Cultura, política e poder / Fato & Versões / 2015

O presente número da Fato &Versões acompanha o perfil proposto pelo Corpo Editorial e já delineado nas publicações anteriores, de privilegiar a pluralidade de pesquisas e produções do cenário historiográfico. Composto por seis artigos, é articulado em um Dossiê temático Cultura, política e poder, que reúne trabalhos com o objetivo de um diálogo entre os múltiplos olhares e fontes do político na atualidade.

A História Política tem apresentado um novo impulso a partir de um processo de inovação; ao incorporar novos objetos e novas abordagens, visou compreender a política e as relações de poder de forma mais ampliada, relacionando-as com questões culturais, econômicas e sociais e promovendo um diálogo com outras áreas do conhecimento.

As relações entre a história cultural e política propiciaram o surgimento de uma nova safra de pesquisas, que retomaram, por novos prismas, temas clássicos tais como a República Velha, o “nacionalismo”, o “populismo” e a ditadura militar, além de terem contribuído na construção de novos recortes e abordagens, os quais ampliaram as perspectivas de análise sobre as relações de poder e a política na sociedade brasileira.

Nesse sentido, este número reúne artigos escritos por pesquisadores vinculados a diferentes centros de pesquisas e universidades brasileiras, e propõe reflexões sobre o político a partir da reunião de diferentes abordagens teóricas e metodológicas.

O artigo de Renato Jales Silva Junior, Cultura, Política e Espaço Urbano: algumas considerações sobre as transformações nos lugares da cidade (Uberlândia 1960-2000), apresenta uma discussão sobre as mudanças vividas pela população de Uberlândia no processo de reestruturação urbana do período; o autor demonstra como as intervenções foram questionadas e reelaboradas por muitos trabalhadores que viviam naqueles lugares, no seu fazer-se diário como sujeitos, e com outras estratégias lutaram pelos seus interesses colocando outros valores em disputa.

O texto de Rodrigo Francisco Dias, O líder político e o povo no filme Céu Aberto (1985), de João Batista de Andrade, analisa as imagens do líder político e do povo no documentário Céu Aberto (1985), do cineasta brasileiro João Batista de Andrade, por meio de um diálogo com o “lugar” do documentarista. Demonstra a importância de se levar em conta a trajetória artística, política e intelectual do cineasta, para interpretar o modo como representou a realidade política do país no filme; o “lugar” de onde ele não simplesmente filma, mas escreve à sua maneira uma parte da recente história do Brasil.

Talitta Tatiane Martins Freitas, em seu texto A visibilidade do que não se quer ver: identidades homoafetivas sob as lentes das telenovelas do Brasil contemporâneo, discute o impacto da visibilidade homoafetiva, dialogando com a pesquisadora Joan W. Scott. Analisando personagens homossexuais apresentados em telenovelas, a autora busca problematizar a naturalização do dualismo homossexualidade / heterossexualidade na atualidade, demonstrando como tais conceitos são historicamente variáveis.

O texto de João Marcos Leitão, A serviço do Povo para a grandeza da pátria: o Partido Republicano Democrático – um partido protestante, apresenta uma discussão sobre a presença sócio-política do Protestantismo Brasileiro, em meados dos anos 40, e mais especificamente sobre os esforços de organização de um Partido Político de matriz protestante: o PRD. O autor procurou demonstrar a identidade protestante do partido, refletindo acerca do processo de inserção sócio-política daquele grupo na sociedade brasileira.

Em O processo de Restauração Católica no Brasil na Primeira República, José Pereira de Sousa Junior discute o movimento de redefinição do catolicismo brasileiro frente ao Estado republicano sob princípios laicistas; o autor demonstra como, instituída a nova ordem jurídica, o catolicismo brasileiro empreendeu estratégias que minimizassem o ônus do seu alijamento político.

O artigo de Márcio Ananias Ferreira Vilela, A Justiça do Trabalho durante o regime civil e militar: a Igreja Presbiteriana e a invenção do comunismo, analisa o processo de vigilância que permeou as instituições da sociedade durante o regime militar, em especial a Igreja Presbiteriana do Brasil; tendo como base ações trabalhistas, o autor demonstra como, ao longo daquele período, a instituição perseguiu e expulsou pastores e professores de seminários que divergiam de sua posição teológica oficial, acusando-os de comunistas.

Henry Marcelo Martins da Silva

Dolores Puga Alves de Sousa

Editores


SILVA, Henry Marcelo Martins da; SOUSA, Dolores Puga Alves de. Apresentação. Fatos e Versões. Campo Grande, v.7, n.14, 2015. Acessar publicação original [DR]

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História Antiga e Medieval / Fato & Versões / 2014

Uma das principais características da Revista FATO & VERSÕES é o colóquio entre os vários âmbitos possíveis dos estudos históricos, bem como as interdisciplinaridades presentes nas diversas investigações. Esse atributo demonstra as infinitas perspectivas e assuntos abordados ao longo de suas edições. Para compor o volume 6, número 12 da Revista para o segundo semestre de 2014, a proposta do Conselho Editorial foi apostar em uma área em pleno desenvolvimento na pesquisa histórica brasileira: os estudos de História Antiga e Medieval.

Em um momento de ampliação nas investigações da área na historiografia produzida no país, este Dossiê visa compor temas que perpassam o cristianismo e as vicissitudes do Império Romano, abordagens sobre o teatro grego clássico, o estudo das runas e suas descobertas, bem como as “concepções egípcias acerca da morte”. A riqueza de enfoques não abstém o interessante diálogo entre as temáticas dentro das discussões dos artigos aqui apresentados.

Desviando de uma simples perspectiva cronológica, o dossiê apresenta, em um primeiro momento, artigos que trabalham problemáticas em torno do cristianismo e / ou dos romanos. A partir de Fabiano de Souza Coelho são debatidos os apontamentos religiosos de Agostinho e Juliano de Eclano e suas percepções das “impurezas da carne”, celibato, casamento e virgindade dentro da Igreja Católica. O artigo dialoga com as apreciações do texto de Juliana Batista Cavalcanti sobre Paulo histórico, seus escritos, de que maneira as mulheres eram consideradas nas comunidades paulinas e como o apóstolo Paulo tornou-se “pai da doutrina cristã”, inclusive no medievo. Nesta mesma linha de análise, é possível cruzar com as discussões de Vítor Luiz Silva de Almeida acerca da chegada dos romanos na Palestina e as investigações sobre a articulação entre romanos, judeus e samaritanos com estudos da cultura material, bem como os textos literários do Novo Testamento e a consideração de obras do historiador antigo Flávio Josefo.

Em uma outra linha, o dossiê expõe textos que fomentam o contexto da Atenas Clássica pelo viés da análise das obras dramáticas, sejam elas cômica ou trágica. O artigo de Luiz Henrique Bonifácio Cordeiro propõe examinar o gênero cômico e a literatura como expressões da realidade ateniense da época, compreendendo de que maneira o drama, a mímeses e o diálogo sustentariam o momento social e político da pólis do século V. Priscilla Gontijo Leite, ao também propor o contato do teatro com a realidade, sobretudo religioso e político de Atenas, analisa a figura dos governantes e sua ruína a partir da hybris e da “ofensa ao divino” nas tragédias de Ésquilo.

Ainda é preciso acrescentar que o dossiê exibe dois textos cuja importância é salutar para os estudos da antiguidade e cujas temáticas estão ora se tornando aos poucos estudos de crescimento no Brasil ora se iniciando como objeto de pesquisa e investigação no país: análises respectivamente acerca do Egito de maneira geral – no artigo de Thiago Henrique Pereira Ribeiro especificamente de que maneira esta civilização compreendia o indivíduo e sua relação com práticas e crenças relativas à morte ou aos mortos – e o trabalho de Renan Marques Birro acerca dos estudos contemporâneos sobre a linguagem das runas e do alfabeto rúnico, alguns povos germânicos, a chamada “Era Viking” e mesmo análises sobre o tema no período medieval.

A proposta é rica e promete amplos debates. Um convite para especialistas e curiosos sobre períodos históricos longínquos e culturas díspares.

Dolores Puga Alves de Sousa – Editora e membro do Conselho Editorial.


SOUSA, Dolores Puga Alves de. Apresentação. Fatos e Versões. Campo Grande, v.6, n.12, 2014. Acessar publicação original [DR]

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