Patrimônio Cultural: relações entre História, Políticas Públicas, Turismo e Sustentabilidade | Historiae | 2021

Canoa Quebrada1 Patrimônio Cultural
Símbolo inscrito em falésia da Praia de Canoa Quebrada, CE | Foto: Ministério do Turismo / Plano Nacional do Turismo

Na contemporaneidade, o campo do patrimônio cultural tem se mostrado multidisciplinar e voltado a uma polifonia de sentidos. Contudo, talvez oaspecto que mais chame a atenção, seja o dele ter se tornado um campo de disputas, não só de representatividade mas, principalmente, de questões ligadas à história e à memória.

Com este horizonte em vista, o presente dossiê traz à tona as relações e as interfaces entre patrimônio cultural, história e educação patrimonial, evidenciando não somente práticas de acautelamento mas, também, atividades desenvolvidas em espaços educativos formais e não formais. Além disso, também oportuniza uma ampla discussão sobre as articulações entre a preservação do patrimônio e as políticas estruturadas na área do turismo cultural no Brasil e no mundo, enfocando ainda as políticas relacionadas à sustentabilidade dos bens culturais tangíveis e intangíveis, bem como os limites da gestão do turismo na salvaguarda do patrimônio.

Para tanto, iniciamos com o texto “Entre turismo e patrimônio: (re)visitando narrativas locais a partir do evento ‘Dia do Patrimônio’ em Pelotas, RS, de Louise Prado Alfonso, Newan Acacio Oliveira de Souza e Pedro Paulo Abreu Funari, que neste artigo discutem as aproximações entre turismo, patrimônio e isolamento social, por meio de um estudo de caso acerca do evento “Dia do Patrimônio”, na cidade Pelotas. Com este objetivo em mente, os autores analisam a programação oficial do evento e os roteiros pela cidade que esta propõe, buscando desvelar escolhas, conflitos e negociações ao falarde patrimônio na cidade pelotense.

O texto seguinte, “Políticas públicas e patrimônio cultural”, de Sandra C. A. Pelegrini e João Paulo P. Rodrigues, por sua vez, trata da relevância das políticas públicas de turismo externadas no documento: “Plano Nacional de Turismo 2018-2022 (Mais emprego e renda para o Brasil”), publicado no ano de 2015, observando suas metas e estratégias de ação no que tange ao fomento do setor e a sua colaboração com as propostas de preservação do patrimônio e da sustentabilidade.

O terceiro texto deste dossiê, “O prédio-sede da Polícia Federal do Rio Grande/RS: reflexões a partir da educação patrimonial”, de Carmem G. Burgert Schiavon e Vivian da Silva Paulitsch, apresenta uma reflexão sobre a realização de uma atividade de Educação Patrimonial, desenvolvida no Prédio-sede da Polícia Federal e, também, nas dependências da Biblioteca Rio-Grandense.

Cristiéle Santos de Souza e Carla Rodrigues, no artigo “Dos lugares e das políticas de memória em contextos de transição e pós-transição”, tratam da relação existente entre os lugares de memória e a construção de políticas de memória em contextos de transição e pós-transição de regimes ditatoriais, propondo-se a pensar as noções de patrimonialidade e de regimes de historicidade como elementos fundamentais para compreender essa relação.

A temática do “Audiovisual e patrimônios: reflexões a partir de práticas panamenhas”, de Janaína Welle, Aline Vieira de Carvalho e Guillermina Itzel de Gracia, consiste na proposição de um debate sobre as relações entre a Educação Patrimonial (EP), o campo do audiovisual e as funções do patrimônio a partir do estudo de caso do Festival Internacional de Cinema Documental Acampadoc, realizado no Panamá desde o ano de 2012.

No texto “Inventário participativo das rendas de Bilro dos Morros da Mariana, Piauí, Brasil”, as autoras Áurea da Paz Pinheiro, Marinete Martins Vasconcelos e Rita de Cássia Moura Carvalho, apresentam o uso da metodologia do inventário participativo do ofício e modos de saber-fazer da Renda de Bilro em Ilha Grande, no Estado do Piauí, atividade que está em andamento desde 2020.

Cristina Seibert Schneider e Gabriela Passos Selau, no artigo “Não cabia todo mundo…: a educação patrimonial na ressignificação do valor simbólico da Casa da Feitoria”, discutem os processos de identificação e sua relação com a preservação do patrimônio e a educação patrimonial, a partir de um estudo de caso que analisou as relações estabelecidas entre a comunidade local, formada em sua maioria por descendentes de imigrantes alemães e afrodescendentes, e o Museu do Imigrante, de São Leopoldo, patrimônio estadual que ruiu, em 2019.

O texto “A musealização do patrimônio industrial no Museu da Cidade do Rio Grande/RS”, de Olivia Silva Nery, apresenta reflexões sobre a musealização do patrimônio industrial rio-grandino, como uma possibilidade de preservação da história, da memória industrial e de seus vestígios materiais móveis.

Alexandre dos Santos Villas Bôas, em “Patrimônio, turismo e fronteira: o projeto Jaguar em Jaguarão/RS”, apresenta a análise de um projeto de revitalização do patrimônio cultural, realizado na década de 1980, na cidade de Jaguarão/RS, denominado de Projeto Jaguar, o qual tinha por escopo realizar um levantamento dos bens arquitetônicos considerados históricos para que pudessem ser objetos de reconhecimento pela comunidade, através de ações de conscientização como palestras, festivais de música e apresentação de projetos junto ao governo municipal.

No artigo “Em defesa de uma ‘caixinha de lembranças’ de imigrantes do segundo pós-guerra: o patrimônio a partir do acervo particular da família Egert”, Rodrigo dos Santos, discute a relevância da “Caixinha de Lembranças”, de uma família de imigrantes do segundo pós-guerra, para a construção do conhecimento histórico local.

Por fim, temos o texto “Nas margens do estuário: construção, transformação e possibilidades de um patrimônio”, de Eliza Furlong Antochevis, a qual trabalha com o patrimônio edificado urbano e suas potencialidades turísticas, a partir da Rua Riachuelo, na cidade do Rio Grande/RS, analisando como ocorreu o processo de construção da arquitetura dessa rua e como as políticas públicas de preservação, na forma dos instrumentos de proteção, influenciaram o estado atual dos bens da rua, assim como a sua capacidade de estimular o turismo local.

Com estas contribuições, o presente dossiê contempla possíveis interrelações entre as políticas de salvaguarda e o fenômeno da patrimonialização na atualidade, a partir da contribuição de estudiosos e pesquisadores brasileiros, que se dedicam à análise do patrimônio cultural em uma ampla gama de sentidos.


Organizadoras

Carmem G. Burgert Schiavon – Professora Doutora (FURG).

Sandra de Cássia Araújo Pelegrini – Professora Doutora (UEM).

Carla Rodrigues Gastaud – Professora Doutora (UFPel)


Referências desta apresentação

SCHIAVON, Carmem G. Burgert; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo; GASTAUD, Carla Rodrigues.  Apresentação. Historiae. Rio Grande, v. 12, n. 1, 2021. Acessar publicação original [DR].

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