História Oral | Fênix – Revista de História e Estudos Culturais | 2005

O leitor encontrará, a seguir, estudos historiográficos de autores radicados em diversas localidades do país que trazem características locais, mas pontos comuns de interlocução: o trabalho com fontes orais e contribuições sobre o uso destas na pesquisa histórica. O convite à leitura destes textos é, portanto, um chamamento à reflexão acerca do imenso campo de possibilidades que temos hoje para a escrita da história.

O trabalho com os registros orais tem demonstrado uma riqueza sempre crescente, requerendo uma interlocução com outras disciplinas das ciências sociais e lançando luz sobre debates a respeito da própria produção das fontes, da relação pesquisador/pesquisado e do diálogo história/memória, o que, com freqüência, tem exigido remodelagens conceituais e redimensionamentos no escopo das pesquisas.

Com o objetivo de tornar mais compreensível o caráter dessas discussões, é preciso refletir sobre a importância de suscitar alguns questionamentos acerca da História Oral e dos motivos que têm levado muitos historiadores a optarem por ela. O que se pode perceber, no desenvolvimento dos vários artigos, é que trabalhar com a fonte oral implica, sobretudo, pensar a subjetividade do pesquisador, já que este participa de forma efetiva na elaboração do documento. Sendo assim, quem faz as perguntas, no momento da entrevista, precisa estar atento para não transferir ao entrevistado angústias que sejam suas. Tal procedimento permitirá ao entrevistado, tanto quanto possível, manifestar-se “livre” de qualquer influência. Contudo, há que se ter consciência dos limites dessa operação, pois essa “liberdade em relação às influências” está cercada de restrições, uma vez que nenhuma questão é elaborada de forma gratuita, isto é, o pesquisador a faz com a intenção de obter respostas para algo que o incomoda.

Tal advertência parece ressaltar o óbvio, mas é preciso deixar claro: uma vez feita a pergunta, esta não está isenta da subjetividade e da concepção que seu autor possui acerca do devir histórico e dos próprios caminhos da pesquisa.

Nesse circunstanciamento, torna-se viável pensar a fonte oral como uma alternativa extremamente criativa, porque o diálogo estabelecido entre pesquisador e entrevistado, no momento da entrevista, constitui-se como uma experiência muito significativa, além de ser um espaço para a elaboração e manifestação da memória, que avança no sentido de construir um processo de democratização da fala. Penso ser interessante que pessoas comuns, trabalhadores, possam falar de suas impressões, anseios, desejos; enfim de suas vidas, colaborando para que estas sejam registradas.

Por meio desses registros e dessas experiências, é possível conceber as mais variadas contradições do espaço urbano com as quais, aliás, deparamo-nos cotidianamente, tais como: a questão da moradia, saúde, desemprego, violência e tantos outros problemas. Isto consiste em compreender como estes trabalhadores vivenciam os conflitos alimentados pela dinâmica das cidades, ou em outros termos: como resistem e/ou sujeitam-se, acomodam-se e/ou buscam alternativas de vida.

Ao falar da fonte oral, não se pode negligenciar as dificuldades existentes, particularmente quando se apresenta a tarefa de utilizá-las. Além das questões metodológicas, que, a rigor, constituem-se num aprendizado contínuo (realizar a entrevista, transcrever, digitar, analisar e interpretar), é preciso, ainda, atentar para o uso que se faz do material, já que estamos lidando com experiências de sujeitos, de seres humanos; e isso exige sempre sensibilidade, respeito e ética.

A história oral tem como elemento de composição a possibilidade de aproximação da realidade das pessoas, assim como tem a capacidade de se transmutar em ciência e arte do indivíduo. Estamos, por estas razões, concebendo memória não apenas como preservação de informações, para as quais nos reportamos somente com o intuito de conhecer o passado. Pelo contrário, entendemos memória como um processo constante de atribuição de significados, não para o passado, mas para o presente, o que, em última instância, significa lidar, de forma indissociável, com a relação passado/presente.


Organizador

Paulo Roberto de Almeida – Doutor em História Social pela PUC-SP. Professor do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia e integra o Programa de Pós-Graduação em História. E-mail: [email protected]


Referências desta apresentação

ALMEIDA, Paulo Roberto de. História Oral: uma breve apresentação. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Uberlândia, v.2, n.2, abr./jun. 2005. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Deixe um Comentário

Você precisa fazer login para publicar um comentário.