Políticas – Práticas e representações / Escritas / 2008

É com satisfação que iniciamos uma grande aventura editorial com a publicação da Revista Escritas, publicação do curso de Historia (UFT) do campus de Araguaína. Publicar uma revista requer esforço, coragem e dedicação, com o objetivo de difundir e vulgarizar o conhecimento cientifico. Isto deve ser o fruto da diligencia e da dedicação de pesquisadores empenhados em resolver ou apontar alternativas aos problemas vividos pela humanidade, tanto na dimensão do passado quanto no presente.

A presente Edição cobre um campo fundamental de conhecimento e saberes para o entendimento do mundo moderno ou – como querem alguns – contemporâneo: o da teoria e prática políticas. Assim, organizamos o primeiro número da revista em um Dossiê com pluralidade temática e enfoques teóricos e metodológicos diversificados. Contudo, não houve pretensão de esgotar o tema; como todos sabem, uma revista opera através de seleções, depuramentos e escolhas. Nesta primeira Edição, contemplamos também uma seção com artigos livres, ou melhor, que se vinculam indiretamente à temática do Dossiê. Nesta seção há também uma pluralidade temática, de objetos e de aspectos teórico-metodológicos.

Os autores e autoras utilizam como aporte de suas pesquisas a literatura, o romance, os dados de pesquisas e propagandas eleitorais, documentos sobre a lei de terras no Brasil; analisaram, também, os aspectos teóricos das correntes marxianas e da Nova Historia. Enfim, vagaram pela historia das ideias e das práticas políticas, discutiram os grupos sociais que influenciam e / ou influenciaram a sociedade na Idade Média, no Brasil Império e no transcurso da República; procuraram interpretar a história política a partir de processos e personagens. O Dossiê apresenta-se enriquecido sob diversos matizes, como o artigo de Flavia Aparecida Amaral Linhagem, território e memoria na Idade Media: o exemplo do Romance Mellusina ou então o texto de Charles Sidarta Machado Domingos A politica externa independente do governo João Goulart onde o autor procura demonstrar que a política empreendida pelo então presidente Joao Goulart acirrou as tensões existentes no Brasil nos anos 1960, no contexto da Guerra Fria.

Estes são dois exemplos da heterogeneidade e pluralismo que marcaram o primeiro Dossiê; porém, há um forte vínculo que unifica esses trabalhos, a saber: todos se orientam no sentido de aprofundar uma discussão sobre o poder político. O material utilizado pelos autores apresenta-se também variado e complexo: registros de jornais, romances históricos, obras historiográficas como aquelas analisadas no artigo instigante e filosófico de Marcos Baccega que trata de perscrutar os contornos do imaginário e do fetiche na obra de Karl Marx, O Capital. Ou, brilhante ensaio – quase autobiográfico – de Jose D’Assunção Barros “Historia Política: dos objetos tradicionais ao estudo dos micropoderes, do discurso e do imaginário” que procura discutir a relação entre o discurso e imagem e suas potencialidades inerentes ao poder. Não poderíamos deixar de destacar a análise feita por Cristiano Luís Christillino sobre as lutas das facções políticas de elite da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul em torno da famosa Lei de Terras de 1850 no Brasil. Heterogêneos e plurais esses artigos expressam a variedade da produção historiográfica sobre o tema do Dossiê.

Os artigos livres revelam essa heterogeneidade e pluralismo de ideias, de temas, objetos e fontes. Os temas variam de aspectos religiosos como o tratado no artigo de Regina Célia Lima Caleiro e Frederico Alves Mota, como o tratado no texto de Alessandro de Almeida e Girlânio Gomes Corrêa sobre o romance e filme “Revolução dos Bichos” que discute a produção e circulação midiática desses produtos culturais; temos uma forte reflexão feita por Arilson dos Santos Gomes sobre o Primeiro Congresso Nacional do Negro ocorrido em Porto Alegre em 1958. Tal tema mostra o engajamento dos movimentos sociais negros no Brasil e, particularmente, no sul do país na primeira metade do século XX, tema sumamente importante para compreender assuntos como as ações afirmativas do movimento negro atual e, diversas temáticas relacionadas às lutas por igualdade política e social no país.

O tema da identidade retorna na Seção Livre da revista Escritas no artigo da professora Imgart Grützmann “A mágica flor azul: canções, romantismo, nostalgia e continuidade no germanismo” onde a autora se vale da literatura e de todo um aparato cultural para compreender a construção e consolidação dos laços étnico-culturais com a Alemanha. Ainda neste artigo, a autora procura mostrar aspectos de continuidade cultural entre o Brasil e a nação de origem dos germânicos residentes no Rio Grande do Sul, especialmente a partir da análise de jornais. Acultura romana desponta no excelente e novíssimo tema trabalhado por Daniel Barbo “O Homoerotismo e a cultura política falocêntrica na Atenas Clássica.”, em que o autor discute os processos de dominação da cultura masculina, levanta as principais características de uma cultura política no mundo clássico, sobretudo, analisa aspectos pouco destacados na tradição acadêmica que se debruça sobre história política da Grécia antiga.

O que se nota nessa primeira Edição da revista Escritas é que a política e seus desdobramentos foram amplamente inquiridos pelos autores a partir de um espectro vasto no tempo e no espaço. O ecletismo que essa Edição apresenta é marca do vigor da produção acadêmica e historiográfica sobre o tema. Outro lado importante que a publicação revela é que há muitos mitos, preconceitos e caminhos que precisam ser trilhados para superar uma visão uniforme e monolítica da política. Os artigos apontam para a necessidade de mais investigações e novas abordagens do universo da política superando uma visão institucionalizada e centralizada nas instituições e órgãos do Estado, e mesmo de instituições e grupos políticos partidários e sindicais da sociedade civil, ou seja, a política possui várias facetas e dimensões ainda passiveis de explorações e fascinantes descobertas. Boa leitura.

O Editor

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[DR]

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