Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa – MARTINS (C)

MARTINS, Gilberto de Andrade. Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2006. Resenha de: CAMPOS, Paulo Tiago Cardoso. Conjectura, Caxias do Sul, v. 17, n. 3, p. 164-169, set/dez, 2012.

A obra aqui resenhada tem um duplo propósito e valor: por um lado, versa sobre um tema compreendido de forma muitas vezes deficiente nos círculos acadêmicos, e isso se reflete em trabalhos (monografias, artigos, dissertações) nos quais a falta de rigor é patente; por outro, é escrito de maneira clara, didática, acessível e desmistificadora.1 O primeiro ponto destacado acima é assinalado pelo autor do livro, assim como também destaca o caráter de dependência da pesquisa, desenvolvida com o emprego da estratégia do estudo de caso, em relação à construção de uma adequada plataforma teórica e a necessidade de demonstrar a articulação dessa com os dados colhidos na realidade histórica concreta a respeito da qual versa o estudo de caso.

De novo, isso reforça o escrito acima: o livro procura suprir falhas constatadas em diversos estudo de casos publicados como artigos ou apresentados na forma de dissertações de mestrado e monografias de conclusão de cursos de graduação. Dentre essas falhas está a falta de rigor na demonstração de uma plataforma teórica sólida (resultante de uma revisão de literatura), ausência de ligação entre essa plataforma e os dados coletados e problemas na extração de conclusões que sejam oriundas de interpretações rigorosas desse conjunto de elementos (plataforma teórica e dados coletados); e também trabalhos que se intitulam estudo de caso sem sê-lo. Leia Mais

O Contencioso Brasil x Estados Unidos da Informática: uma análise sobre formulação da política exterior | Tullo Vigevani || Propriedade intelectual de setores emergentes: biotecnologia/ fármacos e informática | Marcelo Dias Varella

O objetivo do livro de Tullo Vigevani está colocado claramente pelo autor em sua introdução: estudar uma questão de grande relevância intrínseca para a inserção econômica internacional do Brasil – a disputa “informática”, na verdade uma disputa de poder, entre o Brasil e os Estados Unidos – e refletir sobre pontos fundamentais para as relações internacionais contemporâneas. Buscou o autor, com muita proficiência, “ampliar a compreensão de como são tomadas as decisões no Brasil no que se refere à política exterior”. Devo confessar, como acadêmico em tempo parcial e diplomata em tempo integral, que sempre me interroguei sobre a validade propriamente científica, a coerência argumentativa e a legitimidade heurística dos estudos tipicamente acadêmicos sobre mecanismos de tomada de decisão em política internacional e na política externa brasileira em particular. Os pesquisadores universitários geralmente partem de um modelo teórico e de um esquema conceitual muito bem construídos, passam a entrevistar diplomatas e outros atores relevantes numa análise de caso bem delimitado e terminam por tirar conclusões sobre a “eficácia weberiana” de seu tipo-ideal de processo decisório, no caso aplicado a um exemplo concreto das relações políticas entre as nações.

Os resultados costumam ser insatisfatórios ou frustrantes, seja porque o pesquisador parte de um modelo de racionalidade ideal de conduta diplomática que não costuma encontrar-se na realidade, seja porque os próprios atores racionalizam a posteriori sua atuação no caso, de molde a justificar os resultados alcançados, “que só poderiam ser” aqueles efetivamente obtidos. Como diriam os franceses, CQFD, ou seja, eis o que era preciso demonstrar. Não é o caso, devo logo adiantar, deste precioso estudo sobre mecanismos de decisão aplicados ao caso do contencioso informático entre o Brasil e seu principal parceiro ocidental, o império norte-americano da informática. Leia Mais