Análise crítica do discurso: do linguístico ao social no gênero midiático | Cleide Emília Faye Pedrosa

Pelo título – Análise Crítica do Discurso: do linguístico ao social no gênero midiático – o trabalho já demonstra o caminho a ser percorrido pelos leitores: uma reflexão sobre o gênero discursivo “Frase”, levando em consideração os aspectos da disciplina Análise Crítica do Discurso (ACD). Situando os estudos dos gêneros textuais e da ACD em um contexto universal.

Cleide Emilia Faye Pedrosa, autora do livro, é uma pesquisadora que se destaca com vasta e qualificada produção acadêmica sobre a ACD e também sobre os gêneros textuais. Pedrosa é doutora em Letras pela UFPE, e pósdoutora pela UERJ. Atuou na Universidade Federal de Sergipe de 1997 a março de 2009, como professora de Linguística, e coordenou o Mestrado em Letras de 2007 a janeiro de 2009. Atualmente é professora adjunta na UFRN. É membro da Academia Brasileira de Filologia, UERJ, como sócio correspondente pelo Estado de Sergipe. Membro do corpo editorial da revista LETRAS, da Universidad Pedagógica Experimental libertador, Instituto Pedagógico de Caracas, Venezuela. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Linguística Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: discurso religioso, gênero textual, análise crítica do discurso, domínio jornalístico e enquadres. Atuou como professora-autor da UAB, em Sergipe, na disciplina Linguística em 2007 e 2008.

A ACD é concebida sob diversas denominações, conforme postulou Pedrosa (2008), alguns a consideram como uma teoria, outros como uma espécie de método. Originária de uma reestruturação dos pensamentos da Análise do Discurso de Linha Francesa (AD), da Linguística Crítica (LC) e dos estudos da Linguística Sistêmica Funcional (LSF), desenvolvida na Inglaterra, quando esses já não mais atendiam às necessárias reflexões da pós-modernidade, os estudos vinculados a ACD tem como foco as relações de poder, analisados na linguagem como prática social, passando a atuar nessas lacunas expostas pelas outras teorias (DIJK, 2008, p.113-131).

Por abranger uma multidisciplinaridade, o livro em questão é apresentado de duas maneiras: a primeira é feita por Emília Ribeiro Pedro, Professora doutora em Letras pela Universidade de Lisboa. Pedro é uma autoridade quando o assunto é a ACD, pois é uma das mais influentes pesquisadoras, referenciando o valor que possui o livro para a área de letras; a segunda é feita por Lilian Cristina Monteiro França, doutora em Comunicação e Semiótica, apresentando o livro aos interessados na área de comunicação social: as relevâncias do trabalho para os pesquisadores, estudantes e profissionais da área.

O primeiro capítulo delineia a estrutura da pesquisa, fruto do doutoramento da professora Cleide Emília, sob a orientação de Luiz Antônio Marcuschi. No segundo capítulo, Pedrosa apresenta uma abrangente reflexão sobre o que é um gênero textual. Ela faz uma jornada a partir de Mikhail Bakhtin até os estudiosos de renome internacional e seus respectivos posicionamentos no assunto: John Swales, Carolyn Miller, Ruqaiya Hasan e Bronckart. Depois, segue com a apresentação de pesquisadores brasileiros como Antônia Araújo, Helena H. Nagamine Brandão, José L. Meurer e Luiz Antônio Marcuschi. Após apresentar cada pesquisador e seus respectivos postulados, Pedrosa enumera os conceitos norteadores do seu trabalho sobre os gêneros textuais: a heterogeneidade interdiscursiva; tipos relativamente estáveis referentes a uma cultura e interpretáveis em contextos diversos; entidades sócio-discursivas dentre outros.

O terceiro capítulo aborda os suportes considerados como algo de grande relevância por constituírem o ambiente em que o texto é apresentado. Dentre os suportes escolhidos para a pesquisa estão as revistas Contigo, Época, IstoÉ, Tudo e Veja.

A partir da afirmação de que “Frase” é um gênero textual, a autora inicia uma reflexão sobre o gênero: texto vinculado às revistas e aos jornais que cumpre propósitos em situações concretas de comunicação; que reflete a repetição de certos traços formais; que opera em certos contextos; que estabelece relação de poder e dominação e que possui grande aceitação cultural (PEDROSA, 2008, p.72). Não se está falando das frases gramaticais que ocorrem nos exercícios de sintaxe, mas de recortes das falas de pessoas importantes utilizados em meios de comunicação em massa.

O Locutor (pessoas importantes escolhidas pelo editor), Editor (um jornalista em contato com o texto), Gênero-Base e Gênero extraído (Frase formada por outro gênero/texto), são as particularidades de “Frase” analisadas no quinto capítulo: Processo Sócio-Comunicativo. Além dessas minúcias, Pedrosa faz uma reflexão sobre os tipos textuais e os domínios discursivos.

O enquadre teórico e metodológico da ACD é apresentado no sexto capítulo da Obra. O modelo tridimensional de Norman Fairclough é a base da reflexão da pesquisadora. O enfoque social e as relações de poder são discutidos através da Análise linguística (gramática, coesão, estrutura textual e vocabulário), da Prática Discursiva (produção, distribuição e consumo do texto e condições da prática discursiva) e da Prática Social (efeitos ideológicos e políticos do discurso, matriz social do discurso e a ordem do discurso). Além disso, nesse capítulo, mostram-se os conceitos básicos em ACD, como discursos, contexto, sujeito, identidade, intertextualidade e interdiscursividade, crítica, ideologia e poder.

O três capítulos seguintes apresentam o resultado da pesquisa realizada: representação dos atores sociais com seus posicionamentos e identidades (ethos) construídas no gênero; as redes editoriais e os seus critérios para a edição das falas dos atores; e a [re]textualização desempenhada pelo editor com suas estratégias discursivas.

No décimo e último capítulo do livro, são feitas as considerações finais. Nesse texto, Cleide Emília Faye Pedrosa retoma a importância dos estudos sobre gênero textual, os avanços da ciência da linguagem e a necessária continuação das pesquisas nessa área. Ressalta os fatores relevantes de sua pesquisa, enfatizando o poder que o meio midiático possui nos seus gêneros, em especial “Frase”.

O livro é escrito numa linguagem simples e precisa. Proporciona uma leitura prazerosa, sobretudo aos estudiosos de linguística, especialmente os interessados em análise crítica do discurso. Esta resenha não esgota o conteúdo teórico que a obra possui, mas cumpre seu papel de divulgar aos interessados uma obra louvável, de uma pesquisadora empolgante.


Resenhista

João Paulo Lima Cunha – Graduado em Letras – Português pela Universidade Tiradentes (UNIT) e Especialista em Teoria e Prática Textuais pelo Núcleo de Pós-graduação em Letras (NPGL) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Professor de Educação Básica da rede pública em Sergipe e Tutor a Distância do Centro de Educação Superior a Distância (CESAD) da UFS. E-mail: [email protected]


Referências desta resenha

PEDROSA, Cleide Emília Faye. Análise crítica do discurso: do linguístico ao social no gênero midiático. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, 2008. Resenha de: CUNHA, João Paulo Lima. Revista Práticas de Linguagem. Juiz de Fora, v.1 n.1, p.100-102, jan./jul. 2011. Acessar publicação original [DR]

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