Pensamento Social no Brasil, por Giralda Seyferth: notas de aula – BAHIA et al (T-RAA)

BAHIA, Joana; MENASCHE, Renata; ZANINI, Maria Catarina Chitolina (Org.). Pensamento Social no Brasil, por Giralda Seyferth: notas de aula. Porto Alegre: Letra&Vida, 2015. 256 p. Disponível em: http://www.antropologiaufpel.com.br/Pensamento_social_no_Brasil.pdf . Acesso em: 30 jun. 2015.  Resenha de: WOORTMANN, Ellen F. Notas de aula sobre pensamento social no Brasil: uma homenagem a Giralda Seyferth. Tessituras, Pelotas, v. 3, n. 1, p. 345-348, jan./jun. 2015.

O curso Pensamento Social no Brasil foi proferido pela Professora Giralda Seyferth2 em outubro de 2012, sob a promoção do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas (PPGAnt/UFPel). Tendo contado com a participação de cerca de 30 estudantes e professores, a atividade teve duração de uma semana.

De modo a propiciar a socialização de seu conteúdo, mas também como merecida homenagem à Giralda, como é por todos conhecida, o curso foi gravado, degravado e editado, para que se tornasse publicação amplamente acessível3.

Constitui estimulante fonte de pesquisa para alunos, professores e pesquisadores sobre o tema. Além disso, apresenta-se como excelente inspiração a ser seguida enquanto procedimento didático. O livre acesso ao conteúdo das aulas/texto retoma prática que possibilitou amplo acesso ao pensamento de autores que se tornariam clássicos no campo das humanidades e que, em tempos de internet, coloca-se, de certo modo, como iniciativa didaticamente inovadora.

Teoricamente, resulta de uma proposta de diálogo entre a Antropologia e a História ou, em outros termos, uma proposta de análise da sociedade brasileira à luz de um contexto histórico dinâmico.

Especificamente, as aulas e o texto foram elaborados tomando-se como eixo central o conteúdo de obras de um grupo de autores clássicos significativos (Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre, Nina Rodrigues, Emilio Willems, Florestan Fernandes, Oracy Nogueira, entre outros), que atuaram no Brasil entre o final do século XIX e a segunda metade do século XX. A análise desses autores é construída a partir do recorte do conteúdo e centrada em algumas categorias seminais, tais como a de sociedade brasileira – mais do que a nação ou o estado, no sentido de nation building–, escravidão, raça e racismo, imigração, “brasilidade”, assimilação.

A rigor, muitas dessas categorias de análise são forjadas e ganham força no contexto de períodos-chave e fatos históricos marcantes, como, por exemplo, a abolição da escravatura, a imigração japonesa, a ditadura Vargas ou a II Guerra Mundial. Como expressão de crises reveladoras, a análise dessas categorias expõe, desde um lado, as raízes teóricas e etnográficas, via de regra europeias ou americanas, dos autores e, de outro, a diversidade de seus lugares de fala. Desse modo, por exemplo, as ideias de Joaquim Nabuco são, sem dúvida, expressão do descendente de uma linhagem de grandes políticos e diplomatas nordestinos, assim como as de Gilberto Freyre, também filho de tradicional família nordestina.

O ideário desses autores e de outros pertencentes à elite contrasta com outros analisados em aula, dentre os quais se destacam Florestan Fernandes, originário de camada popular paulistana, depois professor da USP, com posterior expressiva ascensão acadêmica e sócio-política, ou mesmo o professor imigrante Emilio Willems, fugido da crise do pós-I Guerra Mundial da Alemanha, aluno e seguidor das ideias de Max Weber, Simmel e Dilthey. Ainda, Willems contrasta dos demais – “de dentro”, brasileiros – por apresentar, em suas obras, um lugar de fala “de fora”.

Concluindo, deve-se destacar o fato de que, paralelamente a uma análise rigorosa e aprofundada dos vários autores, no decorrer das aulas/texto Giralda estabelece, ainda, diálogo com outros autores situados em contextos análogos, procedimento que torna estimulante a dinâmica de sua exposição/leitura.

Notas

2 Giralda Seyferth é graduada em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (1965). Após período de trabalho de pesquisa em Arqueologia, cursou o mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1973), tendo sido orientada pelo Professor Luiz de Castro Faria na dissertação A colonização alemã no Vale do Itajaí: um estudo de desenvolvimento econômico (SEYFERTH, 1974). Em 1976, doutorou-se em Ciências Humanas (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo, tendo sido orientada pela Professora Ruth Cardoso na tese Nacionalismo e identidade étnica: a ideologia germanista e o grupo étnico teuto-brasileiro numa comunidade do Vale do Itajaí (SEYFERTH, 1982). Professora associada do Departamento de Antropologia do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Giralda Seyferth possui experiência docente, de orientação e de pesquisa na área de Antropologia, atuando principalmente nos temas de colonização, imigração, nacionalismo e racismo. Entre outros trabalhos, é autora dos livros acima citados, da obra Imigração e cultura no Brasil (SEYFERTH, 1990) e de inúmeros artigos.

3 A obra Pensamento Social no Brasil, por Giralda Seyferth: notas de aula (2015) foi organizada pelas professoras Renata Menasche, Joana Bahia e Maria Catarina Chitolina Zanini, respectivamente pertencentes aos Programas de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas (PPGAnt/UFPel), História Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGHS/UERJ) e Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria (PPCS/UFSM). O acesso gratuito ao livro, na íntegra, está sendo disponibilizado através dos sites desses Programas.

Referências

BAHIA, Joana; MENASCHE, Renata; ZANINI, Maria Catarina Chitolina (Org.). Pensamento Social no Brasil, por Giralda Seyferth: notas de aula. Porto Alegre: Letra&Vida, 2015. Disponível em:   http://www.antropologiaufpel.com.br/Pensamento_social_no_Brasil.pdf . Acesso em: 30 jun. 2015.

SEYFERTH, Giralda. A colonização alemã no Vale do Itajaí: um estudo de desenvolvimento econômico. Porto Alegre: Ed. Movimento, 1974.

______. Nacionalismo e identidade étnica: a ideologia germanista e o grupo étnico teuto-brasileiro numa comunidade do Vale do Itajaí. Florianópolis: FCC, 1982.

______. Imigração e cultura no Brasil. Brasília: EdUnB, 1990.

Ellen F. Woortmann – Doutora em Antropologia pela Universidade de Brasília, coordenadora do Grupo de Pesquisa do CNPq “Memória e Patrimônio Alimentar: tradição e modernidade”. E-mail: [email protected] .

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