Ensino de História: teorias e práticas  / Escritas / 2012

Está superada a compreensão tradicional de que a área de História pode ser dividida entre aqueles que pesquisam e aqueles que a ensinam. Mais superada ainda está a velha ideia de que o profissional da área se forma a partir de uma “história pura”, deixando do lado de fora do labor do historiador o ato de ensinar o que se pesquisa. A História refletida em bases teóricas e epistemológicas não pode ser desprovida de uma didática. Logo, o ato de ensinar História é parte constitutiva do trabalho do profissional de História. Aprender, descrever, compreender, comparar e relacionar as práticas e as didáticas de uma sala de aula, seja no Ensino Superior, seja na Educação Básica, são condições mínimas de existência e sobrevivência da disciplina História. Se não se sabe como se aprende e como se ensina História, os debates necessários envolvendo questões do campo das teorias e dos métodos históricos se tornam inócuos, sem lugar de experiências, sem possibilidade de retorno. É nessa perspectiva que apresentamos o IV Volume da Escritas, Revista do Colegiado de História da Universidade Federal do Tocantins – UFT, Campus de Araguaína. Como tem sido prática da revista, dividimos o volume entre um dossiê, voltado para o ensino e aprendizado em História e uma seção livre.

Em um momento em que o ensino de história parece se inserir definitivamente no campo de interesse de historiadores e, por conseguinte, dos programas de pós-graduação em História, em que se enfatiza a importância estratégica do ensino, da aprendizagem e da relação produção e reprodução do conhecimento histórico, o dossiê do presente volume busca reunir trabalhos que reflitam sobre as teorias, métodos e práticas relativas às políticas de ensino; à formação do professor; às articulações entre conhecimento acadêmico e conhecimento escolar; aos meios de produção e difusão do conhecimento histórico; às relações de poder envolvendo as questões do ensino. Busca também contribuir para a consolidação do ensino de história como objeto de análise e crítica histórica com base na compreensão de que pesquisa e ensino se completam e, em igual medida, contribuem para a formação de cidadãos capazes de se posicionarem criticamente em relação à produção social da história, da memória e das identidades.

É com essa preocupação que o artigo Ensino de História e Identidade Nacional no Brasil, de Leonardo N. Bourguignon, traz a baila como o Ensino de História foi utilizado enquanto ferramenta importante na construção da identidade nacional nos séculos XIX e XX. Nessa linha de pensamento, Jacqueline A. M. Zarbato, em Ensino de História, Diversidade Cultural e Currículo, apresenta reflexões significativas acerca do currículo escolar das práticas de ensino na constituição de uma sociedade marcada pela diversidade.

Um profícuo debate sobre a ação docente e o Ensino de História é proposto nesse dossiê. Nesse sentido, Norma L. da Silva, em O lugar do Ensino de História no espaço acadêmico: os desafios de uma área de fronteira analisa o distanciamento existente entre a produção acadêmica e o Ensino de História, buscando-se refletir sobre as razões pelas quais os temas ligados à educação em geral e ao ensino de História, em particular, não têm estado no foco das atenções dos profissionais da História. Esse debate também está proposto em Perspectivas da Educação Histórica na visão de professores: narrativas como expressão do pensamento histórico e possibilidades de humanismo no horizonte de transformações, de Thiago A. D. de Oliveira, artigo no qual o autor procura “identificar como os professores entendem e detectam a aprendizagem histórica”.

Quanto às abordagens sobre teorias e métodos nas práticas de Ensino de História em sala de aula, temos dois relevantes textos. No primeiro, O uso do cinema no Ensino de História: propostas recorrentes, dimensões teóricas e perspectivas da Educação Histórica, Éder C. de Souza evidencia as questões teóricas e os caminhos de investigação em aberto quando se trata das reflexões sobre a relação entre cinema, conhecimento histórico e Ensino de História. No segundo, Bruna M. V. Roriz, Henrique R. de P. Goulart, Thaís L. Junqueira e Luiz C. Villalta, em História, Cinema e Escola: três experiências de ensino, relatam experiências de ensino realizadas em escolas da rede pública de Belo Horizonte, utilizando, para tanto, a exposição do filme Harry Potter e a Pedra Filosofal. Os conflitos envolvendo infraestrutura escolar, formação de professores e relações de poderes emergem nessa significativa abordagem.

O artigo Educação e novos paradigmas: os caminhos da aprendizagem no século XXI, de Ana B. C. Baiocchi e Douglas S. dos Santos fecham o dossiê. Nele, os autores apresentam um importante debate sobre os parâmetros hegemônicos da educação na atualidade “tendo em vista a flexibilização de visões e conceitos imprescindíveis às próprias teorias educacionais”.

A seção livre traz o artigo A problemática do ensino, formação e instrução da Polícia Militar no Norte de Goiás (1930-1964), no qual Mariseti C. S. Lunckes informa que, após o movimento de 1930, as legislações aprovadas impuseram, por parte do Estado brasileiro, um controle sobre as polícias estaduais e a exigência de instrução e formação de policiais profissionais e alfabetizados executadas pelos departamentos de instrução militar. A autora busca apresentar a efetivação dos projetos de formação e instrução da Polícia Militar no norte de Goiás. Finalizando o volume, temos a resenha do livro Ensino de História e Games: o uso de jogos digitais na aprendizagem de História, elaboradas por Caroline A. M. Alamino e Lara R. Pereira, na qual se esclarece o que a obra tem a contribuir quando se trata de ensinar História em sala de aula.

Os editores

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