História da Educação na América Latina: práticas e culturas escolares | Revista Latino-Americana de História | 2016

La escuela, como construcción sociohistorica, es a estos efectos un sintetizador cultural que nasce del entrecruzamiento de la memoria em que se objetiva su cultura material con los rituales que transmiten, perpetúan y gobiernan los procesos de la educación de la educación formal. Bajoel substrato de estas dos mediaciones – unamás física y otra más intangible o inmaterial o inmaterial – se ha ido configurado toda una cultura que se nos manifiesta como realidad empírica (en las prácticas), como campo intelectual (en los discursos) y como dispositivo de regulación de la vida societaria (en las normas). (ESCOLANO BENITO, Agustín. In. MOGARRO, Maria João (org.) Educação e Patrimônio Cultural: Escolas, Objetos e Práticas. Lisboa: Edições Colibri, 2015, p.45)

A reflexão proposta por Augustín Escolano Benito evidencia as escolas como produtos da sociedade, que foram construídos historicamente. Caracterizam-se como instituições singulares, marcadas por itinerários e culturas que lhes são próprias. Desta forma, essas culturas se traduzem em práticas e discursos, por meio dos quais é possível compreender o funcionamento escolar e suas inserções no tecido social.

E é apostando na importância de se pensar a escola em outras temporalidades que temos a satisfação que apresentar o dossiê “História da Educação na América Latina: práticas e culturas escolares”, que se constitui da reunião de onze artigos e uma resenha de pesquisadores latino-americanos, com textos que dialogam e contribuem ao debate acadêmico, refletindo sobre questões histórico-educacionais específicas do Brasil, da Argentina, da Colômbia e do Paraguai, desde o final do século XIX, estendendo-se pelo século XX.

O leitor encontrará resultados de pesquisas em História da Educação que, por meio de diferentes caminhos metodológicos, elegeram como documentos artefatos da cultura escrita, tais como periódicos, livros, legislação, entre outros, bem como narrativas de memória produzidas por meio da metodologia da História Oral. A opção dos organizadores do dossiê foi organizar os textos entre três grandes eixos, de acordo com a proposta geral verificada em cada um dos artigos, a saber: instituições; impressos; e políticas e projetos.

Abrindo o dossiê temático no eixo das instituições, e tendo como lócus da pesquisa o Collegio Americano, Jacqueline Tatiane da Silva Guimarães (Doutora em Educação, Universidade Federal do Pará – UFPA) e Marlucy do Socorro Aragão Sousa (Doutoranda em Educação, UFPA) valem-se das obras Notícia Geral sobre o Collegio Americano (1888) e Educação Nacional (1906) para discutir algumas das concepções do fundador e diretor da referida instituição de ensino, José Veríssimo, sobre as ideias de educação que sustentavam os processos de ensino da criança paraense em fins do século XIX. As autoras discutem as teorias educacionais positivista e evolucionista, marcada pelo higienismo, que teriam influenciado as propostas elaboradas por Veríssimo no que se refere à educação das crianças.

Ilka Miglio Mesquita (Doutora em Educação, Universidade Tiradentes – UNIT) e Rony Rei Nascimento Silva (Mestre em Educação, UNIT), por sua vez, são autores do artigo “O ensino tipicamente rural no estado de Sergipe (1947-1951): entre o prescrito e o vivido”que integra o projeto “Memória Oral da Educação Sergipana”. Trata-se de uma pesquisa que se tem como fonte o depoimento realizado por oito professores representantes de oito regiões do estado de Sergipe, em um recorte temporal que se encontra entre o fim da década de 1940 e início de 1950.

E fechando o eixo sobre instituições, Roberta Barbosa dos Santos (Mestre em Educação, UFRGS) e Doris Bittencourt Almeida (Doutora em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS) trazem resultados de pesquisas que se inscrevem na perspectiva da história das instituições educativas. A trajetória de uma biblioteca escolar é analisada no texto “Entre silêncios e murmúrios: a biblioteca escolar no Colégio Farroupilha (Porto Alegre/RS, 1949-2000)”, em que as autoras procuram compreender os itinerários do “lugar dos livros” e seus possíveis significados para um grupo de estudantes, a partir da análise dos usos e das diferentes apropriações que esses estudantes construíram em relação à biblioteca.

Na sequência, compondo o eixo sobre impressos, estão os artigos de Mayco Bruno Cruz Costa (Especialista em Amazônia, Faculdade Integrada BrasilAmazônia – FIBRA) e Geraldo Magella de Menezes Neto (Doutorando em História, Universidade Federal do Pará – UFPA), “Livros escolares e provas de ‘Portuguez’: formação civilizadora na instrução pública do Pará (1898-1912)” e de Fernanda C. Costa Frazão (Mestre em Educação, Universidade Federal de São João del-Rei- UFSJ), “Autorizações para a circulação feminina na revista Careta: educação para a vida urbana”. O primeiro artigo, tendo como documentos livros e avaliações escolares, analisa conteúdos desenvolto em escolas públicas do Pará, notadamente pelas disciplinas curriculares de Educação Moral e Cívica e “Portuguez” que procuravam legitimar os ideais republicanos para a sociedade brasileira, no fim do século XIX e início do século XX. O segundo discute discursos veiculados sobre educação das mulheres por meio de enunciados propostos pelo periódico de variedades Careta, nas edições publicadas no Rio de Janeiro do período compreendido entre 1914 e 1918.

No terceiro eixo, que reúne artigos sobre políticas e projetos, e na esteira do pensamento de José Veríssimo, o artigo intitulado “Educação e sanitarismo no Brasil, um projeto eugenista realizado”, de Helio José Santos Maia (Doutorando em Educação, Universidade de Brasília – UnB) e Maria Abádia da Silva (Doutora em Educação, UnB), procura estabelecer as bases nas quais emergem os discursos de saúde e educação no Brasil, articulados ao movimento sanitarista, especificamente relacionado às correntes científicas da época, aos ideais da eugenia e o higienismo, entre o final do século XIX e início do século XX.

O artigo de Sandra Milena Fajardo Maldonado (Mestre em Educação, Universidad Pedagógica Nacional – Colômbia) tem como foco a percepção sobre as práticas escolares que se manifestaram nas escolas e colégios militares colombianos na primeira metade do século XX. Intitulado Las prácticas escolares militares en la primera mitad del siglo XX en Colombia y su relación con el discurso de la patria y la moral, o texto de Sandra Maldonado nos oferece uma significativa apresentação das relações entre diferentes discursos, destacando algunas Questões discursivas sobre não somente sobre as práticas de ensino, mas também sobre o corpo docente e sobre a escola como um todo.

Na sequência, temos o artigo “Educação profissional e o ensino superior: das escolas de aprendizes artífices aos institutos federais”, de Fernanda Bartoly Gonçalves de Lima (Doutoranda em Educação, Universidade de Brasília, UnB), que nos oferece um panorama sobre algumas das principais transformações ocorridas nas instituições públicas de educação profissional no Brasil. Caracteriza-se por uma pesquisa realizada principalmente sobre fontes legislativas, apontando para um contexto histórico de políticas públicas peculiar à criação e consolidação de uma educação de conhecimento técnico, voltado especialmente a interesses identificados com projetos de Estado.

Em diálogo com o ensino técnico está também o texto de Mariana Lucia Sosa (Doutoranda em Ciências Sociais, Universidad de Buenos Aires – Argentina), denominado Desarrollo industrial y educación técnica: una estrecha relación. El caso argentino. O texto nos apresenta um cenário possível da história da educação do ensino profissionalizante argentino diante dos diferentes projetos políticos, destacando algumas de suas principais características da década de 1930 até o fim do século XX.

Ainda sobre a história das políticas educacionais latino-americanas, Patricia Simone Roesler (Mestre em Educação, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE) e Paulino José Orso (Doutor em Educação, UNIOESTE) são autores do artigo “A reforma educacional paraguaia de 1994 e a ingerência externa”. O texto se remete ao contexto que deu origem à Lei Geral da Educação 1.264, de 1998, que regula princípios, meios e fins educativos no Paraguai, e que ainda se encontra em vigência na contemporaneidade paraguaia. Os autores consideram as influências exercidas pelos intelectuais da Havard University, que teriam interferido, assim, na soberania nacional da mencionada reforma.

Por fim, “Novos apontamentos sobre o ensino religioso na escola pública paranaense”, de Meiri Cristina Falcioni Malvezzi (Doutoranda em Educação, Universidade Estadual de Maringá – UEM) e Cezar de Alencar Arnaut de Toledo (Doutor em Educação, UEM) encerra o eixo sobre políticas e projetos e, também, os artigos do presente dossiê temático. O texto remete ao contexto educacional brasileiro da década de 1990, e especialmente aos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso, referindo-se às condições criadas pelas políticas públicas para o ensino deste conteúdo nas escolas públicas, e notadamente no estado do Paraná.

O dossiê temático ainda conta com a resenha feita por Cláudio de Sá Machado Jr. (Doutor em História, Universidade Federal do Paraná – UFPR) para o livro “Intelectuais, modernidade e formação de professores no Paraná (1910-1980)”, organizado por Carlos Eduardo Vieira, Dulce Regina Baggio Osinski e Marcus Levy Bencostta e publicado em 2015 pela Editora UFPR.

Neste formato, a publicação do dossiê temático “História da Educação na América Latina: práticas e culturas escolares”, gentilmente acolhida pelos editores da Revista LatinoAmericana de História, constitui-se como uma das iniciativas relacionadas às atividades do Grupo de Trabalho de História da Educação, vinculado à Associação Nacional de História (GTHE ANPUH), que vem somar esforços às instituições latino-americanas já existentes e já consolidadas no âmbito da História da Educação.

Finalmente, os organizadores do presente dossiê temático agradecem, de forma muito sincera, a todos os autores que atenderam ao nosso chamado e submeteram sua produção à avaliação de pares. Desejamos que os artigos aqui reunidos possibilitem novos diálogos que se tornem contributivos para a produção e reflexão da pesquisa em História da Educação. Aos leitores da Revista Latino-Americana de História, agradecemos pelo interesse e solicitamos apoio na divulgação do presente dossiê temático.


Organizadores

Cláudio de Sá Machado Junior – Universidade Federal do Paraná DTFE/PPGE/PPGHIS.

Doris Bittencourt Almeida – Universidade Federal do Rio Grande do Sul DEBAS/PPGEDU.


Referências desta apresentação

MACHADO JUNIOR, Cláudio de Sá; ALMEIDA, Doris Bittencourt. Apresentação. Revista Latino-Americana de História. São Leopoldo, v.5, n.15, p. 6-10, jan./jul. 2016. Acessar publicação original [DR]

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