História do tempo presente na formação de pessoas: prescrições brasileiras, francesas e estadunidenses para o ensino secundário (1999-2014) | Itamar Freitas

Itamar Freitas Posse na FAPESE História do Tempo Presente
itamar Freitas | (Fotos: Adilson Andrade/AscomUFS (2017)

O professor Itamar Freitas, em seu recente livro, apresenta aspectos sobre o ensino de História por meio de um estudo comparativo e assimétrico sobre três países: Brasil, Estados Unidos e França, entre a década de 90 e os anos 2000, o livro é divido em três partes e onze capítulos. É apresentado que a História do Tempo Presente surge para dar respostas aos sobreviventes das imprevisibilidades e complexidades que ocorreram no século XX, logo há nela uma crítica ao modelo de história objetivista. O autor relata que nesse período ocorreram grandes avanços no desenvolvimento humano, devido o pensamento racionalista, porém como afirma Hobsbawn (1995) foi nessa mesma época que o ser humano chegou mais próximo de se autodestruir, e a razão em sua busca da objetividade apresentou-se como uma força motriz para esse fim.

A primeira parte do livro “HTP e prescrições para o ensino no Brasil Freitas apresenta a HTP na educação brasileira. No primeiro capítulo, História do Tempo Presente nos periódicos especializados brasileiros (2007 – 2014) é apresentado que no Brasil os estudos sobre a HTP são recentes, sendo fruto de reflexões acadêmicas dos anos 90. A estrutura moderna, da história linear, era dominante nesse período, e com o passar dos anos a HTP ganha notoriedade, em estudos de pós-graduação. O autor afirma que a HTP no Brasil auxiliou na compreensão de vários contextos, dentre eles a revisão do conceito de memória. Nesse sentido, seu estudo centrou-se em quatro periódicos, pelo critério de todos apresentarem e assumirem o termo de História do Tempo Presente. Segundo Freitas, as produções acadêmicas nos periódicos pesquisados, apontam que ela não é uma ação jornalística, e sim um fazer científico. Entendo que uma ação midiática é permeada de intencionalidades, logo ao relatar o presente, ela busca informar e não o refletir. Leia Mais

A carta da Condessa: família, mulheres e educação no Brasil do século XIX | Samuel Albuquerque

Certas obras voltadas para o campo histórico comumente utilizam fontes epistolares como suporte para a pesquisa de biografias e trajetórias de vida de determinadas personagens. Avançando sobre esta proposta, o livro A carta da Condessa, escrito por Samuel Albuquerque1, amplia as perspectivas de análise histórica da fonte epistolar, uma vez que ela permite conhecer melhor os agentes históricos que se correspondem, mas também contribui na compreensão da conjuntura e do cotidiano na qual a carta e seus autores estavam inseridos.

Tomando esse caminho, o autor consegue compor um livro rico em detalhes por envolver a atuação de mulheres como preceptoras no Brasil durante o século XIX, e sensível aos olhares do leitor que é levado ao deleite do cotidiano feminino Oitocentista, bem como seus desafios, (des)afetos e deslocamentos pelo Atlântico. Leia Mais

O Direito ao Passado – Uma Discussão Necessária à Formação do Profissional de História – OLIVEIRA (CTP)

OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. O Direito ao Passado – Uma Discussão Necessária à Formação do Profissional de História. Aracaju: Editora UFS, 2011. 302p. Resenha de: SILVA, Karla Karine de Jesus. “O Direito ao Passado”: Considerações de Margarida de Oliveira Sobre o Ensino de História. Cadernos do Tempo Presente, São Cristóvão, n. 10 – 10 de dezembro de 2012.

Margarida Maria Dias de Oliveira é professora Associada do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Foi representante de História na Comissão Técnica do Programa Nacional do Livro Didático – PNLD 2007, 2008, 2010, 2011e 2013. É coordenadora da Coleção Ensino de História da EDUFRN que conta, atualmente, com seis volumes.

Publicado em 2011, o livro O direito ao passado – uma discussão necessária à formação do profissional de História discute o ensino de história como objeto da pesquisa histórica. Em 302 páginas, analisa a formação do pesquisador e do professor de história e a educação brasileira, tomando como referência alguns estudiosos da temática, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a LDB, o livro didático, além de artigos publicados na Revista Brasileira de História e a posição da ANPUH neste sentido.

O livro é composto de três capítulos. O primeiro, intitulado O ensino de história como objeto de pesquisa no Brasil (p.37-116) apresenta como o ensino de historia foi ganhando espaço nas academias como objeto de pesquisa. Embora a proporção seja pequena em relação a outras temáticas, estudos importantes já foram desenvolvidos nesta área e gradativamente o interesse por investigações sobre história e educação vem ganhando espaço. Oliveira fez um levantamento dos artigos publicados na Revista Brasileira de História entre 1981 e 2002, traçando um demonstrativo em que compara a proporção dos textos que tem o ensino de história como objeto de investigação, e os textos que contemplam outras temáticas.

No capítulo dois, Matrizes teóricas francesas e cópias brasileiras no ensino de história (p.117-161), a autora realiza pertinentes considerações sobre a estrutura e composição dos Parâmetros Curriculares Nacionais de História, seus embates políticos e acadêmicos com a ANPUH, e as ideias trazidas pelos PCN para o ensino de História. O terceiro capítulo, A construção de referenciais para o ensino de História: limites e avanços (p.163-232) discorre sobre as contribuições e limites apresentados pela ANPUH quanto às definições sobre o ensino de História, o conteúdo prescrito pelos PCN e os usos do passado.

Oliveira explica que a iniciativa em desenvolver uma pesquisa sobre o ensino de História partiu primeiramente de questionamentos sobre a formação do profissional de história. O professor e o pesquisador muitas vezes são tratados de forma desconectada. Durante sua atuação como professora do ensino fundamental e do ensino médio, a autora percebeu que as necessidades dos alunos, suas inquietudes e desinformação histórica – quando e onde aconteceu, quais personagens vivenciaram o fato que se pretende interpretar etc. – e a dificuldade destes compreenderem a importância em se aprender história, advém principalmente de problemas internos ao conhecimento histórico e seu ensino (o que e como ensinar). Conforme a obra, a graduação em história enfatiza a pesquisa e acaba formando professores despreparados para a sala de aula. Essa discussão, durante muito tempo esteve a cargo dos cursos de pós-graduação em educação e poucos profissionais de história debruçaram-se sobre isso.

O ensino de história como objeto de pesquisa é recente. O interesse da academia e da ANPUH por pesquisas neste campo começaram especialmente a partir dos anos 1970. Passam então a fazer parte das reflexões, análises e pesquisa, de forma mais profunda, entre os licenciados e bacharéis de História, preocupações com a formação do professor, do ensino de História e seus correlatos. Em 1977, a ANPUH promove discussões sobre a inserção no seu quadro de sócios de professores de história de outros níveis do ensino, além dos professores universitários que eram os que fundamentalmente compunham a Associação (p.48).

A Revista Brasileira de História, uma “vitrine nacional desse crescimento”, como afirma Oliveira, contribuiu para um olhar mais aguçado sobre o ensino de história e a pesquisa sobre ele. Significativos artigos e estudos foram publicados a partir de 1980. Porém, este número foi consideravelmente menor em relação a outros temas em história. Dos cinquenta e sete textos publicados entre 1981 a 2002, trinta e sete foram de instituições paulistas (p.65). Isso evidencia a defasagem nos estudos em outras instituições no Brasil neste período.

A inserção dos professores de história dos demais níveis de educação no quadro de sócios da ANPUH contribuiu para um olhar mais significativo das pesquisas sobre história e educação. Na assembleia geral, ocorrida no XIII Simpósio da ANPUH em Curitiba, ficou estabelecido que “todos os Simpósios deveriam ter cursos com o tema escolhido para o evento e seu tratamento nos ensinos fundamental e médio” (p.71). Oliveira lembra que pela primeira vez os artigos relacionados ao ensino de História não foram relegados a uma seção separada do periódico, mas apresentados com o mesmo peso que os demais.

Em “O direito ao passado…” o livro didático e os PCN receberam atenção particular nesta obra. Sobre o primeiro, a autora afirma que deve haver pesquisas mais profundas sobre ele. O mesmo funciona como um expositor da história ensinada ao aluno e, portanto, precisa considerar tanto os conteúdos, quanto a faixa etária e a forma como o conhecimento é transmitido em suas páginas. O passado construído e transmitido deve ser questionado: “qual o passado a que todo cidadão tem direito?” (p.87). Apesar de o livro didático conter inúmeras falhas, muitas delas decorrentes inclusive da própria forma como o ensino de história deve ser ministrado, conforme orientado no PCN para o ensino de História, e devido a isso ser alvo de muitas críticas dos profissionais de ensino e pesquisa, a maioria delas bem fundamentadas, Kazumi Monaka lembra que “estão olhando restritivamente o produto quando se deveria questionar a sociedade que está demandando este produto” (p.114).

Esta demanda vem principalmente do que é normatizado nos Parâmetros Curriculares de Ensino de História. Oliveira observa que a base teórica dos PCNH é francesa, mas que pouco se detém nas sugestões dos autores no qual se norteiam. Marc Ferro, Jaques Le Goff, Michel de Certeau, apenas para se mencionar alguns listados em sua bibliografia, defendem uma história narrativa e cronológica para ensinar história a crianças e adolescentes. A história temática, a história nova, só seria introduzida a partir do ensino médio. Segundo estes, não há maturidade suficiente para se compreender uma história temática quando se é ainda muito jovem. Crianças e adolescentes da primeira fase precisam localizar-se no tempo e espaço, possibilitado pela narrativa histórica. Um dos problemas é que os PCNH têm estes autores como norteadores, mas propõem uma história temática, que é refletida no livro didático, nos projetos político pedagógicos das escolas e nas aulas dos professores (p.139-160).

Nesta obra Margarida Oliveira convida os leitores a reflexão. Sua pesquisa lança um debate sobre a Revista Brasileira de História (RBH), a ANPUH, os PCN, o livro didático, a formação do professor e do pesquisador de história e o papel destes elementos na educação. A análise desse material mostrou que há neles uma ausência de debates profundos sobre a formação do cidadão brasileiro.

Apesar do “progresso” que a ANPUH e a RBH fizeram ao conceder espaço ao ensino de história, ainda há muito que avançar. O ensino ainda é visto por muitos profissionais de pesquisa em história, como questão menor ou pensado como prerrogativa exclusiva das áreas de pedagogia e psicologia educacional. Os PCN e o livro didático devem contribuir para a formação de um cidadão capaz de compreender, interpretar e atuar em seu mundo. Em suma, é urgente se “estabelecer parâmetros para um roteiro e dimensioná-lo” no que se refere ao o ensino de história, que nos “oferece” um passado a que todos temos direito.

Referências

OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. O Direito ao Passado – Uma Discussão Necessária à Formação do Profissional de História. Aracaju: Editora UFS, 2011. 302p.

Karla Karine de Jesus Silva – Formada em História pela Universidade Federal de Sergipe. Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFS.

Acesso à publicação original

Para dialogar na Geografia – SANTOS; GONÇALVES (BGG)

SANTOS, Ana Rocha; GONÇALVES, Cláudio Ubiratan. (Org.) Para dialogar na Geografia. São Cristovão: Editora UFS, 2010. 239 p. Resenha de: BARBOSA, David Tavares. Boletim Goiano de Geografia. Goiânia, v. 32, n. 1, p. 169-173, jan./jun. 2012.

O livro Para dialogar na Geografia, organizado por Ana Rocha Santos e Cláudio Ubiratan Gonçalves, está dividido em oito capítulos desenvolvidos pelos docentes do curso de Geografia da Universidade Federal de Sergipe, campus da cidade de Itabaiana. Orientada pelo objetivo central de apontar tendências de estudo na Geografia brasileira contemporânea, esta obra apresenta um pertinente diálogo desenvolvido por geógrafos comprometidos com a transformação social de nossa sociedade.

Embora reunindo textos com uma grande variedade temática, os trabalhos são todos permeados pela proposta central de refletir sobre os desequilíbrios regionais brasileiros, levando em conta o papel desempenhado pelas políticas públicas na promoção do reordenamento territorial.

Nos dois primeiros artigos do livro, esta busca pela compreensão das questões regionais é feita pela adoção de uma perspectiva teórica múltipla.

Tal variedade de abordagens torna-se crucial nesta obra, pois seus autores compreendem que a região deve ser analisada e estudada a partir das diferentes relações que lhe (re)produzem.

O primeiro capítulo expõe a proposta de Ana Rocha dos Santos de promover uma reflexão sobre o papel do Estado-Nação na gestão contemporânea do território. Neste artigo, a autora enfatiza, de forma pertinente, o quanto esta gestão tem apelado para o fortalecimento dos espaços subnacionais – municípios – por meio de ações políticas de cunho descentralizante.

Para a autora, no âmago destas ações observam-se interesses que visam a permitir a continuidade da reprodução do capital no novo contexto político-econômico-financeiro surgido nas últimas décadas.

Neste novo cenário, os municípios seriam os responsáveis por adotar políticas que ofereçam alternativas aos problemas nacionais, provocados por instâncias e interesses internacionais, agindo na criação das condições necessárias ao processo de reestruturação produtiva. Atua riam, assim, no controle dos fluxos financeiros de empresas multinacionais, sem a autonomia de decisões que este novo papel de “condução da organização do capital mundial” possa requerer. Nesse contexto, a autora observa que as políticas internas dos países têm sido coordenadas por discursos de autonomia e participação, através da adoção de políticas descentralizadoras que racionalizam recursos e aproximam as esferas administrativas dos cidadãos.

No capítulo seguinte, da geógrafa Josefa de Lisboa Santos, observamos uma proposta de análise regional diferente da utilizada no primeiro capítulo. A proposta da autora é promover um debate sobre os desequilíbrios regionais pela análise da retórica presente nos discursos sobre o Nordeste, buscando assim expor a ideia de que, ao menos discursivamente, a natureza desta região tem sido interpretada como a causa principal da sua pobreza.

A autora constata nos discursos contemporâneos sobre o Nordeste a presença de um insistente determinismo geográfico, que tende a associar as variáveis clima e pobreza numa relação de causalidade. Nessas representações, a região Nordeste poderia então ser encarada como um “recorte espacial onde a característica física por si só desencadeia a ação” (p. 37).

Essa associação de cunho determinista teria se iniciado ainda em fins do século XIX, engendrada no discurso sobre as secas que surge nesta época, permitindo afirmar que o grande debate sobre as secas foram referenciais para a elaboração de um imaginário acerca do Nordeste.

No entanto, a permanência desses discursos, no imaginário e nas representações sobre esta região, teria ligações com as estratégias da elite regional conservadora, visando a angariar uma maior quantidade de verbas federais. Ao reforçarem a ideia do Nordeste como “região das secas”, estas elites contribuíram para “uma leitura da região com graves distorções sociais, cujo domínio econômico e político de uma oligarquia forte e resistente agravava a situação” (p. 41). Assim, Santos considera o regionalismo nordestino como “um discurso ideológico responsável por mascarar uma realidade e apresentar outra” (p. 55), de modo a promover uma homogeneização simbólica do espaço regional.

Os dois capítulos seguintes, escritos por Cláudio Ubiratan Gonçalves (Cap. 3) e Lucas Gama Lima (Cap. 4), promovem duas importantes revisões críticas acerca da temática do livro. No terceiro capítulo, é feita uma análise dos estudos regionais, a partir de uma perspectiva crítica que busca apontar o quanto seria relevante para a Geografia a promoção de uma análise regional baseada na ética. Na sequência, no capítulo quatro, Lima propõe em seu artigo um debate epistemológico sobre o conceito de território, refletindo sobre o papel das políticas de reordenamento territorial.

Estes artigos podem ser considerados complementares, pois observamos uma leitura sobre o território bastante próxima nos dois trabalhos. Ambos analisam o território por meio da análise das relações socioespaciais que forjam o processo de territorialização, das formas de uso e apropriação promovidas por aqueles que nele habitam. Conduzem, assim, a análise do território para uma investigação regional focada na análise dos sentimentos de pertencimento e dos vínculos comunitários entre seus habitantes.

Gonçalves desenvolve seu estudo tendo como pano de fundo o estudo da região do Cariri cearense, e expõe sua crença na importância dos estudos da ética na Geografia. Num cenário em que verificamos um modelo de desenvolvimento capitalista desigual e em ampla expansão, faz-se necessário um debate baseado na ética e na justiça social, que convoque a responsabilidade de nossos atos individuais e os nossos posicionamentos políticos na sociedade.

No capítulo seguinte, Lima promove um debate relevante sobre o conceito de território, mostrando o quanto este conceito na Geografia ainda não é um consenso entre os pesquisadores, constituindo, ao contrário, objeto de muitas divergências, assentadas nas diferentes influências histórico-sociais de cada pesquisador.

Por meio da revisão do conceito de território, o autor intenta em seu artigo descrever e analisar o papel das recentes políticas públicas de reordenamento territorial. Na sua compreensão, observa-se na atualidade uma valorização do território como ator do desenvolvimento, destacandose o papel atribuído ao desenvolvimento local. O autor observa ainda que se tem atribuído um caráter salvacionista às políticas de desenvolvimento em escala territorial, centrado no papel dos autores locais.

Os últimos capítulos do livro constituem estudos de caso, que nos permitem compreender de que modo se inscrevem as políticas de reestruturação territorial implementadas por políticas públicas governamentais.

Assim, temos as análises de Oliveira sobre o acesso à água em tempos de neoliberalismo (Cap. 5); Carvalho e sua reflexão sobre o âmbito geográfico da questão hídrica (Cap. 6); Silva e suas considerações acerca das disputas territoriais ocasionadas pelo petróleo no estado de Sergipe (Cap. 7); e Valio, que tece suas análises sobre a variabilidade pluviométrica num municipio do semiárido sergipano (Cap. 8).

No capítulo produzido por Cristiane Fernandes de Oliveira, a autora procura compreender as relações sociais e econômicas que se desenvolveram em torno da questão da água, apresentando debates acerca dos problemas de disponibilidade e acesso à água, além do papel das políticas neoliberais no incentivo ao crescimento da valoração da água como recurso econômico.

Em sua análise, a autora procura explicitar o quanto a água tem se transformado num recurso econômico estratégico essencial para a reprodução privada do capital. Para ela, os debates sobre este recurso tem se intensificado nas discussões ambientais desenvolvidas a partir da década de 1990, permeadas por um discurso extremamente pessimista, que acaba por contribuir muito mais com os interesses econômicos do que para a resolução dos problemas propriamente ditos. Assim, acredita a autora que a “escassez da água” e o debate que se segue à detecção deste problema têm contribuído, de forma mais concreta, com o desenvolvimento de uma estratégia econômica privada por parte de corporações/grupos transnacionais. Ou seja, a água têm sido discutida mais como bem econômico do que como um recurso natural comum a todos.

No capítulo que se segue, Márcia Eliane Silva Carvalho promove sua reflexão visando a compreender o papel fundamental da água na organização espacial da sociedade, destacando o quanto este recurso se destaca como elemento geoestratégico de um território. Para esta autora, faz-se necessário, sempre que se debater os recursos hídricos, vinculá-los às questões do uso do solo e da ocupação humana. Só com este posicionamento, o debate das questões hídricas estará vinculado a um planejamento ambiental que pense este recurso de forma indissociável do todo que o circunda.

No capítulo 7, Gicélia Mendes da Silva tece suas reflexões acerca da relação observada entre a distribuição dos royalties do petróleo entre municípios sergipanos e as disputas territoriais decorrentes deste processo.

Enfatizando a análise dos conflitos territoriais nos municípios de Pacatuba e Pirambu, no estado de Sergipe, o debate que a autora promove neste artigo baseia-se na discussão da necessidade de revisar a legislação do petróleo em vigor.

Já no capítulo que encerra o livro, David Alves Valio também promove uma reflexão acerca de questões municipais do estado de Sergipe, centrando sua análise na variabilidade climática do município de Nossa Senhora da Glória. O autor encara este fenômeno, tão característico da região Nordeste, relacionando-o com as questões políticas e socioeconômicas atreladas às secas que afetam esta região.

Neste texto, o autor mostra que, mesmo com as características naturais do Nordeste não sendo as mais favoráveis, não se deve negligenciar as questões de cunho econômico/político que favorecem uma pequena parte da população, contribuindo para agravar as questões sociais da região.

Com estas contribuições, os autores da obra convidam os leitores a uma reflexão sobre as questões regionais brasileiras. Conjugam, assim, esforços na busca de um diálogo que alerta a sociedade sobre a urgência na mudança dos desequilíbrios regionais brasileiros, visto que essas desigualdades constituem verdadeiras barreiras ao desenvolvimento de uma justiça social comum a todos os cidadãos.

David Tavares Barbosa – Bacharel em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco. Mestrando em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco.

Boletim Goiano de Geografia. Goiânia, v. 32, n. 1, p. 169-173, jan./jun. 2012.

 

Destinatário: Felte Bezerra. Cartas a um antropólogo sergipano (1947-1959 e 1973-1985) – DANTAS; NUNES (PL)

Em 2009, o recém-criado Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Antropologia (NPPA) convidou a antropóloga e Professora Emérita da UFS Beatriz Góis Dantas para ministrar a aula inaugural para a primeira turma de pós-graduandos, que versou sobre a trajetória acadêmica de outro antropólogo sergipano: Felte Bezerra. Embora a velha e básica lição da Antropologia nos ensine que só podemos nos situar no mundo enquanto “eu” a partir de um “outro”, daí ser necessário conhecer esse “outro”, não devemos nos esquecer de quem somos. Sendo assim, nada como começar o primeiro ano letivo debatendo sobre os pioneiros da Antropologia em Sergipe.

Nesse ano, a mencionada professora, em parceria com a professora da UFS e diretora do Museu do Homem Sergipano, Verônica Maria Menezes Nunes, trazia à luz para a comunidade acadêmica a obra Destinatário: Felte Bezerra – cartas a um antropólogo sergipano (1947-1959 e 1973-1985). Leia Mais

Lampiões acesos: o cangaço na memória coletiva | Marcos Edilson de Araújo Clemente

Diferente das abordagens históricas que visam reconstituir a trajetória de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, bem como o movimento de resistência sertaneja das primeiras décadas do século XX conhecido como cangaço, o professor da Universidade Federal do Tocantins, Marcos Edilson de Araújo Clemente, propõe analisar a forma como a temática tem sido apropriada pela Associação Folclórica e Comunitária Cangaceiros de Paulo Afonso (Bahia). Lampiões acesos: o cangaço na memória coletiva é também “consequência direta” das lembranças do próprio autor que, em sua infância assistia às apresentações desta agremiação..

Antes, contudo, Clemente busca entender o modo como outras cidades nordestinas se apropriaram deste legado histórico-cultural. Os lugares escolhidos refletem os caminhos trilhados pelo “rei do cangaço”, a citar, Serra Talhada e Triunfo, PE; Mossoró, RN; Poço Redondo, SE e Piranhas, AL. Assim como foram diferentes as circunstâncias da passagem de Lampião em cada uma dessas regiões, também são os modos de apropriação das memórias que resistem, sobretudo nas últimas décadas, através de instituições conhecidas por “museus do cangaço”. Sendo Lampião exaltado ou mesmo condenado, a exemplo da memória construída em Mossoró, importa é que, de qualquer forma, sua representação e a do cangaço são recorrentes na promoção das identidades destes lugares de memória. Leia Mais

Lampiões acesos: O cangaço na memória coletiva | Marcos E. Clemente

Estamos na década de 1960 e mais especificamente às vésperas do golpe militar de 1964. Na tela do cinema, um público entusiasta assiste ao lançamento de Deus e o Diabo na terra do sol, de Glauber Rocha. Num dos episódios da saga glauberiana, Corisco é o rebelde cangaceiro:

O filme pretende demonstrar a inutilidade das tentativas anarcóides como a fuga “in alto”, isto é, para misticismo e/ou a violência pura, como forma de resolver um estado de crise perene. A tomada de consciência seria a única solução positiva (VALENTINETTI, 2002:59). Leia Mais

Identidades: teoria e prática – GOMES; ENNES (PL)

A discussão sobre a temática identidade, promovida pelo Fórum Identidades e Alteridades: diálogos (im) pertinentes em 2007, no Campus Universitário Prof. Alberto Carvalho da UFS, em Itabaiana, resultou na obra Identidades: teoria e prática, organizada por Carlos Magno Gomes e Marcelo Alario Ennes.

Produto dos debates entre pesquisadores de áreas distintas, como Letras, Sociologia, História, Antropologia e Educação, a obra pretende dialogar a referida temática a partir de diferentes metodologias. Para tanto, está dividida em quatro partes, onde se discutirão questões teóricas e suas relações com os espaços geográficos e as práticas docentes, além do gênero feminino. Leia Mais