História e Arte nas Américas | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2007

O número 6 da Revista Eletrônica ANPHLAC apresenta o dossiê História e Arte nas Américas. A escolha do tema visa enfatizar a arte como constituida e constituinte do real, integrada às sociedades e a seus conflitos, e, nestes termos, como fonte impreterível para escrita da história. Os artigos que compõem este dossiê contemplam particularmente o cinema e a música. O primeiro, Desenvolvimentismo e cinema: convergências e contradições entre o ideário cinematográfico de Nelson Pereira dos Santos e Fernando Birri e o pensamento desenvolvimentista latino-americano, analisa as propostas teóricas dos cineastas Nelson Pereira dos Santos (1928-Brasil) e Fernando Birri (1925-Argentina) e suas respectivas relações com o pensamento nacional-desenvolvimentista latino-americano dos anos 50 e 60. Mônica Cristina Araújo trabalha, inicialmente, com a conceituação da ideologia desenvolvimentista, a partir do momento histórico de seu surgimento para, em seguida, abordar como a área cinematográfica refletiu este ideário reforçando ou rejeitando conceitos e preocupações.

Também elegendo o cinema como objeto da pesquisa histórica, Mariana Martins Villaça aborda a trajetória do cineasta Nicolás Guillén Landrián (1938 – 2003), frente às mudanças ocorridas em Cuba após a Revolução, enfocando o engajamento político no meio cinematográfico, nos anos sessenta e setenta. Limites da contestação no cinema documental cubano: a trajetória de Nicolás Guillén Landrián se debruça principalmente sobre os aspectos estéticos e políticos de seu polêmico documentário Coffea Arábiga (1968), produzido pelo Instituto Cubano del Arte e Indústria Cinematográficos, no qual este cineasta trabalhou entre 1961 e 1971, até ser expulso. Durante esse período, Guillén Landrian aprendeu técnicas de cinema com o renomado documentarista holandês Joris Ivens, contribuiu com o projeto de educação massiva denominado Enciclopédia Popular e destacou-se por seus curtas-metragens ousados, experimentais e politicamente contestatórios.

Em Cantinflas, um peladito no projeto de modernização do Estado Mexicano, Maurício de Bragança analisa como o cinema mexicano esteve relacionado ao projeto de desenvolvimento do Estado nacional pós-revolucionário, contribuindo para a construção de um conjunto de signos que definissem a mexicanidade e o “autêntico” mexicano. O autor tem como recorte temporal o final dos anos trinta e o início dos anos quarenta, período em que a forte tendência de uma euforia proletária, marcada pelo governo de Lázaro Cárdenas, era substituída pelo equilíbrio moderado do governo Ávila Camacho, tendo como pano de fundo o processo de modernização impulsionado por um implacável êxodo rural.

Ingressando no terreno da canção, Alencar Castelo Branco em Pernambucália: uma outra verdade tropical, indaga, a partir de personagens pouco conhecidos – como Agripino de Paula, Tom Zé, Jomard Muniz de Brito e a banda de pífanos de Caruaru – sobre a pertinência de se falar de um “movimento tropicalista” frente às diversas manifestações que integraram historicamente o campo das artes nos anos sessenta no Brasil. Em sua abordagem, o autor prioriza não propriamente o movimento tropicalista, mas os discursos que o objetivaram, apagando as diferenças entre as múltiplas virtualidades nas artes brasileiras do período e reduzindo-as a uma identidade sólida, central e fechada.

Voltando a temática cinematográfica Tzvi Tal, em seu artigo Democracia e Globalização – resistência e globalização: história e estética em filmes latino-americanos recentes, refuta a existência de um cinema latino-americano continental, e propõe interpretar o cinema nacional como a conjugação de tradições estéticas que veiculam a realidade social de cada país. Deste modo ressalta-se a alegoria histórica, o realismo fantástico e a paródia como recursos retóricos e estéticos compartilhados, nos quais se manifestam as transformações sociais das sociedades latino-americanas entre a democratização e a globalização.

Além do dossiê, este número traz, ainda, Pan-americanismo e imperialismo: a sexta conferência Pan-americana e o debate acerca da intervenção norte-americana na Nicarágua. Neste trabalho, Raphael Nunes Nicoletti Sebrian, ao eleger como fontes os jornais brasileiros Folha da Manhã, Folha da Noite, Correio da Manhã e O Estado de S. Paulo, analisa em que medida a intervenção norte-americana na Nicarágua, iniciada na década de 1920 e encerrada definitivamente em 1934, motivou debates acerca da política externa do continente americano, mais especificamente na Sexta Conferência Pan-americana (ou Interamericana), sediada em Havana, Cuba, em 1928. Agradecemos a todos os colaboradores, autores e pareceristas, e desejamos aos visitantes do site uma boa leitura.


Organizadora

Tânia da Costa Garcia – Departamento de História Unesp/Franca.


Referências desta apresentação

GARCIA, Tânia da Costa. Apresentação. Revista Eletrônica da ANPHLAC, n. 6, 2007. Acessar publicação original [DR]

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