História e Humor | Fênix – Revista de História e Estudos Culturais | 2018

“Le bon historien (…) saura ce qu’il faut penser de toute cette mascarade. Non point qu’il la repousse par esprit de sérieux; il veut au contraire la pousser à l’extrême: il veut mettre en oeuvre un grand carnaval du temps, où les masques ne cesseront de revenir. (…) Car cette identité, bien faible pourtant, que nous essayons d’assurer et d’assembler sous un masque, n’est elle-même qu’une parodie.”

Michel FOUCAULT. “Nietzsche, la généalogie, l’histoire”. In BACHELARD, Suzanne et al. ‘Hommage à Jean-Hyppolite’. Paris: Presses Universitaires de France, 1971, p. 169-170.

No senso comum, inclusive acadêmico, não é difícil um pesquisador do humor ser encarado com estranheza, seu tema ser visto como menor, com mais expectativa de provocar risos do que reflexões sobre seu estudo. Tal percepção incorpora nos meios universitários os estereótipos que tendem a ver o fenômeno como ligado à dimensão do divertimento, do lúdico, da mera brincadeira, motivo pelo qual teriam menos relevância em relação a assuntos considerados mais sérios. 1 Essa ideia se esfumaça quando, sobretudo na vertiginosa velocidade da internet e redes sociais digitais, o riso e seu móvel começam a tocar problematicamente naqueles campos sensíveis da sociedade contemporânea e veicular preconceitos, exagerar estereótipos, ferir subjetividades, contrariar interesses dos poderosos ou dos historicamente oprimidos e, por tudo isso, motivar repulsas e censuras. Talvez seja nesses momentos extremos e polarizados que a suposta “neutralidade” do riso saia de cena e fique mais evidente como o humor pode ser mobilizado para grupos e indivíduos se afirmarem simbolicamente em calorosas disputas e conflitos. Porém, de modo menos evidente, além de brinquedo e/ou arma, o humor pode ser instrumento, um meio de conhecimento da realidade humana, já que é “um índice de como as sociedades se representam – e um índice mais significativo porque fortemente ligado às emoções”. 2 Leia Mais