Capital/ power/ and inequality in Latin America and the Caribbean | R. L. Harris e J. Nef

A América Latina e Caribe são amplamente discutidos neste livro clássico para o pensamento social internacionalista, por meio de uma compreensiva e integrada coletânea de capítulos comparativos que ilustram de maneira sistemática três temas que são transversais, capital, poder e a desigualdade, os quais são forças estruturantes de longa duração na região.

Ao longo desta nova edição alicerçada em teorias críticas trazidas, principalmente, por premissas marxistas, uma profunda investigação de problemas atuais desvela a história cristalizada, ao longo do tempo, de muitos dos países da América Latina e Caribe, revelando o ritmo e o espaço das mais recentes forças de globalização que incidem sobre a região em sua inserção na integração do sistema-mundo.

Uma envolvente análise, desenvolvida nesta edição revisada de 2008, abre a caixa preta do marxismo ortodoxo tendo em conta questões importantes, como gênero, etnia, ecologia, religião e uma grande variedade de movimentos sociais, que vão muito além das dualidades econômicas de classe, a fim de proporcionar o estado da arte enquanto um manual crítico sobre a América Latina e Caribe.

Organizada em onze capítulos, esta edição revisada e atualizada de discussões latentes, já na década de 1990, traz à luz um debate central existente sobre a aceleração da integração da região no sistema internacional nas últimas décadas e sobre as estruturas históricas que tendem a exacerbar a desigualdade social em confronto com as estruturas contemporâneas de capital e poder.

No primeiro capítulo, os editores Richard Harris e Jorge Nef, fornecem uma visão geral do livro, ao ilustrarem, não apenas, quais são os temas principais, mas também, ao apresentarem uma visão das forças endógenas e exógenas, das estruturas relacionais e dos processos e da evolução histórica e contemporânea dos desenvolvimentos ocorridos na região.

O capítulo seguinte aborda as recentes transformações do setor rural nos países da América Latina e Caribe, devido à importância que o campo sempre teve na formação histórica da vida econômica, política e social, a fim de demonstrar que a pobreza e os padrões de desenvolvimento desigual, não só, persistem, mas também, adquirem maiores dimensões.

Uma visão econômica geral da região abordada, por Richard Harris, no capítulo três, demonstra porque América Latina e Caribe são considerados, hoje, “a região mais desigual do mundo”, levando em conta a sua construção por influências estruturais desde a história econômica do colonialismo ibérico até a cristalização de dualidades pelos processos de independência nacional.

As transformações econômicas, trazidas pelas políticas neoliberais de governo, e, as novas realidades do mercado de trabalho na América Latina e Caribe, foram discutidas, por Viviani Patroni, no capítulo quatro, por meio de uma análise, tanto, dos efeitos negativos sobre a classe operária, quanto, de organizações trabalhistas, com o objetivo de explicar o crescimento do desemprego e da precarização de empregos.

No capítulo cinco é apresentada a evolução histórica do problema da (in)segurança nas Américas, tendo como referência a desmilitarização e a redemocratização dos sistemas políticos em âmbito regional, a economia nacional e internacional, a política de marginalização e de desenvolvimento desigual, e, os padrões de relações inter-regionais entre a “metapotência”, os Estados Unidos, e seus “satélites”, a América Latina e Caribe.

Por meio da análise de uma ampla variedade de movimentos populares e sociais característicos da América Latina e Caribe, o sexto capítulo discute as condições históricas para a sua emergência, pela primeira vez, na região, de maneira a questionar seu papel, o seu futuro, e, as respectivas classificações de novo ou antigo movimento popular, apesar do otimismo de muitos analistas e ativistas contemporâneos.

Diante das transformações de natureza social, política e econômica, pelas quais, passou a América Latina e Caribe, a história de ativismo das mulheres é contextualizada na sétima seção, ao enfocar os momentos de emergência fática e axiológica do papel ativo das mulheres na sociedade desde as etapas de formação e modernização nacional até os períodos hodiernos.

No oitavo capítulo, as identidades em mudança e as formas de resistência dos povos indígenas da região são abordadas no decurso da história, a fim de se compreender, melhor, os esforços atuais para promover seus próprios interesses transnacionais através de movimentos organizados que impactam em formas de mudança na representação política e simbólica.

A discussão seguinte traz uma análise histórica comparativa entre a teologia da libertação e as comunidades eclesiais de base (CEBs) na América Latina e Caribe, a fim de demonstrar se estes dois primeiros grupos religiosos influenciaram movimentos sociais com, eventuais, legados remanescentes que, ainda, possam dar suporte a movimentos sociais contemporâneos, tais como, no Brasil, o Movimento dos Sem Terra (MST).

A crescente crise ecológica na América Latina e Caribe, também, é analisada, no décimo capítulo do livro, como resultado de uma aceleração quantitativa do crescimento econômico e de uma correspondente deterioração qualitativa dos indicadores, por meio da identificação de fatores sócio-históricos e de contradições do sistema capitalista na região que conformam impactos ambientais.

Por fim, mas, não menos importante, o último capítulo examina o contexto global contemporâneo, na atual fase de expansão capitalista, a fim de fazer observações finais sobre a América Latina e Caribe por meio da compreensão de que a “globalização” ou a “integração” da região no sistema internacional se realiza sob a influência dominante de forças transnacionais, em sintonia com uma nova divisão internacional do trabalho, que influencia todas as questões discutidas nos capítulos anteriores do livro.

Com base nestas discussões, observa-se que este influente livro para o pensamento americanista fornece onze capítulos, os quais, em conjunto, apresentam um quadro geral comparativo para uma análise profunda da América Latina e Caribe, demonstrando que o marxismo ainda permanece como um campo abrangente e próspero para o desenvolvimento de uma ciência crítica.

Conclui-se que a valiosa abordagem sobre as modernas estruturas de capital, poder e desigualdade, cristalizada por estudos econômicos, políticos e sociais da América Latina e Caribe, converte este livro em uma obra indispensável para leitura em cursos de graduação e pós-graduação em relações internacionais, bem como para um vasto público interessado na região.

Referência

HARRIS, R. L.; NEF, J. (eds). Capital, power, and inequality in Latin America and the Caribbean. Plymouth, UK: Rowman & Littefield Publishers, 2008, new edition. ISBN-13:978-0-7425-5523-5


Resenhista

Elói Martins Senhoras – Professor e pesquisador do Departamento de Relações Internacionais da UFRR. E-mail: [email protected]


Referências desta Resenha

HARRIS, R. L.; NEF, J. (Eds). Capital, power, and inequality in Latin America and the Caribbean. Plymouth, UK: Rowman & Littefield Publishers, 2008. Resenha de: SENHORAS, Elói Martins. Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD. Dourados, v.2, n.3, p.415-419, jan./jun. 2013. Acessar publicação original [DR]

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