Atlântida: pequena história de um mito platônico | Pierre Vidal-Naquet

Devolver o mito à imagem e à poesia, depois de ter

destrinchado sua história, é a dádiva que desejo a

todos aqueles que lerão este pequeno livro (VIDALNAQUET, 2008, p. 177).

Pequena obra-prima é como se pode definir este livro (Atlântida) de Pierre Vidal-Naquet (1930-2006), cujo trabalho renovou os estudos sobre a historiografia greco-romana do mundo antigo (mesmo considerando o fato que tenha sido especialista da Grécia clássica e helenística). Autor de uma vasta produção, em que se destacam: Os assassinos da memória (traduzido no Brasil em 1988), O mundo de Homero (2002), Os gregos, os historiadores, a democracia (2003), e em parceria com Jean-Pierre Vernant: Trabalho e escravidão na Grécia antiga (1989) e Mito e tragédia na Grécia antiga I e II (1991; 1999).

Numa pesquisa minuciosa, o que o autor procura identificar nesta obra é a elaboração de uma historiografia sobre o mito da ‘Atlântida platônica’, ao cotejar evidências arqueológicas e dados etnológicos, que ao longo do tempo serviu para justificar interpretações filosóficas, religiosas e políticas, em cujas ambições estavam: a) a de reconstituição de uma civilização perdida; b) de demonstrar as origens de um povo cuja ‘identidade’ havia sido pouco valorizada; c) de empreender jornadas a lugares distantes, com fins políticos e comerciais; d) e ainda de explorar ilhas e territórios desconhecidos. Em todas essas situações, a narrativa mítica foi se adequando aos novos contextos e espaços geográficos, reconfigurando momentos decisivos (como o de seu desaparecimento), ou se transpondo para outros povos, no interior destas novas narrativas e interpretações. Definir quais foram esses momentos, quais seus interpretes e que mutações foi sofrendo, o mito da ‘Atlântida platônica’, foi à tônica da narrativa de Pierre Vidal-Naquet, coberta de análises criteriosas, mas sem dispensar a fina ironia que é comum aos trabalhos do autor. Leia Mais