editor.


RIBEIRO, Luiz Carlos. Apresentação. História – Questões & Debates. Curitiba, v.29, n.2, jul./dez., 1998. Acessar publicação original [DR]

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Intelectuais e poder / História – Questões & Debates / 1996

O dossiê “Intelectuais e poder” definido para este n. 25 da revista História: Questões & Debates, foi resultado de um curso de extensão promovido pela APAH – Associação Paranaense de História, e pelo PGHIS – Cursos de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal do Paraná. O seminário contou com a presença de Jorge Colli (Unicamp), apresentando “A pintura, a política e o poder”, de Paulo Eduardo Arantes (USP), com a palestra “Partido Intelectual Brasileiro”, de Maria Helena Capelato (USP), que nos falou sobre “A atuação dos intelectuais no Varguismo e Peronismo”, de Plínio Smith (UFPR), com o tema “Continuar e conservar. Montaigne e o poder” e ainda de Owaldo Monteul Filho (UFRJ) que abordou a “Ilustração Portuguesa e o poder”.

Para publicação nessa edição, felizmente pudemos contar com o artigo de Capelato, que apresenta uma análise comparativa da atuação e do perfil dos intelectuais — a relação entre autoritarismo político e liberdade intelectual — nos governos Vargas (Brasil) e Peron (Argentina), nos idos de 30 / 40. Também recebemos o artigo do Plínio Smith, que nos apresentou uma leitura sobre a participação de Michel de Montaigne junto ao poder, na França da segunda metade do século XVI, sobre o seu pensamento político e o sentido de seu suposto conservadorismo. Adicionamos aos dois artigos o da professora Clara Alicia Jalif de Bertranou, da Universidade de Mendoza, Argentina. Discorrendo sobre a produção intelectual latinoamericana nos anos 90, Bertranou discute, à luz da crise dos modelos tradicionais da modernidade, as perspectivas do desenvolvimento regional.

Enfim, perpassando o campo da história intelectual, o que está em discussão é tanto a produção intelectual quanto a forma como o pensamento serve para refletir ou legitimar determinada estrutura de poder. Foi com base na temática “Intelectuais e poder” que pensamos ilustrar a capa. A diversidade temporal dos artigos nos impedia de termos uma única imagem. Optamos por uma imagem que, na história da relação entre o intelectual e o poder, transformouse em um símbolo: o manifesto político e intelectual de Émile Zola, J’Accuse (1898), elaborado no conturbado caso Dreyfus. Com esse manifesto nascia o “intelectual”, conceituado como “um ser combativo que acredita em causas”. Sem dúvida, a ausência de um artigo sobre o romancista e a polêmica que seu manifesto provocou no regime francês representa um hiato em nosso dossiê. Mas ficaram faltando tantos outros: Voltaire, Victor Hugo, Sartre… Resolvemos homenagear a todos com o paradigmático J’Accuse, de Zola.

Fora do dossiê, sem que existisse a intenção, os artigos do bloco seguinte acabou constituindo também uma unidade temática: “imagens e imaginário na história”. Foi muito bem-vindo. A abordagem reflete em parte as discussões que professores e alunos das linhas de pesquisa da Pós-Graduação em História da UFPR vêm realizando. Ana Paula, com as imagens do corpo feminino na medicina; Anibal Costa, com o imaginário de missionários e feiticeiros nas missões jesuíticas paraguaias; Johnni Langer, com o imaginário do mito arqueológico da Esfinge Atlante; Marcos Araújo, com a obra do jesuíta João Daniel na experiência amazônica do século XVIII. À parte desse conjunto, Maria Luiza debate, pelo viés demográfico e etnográfico, como foram recriadas as sociabilidades de um grupo imigrante. Sua ênfase é história da família imigrante no Paraná. O artigo de Rafael Rosa poderia estar no dossiê sobre os intelectuais. Mais do que uma análise sobre o congresso estudantil de Ibiúna (1968), o que problematiza é o pensamento de esquerda no Brasil, sua visão sobre o papel dos estudantes e da universidade no processo de desenvolvimento do país.

No seu conjunto, os artigos e resenhas apresentados demonstram não só a produtividade científica dos Cursos de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná, na sua interface com outras instituições, como também a maturidade que a revista História: Questões & Debates adquiriu no cenário da produção historiográfica nacional. Os temas e os recortes teóricos apresentados revelam a atualidade da revista.

Luiz Carlos Ribeiro – Doutor (DEHIS / UFPR)


RIBEIRO, Luiz Carlos. Apresentação. História – Questões & Debates. Curitiba, v.25, n.2, jul./dez., 1996. Acessar publicação original [DR]

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