Economia e cultura dos comuns amazônidas | Escritas | 2021

Renatao Quilombo Grotao Amazônidas
Renatão (2015), do Guilombo Grotão | Foto: Fábio Guimarães/Extra

O tema dos comuns emergiu, nas últimas décadas, no debate político como uma parte das lutas de emancipação social. Diversos atores sociais como movimentos e comunidades do Sul Global ou da periferia do Norte vêm no comum – ou nos comuns – um caminho de lutas contra a prevalência agressiva do capitalismo, neoliberalismo e globalização.

Nas ciências humanas e sociais, diversos estudos têm sido realizados no sentido de conhecer o giro para o comum dos movimentos sociais e comunidades. Esses estudos procuram delimitar o conceito (comuns, comum) e trazer à tona a diversidade institucional a partir da qual o fenômeno concreto (comuns, comum) se manifesta na prática de diversos grupos em contextos e espaços sociais específicos. Leia Mais

Povos indígenas, migrações e deslocamentos territoriais/Escritas/2022

A discussão sobre a inconstitucionalidade da tese do Marco Temporal tem estimulado a produção científica em diferentes campos do conhecimento que se dedicam à investigação sobre a relação das populações indígenas e seus territórios. A necessidade de uma maior compreensão sobre deslocamentos, migrações e fluxos territoriais efetuados por populações indígenas em específicos contextos socioculturais – seja em situações de perseguição, subordinação e violência, ou motivados por dimensões cosmológicas e/ou ecológicas, entre outros – complexifica um acirrado debate político atualmente judicializado, que possui como aspectos centrais a territorialidade, a historicidade e as relações interétnicas em processos sociais de resistência e conflitos de curta, média e longa durações. Leia Mais

Encantarias e encantados no Brasil: pluralidade conceitual e diversidade regional/Escritas/2022

O dossiê “Encantarias e encantados no Brasil: pluralidade conceitual e diversidade regional” teve como objetivo reunir pesquisas realizadas em todo o Brasil que tivessem como temática o universo religioso afro-indígena denominado como Encantaria e/ou seus habitantes, os Encantados. Diversas religiões afro-brasileiras e outras manifestações religiosas trazem em seus rituais e panteões entidades e localidades com a nomenclatura aqui apresentada. Os textos aqui reunidos contribuem com as pesquisas mais recentes que têm apontado a existência de uma pluralidade na concepção do que vem a ser um encantado, do que é e onde se localiza a encantaria, de como trabalhar com essa categoria de entidades etc. Leia Mais

Envolvimentos em si e com as gentes  / Escritas / 2020

No atual contexto pandêmico em que nos encontramos, faz-se necessário uma práxis, cuja ação-reflexão nos permita questionar como estamos vivendo e o que estamos fazendo com nós mesmos. Nessa busca reflexiva-refletora da dinâmica do tempo moderno, percebemos os resultados da capitalização do mundo e da monetização de vidas. O vírus que nos mata e paralisa, mas que, nesse momento, nos leva a questionar comportamentos sociais da modernidade, é o próprio tempo capitalista, com suas rachaduras a ruir. Propomos, então, como ação inicial, um retorno à nossa natureza humana, buscando nos envolver uns com os outros e visibilizar um pensar da humanidade.

Ao diagnosticar essas afinidades e reconhecer o desenvolvimento associado a sustentar o padrão de civilização consumidora como mais uma estratégia incorporada aos repertórios manifestos na colonialidade, propomos, nessa coletânea, a re-existência (WALSH, 2014), o que resiste e sobra ao projeto de uniformização e agenciamento dos desejos. Esse dossiê nasceu de um debate promovido pelo Programa Interdisciplinar de PósGraduação em Direitos Humanos da Universidade Federal de Goiás, convertido num curso aberto à participação de outros programas de mestrado e doutorado, dentro e fora de Goiás. Conduzido pela professora Dra. María Luisa Eschenhagen e pelo professor Dr. Ricardo Barbosa de Lima, o curso estendeu-se à participação de grupos de pesquisa e iniciativas de investigação no Tocantins, Pará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Moçambique. Leia Mais

História e Educação: práticas e reflexões em tempos de pensamentos anticientíficos / Escritas / 2020

Observamos nos últimos anos um avanço do pensamento anticientífico em determinados grupos sociais ao redor do mundo, impactando também segmentos da sociedade brasileira. Tais ideias congregam setores conservadores, com interesses diversos, promovendo um recrudescimento de pautas negacionistas que desqualificam pesquisas históricas acadêmicas sobre escravidão, racismo, religiões afro-brasileiras, questão indígena, movimentos de esquerda, ditaduras militares, nazifascismo, direitos humanos, gênero e sexualidade.

Estas visões tentam assumir ações de controle do debate público e de recusa ao pensamento intelectual ao difundir ideias sem respaldo científico por meio das mídias sociais, principalmente, mas que ganharam espaço no debate público. Como por exemplo, as disputas parlamentares em diversas câmaras de vereadores em torno do que se denominou como “Escola Sem Partido”, afrontando diretamente a autonomia docente. Assim, este dossiê dialoga com a conjuntura política atual do país e suas implicações para a Educação Básica, motivando o que o historiador Fernando Penna (2016) identificou como um “ódio aos professores”. Esse processo afeta diretamente os professores que ministram disciplinas das Ciências Humanas, incluindo a História. Tendo como base um conservadorismo de cunho fundamentalista, opera-se uma vigilância da fala do docente, defendendo uma suposta neutralidade. Leia Mais

Trampas do (des)envolvimento  / Escritas / 2019

Trampas do (des)envolvimento  / Escritas / 2019

A articulação entre desenvolvimentismo e sustentabilidade foi apresentada como basilar à transformação das relações desiguais no planeta e se canonizou no documento referencial conhecido como Relatório Bruntdland, de 1974. A fusão dos princípios na prática do desenvolvimento sustentável traria consigo um paradigma que orientaria políticas públicas e consensos internacionais, mediados pelo Organização das Nações Unidas (ESCHENHAGEN, 2015; MACHADO, 2013).

Reconhecera-se a necessidade em refletir acerca dos efeitos do uso inconspícuo e predatório dos recursos naturais, porém, simultaneamente, era reafirmada a premissa de que a prosperidade e a infalibilidade da ciência tornariam possíveis suster os desejos de consumo desta geração e garantir a das próximas. Divulgou-se, ainda, a potencialidade de um efeito derrame, em relação à acumulação material: que as benesses do progresso se espalhariam àqueles que não dispusessem das condições políticas, econômicas e culturais para alcançá-lo. Leia Mais

Narrativas na história do Norte e Centro Oeste brasileiro: histórias locais e regionais e suas intersecções entre histórias, memórias e literaturas  / Escritas / 2018

Refletir sobre História Regional e Local é colocar em perspectivas as relações socioculturais que compõem a vida humana em dimensões espaciais e como elas são expressas em termos narrativos, sejam narrativas escritas ou orais. A variedade temática da história regional e local e as diversidades de fontes e materiais. As formações políticas, as relações sociais e os mundos do trabalho, as religiosidades, as identidades e as práticas culturais e artísticas, em suas diversas abordagens, formulam olhares próprios para os sujeitos regionais e locais do passado e do presente ao vocalizarem novos modos interpretativos das tensões sociais e das disputas simbólicas de poder.

A diversidade de fontes e materiais, de regra os vestígios de experiências e dos processos narrados pela história, não estavam no horizonte de cognoscibilidade pretendida pelos narradores que geraram os enunciados que nós historiadores tomamos como fontes. Tal peculiaridade dá visibilidade a versões diferentes de um mesmo acontecimento ou prática e, principalmente, faz aparecer uma pluralidade de sentidos, em razão da polifonia e plurivalência das narrativas. Leia Mais

Teoria da história e a formação do professor-pesquisador  / Escritas / 2018

As questões relativas à Teoria da História e à formação do professor-pesquisador já foram alvos de intensos debates. Se a primeira traz subsídios que permitem compreender a História como um campo disciplinar e seus respectivos elementos, tais como, interesses, singularidades, diálogos interdisciplinares, aspectos teóricos, metodológicos e expressivos, rede humana e interditos (RÜSEN, 2001; BARROS, 2011); a segunda articula-se frente à elementos que permitem a constituição da figura do historiador, uma vez que sua profissionalização implica em lidar: com uma diversidade de fontes e o aparato metodológico para tratá-las, com o estabelecimento de diálogo com outras áreas de conhecimento, com a construção de problemas e, fundamentalmente, sua atividade implica em escolhas, triagem, pontos de vista e hipóteses. (REIS, 2011). Em outras palavras, “[…] a teoria desempenha um importante papel na profissionalização didática dos historiadores”. (RÜSEN, 2011, p. 38) Leia Mais

Memórias em narrativas orais: história oral e oralidades sob os dilemas da cultura  / Escritas / 2017

Memórias hostis: O rumor de vozes em escritos

“Morta” sob condições degradantes em um campo de trabalhos “correcionais” (Vtoraïa Rechka) aos redores da cidade de Vladivostok, extremo oriente da então URSS, a voz de Ossip Mandesltam (1891-1938) – poeta e ativista político – é memória em projeção graças à Nadejda Mandelstam, a esposa, e acima de tudo um diário orgânico desse “acervo” político-poético, permitido à publicação, a partir dos anos 60. Pelo trânsito de séries ou pela oralidade na busca de outros “corpos”, Mandelstam nos faz auscultar os ruídos subterrâneos de suas histórias e poéticas revolucionárias.

Sob o diapasão de Paulo Bezerra, “O Rumor do Tempo e Viagem à Armênia”, escrito originalmente em 1925 e publicado no Brasil em 2000, testemunha a voz se fazendo escritura. Mandelstam (2000, p.92), em relatos autobiográficos, erige força perlocutória ao “tramar” críticas sócio-políticas por sua radicalidade discreta: “Não quero falar de mim, mas seguir de perto o século, o rumor e a germinação do tempo. Minha memória é hostil a tudo que é pessoal. Se dependesse de mim, eu me limitaria a franzir o cenho ao recordar o passado […] repito, minha memória não é amorosa, mas hostil, e não trabalha a reprodução, mas o descarte do passado. ” Leia Mais

Ensino de história: “A história na sala de aula”  / Escritas / 2017

O presente Dossiê, Ensino de História, “A História na Sala de Aula”, foi concebido tendo em vista a crescente necessidade de ampliar as discussões sobre a História em sua relação com o ensino, em especial, com as pesquisas articuladas aos saberes docentes na sala de aula. Pensamos no dinamismo da História e do seu ensino à medida que consideramos professores e alunos como sujeitos do conhecimento histórico. Conforme Silva e Fonseca (2007 p.63-64): “É nas relações entre professores, alunos, saberes, materiais, fontes e suportes que os currículos são, de fato, reconstruídos”.

Há que reconhecer que, com a institucionalização da Histórica no século XIX, a disciplina foi-se revestindo de um caráter científico, restrito apenas ao ensino superior. Porém, sabe-se que o conhecimento das regras e princípios que norteiam a escrita da história auxilia na capacidade de leitura da realidade, repleta de discursos de diferentes origens. Assim, professores, alunos e a sociedade em geral podem ser “habilitados” a ler esses diferentes discursos, como afirmam Marieta de Moraes Ferreira e Renato Franco (2016, p.10): “A abundância de informação acessáveis através de várias mídias (internet, televisão, vídeos, periódicos), que se apresentam de maneira rápida e fragmentada, exige uma capacidade de diferenciação, avaliação e de perspectiva temporal que só a História pode oferecer”. Leia Mais

Manifestações religiosas no Brasil Contemporâneo  / Escritas / 2016

A Escritas: Revista do Curso de História da Universidade Federal do Tocantins, Câmpus de Araguaína apresenta aos leitores, neste número, o Dossiê Manifestações religiosas no Brasil contemporâneo.

A cada decênio, os censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vêm apontando para uma tendência crescente: a pluralização religiosa em todo o Brasil. Embora o catolicismo continue como religião hegemônica, também não é homogênea, assim como os variados protestantismos, que vem conhecendo mudanças e redefinições importantes com o crescimento das igrejas neopentecostais. Leia Mais

História e Comunicação Social: fronteiras  / Escritas / 2016

Intelectuais, mídias sociais e tempo presente

No prefácio ao livro “O historiador como colunista”, reunião de ensaios de Peter Burke publicados na Folha de São Paulo, Ángel Gurría-Quintana afirmou que “todo historiador acadêmico deve escrever em coluna de jornal”. O exercício, arrematou, “permitiria ao historiador profissional testar ideias, tentar ver como se encaixam, expressá-las em termos claros para os leitores sem conhecimento prévio dos nossos [dos historiadores] interesses de pesquisa” (2009, p. 18-19). O texto ensaístico / jornalístico seria, pois, ao mesmo tempo, um espaço de prova para novas ideias e um instrumento de vulgarização e disseminação do conhecimento histórico.

Intitulado “Peter Burke e o Brasil: uma descoberta mútua”, o aludido prefácio acentua a aventura biográfica e intelectual do historiador inglês pelos trópicos após o seu casamento com a brasileira Maria Lúcia Pallares, o convite para lecionar na Universidade de São Paulo e a popularização de sua obra no país, com ênfase no sucesso editorial de Uma história social da mídia. Segundo Gurría-Quintana, Burke prestou uma enorme contribuição à imprensa brasileira, haja vista que ele não escrevia apenas como europeu, tampouco como intelectual apegado aos compromissos epistemológicos da academia. Suas “investidas extra europeias e extra acadêmicas” tiveram ainda mais sucesso porque encontrou na sogra, dona Henny, uma cicerone e leitora ideal, através da qual mergulhou no universo cotidiano paulistano e a quem buscava acessar através do “tom e linguagem adequados” (2009, p. 17). Burke seria, portanto, o ensaísta perfeito, síntese da biografia cosmopolita, da densidade acadêmica e do trânsito confortável pelos temas e pela linguagem ordinária da vida.

O desafio enfrentado por Burke ao longo dos doze anos em que escreveu para a Folha, certamente, é apresentado a todos os intelectuais que ultrapassam os tradicionais meios de divulgação científica a fim de alcançar “um público mais amplo e variado” (2009, p. 25). Nos últimos tempos, o também historiador Leandro Karnal e o filósofo Luiz Felipe Pondé têm circulado com frequência em programas de televisão e canais da internet, ora despertando o entusiasmo de colegas, que saúdam sua ousadia, ora suscitando a desconfiança de que eles se tornaram “tudólogos”, pouco comprometidos com o rigor intelectual de suas abordagens. Ante ao que chama de “intelectual que produz manchetes”, Milton Santos reconhece a importância da mídia para a difusão do pensamento, desde que evitando o risco de instrumentalizá-lo. “Nosso trabalho não é produzir flashes, frases, mas ajudar a produzir consciência” (apud MORAES, 2004, p. 170). De todo modo, os milhares (milhões?) de compartilhamentos indicam sua ampla capilarização na rede, onde os textosfragmentos e os vídeos de curta duração se hegemonizam, afirmando novas formas de produção, circulação e apropriação do saber.

A propósito da vitória do candidato republicano Donald Trump às eleições presidenciais dos Estados Unidos, Pondé divulgou na internet um vídeo em que se dedica não a compreender o resultado do pleito, mas a problematizar o espanto que o acontecimento provocou entre os intelectuais. Mais do que isso, Pondé investiu em uma crítica pesada aos congêneres, reforçando o diagnóstico de Norberto Bobbio de que o debate “entre intelectuais a respeito dos intelectuais, isto é, a respeito de si próprios, não tem trégua” (1997, p. 07).

A nossa classe intelectual – filósofos, cientistas políticos, jornalistas –, há muito tempo nós deixamos de debater o mundo real. A maior parte de nós debate o mundo que o nosso clero quer que exista. Quase todos nós acreditamos naquela velha frase do grande equivocado Marx em que falava ´Basta compreender ou conhecer o mundo e vamos transformá-lo. E nessa batida todo mundo virou pregador e, portanto, não olha pra realidade. […]. As pessoas reais não estão nem aí pra discussão de classe, gênero e raça. As pessoas reais, no cotidiano, estão preocupadas em janta, escola de filho, em conseguir transar de vez em quando, em ir pras férias, em não ter um filho que morre com uma bala, em arrumar um emprego, em pagar as suas contas. […] Afinal de contas, o mundo enlouqueceu? Não, o mundo não enlouqueceu. O mundo sempre foi uma coisa meio besta mesmo. Porque a vida é banal. [sic] (PONDÉ, 2016, s / p) [1]

Disponibilizado em canais virtuais sugestivamente intitulados “Direita Elegante” e “Porta Direita”, o vídeo corrobora a avassaladora onda anti-intelectualista que tem tomado conta do Brasil. Os comentários elogiosos abaixo do vídeo sugerem simpatia ao filósofo uspiano que, no meta-exercício de refletir sobre a intelectualidade, devolve os intelectuais ao lugar que lhes seria devido: o do anacronismo e da inutilidade social. A fala de Pondé polariza o mundo real e o mundo das ideias, rejeitando a crença moderna do esclarecimento como princípio emancipatório. Além disso, restringe o estatuto da intelectualidade aos pensadores de esquerda, com explícita referência a Marx. Nesse cenário, em antítese à asserção de Bobbio (1997), para quem o fim do socialismo real representou também a morte do intelectual idealista, Pondé decreta o idealismo como característica imanente aos intelectuais, adotando o sentido mais ordinário da palavra, como antônimo da pragmática da existência. Por fim, o filósofo nega que o mundo, sendo essa “coisa meio besta mesmo”, encerra em si um conjunto de saberes que torna as “pessoas reais” portadoras de importantes chaves de interpretação acerca da própria experiência, de modo a estarem tão preocupadas em “comer, criar os filhos e transar”, quanto em “discutir raça, gênero e classe”. Ao rejeitar a importância social dos intelectuais como intérpretes de seu tempo e recusar a inteligência como substrato da vida, Pondé apenas afirma a noção mais elitista e menos democrática da intelectualidade. Nesse sentido, contribui para explicitar a pertinência do argumento da também filósofa e habitué das redes sociais Marcia Tiburi, que escreveu na Revista Cult, juntamente com Rubens Casara, que

Há um ódio que se dirige atualmente à inteligência, ao conhecimento, à ciência, ao esclarecimento, ao discernimento. Ao mesmo tempo, esse ódio é velado, pois o lugar do saber é um lugar de poder que é interessante para muitos. Se podemos falar em  “coronelismo intelectual” como um uso elitista do conhecimento, e de “ignorância populista”, como um uso elitista da ignorância, como duas formas de exercer o poder manipulando o campo do saber, podemos falar também de um ódio à inteligência, do seu apagamento. (TIBURI; CASARA, 2016, s / p) [2]

No Brasil, historicamente, os intelectuais são objetos de alguma desconfiança e, não raro, de ódio social. Esses sentimentos justificam-se, em parte, pelo “coronelismo intelectual” a que Tiburi faz referência: a associação entre letramento, sigilo, privilégio social e poder. No capítulo “A unificação da elite: uma ilha de letrados”, da canônica tese O teatro das sombras / A construção da ordem (2013), José Murilo de Carvalho aponta para a tradicional circunscrição do saber às elites brasileiras, cuja formação se dava, no Império, majoritariamente em Portugal. Tais elites restringiram a construção de universidades no Brasil, controlaram o aparelho do Estado, valeram-se do conhecimento como elemento perpetuador do sistema de dominação social, afirmaram o bacharelismo como um valor e fomentaram o ressentimento das camadas subalternas em relação às instituições formais de ensino e ao conhecimento. Nesse caso, enraizaram não apenas os fundamentos do ódio aos intelectuais, confundidos com as elites, mas do ódio contra a intelectualidade mesma. Somada a isso, a redução percentual do número de votantes ao longo do século XIX, bem como o pendular critério da alfabetização para gozo dos direitos políticos, reforçou a crença de que o letramento e a cidadania são, ao fim e ao cabo, empreendimentos pelos quais não vale a pena lutar (CARVALHO, 2016).

Há outro aspecto que não pode ser desprezado: a relativa autonomia de que gozam os intelectuais é inversamente proporcional à sua audiência. Na apresentação à referida coletânea de textos da Folha, Burke afirma que o jornal “gentilmente me permitiu escrever sobre o que desejasse, fosse o assunto da atualidade, fosse de interesse geral” (2009, p. 25). É de se supor que, ao utilizar a palavra “gentilmente”, o historiador indique não ser tácita a liberdade dada aos intelectuais convidados a escrever ao grande público. As implicações políticas do argumento intelectual – e seus perigos – são evidentes. Lastreado pela aura de positividade que ainda cerca os enunciados científicos, o intelectual pode se tornar um ator político perigoso quando consegue acessar os grandes canais de comunicação, ativando o circuito saber-poder. Nesse caso, o silêncio dos intelectuais apresenta-se tanto como uma estratégia de conservação da relativa autonomia de que gozam sendo financiados majoritariamente pelo Estado, quando um projeto – a “ignorância populista” – que tem, desde há muito, o objetivo de negá-los, denunciar a sua desconexão com a vida prática e retirá-los da esfera pública.

Não devemos esquecer que os organismos de mídia no Brasil também têm se notabilizado pela capacidade de identificar produtores de discurso adequados aos seus interesses econômicos e políticos, alçando-os ao status de “pensadores da contemporaneidade”, reverberando suas teses mais caras e, em larga medida, no prejuízo da formulação crítica da opinião pública. Carlos Nelson Coutinho lembra que, sendo “controlada e hegemonizada pela classe dominante, a mídia pode ser considerada um intelectual orgânico coletivo da própria classe dominante, ainda que, em determinadas circunstâncias, essa situação possa sofrer abalos” (apud MORAES, 2004, p. 319), como sugerimos acima. E, mesmo sem perder de vista que o sistema midiático não deve ser reduzido ao potencial desejo de manipular ou, minimamente, influenciar a opinião pública, Coutinho aponta que, há muito, se dá uma perigosa “cooptação de intelectuais”, hoje com campo muito mais limitado em termos estéticos e políticos nos veículos de comunicação (idem).

Recentemente, quando centenas de historiadores se engajaram na defesa da continuidade do mandato de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, questionando a legitimidade política e jurídica do processo de impeachment em curso, dois importantes jornais denunciaram com ironia a articulação dos intelectuais autointitulados “Historiadores pela Democracia”. Aos 14 de junho, o grupo ganhou o editorial do Estadão, que sugeriu o aparelhamento ideológico das escolas e universidades pelos governos petistas. Além disso, ironizou a temporalidade em que operam os historiadores: estariam eles com pressa, no afã de capturar os acontecimentos em curso, quando a eles caberia apenas a tarefa de “reconstituir o passado”. Dias depois, Fernando Nicolazzi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Suzette Bloch, neta do notável historiador francês Marc Bloch, escreveram uma CARTA ABERTA AO JORNAL ESTADÃO, EM RESPOSTA AO EDITORIAL DE 14 DE JUNHO DE 2016, onde sublinharam a ardilosa estratégia do periódico de instrumentalizar a autoridade intelectual de Bloch para deslegitimar a ação política dos seus pares. Aos 25 de junho, Demétrio Magnoli realizou investida ainda mais dura contra o grupo, a quem acusou de “formação de quadrilha” em matéria publicada na Folha de São Paulo, apresentando um ataque direto às figuras de Hebe Mattos, Lilia Schwarz, Laura de Mello Souza e João José Reis. Aos 31 de agosto, a Folha deu direito de resposta a Hebe Mattos. Outras respostas de historiadores vindas de diversas partes do Brasil pulularam na internet [3].

A proporção que o movimento tomou demonstra a resistência à aproximação entre a intelectualidade e as mídias sociais. Explicita também que o veto imposto aos intelectuais (agindo individualmente ou em grupo) em circunstâncias históricas específicas apenas atesta a sua importância social e a sua capacidade de influenciar o ambiente político. Particularmente, sendo ela discurso, a história é capaz de instrumentalizar o leitor ordinário na lide com as questões que se apresentam no tempo presente, sendo o historiador, entendido como intelectual, tanto mais sedutor e ameaçador quanto maior for a sua capacidade de dizer das grandes questões em linguagem ordinária.

Dado que a memória histórica tem sido cada vez mais produzida e / ou mobilizada para sustentar argumentos políticos, as interfaces entre história e comunicação social se afirmam, portanto, como campo de grande atualidade e relevo. A isso está relacionado o crescimento contínuo, desde o início dos anos 1990, do campo de história do tempo presente no Brasil, expresso sob a forma de programas de pós-graduação lato sensu e stricto sensu, bem como de periódicos, núcleos, grupos e linhas de pesquisa. Nesse cenário, algumas questões importantes podem ser formuladas: qual a importância das mídias sociais como espaço de experimentação e divulgação do conhecimento pelos historiadores? De que modo os ensaios produzidos por historiadores podem contribuir para o leitor comum na interpretação do tempo presente? Qual o lugar dos historiadores e dos comunicadores como intérpretes do tempo presente, na historiografia e nos produtos comunicacionais? Que tipo de história das mídias tem sido produzida no Brasil e qual o seu impacto político? Como  as fontes, arquivos e plataformas digitais têm instrumentalizado historiadores para uma nova forma de construção do conhecimento histórico? Como os diferentes produtos das subáreas da comunicação (jornalismo, publicidade e propaganda, cinema, produção editorial e relações públicas) podem se estabelecer como suporte ao pensamento histórico e à produção historiográfica? Quais são as fronteiras teóricas e metodológicas entre a história do tempo presente e a comunicação social? Como os dois campos operam em relação ao tempo, à narrativa, ao discurso e à verdade? Que imperativos éticos se impõem a historiadores do tempo presente e a comunicadores sociais na construção de seu argumento?

Com o objetivo de reunir trabalhos que desenvolvam essas e outras questões, a Revista Escritas, da Universidade Federal do Tocantins, apresenta o dossiê temático interdisciplinar “História do Tempo Presente e Comunicação Social: fronteiras”. O desafio de acessar esse tênue e fecundo limiar foi aceito por diversos pesquisadores brasileiros, que se apresentam, neste dossiê, à tarefa de refletir teoricamente sobre as fronteiras entre história e comunicação social, ao mesmo tempo em que comunicam, através de seus textos, mensagem políticas importantes para a agenda do dia, amparadas pelo rigor da pesquisa histórica.

No artigo “O acervo digitalizado da Revista do Rádio na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional: reflexões e usos da história digital no tempo presente”, Carlos Gregório dos Santos Gianelli lança luzes ao atualíssimo debate teórico e metodológico sobre a formação de acervos virtuais e o uso de documentos digitais como fontes pelos historiadores.

Em “O uso da mídia eletrônica pelos Xavante e pelos Posseiros da Suiá no caso da luta pela terra Marãiwatsédé (1960-2012)”, Juliana Cristina da Rosa demonstra a importância das mídias digitais na batalha narrativa e jurídica travada em um conflito pela posse de terra em Mato Grosso.

Ainda em relação aos usos políticos das mídias, Pedro Carvalho Oliveira investiga a atividade virtual de movimentos neofascistas, enfatizando o gênero musical Hate Rock. O artigo intitula-se “Ódio: o papel do Hate Rock e da internet na difusão de ideias neofascistas no tempo presente”.

Também acerca da atualidade do debate sobre o fascismo, Beatriz Nascimento Teles analisa a propaganda do regime fascista italiano no jornal Corriere della Sera, com ênfase nas temáticas do nacionalismo e da revolução. O artigo é “Nacionalismo e Revolução na propaganda fascista italiana: o caso do jornal Corriere della Sera”.

No artigo “O campo político, o campo da mídia e a Arena: relações políticas e práxis empresarial no Jornal de Santa Catarina (1971-1979), Ricardo Duwe também apresenta pesquisa baseada em análise de periódico, buscando compreender o jornal como importante instrumento da elite empresarial e política da região do Vale do Itajaí nas disputas locais durante a ditadura militar.

Em “A representação feminina nos anúncios e propagandas dos jornais ‘A Palavra’ e ‘Folha do Norte’ (1940-1945)”, Flaviana Moraes Pantoja apresenta pesquisa realizada em jornais que circulavam em Belém, no Pará, durante a Segunda Guerra Mundial. Sua ênfase é na representação da mulher e de duas práticas cotidianas através dos anúncios e propagandas contidos nos periódicos.

Dayanny Deyse Leite Rodrigues investigou os jornais União, O Momento e O Norte para substanciar o artigo “Mulheres nos bastidores da política paraibana: Lúcia Braga e o Movimento de Ação Feminina na campanha eleitoral de 1982”. A autora pesquisa a atuação de Lúcia Braga frente ao Movimento de Ação Feminina (MAF), organização liderada por ela e destinada a mobilizar mulheres em prol da campanha de seu marido, Wilson Braga, ao governo do estado da Paraíba.

No mesmo período, os jornais impressos piauienses O Estado, O Dia e Jornal da Manhã acompanhavam o debate acerca das Diretas Já. O tema é investigado por Jessica de Souza Maciel e Cláudia Cristina da Silva Fontineles em “A campanha das Diretas Já na perspectiva dos jornais impressos em Teresina (1983-1984)”.

A partir do filme David Vai Guiar, de Durvalino Couto Filho (1972), Carlos Lopes Barbosa e Edwar de Alencar Castelo Branco refletem sobre as várias modificações vividas pelo estado do Piauí da década de 1970, enfatizando a influência de Torquato Neto na produção de filmes por jovens de Teresina. O artigo é intitulado “Juventude Torquato Neto: as marcas singulares no filme David Vai Guiar em Teresina da década de 1970”.

Tomando como referência a tematização do assalto a banco realizado por militantes do Partido dos Trabalhadores e do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário na Bahia em 1986, Lucas Porto Marchesini Torres reflete sobre o documentário como instrumento político e como fonte de pesquisa histórica. O artigo tem como título: “Comunicação: um meio ou um fim? Um documentário como peça de defesa social de presos políticos”.

Flavia Jakemiu Araujo Bortolon, em “Performance, moralidade e exposição do corpo: um estudo a partir das imagens midiáticas das encenações dos Dzi Croquettes”, investiga a circulação midiática e as concepções estética e moral da nudez e das homossexualidades do grupo Dzi Croquettes, na década de 1970.

Alessandro Henrique Cavichia Dias, por sua vez, apresenta a formação do segmento musical jovem no Brasil, entre as décadas de 1960 e 1970. O artigo é “’A guerra está declarada Os que estão do lado de lá que se cuidem’: Jovem Guarda e MPB, tensões e desacertos”.

Ainda no campo da história da cultura, Priscila de Andrade Rodrigues analisa “O México Profundo sob o olhar do México Imaginário: conflitos culturais e políticos em Chapolin Colorado (1970-1979)”. A autora investiga os elementos socioculturais e políticos presentes na construção de Chapolin Colorado, encenado por Roberto Bolaños, e suas relações com o lugar social do criador do personagem.

Para fechar o dossiê, apresentamos um artigo de Tiago Ciro Moral Zancopé sobre a história recente da Venezuela, em que o autor identifica uma crise de orientação de sentido provocada por três acontecimentos que ocorreram entre as décadas de 1980 e 1990. Nesse cenário, Hugo Chávez se projeta na cena política daquele país, afirmando propostas políticas capazes de restituir sentido à nação venezuelana.

Desejamos a todos e a todas uma proveitosa leitura!

Notas

1. Disponível em: https: /  / www.youtube.com / watch?v=di1cOYrTac4. Acesso em: 08 dez. 2016.

2. Disponível em: http: /  / revistacult.uol.com.br / home / 2016 / 10 / 50931 / . Acesso em: 08 dez. 2016.

3. Disponível em: https: /  / conversadehistoriadoras.com / 2016 / 06 / 29 / contradanca-replicas-as-criticas-ao-

Referências

BOBBIO, N. Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea. São Paulo: UNESP, 1997.

BURKE, Peter. O historiador como colunista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

CARVALHO, José Murilo. Unificação da Elite: uma ilha de letrados”. In: A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro de sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013, p. 63-92.

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.

COUTINHO, Carlos Nelson. Intelectuais, Luta Política e Hegemonia Cultural. In: MORAES, Dênis de (org.). Combates e Utopias. Tradução de Eliana Aguiar e Luís Paulo Guanabara. Rio de Janeiro: Record, 2004.

PONDÉ, Luiz Felipe. Vitória do Trump. Disponível em: https: /  / www.youtube.com / watch?v=di1cOYrTac4. Acesso em: 08 dez. 2016.

SANTOS, Milton. O Intelectual, a Universidade Estagnada e o Dever da Crítica. In: MORAES, Dênis de (org.). Combates e Utopias. Tradução de Eliana Aguiar e Luís Paulo Guanabara. Rio de Janeiro: Record, 2004.

TIBURI, Marcia; CASARA, Rubens. Ódio à inteligência: sobre o antiintelectualismo. Revista CULT [online]. São Paulo: Editora Bregantini, 2016. Disponível em: http: /  / revistacult.uol.com.br / home / 2016 / 10 / 50931 / . Acesso em: 08 dez. 2016.

Laura de Oliveira –  Doutora UFBA.

Ricardo Benevides – Doutor UERJ.

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Imprensa no Brasil  / Escritas / 2015

A Escritas: Revista do Curso de História da Universidade Federal do Tocantins (UFT), campus de Araguaína, apresenta nesta edição o Dossiê Imprensa no Brasil, que possui nove interessantes artigos. No primeiro artigo do Dossiê, Carlos Henrique Ferreira Leite realiza uma reflexão acerca dos periódicos, enquanto fonte e objeto de pesquisa histórica, tendo em vista a produção historiográfica contemporânea.

No segundo, Rodrigo Fialho Silva traz uma discussão historiográfica sobre os autores clássicos que tratam da imprensa no Brasil, destacando os estudos que se debruçaram sobre a província de Minas Gerais. O terceiro artigo, de Leandro Climaco Almeida de Melo Mendonça, analisa-se a imprensa carioca entre 1880 e 1940, retratando como produtores e leitores de textos impressos estamparam suas marcas e experiências de vida nos periódicos desse período. Na sequência, Cláudio Amaral Overné apresenta um estudo sobre a Revista Nacional (1921-1923), impresso pedagógico, que tinha à frente o redator Lourenço Filho. Leia Mais

História Indígena: terra, conflitos e perspectivas  / Escritas / 2015

A Escritas: Revista do Curso de História da Universidade Federal do Tocantins, Câmpus de Araguaína apresenta aos leitores, neste número, o Dossiê História Indígena: terra, conflitos e perspectivas, composto de oito artigos, que tratam a questão indígena em diferentes espaços, épocas e perspectivas analíticas. No primeiro artigo do Dossiê, Solon Natalício Araújo dos Santos investiga o papel dos Payayá e de outras etnias indígenas na chamada “Guerra dos Bárbaros”, ocorridas nos sertões da Capitania da Bahia no século XVII. No segundo artigo, Renata Ferreira de Oliveira trata dos discursos e narrativas acerca da posse das terras indígenas da Batalha, em Vitória da Conquista na Bahia, destacando tanto os relatos documentais quanto os relatos orais dos atuais moradores dessa região. Bruno Miranda Braga analisa os documentos que registram a presença de indígenas inseridos nas sociabilidades da Cidade de Manaus no segundo quartel do século XIX. Na sequência, Ana Cláudia de Souza Ferreira analisa os direitos territoriais indígenas presentes na legislação do Brasil Império, destacando o caso da Aldeia de Itaguaí, que se localizava no Rio de Janeiro. Noêmia Santos Pereira Moura e Edmundo Pires estudam o processo de territorialização Terena na Comunidade de Aldeinha, (1933 a 1984), em Mato Grosso do Sul, baseando-se em relatos escritos e orais. Dhiogo Rezende Gomes analisa os livros didáticos do 3º ano o Ensino Médio, retratando os limites da aplicação da lei que obriga os currículos e as escolas a trabalharem a história e cultura indígenas na educação básica. Sergio Luiz Marlow e Rosani Muniz Marlow, baseando-se um Michel Foucault, abordam a forma como as notícias do Jornal A Tribuna, do Estado do Espírito Santo, no ano de 2014, trataram da causa indígena na atualidade. Rogério Sávio Link aborda as representações que o Handbook of South American Indians faz sobre o povo indígena Apurinã em seus “seis volumes”, que foram produzidos na primeira metade do século XX e início da segunda metade.

Apresentamos, também, na seção livre, mais seis artigos com temas diversificados. Gustavo Balbueno de Almeida discute a criação do cargo de juiz de fora em Vila Bela da Santíssima Trindade, capital da capitania do Mato Grosso, em 1752. Arthur Ferreira Reis estuda a apropriação do pensamento econômico de autores franceses radicados no Brasil, durante o Primeiro Reinado, tendo como base os jornais O Spectador Brasileiro e O Verdadeiro Liberal. Daniel Dutra Coelho Braga investiga os significados políticos das medidas tomadas pela Marinha francesa, durante a Restauração Bourbon, especialmente no que se refere à retomada da tradição de grandes viagens científicas. Geane Bezerra Cavalcanti trata da ocupação urbana na cidade do Recife, nas décadas de 1930 e 1940, que era habitada por várias famílias pobres. Pedro Marcos Mansour Andes analisa as imagens que se construíram de Manaus durante o período da chamada “estagnação econômica da região”, discutindo as demandas da cidade no período de 1945-1967. Por fim, finalizando esta seção, temos o artigo de Leandro Mendonça Barbosa que fala das narrativas míticas gregas, buscando relacionar a questão da autoctonia com imaginário religioso do mundo antigo.

A todos que nos agraciarem com a consulta e leitura desse número, uma boa leitura.

Os Editores

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História e cultura política  / Escritas / 2014

Nesta Edição a Revista Escritas está disponibilizando ao público leitor o Dossiê História e Cultura Política, que reúne oito artigos tratando dos diversos aspectos dessa instigante temática que, especialmente após a década de 1980, tem chamado atenção dos pesquisadores que investigam o campo político. No texto A Cultura Política do Associativismo: o Club Rio Contense, Simone Ramos Marinho analisa a sociabilidade de uma sociedade literária e recreativa localizada na cidade de Rio de Contas (BA), destacando a importância dessa associação para a difusão da cultura política nacional no início do século XX. O artigo Da História Política à História Filosófica do Político: uma maneira de pensar a história mediante a proposta de Pierre Rosanvallon, Pedro Paulo Lima Barbosa estuda o fazer histórico, enfocando a proposta de Rosanvallon de entender o social por meio da política. Em Cenas de um Anticomunista: as representações das esquerdas brasileiras em Nelson Rodrigues (1967-1974), Carolina Bezerra Machado, tendo como recorte temporal os anos de 1967 a 1974, usa o conceito de cultura política para compreender as apropriações e representações das crônicas de Nelson Rodrigues escritas para o Jornal O Globo no período militar. No texto Música popular e engajamento nos anos 60: cultura política nas trajetórias artísticas de Violeta Parra, Mercedes Sosa e Elis Regina, Andrea Beatriz Wozniak-Giménez analisa as trajetórias e as respectivas culturas políticas dessas três cantoras, buscando apontar a relação entre arte musical e utopia de transformação social. No artigo Cultura Política no Paraguai: a herança do governo de Francia e dos López, Graziano Uchôa traça considerações sobre a forma como os governos de José Gaspar Rodriguez de Francia (1811-1840), Carlos Antonio López (1844-1862) e Francisco Solano López (1862-1870) contribuíram para a formação de certa cultura política no Paraguai, que valoriza a constituição de um Estado forte, centralizado e militarizado. Com o tema Partidos, eleições e poder local: análise das trajetórias eleitorais do PTB e do MDB em Canoas / RS (1947-1976), Douglas Souza Angeli aborda as eleições realizadas entre 1947 e 1976 em Canoas / RS, apontando a relação entre aumento demográfico, formação do eleitorado e trabalhismo. Em Palimpsesto Antissemita: desconstruindo o Plano Cohen, Elynaldo Gonçalves Dantas, tomando como parâmetro o arcabouço teórico derridiano, investiga a produção do Plano Cohen e demonstra a forma como esse texto está relacionado ao pensamento antissemita moderno. Em Partido Comunista Brasileiro e Partido Comunista do Brasil: meio século de disputa pela memória comunista, Patricia Sposito Mechi aborda a cisão do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ocorrida em 1962, devido a disputa ideológica que se instalou em suas fileiras desde a divulgação da Declaração de Março de 1958, que trouxe uma nova orientação política resultante do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, realizado em 1956.

Além dos artigos do Dossiê, supracitados, estamos publicando também mais seis artigos de temas livres. No artigo A igreja católica e os mecanismos de atuação no meio rural brasileiro (1955-1964), Bruna Marques Cabral investiga as estratégias políticas elaboradas pela Igreja Católica, para manter a sua hegemonia no meio rural brasileiro, entre 1955-1964, tendo como base os discursos dos intelectuais católicos brasileiros. O texto intitulado Do Espírito do Cristianismo: uma abordagem sobre o movimento que nasceu revolucionário e questões de relações cotidianas, os autores Diná da Silva Branchini e João Batista Ribeiro Santos discutem a historicidade e os rumos do cristianismo no Ocidente, bem como o movimento do Jesus Histórico. Em Apostolado da Boa Imprensa: contribuições das Filhas de Maria na imprensa católica (Pernambuco, 1902-1922), Walter Valdevino do Amaral, respaldando-se nas teorias de Michel Foucault, aborda a importância da imprensa e a contribuição das Filhas de Maria como propagadoras de algumas normas da Igreja Católica para a sociedade pernambucana, especialmente para o público feminino. Versando viagens e Sertões: sensibilidade romântica nas primeiras impressões de Euclides da Cunha, Nathália Sanglard de Almeida Nogueira aborda a trajetória intelectual de Euclides da Cunha e analisa a sensibilidade romântica presente na produção poética desse escritor. Com o sugestivo título Vamos comer Nietzsche: a recepção do pensamento nietzschiano na literatura brasileira até 1940, Antonio Vinicius Lomeu T. Barroso discute a forma como diversos grupos de intelectuais brasileiros (simbolistas, pré-modernistas e modernistas) se apropriaram do pensamento nietzschiano para pensar a questão do moderno no Brasil no início do século XX. O artigo Disputa Literária e Circulação de Ideias em Portugal a partir da obra O Filósofo Solitário (1786-1787), Rossana Agostinho Nunes pesquisa as várias apropriações e repercussão livro anônimo O filósofo solitário no mundo ibérico, especialmente em Portugal, fazendo uma discussão sobre a forma de circulação das ideias na Europa setecentista.

Para finalizar, publicamos a resenha de Luiz Felipe Batista Genú da obra de Erinaldo Cavalcanti, intitulado Relatos do Medo: A ameaça comunista em Pernambuco (Garanhuns – 1958-1964). Embora tenha um recorte local, a presente produção contribui para compreendermos a conjuntura política que antecedeu e favoreceu o golpe civil-militar de 1964 no Brasil. Esperamos que o público leitor faça um excelente proveito dessas importantes contribuições históricas que a Revista Escritas apresenta nessa Edição. Boa leitura.

Os Editores.

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Democracia e cidadania  / Escritas / 2013

A democracia e a cidadania são conceitos que remontam ao período da antiguidade e, desde então, estão sendo constantemente redimensionados, tanto no campo da produção intelectual quanto no campo das práticas políticas e sociais, de acordo com as novas experiências e expectativas dos sujeitos históricos. Notadamente, porém, esses dois temas emergiram como ideias-força, sobretudo, após a Segunda Guerra Mundial. Com a crise dos regimes autoritários na Europa e na América Latina, a sociedade civil organizada, cada vez mais, passou a demandar o fortalecimento das instituições democráticas, a redução das desigualdades sociais e a garantia dos direitos humanos. Partindo dessas considerações, com o dossiê Democracia e cidadania a Revista Escritas do Colegiado de História da UFT (Araguaína) em seu Vol. 5, n.1 apresenta, de início, dois artigos que versam sobre a imprensa. Jordana Caliri estuda a imprensa na cidade de Manaus na passagem do século XIX para o XX. Especial destaque, aqui, para o tema da modernização, já que estamos em pleno boom da borracha que condiciona a emergência de uma elite “modernizadora” na região. O outro artigo, de Eleni Lechinski, analisa os periódicos da Metalúrgica Duque-Joinville e localiza o discurso maternalista. Nesse universo discursivo, procura-se configurar novos sujeitos, inseridos nesse ambiente fabril.

Posteriormente, temos três artigos que se situam no contexto histórico do Regime Militar brasileiro. O primeiro de Rita de C. S. Lucas e Charles Sidarta M. Domingos, aborda a presença (de forma alegórica) do Regime Militar em duas obras do escritor Josué Guimarães; o outro, de Cristopher S. Alves, estuda as diversas concepções de democracia no periódico Jornal do Brasil no momento precedente ao golpe de 1964. Aqui, estamos em pleno governo de João Goulart, onde se verifica a polarização das forças políticas. Finalmente, o artigo de Priscila O. Pereira que estuda o direito ao voto do analfabeto em alguns jornais piauienses nos anos 1964 e 1965.

Finalizando o dossiê, temos o artigo de Vilson C. Schenato que apresentanos um amplo quadro da democracia no Brasil em seu aspecto histórico. Schenato destaca a herança autoritária da cultura política brasileira, bem como o início de uma nova era democrática com a Constituição de 1988.

Na Seção Livre, apresentamos o artigo de Ronaldo Q. de Morais que estuda o discurso historiográfico de cunho militar. O autor investiga a reação dessa forma específica de discurso ante os novos “paradigmas” da historiografia contemporânea, principalmente o de origem francesa. O artigo de Vera L. Caixeta que realiza uma ampla investigação sobre a prática religiosa dos dominicanos franceses na diocese de Goiás em fins do século XIX. A autora reconstrói a tentativa desses religiosos de reformar as práticas cotidianas (e crenças) da população da região.

O atual volume conta com duas resenhas. Numa, Dagmar Manieri faz um balanço sobre os avanços dos estudos biográficos shakespearianos na obra Como Shakespeare se tornou Shakespeare, de Stephen Greenblatt. Em outra, Raylinn B. da Silva procura inserir a obra Fiel é a palavra: leituras históricas dos evangélicos protestantes no Brasil, dos autores Elizete da Silva, Lyndon de A. Santos e Vasni de Almeida, no conjunto dos estudos sobre as igrejas protestantes reformadas no Brasil.

Com essa Apresentação, esperamos que o leitor sinta-se motivado a pesquisar em nossa Revista. Que tenha uma boa leitura.

Os Editores.

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História e Literatura  / Escritas / 2013

Na presente edição, disponibilizamos aos leitores (as) da Revista Escritas um dossiê sobre História e Literatura, que reúne seis textos de diversos pesquisadores que abordam essa temática em foco sob diferentes perspectivas teóricas e metodológicas. O artigo de Poliana dos Santos, A des(ordem) na ficção clariceana: Rodrigo S.M. na contramão da história, analisa o romance A hora da estrela como uma representação simbólica do regime militar brasileiro. Em Jogos de espaços: produção de alteridade e identidades espaciais no discurso literário de José Lins do Rego, Diego J.F. Freire discute a forma como a representação da cidade do Recife contribuiu para a descrição do engenho Santa Rosa presente no romance O moleque Ricardo (1935), escrito pelo paraibano José Lins do Rego. No texto Histórias de Manaus: entre memórias e literatura, Leno J. B. Souza investiga a relação entre história, memória e literatura ressaltando a importância da fonte literária para a compreensão da realidade social. A autora Melissa R. T. Mendes, em História, literatura e gênero: possíveis usos a partir de Úrsula, de Maria Firmina dos Reis trata das relações de gênero na primeira metade do século XIX, apontado como essa questão está presente nas representações literárias dessa época. O artigo de Maurício F. dos Santos, Um olhar sobre a pobreza de Teresina a partir do romance “Palha de arroz”, de Fontes Ibiapina, investiga a narrativa literária do escritor piauiense João Nonon de Moura Fontes Ibiapina, com a finalidade de refletir sobre as relações sociais e o cotidiano nos bairros periféricos da capital do Piauí, nas décadas de 1940 e 1950. Finalizando o dossiê, Valéria da S. Medeiros em História e literatura: o assassinato de Roger Ackroyd, de Agatha Christie na representação sincrônica de 1926 de Hans Ulrich Gumbrecht discute o critério de verdade, a partir da mudança de foco narrativo operada no romance de enigma da escritora britânica Agatha Christie.

Na seção de artigos livres, reunimos quatro textos. O artigo de César H. G. e Sousa, A narrativa histórica: revelação e engano, utiliza-se da teoria do conhecimento de Johannes Hessen para delimitar o lugar epistemológico em que se inserem as abordagens historiográficas de autores clássicos como Leopold Von Ranke, Hayden White, Roland Barthes, Paul Ricoeur, Michel de Certeau e Michel Foucault. Já Leandro J. C. Gonçalves em Uma apresentação sobre os conceitos de revolução militar e revolução em assuntos militares faz uma análise conceitual, contextualiza a origem dos termos Military Revolution e Revolution in Military Affairs utilizados pelos especialistas nessa temática. O texto de Felipe A. Cazetta, O passado liberal de um chefe de milícias: a trajetória intelectual de Gustavo Barros, traz a lume um pouco da biografia e o pensamento desse membro da Ação Integralista Brasileira. Finalizando a Seção Livre, Raylinnn B. da Silva em Os santos da igreja e os santos do povo – uma perspectiva histórica sobre como eles “nascem”: estudo de alguns casos aborda o processo de constituição dos santos na sociedade ocidental católica, tendo em vista a forma como o imaginário religioso popular contribui para o reconhecimento da ideia de santidade.

Na seção de resenhas, divulgamos para o público leitor a análise de Ivia Minelli da obra do escritor argentino Dardo Scavino, Rebeldes y confabulados: narraciones de la política argentina (2012). Também a apresentação da obra do cientista político brasileiro Jairo Nicolau, intitulado Eleições no Brasil: do Império aos dias atuais (2012), por Martha Victor Vieira.

Contamos ainda nesta edição com uma interessante entrevista com o renomado historiador e filósofo José Carlos Reis (UFMG).

Esperamos que todos (as) apreciem os artigos e tenham uma produtiva leitura.

Os Editores

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Ensino de História: teorias e práticas  / Escritas / 2012

Está superada a compreensão tradicional de que a área de História pode ser dividida entre aqueles que pesquisam e aqueles que a ensinam. Mais superada ainda está a velha ideia de que o profissional da área se forma a partir de uma “história pura”, deixando do lado de fora do labor do historiador o ato de ensinar o que se pesquisa. A História refletida em bases teóricas e epistemológicas não pode ser desprovida de uma didática. Logo, o ato de ensinar História é parte constitutiva do trabalho do profissional de História. Aprender, descrever, compreender, comparar e relacionar as práticas e as didáticas de uma sala de aula, seja no Ensino Superior, seja na Educação Básica, são condições mínimas de existência e sobrevivência da disciplina História. Se não se sabe como se aprende e como se ensina História, os debates necessários envolvendo questões do campo das teorias e dos métodos históricos se tornam inócuos, sem lugar de experiências, sem possibilidade de retorno. É nessa perspectiva que apresentamos o IV Volume da Escritas, Revista do Colegiado de História da Universidade Federal do Tocantins – UFT, Campus de Araguaína. Como tem sido prática da revista, dividimos o volume entre um dossiê, voltado para o ensino e aprendizado em História e uma seção livre.

Em um momento em que o ensino de história parece se inserir definitivamente no campo de interesse de historiadores e, por conseguinte, dos programas de pós-graduação em História, em que se enfatiza a importância estratégica do ensino, da aprendizagem e da relação produção e reprodução do conhecimento histórico, o dossiê do presente volume busca reunir trabalhos que reflitam sobre as teorias, métodos e práticas relativas às políticas de ensino; à formação do professor; às articulações entre conhecimento acadêmico e conhecimento escolar; aos meios de produção e difusão do conhecimento histórico; às relações de poder envolvendo as questões do ensino. Busca também contribuir para a consolidação do ensino de história como objeto de análise e crítica histórica com base na compreensão de que pesquisa e ensino se completam e, em igual medida, contribuem para a formação de cidadãos capazes de se posicionarem criticamente em relação à produção social da história, da memória e das identidades.

É com essa preocupação que o artigo Ensino de História e Identidade Nacional no Brasil, de Leonardo N. Bourguignon, traz a baila como o Ensino de História foi utilizado enquanto ferramenta importante na construção da identidade nacional nos séculos XIX e XX. Nessa linha de pensamento, Jacqueline A. M. Zarbato, em Ensino de História, Diversidade Cultural e Currículo, apresenta reflexões significativas acerca do currículo escolar das práticas de ensino na constituição de uma sociedade marcada pela diversidade.

Um profícuo debate sobre a ação docente e o Ensino de História é proposto nesse dossiê. Nesse sentido, Norma L. da Silva, em O lugar do Ensino de História no espaço acadêmico: os desafios de uma área de fronteira analisa o distanciamento existente entre a produção acadêmica e o Ensino de História, buscando-se refletir sobre as razões pelas quais os temas ligados à educação em geral e ao ensino de História, em particular, não têm estado no foco das atenções dos profissionais da História. Esse debate também está proposto em Perspectivas da Educação Histórica na visão de professores: narrativas como expressão do pensamento histórico e possibilidades de humanismo no horizonte de transformações, de Thiago A. D. de Oliveira, artigo no qual o autor procura “identificar como os professores entendem e detectam a aprendizagem histórica”.

Quanto às abordagens sobre teorias e métodos nas práticas de Ensino de História em sala de aula, temos dois relevantes textos. No primeiro, O uso do cinema no Ensino de História: propostas recorrentes, dimensões teóricas e perspectivas da Educação Histórica, Éder C. de Souza evidencia as questões teóricas e os caminhos de investigação em aberto quando se trata das reflexões sobre a relação entre cinema, conhecimento histórico e Ensino de História. No segundo, Bruna M. V. Roriz, Henrique R. de P. Goulart, Thaís L. Junqueira e Luiz C. Villalta, em História, Cinema e Escola: três experiências de ensino, relatam experiências de ensino realizadas em escolas da rede pública de Belo Horizonte, utilizando, para tanto, a exposição do filme Harry Potter e a Pedra Filosofal. Os conflitos envolvendo infraestrutura escolar, formação de professores e relações de poderes emergem nessa significativa abordagem.

O artigo Educação e novos paradigmas: os caminhos da aprendizagem no século XXI, de Ana B. C. Baiocchi e Douglas S. dos Santos fecham o dossiê. Nele, os autores apresentam um importante debate sobre os parâmetros hegemônicos da educação na atualidade “tendo em vista a flexibilização de visões e conceitos imprescindíveis às próprias teorias educacionais”.

A seção livre traz o artigo A problemática do ensino, formação e instrução da Polícia Militar no Norte de Goiás (1930-1964), no qual Mariseti C. S. Lunckes informa que, após o movimento de 1930, as legislações aprovadas impuseram, por parte do Estado brasileiro, um controle sobre as polícias estaduais e a exigência de instrução e formação de policiais profissionais e alfabetizados executadas pelos departamentos de instrução militar. A autora busca apresentar a efetivação dos projetos de formação e instrução da Polícia Militar no norte de Goiás. Finalizando o volume, temos a resenha do livro Ensino de História e Games: o uso de jogos digitais na aprendizagem de História, elaboradas por Caroline A. M. Alamino e Lara R. Pereira, na qual se esclarece o que a obra tem a contribuir quando se trata de ensinar História em sala de aula.

Os editores

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Territorialidades, fronteiras e identidades na Amazônia legal / Escritas / 2010

Discutir a penetração, a colonização e o estabelecimento de fronteiras no Brasil é extremamente complexo, mas esta é a proposta desse Volume 2. A revista Escritas vai consolidando uma posição inovadora: trazer ao público uma coletânea heterogênea e representativa das pesquisas que estão sendo produzidas em todo pais sobre temas instigantes. Apesar da heterogeneidade há pontos de convergência e unicidade. Convergência não somente na temática no caso de Dossiê, mas também nas preocupações com os grupos sociais que penetraram lentamente nos recônditos mais distantes do Brasil.

Confluem em ritmos temporais que vão do século XVIII ao XX, nas preocupações do Estado em ocupar e governar o território continental do nosso país. Também manifesta unidade ao discutir as condições de vivência e sobrevivência das populações de fronteira, com a qualidade de vida desses povos fronteiriços, ainda na preocupação do Estado em constituir uma nacionalidade, uma cidadania brasileira. Essas discussões são indissociáveis – colonização, migração, disputadas interétnicas, confrontos político-partidários, identidade, nacionalidade e fronteiras. Elas fazem parte da construção da sociedade do Estado brasileiro desde o período colonial.

Há outras convergências. As fontes utilizadas pelos autores para a composição da Revista são variadas, mais há algumas que são comuns: jornais, entrevistas, atas das câmaras municipais, documentos escritos e orais, documentos formais e informais.

O Dossiê traz estudos fascinantes como o texto de João Bosco da Silva, Cotidiano de Ameríndios em Região de Fronteira no Final do Setecentos. O de André Luís dos Santos Freitas São José do Rio Negro e as Relações de Poder na Constituição do Império do Brasil – a Subtração de uma província analisa a complexa integração de São Jose do Rio Negro, na região amazônica, ao território brasileiro no período Imperial. O de Edson Machado Brito Clevelândia do Norte estuda a formação de um aldeamento indígena no Oiapoque, nos limites com a Guiana Francesa. Idelma Santiago da Silva em Migração como o mito fundador e outras metáforas: narrativas da colonização do sudeste do Pará, discute a migração e ocupação do sudeste do Pará. Seu enfoque concentra-se nas narrativas da colonização maranhense na região, discutindo a (re)invenção de territórios e as lutas sobre a representação de regionalização para compreender a “etinização de migrantes maranhenses”.

A Seção Livre traz ao conhecimento do leitor a discussão sobre a formação indentitária, indissociável, da colonização, penetração e fixação no território brasileiro, reflete sobre a organização político-partidária no Brasil que guardam vínculos com a dominação do território. Merece destaque na discussão sobre a formação da identidade nacional o texto de Loque Arcanjo Junior As Representações da Nacionalidade Musical nas Bachianas Brasileiras de Heitor Villa-Lobos, que funde história, música e literatura para compreender o ethos brasileiro. O texto estimulante de Priscila Dorella Obstáculos à Constituição de uma de uma Identidade Latino-americana no Brasil, em Sílvio Júlio de Albuquerque Lima discute o pensamento de Sílvio Júlio de Albuquerque Lima, com relação à integração dos países hispano-americanos.

Não é possível ficar indiferente ao texto de André Fertig Valentes vingadores da honra nacional que discute a atuação das guardas nacionais no Rio Grande do Sul oitocentistas durante a fase de consolidação do Estado brasileiro entre 1820 e 1840. No texto A Politica Tributária de Caio Prado Jr. na Constituinte Paulista Renata Bastos mostra uma faceta de atuação do Deputado constituinte Caio Prado Jr. na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em 1947.

A análise historiográfica de Charles Sidarta Domingos no artigo A história da historia do fim do governo João Goulart, demonstra a importância de Goulart na formação do PTB. No texto de Arilson dos Santos Gomes Os partidos políticos e o Congresso Nacional Negro de Porto Alegre sinaliza que os partidos na época de Goulart se preocupavam intensamente com a ocupação da terra bem como sua distribuição social entre os membros da sociedade – brancos, negros e indígenas – em busca de uma sociedade justa e igualitária. Como se percebe a Seção Livre da Revista Escritas está repleta de estudos motivadores para o conhecimento da realidade econômica, político e social do Brasil. Fecha a Seção Livre as considerações de Luís Eduardo Bovolato sobre o saneamento básico e saúde na atualidade.

Compõe ainda esse Volume 2 a resenha crítica de Dagmar Manieri sobre a recente publicação do pesquisador Marcos E. de Araújo Clemente do Colegiado de História de Araguaína. Manieri oferece uma análise complexa e heterogênea da obra Lampiões acesos: o cangaço na memoria coletiva.

Creio que a Revista está recheada de questões, problemas, fontes e temas importantes para a compreensão dos Brasis com suas múltiplas fronteiras, territórios e identidades. Vale a pena ler a Revista Escritas desse ano. Boa leitura.

O Editor

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Políticas – Práticas e representações / Escritas / 2008

É com satisfação que iniciamos uma grande aventura editorial com a publicação da Revista Escritas, publicação do curso de Historia (UFT) do campus de Araguaína. Publicar uma revista requer esforço, coragem e dedicação, com o objetivo de difundir e vulgarizar o conhecimento cientifico. Isto deve ser o fruto da diligencia e da dedicação de pesquisadores empenhados em resolver ou apontar alternativas aos problemas vividos pela humanidade, tanto na dimensão do passado quanto no presente.

A presente Edição cobre um campo fundamental de conhecimento e saberes para o entendimento do mundo moderno ou – como querem alguns – contemporâneo: o da teoria e prática políticas. Assim, organizamos o primeiro número da revista em um Dossiê com pluralidade temática e enfoques teóricos e metodológicos diversificados. Contudo, não houve pretensão de esgotar o tema; como todos sabem, uma revista opera através de seleções, depuramentos e escolhas. Nesta primeira Edição, contemplamos também uma seção com artigos livres, ou melhor, que se vinculam indiretamente à temática do Dossiê. Nesta seção há também uma pluralidade temática, de objetos e de aspectos teórico-metodológicos.

Os autores e autoras utilizam como aporte de suas pesquisas a literatura, o romance, os dados de pesquisas e propagandas eleitorais, documentos sobre a lei de terras no Brasil; analisaram, também, os aspectos teóricos das correntes marxianas e da Nova Historia. Enfim, vagaram pela historia das ideias e das práticas políticas, discutiram os grupos sociais que influenciam e / ou influenciaram a sociedade na Idade Média, no Brasil Império e no transcurso da República; procuraram interpretar a história política a partir de processos e personagens. O Dossiê apresenta-se enriquecido sob diversos matizes, como o artigo de Flavia Aparecida Amaral Linhagem, território e memoria na Idade Media: o exemplo do Romance Mellusina ou então o texto de Charles Sidarta Machado Domingos A politica externa independente do governo João Goulart onde o autor procura demonstrar que a política empreendida pelo então presidente Joao Goulart acirrou as tensões existentes no Brasil nos anos 1960, no contexto da Guerra Fria.

Estes são dois exemplos da heterogeneidade e pluralismo que marcaram o primeiro Dossiê; porém, há um forte vínculo que unifica esses trabalhos, a saber: todos se orientam no sentido de aprofundar uma discussão sobre o poder político. O material utilizado pelos autores apresenta-se também variado e complexo: registros de jornais, romances históricos, obras historiográficas como aquelas analisadas no artigo instigante e filosófico de Marcos Baccega que trata de perscrutar os contornos do imaginário e do fetiche na obra de Karl Marx, O Capital. Ou, brilhante ensaio – quase autobiográfico – de Jose D’Assunção Barros “Historia Política: dos objetos tradicionais ao estudo dos micropoderes, do discurso e do imaginário” que procura discutir a relação entre o discurso e imagem e suas potencialidades inerentes ao poder. Não poderíamos deixar de destacar a análise feita por Cristiano Luís Christillino sobre as lutas das facções políticas de elite da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul em torno da famosa Lei de Terras de 1850 no Brasil. Heterogêneos e plurais esses artigos expressam a variedade da produção historiográfica sobre o tema do Dossiê.

Os artigos livres revelam essa heterogeneidade e pluralismo de ideias, de temas, objetos e fontes. Os temas variam de aspectos religiosos como o tratado no artigo de Regina Célia Lima Caleiro e Frederico Alves Mota, como o tratado no texto de Alessandro de Almeida e Girlânio Gomes Corrêa sobre o romance e filme “Revolução dos Bichos” que discute a produção e circulação midiática desses produtos culturais; temos uma forte reflexão feita por Arilson dos Santos Gomes sobre o Primeiro Congresso Nacional do Negro ocorrido em Porto Alegre em 1958. Tal tema mostra o engajamento dos movimentos sociais negros no Brasil e, particularmente, no sul do país na primeira metade do século XX, tema sumamente importante para compreender assuntos como as ações afirmativas do movimento negro atual e, diversas temáticas relacionadas às lutas por igualdade política e social no país.

O tema da identidade retorna na Seção Livre da revista Escritas no artigo da professora Imgart Grützmann “A mágica flor azul: canções, romantismo, nostalgia e continuidade no germanismo” onde a autora se vale da literatura e de todo um aparato cultural para compreender a construção e consolidação dos laços étnico-culturais com a Alemanha. Ainda neste artigo, a autora procura mostrar aspectos de continuidade cultural entre o Brasil e a nação de origem dos germânicos residentes no Rio Grande do Sul, especialmente a partir da análise de jornais. Acultura romana desponta no excelente e novíssimo tema trabalhado por Daniel Barbo “O Homoerotismo e a cultura política falocêntrica na Atenas Clássica.”, em que o autor discute os processos de dominação da cultura masculina, levanta as principais características de uma cultura política no mundo clássico, sobretudo, analisa aspectos pouco destacados na tradição acadêmica que se debruça sobre história política da Grécia antiga.

O que se nota nessa primeira Edição da revista Escritas é que a política e seus desdobramentos foram amplamente inquiridos pelos autores a partir de um espectro vasto no tempo e no espaço. O ecletismo que essa Edição apresenta é marca do vigor da produção acadêmica e historiográfica sobre o tema. Outro lado importante que a publicação revela é que há muitos mitos, preconceitos e caminhos que precisam ser trilhados para superar uma visão uniforme e monolítica da política. Os artigos apontam para a necessidade de mais investigações e novas abordagens do universo da política superando uma visão institucionalizada e centralizada nas instituições e órgãos do Estado, e mesmo de instituições e grupos políticos partidários e sindicais da sociedade civil, ou seja, a política possui várias facetas e dimensões ainda passiveis de explorações e fascinantes descobertas. Boa leitura.

O Editor

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Escritas | UFT | 2008

ESCRITAS UFT Amazônidas

A Escritas (Araguaína, 2008-) é uma publicação on-line vinculada ao Curso de História da Universidade Federal do Tocantins (UFT), campus de Araguaína. Criada em 2008, a Escritas teve os seus dois primeiros números anuais publicados em versão impressa. Desde 2013, a Escritas passou a ser semestral. A meta  da Revista é a divulgação da produção de historiadores, e demais profissionais das áreas afins, que investigam temas relacionados às ações e representações humanas no tempo e no espaço. Recebemos submissões de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, que abordem temas relativos aos campos teórico, educacional, histórico e historiográfico.

A Escritas é um periódico semestral, de publicação on-line,  cuja missão é veicular a produção, a inovação e a transformação do conhecimento, especifico e pedagógico, na área de História e áreas afins,  e promover pesquisas que utilizam metodologias, teorias, fontes, práticas, objetos, temas e problemas que tratam, prioritariamente, da inserção do homem nos espaços-temporais globais, regionais e locais. A Escritas publica artigos, resenhas, conferências, traduções e ensaios, desde que expressem relevância e profundidade de análise e interpretação históricas.

Periodicidade semestral

Acesso livre [Coletar 2008-2014]

ISSN 2238-7188

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