Ensino de História / Cadernos de História / 2011

Ampliar os espaços para divulgação sobre o ensino de História em publicações vinculadas ao campo da História representa importante conquista para a historiografia e para os historiadores interessados na associação ensino e pesquisa. Assim, o dossiê “Ensino de História”, no presente número dos Cadernos de História PUC Minas, contribui para o aprofundamento dos debates sobre ensino de História em diferentes níveis. A diversidade de temas e de aportes teórico-metodológicos encontrados nos oito textos incluídos neste dossiê refletem algumas tendências atuais das pesquisas sobre o ensino de História, evidenciando a profícua relação entre os interesses dos pesquisadores e as demandas que emergem da prática social, com especial atenção para o contexto escolar e a prática pedagógica.

Uma dessas importantes demandas, referente aos estudos de história e cultura africana e afro-brasileira – tornados conteúdos obrigatórios da Educação Básica pela atual legislação educacional brasileira, sobretudo as Leis 10.639/03 e 11.645/08 – é tema de dois artigos. Em “A Lei 10.639/03 e o movimento negro: aspectos da luta pela ‘reavaliação do papel do negro na história do Brasil’”, Amilcar Araújo Pereira mostra evidências de como a questão da educação e do reconhecimento do protagonismo negro na história do Brasil fez parte da pauta de reivindicações das organizações negras no século XX. Para ele, a publicização desse fato, além de favorecer a compreensão do processo que resulta na promulgação da Lei 10.639/03, pode contribuir para sua efetiva implementação por aqueles que seriam os “agentes da lei”: as escolas e seus professores. No artigo “Ensino de História e a Lei 10.639/03: diálogos entre campos de conhecimento, diretrizes curriculares e os desafios da prática”, Lorene dos Santos se propõe a elucidar aspectos da interface entre a produção acadêmica, a referida Lei, suas Diretrizes Curriculares correlatas e o ensino de história, procurando situar a complexa variedade de temas, questões, conceitos e polêmicas que têm permeado as diferentes instâncias de produção, tornando o processo de recepção à Lei 10.639/03 extremamente desafiador, exigindo especial atenção aos processos de formação docente.

Também exigindo novos esforços de pesquisa no campo do ensino de História é a relação de professores e estudantes com as chamadas “Tecnologias de informação e comunicação” – TIC. O artigo “Colaboração em ambientes de comunicação assíncrona: uma estratégia para o desenvolvimento profissional de professores de História”, de Andreia Assis, analisa o processo de formação e consolidação de um grupo colaborativo, de professores de história de uma escola da rede pública, mediado por estas tecnologias. A autora reúne evidências de como o desenvolvimento profissional desses professores pode ser potencializado por meio dessa estratégia. Abordando tema similar, o trabalho de Frederico Assis Cardoso e Marina Amorim, “A História a um clique: as tecnologias da informação e da comunicação, os documentos em suporte não-convencionais e o ensino de história”, analisa certos impactos das TIC em diferentes esferas da vida social, incluindo as escolas e seus professores, e destacando a contribuição que podem ter no desenvolvimento das aprendizagens escolares em História.

Em sintonia com novas tendências da pesquisa historiográfica, as investigações sobre o ensino de História têm se pautado, ainda, pela ampliação dos diálogos interdisciplinares. No artigo de Luiza Teixeira, vemos incluída a vertente sociocultural articulada à teoria da enunciação de Bakhtin, dando suporte à análise das interações discursivas em uma aula de História e procurando evidenciar como o discurso e a interação em sala de aula são peça chave para a compreensão do processo ensino-aprendizagem entre uma professora e os alunos. Já no estudo de Marco Antônio Silva acerca da relação entre ensino de História e as práticas de leitura e letramento, o autor chama atenção para uma nova realidade escolar, que tem exigido fortes investimentos no ensino da leitura e escrita ao longo de toda a escolaridade, o que impacta diretamente o trabalho dos professores de História nos anos finais do Ensino Fundamental, convocados a assumir responsabilidades com essa prática.

O ensino de História nos anos iniciais do Ensino Fundamental é o tema abordado por Araci Coelho Rodrigues, que analisa os usos e apropriações do livro didático de história pelas professoras. Por meio de diálogos entre os campos do Ensino de História e da Sociologia da Educação, utilizando-se da categoria analítica “saberes e práticas docentes”, a autora busca traçar um perfil pessoal e profissional das professoras investigadas. No artigo “Saberes escolares, arte e narrativas nas escritas dos vestibulandos”, Silvia Rachi apresenta análises sobre as narrativas construídas por vestibulandos a partir de duas representações iconográficas da figura de Tiradentes, apresentadas no vestibular da UFMG, buscando compreender como o processo de educação escolar participa da construção de uma “memória histórica oficial”.

Ao apontar para a complexidade das questões sobre o ensino de história, este dossiê reafirma o compromisso da História e dos historiadores com a História que se produz e se faz circular em diferentes espaços da vida social, incluindo as escolas de educação básica.

Lorene dos Santos – Doutora Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC Minas.


SANTOS, Lorene dos. Editorial. Cadernos de História, Belo Horizonte, v.12, n.17, 2011. Acessar publicação original [DR]

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