No olho da águia. Unilateralismo e relações internacionais | Argemiro Procópio

O fim da Guerra Fria ocasionou no país vencedor – Estados Unidos – sentimento de euforia de tal monta que um de seus ideólogos, Francis Fukuyama, chegou a decretar o fim da história, ou seja, a democracia liberal como a última etapa das instituições político-econômicas. Naturalmente, a administração cotidiana do presumido último estágio ficaria a cargo dos norte-americanos, que se transformariam no guardião da nova ordem mundial, que seria unipolar, menoscabando outros pólos de poder ou tendências que se configuram hodiernamente.

Todavia, para Argemiro Procópio, professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, esse conceito apenas mascara o contínuo jogo de poder, que sempre perpassa as relações internacionais. Desse modo, o fim da Guerra Fria não assegura harmonia, nem prosperidade; porém, a supremacia de um pequeno grupo de nações, que, a pretexto de manter a estabilidade com vistas a um interesse universal, subordina o destino de inúmeras outras, tanto política como economicamente. Seria, para ele, a modernização do conceito de espaço vital, tão caro aos expansionistas alemães do século passado. Leia Mais

O Brasil e as novas dimensões da segurança internacional | Gilberto Dupas e Tullo Vigevani

O Brasil e as novas dimensões da segurança internacional, coletânea organizada por Gilberto Dupas e Tullo Vigevani, tem origem em um seminário realizado pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, em 1998. Trata-se de um sério esforço de estudiosos brasileiros no sentido de pensar sobre o lugar do Brasil no mundo pós-bipolar, em que a distribuição de poder, como adverte M.-C. Smouts, parece mais próxima dos relógios moles de Dali do que de qualquer fórmula geométrica. Tarefa difícil, pois, é esta de compreender o funcionamento da era pós-Guerra Fria e dos possíveis caminhos para a inserção do Brasil.

No primeiro capítulo, Gelson Fonseca Jr. situa o enfoque realista no espectro interpretativo sobre o sistema internacional, atualizando-o com vistas a definir o tipo de relações de poder que substituiu a bipolaridade. Das poucas certezas que temos, afirma o autor, provavelmente a mais indiscutível é a de que os Estados Unidos são pólo que se diferencia por seus recursos de poder, e questiona: “em uma ordem que combina concerto e multipolaridade, quais seriam as posições do Brasil?” Compartilhamos dos valores do concerto, como a democracia, os direitos humanos, etc, e, se persiste tal configuração de poder, a resposta estaria em “como aumentar a nossa capacidade de influência”. Leia Mais

O Contencioso Brasil x Estados Unidos da Informática: uma análise sobre formulação da política exterior | Tullo Vigevani || Propriedade intelectual de setores emergentes: biotecnologia/ fármacos e informática | Marcelo Dias Varella

O objetivo do livro de Tullo Vigevani está colocado claramente pelo autor em sua introdução: estudar uma questão de grande relevância intrínseca para a inserção econômica internacional do Brasil – a disputa “informática”, na verdade uma disputa de poder, entre o Brasil e os Estados Unidos – e refletir sobre pontos fundamentais para as relações internacionais contemporâneas. Buscou o autor, com muita proficiência, “ampliar a compreensão de como são tomadas as decisões no Brasil no que se refere à política exterior”. Devo confessar, como acadêmico em tempo parcial e diplomata em tempo integral, que sempre me interroguei sobre a validade propriamente científica, a coerência argumentativa e a legitimidade heurística dos estudos tipicamente acadêmicos sobre mecanismos de tomada de decisão em política internacional e na política externa brasileira em particular. Os pesquisadores universitários geralmente partem de um modelo teórico e de um esquema conceitual muito bem construídos, passam a entrevistar diplomatas e outros atores relevantes numa análise de caso bem delimitado e terminam por tirar conclusões sobre a “eficácia weberiana” de seu tipo-ideal de processo decisório, no caso aplicado a um exemplo concreto das relações políticas entre as nações.

Os resultados costumam ser insatisfatórios ou frustrantes, seja porque o pesquisador parte de um modelo de racionalidade ideal de conduta diplomática que não costuma encontrar-se na realidade, seja porque os próprios atores racionalizam a posteriori sua atuação no caso, de molde a justificar os resultados alcançados, “que só poderiam ser” aqueles efetivamente obtidos. Como diriam os franceses, CQFD, ou seja, eis o que era preciso demonstrar. Não é o caso, devo logo adiantar, deste precioso estudo sobre mecanismos de decisão aplicados ao caso do contencioso informático entre o Brasil e seu principal parceiro ocidental, o império norte-americano da informática. Leia Mais