História do tempo presente na formação de pessoas: prescrições brasileiras, francesas e estadunidenses para o ensino secundário (1999-2014) | Itamar Freitas

Itamar Freitas Posse na FAPESE História do Tempo Presente
itamar Freitas | (Fotos: Adilson Andrade/AscomUFS (2017)

O professor Itamar Freitas, em seu recente livro, apresenta aspectos sobre o ensino de História por meio de um estudo comparativo e assimétrico sobre três países: Brasil, Estados Unidos e França, entre a década de 90 e os anos 2000, o livro é divido em três partes e onze capítulos. É apresentado que a História do Tempo Presente surge para dar respostas aos sobreviventes das imprevisibilidades e complexidades que ocorreram no século XX, logo há nela uma crítica ao modelo de história objetivista. O autor relata que nesse período ocorreram grandes avanços no desenvolvimento humano, devido o pensamento racionalista, porém como afirma Hobsbawn (1995) foi nessa mesma época que o ser humano chegou mais próximo de se autodestruir, e a razão em sua busca da objetividade apresentou-se como uma força motriz para esse fim.

A primeira parte do livro “HTP e prescrições para o ensino no Brasil Freitas apresenta a HTP na educação brasileira. No primeiro capítulo, História do Tempo Presente nos periódicos especializados brasileiros (2007 – 2014) é apresentado que no Brasil os estudos sobre a HTP são recentes, sendo fruto de reflexões acadêmicas dos anos 90. A estrutura moderna, da história linear, era dominante nesse período, e com o passar dos anos a HTP ganha notoriedade, em estudos de pós-graduação. O autor afirma que a HTP no Brasil auxiliou na compreensão de vários contextos, dentre eles a revisão do conceito de memória. Nesse sentido, seu estudo centrou-se em quatro periódicos, pelo critério de todos apresentarem e assumirem o termo de História do Tempo Presente. Segundo Freitas, as produções acadêmicas nos periódicos pesquisados, apontam que ela não é uma ação jornalística, e sim um fazer científico. Entendo que uma ação midiática é permeada de intencionalidades, logo ao relatar o presente, ela busca informar e não o refletir.

No segundo capítulo “HTP nos projetos pedagógicos dos cursos de graduação em História (2003 -2014), Freitas examina a HTP em graduações brasileiras de História. É destacado a importância do Projeto Político Pedagógico (PPP) no ensino superior, o qual tem o compromisso de ser um norteador da prática docente, e da organização curricular do curso. Contudo, o PPP do ensino superior, por muitas vezes, não é posto em prática, o tornando um documento burocrático institucionalmente. Freitas analisou o Projeto Político Pedagógico de 55 de Universidades Públicas, ao apresentar o levantamento, foi possível perceber a forte influência do quadripartidarismo francês na graduação em História. O quadripartidarismo francês demonstra ser um meio arcaico e tradicional de currículo, pois dividiu a História em: Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea. É um claro aspecto da tendência tradicionalista, que valoriza uma narrativa colonial/imperialista. Logo, essa divisão em cursos de formação de professores de História em um país ex-colônia, contribui para propagação de preconceitos, não priorizando uma decolonialidade na visão de Santos (2010). No capítulo três, “História do Tempo Presente no Ensino Secundário brasileiro (1999 – 2013)” é examinado os currículos produzidos no Brasil para o Ensino Secundário. Freitas discorre que no fim da década de 90 surgiram os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS), o qual demonstrou ser inovador e favorável na promoção da igualdade no Brasil. É importante salientarmos que no ano de 2018 a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi implementada em escolas brasileiras. Entre retrocessos/avanços, a BNCC busca contextualizar o passado e presente, o que contribui para o ensino da HTP atualmente.

Na segunda parte “História do Tempo Presente no Ensino Secundário da França” Freitas apresenta a formação de professores em História e detalhes da historiografia da HTP na França. No capítulo quatro “Aprendizagem histórica do professor na França (2006 – 2013” é apresentado as habilidades/saberes para ser professor de História. Na França, ser professor consiste não apenas em promover aulas de História, é também ser docente de Geografia e Educação Cívica, as quais são vivenciadas pelos alunos de colégios e liceus. O autor entende que há uma vulgata que foi mantida nas duas últimas décadas, que é apresentada especialmente no exame do estado francês, (CAPES). Os conteúdos estabelecidos nas universidades pesquisadas apresentam um quadripartidarismo nos perfis dos cursos: História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea. No capítulo cinco “História do Tempo Presente na historiografia francesa”. Freitas cita sobre as quatro correntes históricas na França entre 1980 e 1990. História Cultural, Annales, Nova História Política, e História do Tempo Presente. Em todo o capítulo ele apresenta uma diversidade de conceitos e abordagens que influenciaram o ensino de História em território francês, como também abordagens que exercem importância atualmente. Freitas no capítulo seis “A História do Tempo Presente nos programas de liceu na França (2010 –2014)” apresenta o sistema de ensino francês e sobre o ensino do tempo presente nas escolas secundárias. Na França é obrigatório o ensino entre os seis e dezesseis anos de idade, sendo a educação básica é dividida em quatro categorias: a l’école maternelle, escola maternal; l’école élémentaire, escola elementar; secondaire inférieur, secundário inferior; secondaire supérieur, secundário superior que é executado no liceu. Eles podem ser do tipo: enseignement général et technologique ensino geral e tecnológico ou lycée professionnel liceu profissional. O sistema de ensino francês elabora currículos valorizando a participação de professores, inspetores e sindicalistas, o que torna o processo formativo, diverso, dinâmico e democrático.

A terceira parte do livro “História do Tempo Presente e prescrições para o Ensino Secundário nos EUA”, Freitas apresenta que a política americana influenciou os currículos e programas da educação brasileira. Logo, no capítulo sete “Aprendizagem histórica nos parâmetros para a formação de professor de história (1997 – 2013)” Ele apresenta que o professor de história de escolas primárias e secundárias são formados em três instituições de nível superior: colleges, universidades e community colleges, a maioria são mestres e doutores. O autor cita que um dos documentos norteadores da educação estadunidense “National Standards for Social Studies Teaches” (NSSST) apresenta uma série de normativas para a capacitação e execução da profissionalização do professor estadunidense. No Capitulo oito “Aprendizagens histórica nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de História e Estudos Sociais nos Estados Unidos da América (1994 – 2014)” Freitas apresenta as concepções de aprendizagem que permeia a educação dos Norte-americana nas duas últimas décadas, ele se detém em três documentos , “National Standards for History”, “Curriculum Stardards for Social Studies”, e “Common Core State Standards” de 2010. O ensino de História nos Estados Unidos é incluído nos Estudos Sociais, sendo responsabilidade de estados/distritos elaborar programas e currículos. Logo, a função de escolher as finalidades de aprendizagens, estratégias e avaliação para a escola não é de nenhuma entidade estatal federal. Mas há forte influência da política estadunidense na educação. O National Standards for History em sua gênesis tem o liberalismo econômico como alicerce, o que afasta a educação humanizada e heterogênea no processo de escolarização. O autor afirma que as ideias de aprendizagem histórica proposta nesses documentos possuem limitações, o que não interfere na importância dos estudos propostos. O nono capitulo “A História do Tempo Presente nos Parâmentros Curriculares Nacionais dos Estados Unidos da América: da Bradley Commission ao National Standards for History (1987 – 1996)” apresenta a HTP nos de relatórios, “Bradley Commission” e “National Council For History Standards”. Esses documentos são importantes para sistematizar dados, servindo para avaliar o ensino de História nos Estados Unidos. Contudo sobre o Tempo Presente a BC e a NSH possuem uma estrutura que usa caraterísticas da semântica do Tempo Presente. Freitas no capítulo dez “O lugar e as formas de anunciação da História nos programas estaduais para os social studies da high school nos EUA (1995 – 2014)” apresenta sobre o lugar da História nos programas estaduais de ensino de Estudos Sociais para à high school. Os estudos sociais possuem diferentes objetivos ao longo de todo o processo de escolarização, na high school. Para cada estado há finalidades diferentes, mas existe um elemento que une todos os programas de estudos sociais que é a formação para cidadania, voltado para a sobrevivência em um mundo diverso e globalizado. O capítulo onze “HTP nos programas estaduais para a high school (2007 – 2014) o autor apresenta como a HTP é manifestada nos programas estaduais de ensino para a high school. É afirmado que em 70% dos programas estaduais dos EUA há fortemente a experiência do século XX. Ao longo de todo o capítulo é mostrado dados de variados currículos, contudo o autor afirma que há uma forte influência do patriotismo norteamericano.

Em “História do tempo presente na formação de pessoas: prescrições brasileiras, francesas e estadunidenses para o ensino secundário (1999-2014)” Freitas apresenta que o ensino de história nas três nações é alvo de um movimento constante, e que sofrem com a perda de seu espaço disciplinar para outras áreas do conhecimento. Logo, uma valorização acadêmica baseada em uma historiografia que anseia que o presente seja historicizado em escolas é importante, pois o presente é apresentado corriqueiramente como função midiática, Freitas nesse sentido afirma que “Se essa função midiática é legítima, qual seria então o papel das escolas e dos historiadores no Brasil de 2015, 2016, 2017, 2018, 2019…?”. II

Nota

II (FREITAS, 2020. p.265).

Referências

FREITAS, Itamar. História do tempo presente na formação de pessoas: prescrições brasileiras, francesas e estadunidenses para o ensino secundário (1999-2014). São Cristóvão, SE: Editora UFS, 2020.

SANTOS, B. S. Descolonizar el saber, reinventar el poder. Montevidéu: Trilce, 2010

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. Editora Companhia das Letras, 1995.


Resenhista

Antônio Flávio dos Santos Mendes – Mestrando em Educação pela Universidade de Pernambuco, orientado pelo prof. Dr. Karl Schurster e integrante do Laboratório de Estudos do Tempo Presente – UPE.


Referências desta Resenha

FREITAS, Itamar. História do tempo presente na formação de pessoas: prescrições brasileiras, francesas e estadunidenses para o ensino secundário (1999-2014). São Cristóvão, SE: Editora UFS, 2020. Resenha de: MENDES, A. F. S. História do tempo presente na formação de pessoas: prescrições brasileiras, francesas e estadunidenses para o ensino secundário (1999-2014). Boletim do Tempo Presente, v. 10, n. 12, p. 65-67, dez. 2021. Acessar publicação original [DR]

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