Ética em pesquisa em contextos educativos | Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais | 2017

Ética em pesquisa em contextos educativos: problematizações luso-brasileiras

O dossiê “Ética em pesquisa em contextos educativos” teve como objetivo problematizar as questões éticas no cotidiano da produção do conhecimento cientifico, em contextos de educação formal, informal e não formal, envolvendo artefatos culturais, midiáticos e tecnológicos. Provocados por algumas perguntas norteadoras, os autores brasileiros e portugueses problematizaram a produção do conhecimento cientifico tendo a ética em pesquisa como eixo central das discussões. No Brasil, esta problemática vem produzindo interlocuções e tomadas de posições, como no caso das resoluções sobre ética em pesquisa (Resolução 466/12 e Resolução 310/16 do CNS) e nos trabalhos de investigação envolvendo sujeitos de diferentes idades. Em Portugal, a temática também vem sendo foco da atenção de pesquisadores, dentre os quais podemos citar aqueles que pesquisa com crianças ou que realizam investigações em contextos digitais.

Neste sentido, as produções procuram apresentar contributos para alimentar o debate no que se refere aos aspectos teórico-metodológicos, em torno de pelo menos uma das questões sobre ética em pesquisa em educação. A seguir apresentamos as questões presentes no dossiê e os artigos que se propõem a discuti-las.

A primeira questão que trazemos para ser discutida, se refere ao modo por meio do qual a ética em pesquisa dialoga com a produção do conhecimento cientifico em educação. Para contribuir com esta discussão, apresentamos o trabalho de Reginaldo dos Santos Oliveira, intitulado “Quando a técnica é a singularidade, a dança descobre a ética”. A partir da perspectiva de Rudolf Laban, o autor problematiza o termo técnica abordando a dança na escola e vinculando ética, educação e técnica.

A segunda questão que apresentamos se refere ao modo como a ética transversaliza a produção de dados científicos. Para circunscrever esta questão, Velda Gama Alves Torres e Lynn Rosalina Gama Alves problematizam a integridade ética na produção da pesquisa no artigo intitulado “A responsabilidade ética na pesquisa nas ciências humanas e sociais: uma reflexão sob a perspectiva da integridade na comunidade cientifica”. Para as autoras, a ética é aspecto constituinte do escopo metodológico, revelando a íntima articulação entre os dois processos de pesquisa. Além disso, apresentam o plágio e a má conduta cientifica como problemas e, na sequência, discorrem a respeito das resoluções brasileiras em vigor sobre ética em pesquisa com seres humanos.

O artigo “Questões éticas subjacentes ao trabalho de investigação”, de autoria de Eduardo Duque e António Calheiros, também dialoga com a questão da transversalização da ética na produção de dados científicos na medida em que foca o processo e a aplicação da investigação salientando as condições necessárias à integridade tanto do investigador como da ciência, bem como a responsabilidade social do próprio investigador cuja pesquisa deve ser pautada pelos valores da liberdade, da segurança individual, da diversidade, da equidade e da solidariedade (sic).

A terceira questão está relacionada ao modo como a criança pode deixar de ser apenas objeto da pesquisa e passar a ser sujeito dessa pesquisa. Para responder a esta provocação, Rita Brito Patrícia Dias instauram posições sobre a participação ativa de crianças em pesquisas. O artigo intitulado “A participação ética de crianças com menos de oito anos em investigação qualitativa”, apresenta estratégias para respeitar as crianças em pesquisas, articulando o eixo metodológico com a ética na produção da pesquisa.

Na sequência, Teresa Sofia Castro contribuiu para a reflexão a respeito da participação das crianças, ao reconhecê-las como atores sociais em seu artigo intitulado “Research, children an ethics: an ongoing dialogue”. Nele, a autora aponta os cuidados éticos a partir da realização de uma pesquisa qualitativa, enfocando aspectos tais como: acesso às crianças; proteção da privacidade e confidencialidade das crianças; equilibrando o poder na relação adulto-criança; construção de laços de confiança e entrar no espaço das crianças.

A quarta questão se refere às especificidades da pesquisa online. Quais os cuidados a ter, as técnicas de coleta de dados a usar e as estratégias quantitativas e qualitativas adequadas à análise são algumas problematizações que nos mobilizam neste dossiê. Contribuições para a reflexão sobre questões nessa direção estão relacionadas ao artigo de Elisabete Pinto da Costa e Antônio Pedro Costa ao apresentarem o artigo intitulado “O trabalho colaborativo apoiado pelas tecnologias: o exemplo da investigação qualitativa”. Nele, os autores apresentam uma discussão sobre a produção do conhecimento cientifico a partir de um viés colaborativo, sendo discuti dos pacotes de software como meio incentivador e facilitador do trabalho de colaboração em rede, trazendo o exemplo do WebQda como software que viabiliza a colaboração na produção do conhecimento cientifico.

A quinta questão que nos mobiliza neste dossiê está relacionada ao modo como a ética dialoga com as escolhas ao fazer pesquisa. Pesquisar com/sobre/em envolve as escolhas do pesquisador e, neste sentido, nos interessa problematizar a respeito dos modos pelos quais a ática dialoga com estes itinerários do pesquisador. No artigo de Alex Sandro Coitinho Sant’Ana, o autor questiona sobre a ética na pesquisa na perspectiva da fenomenologia. “A ética em pesquisa fenomenológica no contexto de atuação de sujeitos educativos envolvidos com a pedagogia social hospitalar” situa o contexto da produção de conhecimento na Pedagogia social hospitalar, articulando o cuidado com os participantes da pesquisa e as dimensões teóricas da fenomenologia.

Também o artigo “Ética, Ciência, Conhecimento e Educação – Dialogar com os termos e voltar a fazer perguntas” problematiza a ética no contexto da ciência, do conhecimento (pesquisa) e da educação e, neste sentido, contribuir para as reflexões concernentes à quinta questão proposta nesse dossiê. O autor, António Camilo Cunha, começa por esclarecer um conjunto de termos/conceitos no âmbito da ética, da ciência, da filosofia e da educação para depois desafiar o(a) leitor(a) a procurar resposta para as inúmeras questões que levanta acerca dos mesmo tópicos.

Por fim, apresentamos o artigo de Daniel de Queiroz Lopes e Eliane Schlemmer que discute a especificidade da cultura digital no campo da educação. Em “Considerações éticas, epistemológicas e metodológicas sobre o fazer pesquisa em educação e cultura digital”, as questões epistemológicas e metodológicas são entrelaçadas com as éticas e são trazidos exemplos de pesquisas realizadas em ambientes educacionais com dispositivos digitais.

Assim, convidamos os leitores a acompanharem as perguntas, respostas, reflexões e problematizações promovidas neste dossiê que teve o interesse de contribuir com o campo da ética em pesquisa em educação. Mais que muitas respostas, esperemos que as reflexões aqui trazidas possam suscitar muitas outras perguntas mobilizadoras de produção de conhecimento cientifico e educação, pautadas nas questões éticas.

Boa leitura


Organizadores

Deise Juliana Francisco – Doutora em Informática na Educação (UFRGS), Professora Associada I da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Membro do Comitê de Ética em Pesquisa da UFAL e Pesquisadora nos temas: saúde mental, processo de subjetivação, tecnologias digitais, informática na educação.

Cleriston Izidro dos Anjos – Doutor em Educação (UFAL), Professor Adjunto da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Pedagogias e Culturas Infantis (CEDU/UFAL) e Membro Colaborador Doutorado do Centro de Investigação em Estudos da Criança da Universidade do Minho (CIEC/Uminho).

Maria Altina Silva Ramos – Doutora em Estudos da Criança/Especialidade Tecnologia Educativa (UMINHO/ Portugal), Professora Auxiliar da Universidade do Minho, Pesquisadora no Centro de Investigação em Educação. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.


Referências desta apresentação

FRANCISCO, Deise Juliana; ANJOS, Cleriston Izidro dos; RAMOS, Maria Altina Silva. Apresentação. Revista EDaPECI – Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais. São Cristóvão, v.17, n. 2, p. 3-6, mai./ago.2017. Acessar publicação original [DR]

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