Docência nos ambientes virtuais de aprendizagem: múltiplas visões | Cláudia Helena dos Santos Araújo e Joana Peixoto

Certamente o leitor deve estar se questionando: como utilizar o blog tornando-o um ambiente virtual de aprendizagem (AVA)? É possível utilizar essa ferramenta na educação a distância (EAD)? Para as pesquisadoras Cláudia Helena dos Santos (IFG Campus Anápolis e doutoranda em educação na PUC/Goiás) e Joana Peixoto (docente da PUC-Goiás), a resposta é sim. O blog pode ser utilizado como um AVA.

O texto “Docência online: possibilidades para a construção colaborativa de um ambiente de aprendizagem” é o sexto artigo do livro organizado por Mirza Seabra Toschi (UEG-MIELT e coordenadora da REPPID-FAPEG), publicado em 2013 pela editora da UEG com apoio financeiro da Capes.

As autoras se baseiam em Sancho (2010) para trazer a definição de AVA. Mencionam algumas plataformas para se desenvolver cursos a distância nas quais incluem o Moodle, o TelEduc, o Second Life, as redes sociais e o Blog, sendo este o objeto de estudo a partir de uma abordagem histórico-cultural. Nesse sentido, o blog é compreendido como um AVA que possibilita a aprendizagem colaborativa.

O objetivo desse texto é justamente demonstrar como o blog pode ser estruturado e utilizado na perspectiva de um AVA. Para isso, apresenta uma experiência docente vivida pelas próprias autoras em que as mesmas exploram a arquitetura do blog transformando-o em uma ferramenta pedagógica.

Discute-se, ao longo do texto, o que é a docência. Nessa discussão afirmam que, independente de presencial ou a distância, suas características são as mesmas: “sugere uma estrutura e organização conforme as relações didáticas, a cultura escolar, a percepção dos professores e a dos alunos, os modos de pensar e de agir diante das situações educativas”. (ARAÚJO e PEIXOTO, 2013, p. 153). Esse pequeno trecho, transcrito a partir do texto original, demonstra a preocupação das autoras em refletir, junto ao leitor, de que a docência online se difere da presencial pelo lugar onde a mesma acontece, mas que isso não exclui a organização didática e pedagógica do trabalho docente e discente.

Nessa relação didática, outro conceito explorado nesse texto é o de mediação. As autoras se baseiam em Fichtner (2011) que tem como referencial teórico os estudos de Vygotsky. Ressaltam, com isso, a necessidade de mediação entre o objeto e a construção que se faz do mesmo tomando como base a aprendizagem a partir da experiência concreta do aprendiz. A partir dessa análise, afirmam que a colaboração torna-se uma importante estratégia didático-pedagógica no processo de aprendizagem, sobretudo quando se trata de ambientes virtuais de aprendizagem. O conceito de colaboração é amplamente discutido ao longo do texto e uma das características que as autoras apresentam a esse conceito é o de flexibilidade.

Na abordagem histórico-cultural em que o blog foi emoldurado, toma-se como princípio que o mesmo pode ser utilizado como um AVA e permite a aprendizagem colaborativa. Para defender esse ponto de vista, foi realizado um estudo a partir de uma disciplina ofertada em um curso de especialização lato sensu, sendo que a mesma possui carga horária de 30 horas presenciais e 10 a distância. Uma das estratégias foi a construção conjunta do blog criado a partir de três níveis de usuários tendo o administrador, o colaborador e o leitor. Além da estrutura do blog, discutiram-se as estratégias de mediação, sendo essas apresentadas como grandes responsáveis pelo sucesso da aprendizagem dos alunos. A relação entre aprendizagem e ensino é concebida a partir dos processos de comunicação. Para explicar essa relação, utilizou-se como referencial Lenoir (2011) que apresenta a influência dos processos de comunicação e, consequentemente, de mediação na aprendizagem. Na EAD, esses processos não podem jamais ser esquecidos; pelo contrário, precisam ser compreendidos dentro da organização didática dos cursos a distância.

Uma revelação interessante é feita pelas autoras quando relatam os processos comunicacionais coletivos e individuais. Apesar da existência de um e-mail coletivo, é relatada a necessidade que alguns cursistas têm de comunicar-se por e-mail individual. O que explicaria isso? O texto apresenta o relato do que ocorreu com uma aluna a respeito do uso de material para apresentação de um seminário. Todavia, o leitor pode pensar em diferentes respostas: necessidade de uma atenção mais individualizada? Insegurança com as conversas que se tornam públicas? Enfim, é algo para pensar.

Algo que chamou atenção e que, a meu ver, foi uma prática bem sucedida, é o que as autoras relataram de uma experiência desenvolvida no blog que proporcionou o diálogo dos cursistas com os autores de alguns textos postados e discutidos no curso. Acredito que não se trata de uma experiência comum em grande parte dos AVA. Imagine: o cursis0ta poder dialogar virtualmente com um professor que apenas conhecia dos livros, dos textos e que, aparentemente, parece tão distante dos processos formativos reais… De repente, numa disciplina que tem o blog como suporte e AVA, esse cursista pode conversar, trocar ideias e informações com esse renomado autor. Essa página intitulada “@diálogo com os autores@” aparece como uma novidade e, acredito, como prática bem-sucedida, pode ser desenvolvida em outros cursos a distância como forma de promover o interesse, o debate e o envolvimento de todos que transitam pelos AVA, inclusive dos autores que têm seus textos utilizados como base em muitos cursos.

A análise que as autoras fazem do blog, a partir da construção colaborativa da docência online, é a da percepção de uma abordagem sociotécnica como “uma forma de ver a tecnologia a partir do seu processo de apropriação social. A apropriação social conduz à incorporação da tecnologia como objeto técnico e cultural, simultaneamente” (ARAÚJO e PEIXOTO, 2013, p. 164). Todavia, as autoras constatam que os estudos que tratam dessa abordagem precisam avançar muito, já que perceberam muitas limitações para que a mesma se concretize de fato. Aliar o domínio técnico ao desenvolvimento pedagógico ainda é um grande desafio.

Uma reflexão que as autoras fazem já em linhas conclusivas desse estudo é a confirmação de que a “docência online se caracteriza, de forma básica, com os mesmos postulados de uma docência presencial”. (ARAÚJO e PEIXOTO, 2013, p. 169). Por isso, todo o estudo realizado serve de reflexão para indagar ao leitor: o problema está nos recursos tecnológicos utilizados ou no uso que se faz deles? O problema é tecnológico ou pedagógico-metodológico? A utilização do blog como um AVA, conforme proposto no artigo resenhado, foi, na minha concepção, para conduzir o leitor a esse nível de questionamento. De nada resolverá as melhores plataformas para desenvolver os cursos nos AVA, munidas com seus mais variados recursos tecnológicos, se sua estrutura e funcionalidade pedagógica não responderem às expectativas de ensino e aprendizagem. Da mesma forma, um blog, que é uma ferramenta simples, gratuita, disponível para uso geral, quando bem estruturado técnica e pedagogicamente, pode se transformar em um ambiente rico, capaz de potencializar e dinamizar o ensino em forma de um AVA.

Somados aos questionamentos que apresentei anteriormente, as autoras finalizam o artigo apresentando 4 interrogações que, certamente, instigarão à reflexão e à busca de respostas. Enfim, uma leitura agradável, que trata de uma experiência real e bastante interessante. Recomendo a todos que se interessem em analisar os ambientes virtuais de aprendizagem e seus movimentos. Uma experiência pedagógica rica e bem-sucedida a partir de uma ferramenta simples e disponível a todos: o blog.


Resenhista

Yara Oliveira e Silva – Professora Titular na Universidade Estadual de Goiás, mestranda no Programa Interdisciplinar em Educação. Linguagens e Tecnologias da Universidade Estadual de Goiás (MIELT-UEG). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás.


Referências desta Resenha

ARAÚJO, Cláudia Helena dos Santos; PEIXOTO, Joana. Docência “online”: possibilidades para a construção colaborativa de um ambiente de aprendizagem. In: TOSCHI, Mirza Seabra (Org.). Docência nos ambientes virtuais de aprendizagem: múltiplas visões. Anápolis: Universidade Estadual de Goiás, 2013. Resenha de: SILVA, Yara Oliveira e. Utilização do blog como ambiente virtual de aprendizagem.  Paidéi@. Santos, v.5, n.9, 2014. Acessar publicação original [DR]

 

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