Intelectuais, identidades e discursos na América Latina no século XX | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2012

É com muita satisfação que informamos que o grande número e a qualidade dos artigos recebidos e aprovados pela Revista Eletrônica da Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das Américas – ANPHLAC – por ocasião da chamada de trabalhos dedicada ao dossiê “Intelectuais, nações e identidades nas Américas nos séculos XIX e XX”, resultou na organização de dois dossiês em 2012: a 12ª edição “Intelectuais, identidades e discursos na América Latina no século XX”, que aqui apresentamos aos leitores, contendo onze artigos, todos relacionados ao tema no século XX; e o de número 13 “Intelectuais, nações e identidades nas Américas – séculos XIX e início do XX”, contendo onze artigos e uma resenha, que compõem a 13ª edição da Revista. Ao fazer esta proposição o periódico buscou abarcar uma temática que nos últimos anos tem apresentado um significativo crescimento com o desenvolvimento de pesquisas centradas na relação entre intelectuais, construção de nações e identidades nacionais ao longo dos séculos XIX e XX.

Como sabemos a intelectualidade latino-americana não ficou imune às várias transformações ocorridas nos dois últimos séculos. O período em questão foi extremamente fecundo no debate intelectual na América Latina, tendo sido marcado por profundas mudanças nos campos político e cultural, o que faz com que esse recorte temporal seja um dos mais privilegiados pela historiografia nas análises acerca dos inúmeros projetos desenvolvidos pelos intelectuais do continente.

O Dossiê nº 12 apresenta um conjunto de 11 artigos de pesquisadores brasileiros e estrangeiros que examinam diferentes objetos e temas referentes a diversos aspectos da intelectualidade continental e que abarcam vários elementos que constituem parte importante do pensamento latino americano ao longo do século XX.

Os três primeiros trabalhos versam sobre o escritor argentino Jorge Luis Borges. No artigo “A questão nacional argentina em um discurso radiofônico de Jorge Luis Borges” Gustavo Naves Franco analisa as reflexões e posicionamentos políticos de Borges nos anos 1930, com destaque para a leitura de um discurso radiofônico redigido pelo autor por ocasião do quarto centenário de Buenos Aires. São avaliadas as transformações pelas quais sua conduta intelectual vinha passando, naquele momento de rearticulação de forças na sociedade portenha, quando as perspectivas de evolução socio-histórica da Argentina eram incertas, ao mesmo tempo em que a situação geopolítica mundial vivia um momento de indefinição. Paulo Renato da Silva em “A (des)construção de um conflito: o “nacional” e o “cosmopolita” em Borges” analisa a crítica literária, principalmente Argentina, sobre a obra de Jorge Luis Borges entre os anos de 1930 e 1950, tendo como objetivo central estabelecer parâmetros para pensar o binômio nacional / cosmopolita antes e depois da queda do primeiro Governo Perón. No artigo “Fundação e construção: Buenos Aires dos anos 1920 sob a ótica de Jorge Luis Borges”, Pedro Demenech apresenta, por meio de uma perspectiva histórica, a relação entre Borges e a cidade de Buenos Aires com especial destaque para a construção discursiva do autor acerca das mudanças sociais e dos múltiplos significados que um espaço urbano em constante transformação pode apresentar.

Ainda sobre a intelectualidade Argentina, temos os artigos de Natalia Bustelo, Andréa Pasquare e Caio Henrique Romero. Natalia Bustelo no artigo “Entre la épica nacional y las críticas antiparlamentarias: Tensiones en el “modernismo nacionalista” de Leopoldo Lugones” apresenta algumas reflexões do intelectual argentino Leopoldo Lugones sobre alguns dos temas que marcaram o debate intelectual e político do início do século XX na Argentina e no mundo, tais como: a questão nacional argentina, a reforma eleitoral, a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa.

Andrea Pasquaré em “Giusti y la revista Nosotros (1912-1930): crítica, política e intervenciones literarias en la formación del campo cultural argentino” apresenta uma reflexão sobe o periódico Nosotros: Revista mensual de Letras, Arte, Historia, Filosofia y Ciencias Sociales, fundada pelos estudantes universitários Alfredo A. Bianchi e Roberto F. Giusti em 1907 e que, ao longo de mais de 35 anos, notabilizou-se como um espaço de crítica cultural e de notável pluralidade de ideias. Vale ressaltar que o artigo versa sobre os anos de 1912 a 1930.

No artigo intitulado “José Boris Spivacow: trajetória” Caio Henrique Vicente Romero elabora uma análise sobre a trajetória profissional do editor argentino José Boris Spivacow. Tendo como base aspectos teóricos e metodológicos da chamada “história dos livros” o autor apresenta uma reflexão sobre o mercado editorial argentino no século XX a partir da análise das concepções e das estratégias adotadas por esse editor.

Os três textos seguintes, escritos por Graziela Menezes de Jesus, Edmar Victor Rodrigues Santos e Marcos Sorrilha Pinheiro, tratam de diferentes aspectos da História Intelectual e Política do Peru e do México.

Graziela Menezes de Jesus apresenta no artigo “Considerações sobre o indigenismo no México e Peru: a construção da identidade nacional na perspectiva política e intelectual”, uma reflexão acerca do indigenismo latino-americano, defendendo a tese de que tal processo caracterizou-se como um dos principais movimentos políticos e culturais do continente. A autora apresenta, a partir dos casos peruano e mexicano, uma análise das múltiplas faces do conceito.

Edmar Victor Rodrigues Santos em “O jogo político das expectativas na formulação da Constituição revolucionária mexicana (1910-1917)” analisa, a partir dos conceitos “espaço de experiências” e “horizontes de expectativas” formulados por Reinhart Koselleck, o processo revolucionário mexicano no contexto de elaboração da Constituição de 1917. Para isso, o autor apresenta alguns dos debates políticos do período com o objetivo de observar o papel desempenhado pelas várias forças que fizeram parte do jogo político da Revolução.

Marcos Sorrilha Pinheiro em “Luis Alberto Sánchez e os significados do latinoamericanismo” apresenta, através do pensamento do intelectual peruano Luis Alberto Sánchez, alguns dos pressupostos básicos do chamado latino-americanismo que, para Sorrilha Pinheiro, se configurou ao longo do século XX como um conjunto de tentativas, individuais ou coletivas para se construir uma identidade para a América Latina.

Encerrando o Dossiê, dois artigos trazem interessantes abordagens acerca da construção de projetos continentais para a América Latina. Felipe de Paula Góis Vieira no texto “Cien años de soledad: a Macondo-América de Gabriel García Márquez como representação do continente latino-americano” apresenta a leitura do escritor colombiano sobre o continente latino- americano a partir de uma de suas principais obras, responsável, segundo Góis Vieira, por criar uma forma específica de retratar o continente e que se “consolidou no senso comum, dentro e fora do continente”.

Em “Pensamento da América: campo intelectual, ideias e dilemas de um suplemento cultural” as autoras Livia Lopes Neves e Maria de Fátima Piazza analisam o suplemento Pensamento da América do jornal A Manhã, que se caracterizou como um espaço que privilegiava a construção de estratégias para valorizar o processo de integração do continente com o claro objetivo de se estabelecer uma nova concepção de americanidade por meio da divulgação dos vários elementos culturais formadores das Américas Portuguesa, Hispânica e Anglófona.

Por fim, agradecemos a todos os colaboradores, autores e pareceristas que contribuíram com esse número, cuja revisão esteve a cargo de Dayse Ventura Arosa, e convidamos os leitores para a leitura deste conjunto de artigos que reforçam o objetivo central da ANPHLAC e de seu periódico de ser um espaço plural de troca de ideias e divulgação de temáticas referentes à História das Américas.


Organizadores

Maria Elisa Noronha de Sá – Professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RJ.

Fernando Luiz Vale Castro – Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.


Referências desta apresentação

SÁ, Maria Elisa Noronha de; CASTRO, Fernando Luiz Vale. Apresentação. Revista Eletrônica da ANPHLAC, n. 12, p. 5-8, jan./jun. 2012. Acessar publicação original [DR]

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