Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços / Revista Espacialidades / 2016

O homem vive, em grande parte de sua vida, uma busca por espaço. Seja de forma concreta, um lar para morar, ou abstrata, como um lugar no espaço postmortem. Por toda a História, homens, nações, povos, etnias e sociedades empreenderam uma procura semelhante ao definirem territórios e linhas divisórias do que é seu e do que pertence ao outro. Esta definição produziu conflitos por espaços que englobaram desde a necessidade de se alimentar, como o movimento descontínuo de conquistas das terras férteis da Mesopotâmia, a busca por riquezas a serem aproveitadas, dos impérios ultramarinos e o controle das diferentes colônias, resultado de expedições e guerras travadas entre nações e povos nativos ou, no século XX, na busca dos Estados Nacionais por um “espaço vital” necessário ao progresso, até determinadas formas de conceber o mundo por meio de disputas por “lugares sagrados”, sejam eles concretos ou abstratos.

A construção dos espaços pode estar intimamente ligada àquilo que se almeja ter, que se sonha para um propósito, com um novo lugar para viver, a extensão do poder de conquista, a expansão de mercados, o aumento do lucro ou até o imaginário de um lugar sagrado. Nesse sentido, o desejo pelo espaço que já era de outrem ou que estava entre interesses diferentes, levou à disputa de grandes guerras, conflitos, embates e transformações nos indivíduos e na sua forma de compreender os espaços. Tais relações de poder foram fundamentais à definição de pertenças, o estabelecimento ou não de fronteiras, a organização de movimentos de resistência e de negociação. Todas essas dinâmicas contribuíram à (des)construção dos espaços que eram almejados por indivíduos, povos, etnias ou quaisquer organizações estatais – que empreendiam esforços e estratégias para dominar àquilo que sonhavam ter sob suas posses. Percebendo-se a constância das disputas pelo espaço na História e a maleabilidade das fronteiras estabelecidas pelas diferentes formas de territórios e espacialidades e a importância desta temática para o enriquecimento do debate da relação História e Espaços, pauta central deste periódico, é com imenso prazer que a Revista Espacialidades apresenta o seu 9° volume com o dossiê “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”.

O projeto deste dossiê começou a ser pensado já meados de 2015 como resultado de conversas a respeito de qual seria a temática do dossiê do volume 9, referente ao semestre janeiro-junho de 2016. Após uma longa divulgação da chamada para o dossiê foram recebidas diferentes propostas para esta publicação. Criteriosamente avaliadas pelo Conselho consultivo da Revista Espacialidades, composto por professores e pesquisadores de universidades das mais diferentes regiões do país, os artigos recebidos e aprovados estão aqui apresentados neste volume. Além dos 8 artigos que compõe o dossiê temático “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”, este volume contém mais 5 artigos na sua seção livre. Após a seção livre, apresentamos também uma resenha e uma entrevista realizada pela Equipe editorial da Revista com a professora Dra. Sabrina Evangelista Medeiros, envolvida com pesquisas que se encaixam com o tema do dossiê “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”. Publicações estas que serão explicitadas logo em seguida, nesta breve Apresentação.

A Equipe editorial da Revista Espacialidades composta por membros do Programa de Pós-graduação em História da UFRN e sob a chefia editorial do professor Dr. Magno Francisco de Jesus Santos, professor do Departamento de História da UFRN, orgulha-se da sua mais nova publicação, resultado de muito trabalho e de contribuições feitas por pesquisadores de todo o país, que se interessaram em publicar na Revista Espacialidades enviaram as suas propostas. A todos, nosso agradecimento.

Não somente aos proponentes de publicações, agradecemos imensamente aos membros do Conselho consultivo deste volume. Professores e pesquisadores das mais diversas universidades que com muita dedicação e criticidade contribuíram, em grande medida, para a consolidação do projeto pensado ainda em 2015 para este volume. Por meio de suas avaliações e pareceres, foi possível selecionar as publicações deste dossiê e ainda proporcionar o diálogo e enriquecimento das pesquisas e trabalhos de todos os que enviaram propostas de publicação para este volume. A Equipe editorial agradece ainda ao mestre pelo PPGH-UFRN, Adriel Silva, que contribuiu com a elaboração da capa deste dossiê, que com seu talento nos presenteou com a expressiva montagem que abre o volume 9 do nosso periódico.

Seguimos com uma breve apresentação dos textos e seções que compões este volume, publicações que certamente contribuírão para o avanço do diálogo, da pesquisa e do debate dentro da relação História e Espaços.

Inaugurando o Dossiê desta edição a professora Dra. Katia Maria Paim Pozzer, do Departamento de Artes Visuais da UFRGS, apresenta o artigo “Para além das guerras: a representação do espaço na arte assíria”, tratando sobre à representação imagética do espaço geográfico no período da neoassíria, por meio do estudo de um relevo parietal em uma conjuntura de forte expansão territorial do Império.

Em seguida têm-se o artigo “O saque de Roma pelos visigodos: visões tardo-antigas” trabalho realizado pelo doutorando em História pela UFRJ Fabiano de Souza Coelho e pelo doutorando em História pela UFES, Luís Eduardo Formentini, no qual fizeram uma análise do saque de Roma realizado pelos visigodos em 410 a.c, debatendo a influência deste acontecimento no processo de desagregação do Império do Ocidente.

O terceiro artigo do dossiê intitula-se “Conjuntura e estruturação dos espaços de poder do marquesado da Toscana no século XI” e foi proposto pela mestranda em História da UFMT, Natalia Dias Madureira. O texto aborda os conflitos existentes no contexto do concílio realizado em Mântua, em 1064, no marquesado de toscana, discutindo as relações de poder entre Igreja e famílias da região que estiveram envolvidas no concílio.

Em seguida, saindo dos trabalhos que compreendem o recorte temporal da antiguidade e do medievo, apresentamos o artigo “Conflitos judiciais, espaços de jurisdição e estruturação administrativa da justiça na capitania do Rio Grande (Comarca da Paraíba / Rio Grande do Norte, 1789 – 1821)”, trabalho do prof. Dr. Antonio Filipe Pereira Caetano, do Departamento de História da UFAL. Neste artigo, o autor tem como foco discutir os conflitos de jurisdições e os problemas administrativos ocorridos na Capitania do Rio Grande (do Norte) entre 1789-1821.

Ainda tratando do contexto do Rio Grande do Norte, mas agora no período do Brasil Império o artigo “Os retirantes e a municipalidade no Rio Grande do Norte durante a seca de 1877”, elaborado Ana Carolina da Silva Santana, graduada em História pela UFRN e por João Fernando Barreto de Brito, doutorando em História pela UFRJ, tem como objetivo analisar os conflitos entre a massa de trabalhadores livres e as elites locais, na conjuntura das Comissões de Socorros, estabelecidas pelos presidentes de província durante a seca de 1877.

Nessa ordem, ainda tratando do Rio Grande do Norte, o quinto artigo deste dossiê, de autoria do doutorando em História da PUC – RS, Saul Estevam Fernandes, “Os engarrafadores dos espaços ou a disputa pela produção espacial norte rio-grandense e cearense durante na retomada da questão de limites entre os sócios do IHGA-CE e o IHG-RN”, objetiva discutir a retomada da Questão de Limites entre os estados do Rio Grande do Norte e Ceará (1894-1920). Além disso, o texto toma como problemática central as tentativas dos intelectuais cearenses e potiguares em dizerem os territórios dos dois estados por meios de cronistas, memórias, descrições, comemorações e mapas.

Mudando de uma temática mais concentrada no Rio Grande do Norte para a Paraíba, mas ainda tratando da relação entre conflitos e espaços, apresentamos o artigo intitulado “Banditismo e modernização: cangaceiros, malfeitores, ladrões de cavalos e suas redes de solidariedade avessas ao poder policial (Paraíba, 1930-1950) ”, trabalho realizado pelo mestrando em História da UFPB Luiz Mário Dantas Burity. Nessa proposta, o autor visa, em uma análise da decadência do banditismo, atentar para as mudanças e permanências que ocorreram nas regiões atingidas pelo banditismo, na Paraíba, entre 1930 e 1950.

Fechando o dossiê “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”, trazemos o artigo “O Brasil, a América Latina e a Europa: o acordo Mercosul / União Europeia, um retrospecto de umanegociação ainda não concluída”, do bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela UFRJ, Rodrigo Cássio Marinho da Silva. O trabalho aborda as implicações da política de subsídio europeia e as consequências para o Mercosul e seu processo de integração, encerrando o dossiê com um tema ligado a negociação, espaços e poder nas relações internacionais.

Abrindo a Seção livre deste volume, trazemos o artigo “Fronteiras da memória, identidades imaginadas: uma análise histórica e cultural das fronteiras da Carélia no contexto da emancipação finlandesa, XIV-XIX”, de autoria do graduado em História pela UFCG, Marcos Saulo de Assis Nóbrega. O artigo tem como objetivo analisar as questões pertinentes a cultura da região fronteiriça da Carélia, desde o século XIV, abordando ainda o processo de emancipação da Finlândia e seu processo de formação do ideário nacionalista no século XIX.

Já o trabalho do mestrando em História pela UFRN, Kleyson Bruno Chaves Barbosa, “A câmara faz a festa, “ainda que estranho se acordacem tão tarde”: celebrações possíveis na Natal setecentista”, trata sobre o papel do Senado da Câmara da cidade do Natal quanto a organização e a celebração de festividades na cidade, no século XVIII, analisando um dos aspectos do cotidiano do espaço urbano colonial neste período.

O artigo “Uma discussão de classe e uma história social do blues no sul dos Estados Unidos”, feito pelo graduado em História pela UFPB, André Felipe de Albuquerque Espínola nos traz uma análise da experiência cultural com a música, o blues, desenvolvida entre os trabalhadores dos Estados Unidos no início do século XX, ao redor do Delta do Mississippi. Assim, o autor tenta compreender como essa experiência contribuiu para o desenvolvimento de estilo musical entre as décadas de 1930 3 1940.

Como parte da seção livre deste volume, temos também o artigo ““Como essa nunca tinha visto!” – devoção a Nossa Senhora Medianeira – a Igreja, o poder municipal e os devotos”, da doutoranda em História pela UPF Francielle Moreira Cassol. O artigo traz uma análise sobre a romaria de Nossa Senhora Medianeira, no interior do Rio Grande do Sul, problematizando a sua patrimonialização e a transformação do evento religiosos em acontecimento de caráter também turístico.

Encerrando a seção livre do nosso volume 9, apresentamos o trabalho realizado pelo professor Dr. Alessandro Dozena, do departamento de História da UFRN e pelo doutorando em Ciências Sociais, pela mesma instituição, Valdemiro Severiano Filho. O artigo “O carnaval de Natal (RN): espaços de transformação no tempo da folia” traz um estudo sobre a institucionalização do carnaval em Natal a partir da década de 1930 até o tempo presente, considerando as dinâmicas sociais ligadas à festividade com foco nas relações de poder nela estabelecidas.

Na seção Resenhas, têm-se a análise da obra O Eldorado, de autoria de José Miguel Arias Neto, realizada pelo pós-graduando em História pela UEL Osvaldo Fiorato Junior. A resenha intitulada “As representações do progresso em Londrina, uma História regional do norte do Paraná”, considera a influência da obra na constituição da historiografia regional do Norte do Paraná, fazendo um paralelo da relação entre a produção historiográfica e a construção dos espaços.

Fechando o nosso dossiê, na última seção do nosso volume, apresentamos a entrevista concedida pela professora Dra. Sabrina Evangelista Medeiros, professora da UFRJ e da Escola Naval do Rio Janeiro. Especialista nos debates sobre relações internacionais, a professora Sabrina Evangelista traz em sua fala importantes debates sobre a conjuntura internacional contemporânea, tratando de forma muito enriquecedora sobre temas relevantes da atualidade, referentes a conflitos, negociações e política nas relações internacionais no tempo presente.

O editor-chefe e a Equipe editorial da Revista Espacialidades desejam a todos uma boa leitura!

Editor-chefe: Magno Francisco de Jesus Santos

Equipe editorial:

Aledson Manoel Silva Dantas

Cid Morais Silveira

Francisco Leandro Duarte Pinheiro

Giovanni Roberto Protásio Filho

Lívia Brenda da Silva Barbosa

Raphael Alves da Costa Torres

Tyego Franklim da Silva


SANTOS, Magno Francisco de Jesus et al; Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.9, n. 01, Jan- Jun, 2016. Acessar publicação original [DR]

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Espaços da cultura e representações do espaço: entre o simbólico e o concreto / Revista Espacialidades / 2015

A Revista Espacialidades, por meio do dossiê intitulado Espaços da cultura e representações do espaço: entre o simbólico e o concreto – voltado às discussões, manifestações e problematizações das diversas matizes que envolvem a ideia e o conceito de cultura –, apresenta seu 8º volume. Organizar este dossiê, como todos os outros, não foi uma tarefa simples, mas é o resultado final que nos faz, ano após ano, perceber o quão importante é esta publicação. A certeza de que nossa publicação é fundamental à comunidade científica e demais leitores interessados nos fez decidir que esta tarefa se tornará mais prazerosa e onerosa, visto que é este o último volume anual da Espacialidades – que passará a ser semestral a partir do ano vindouro.

Agradecemos ao nosso quadro de pareceristas, formado por profissionais de destacado renome nacional e internacional, que com seu profissionalismo atua para que a qualidade desta publicação se mantenha com o passar dos anos. Outrossim, os articulistas que nos confiaram a missão de divulgar suas produções merecem também nosso profundo agradecimento. É para nós salutar expressar também os mais sinceros agradecimentos a Tyego Flankim da Silva, que exerceu a função de editor-gestor na edição passada, pela valorosa ajuda também neste volume, e a Adriel Silva, aluno do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), cujo talento nos brindou com a belíssima imagem que ilustra a capa desta edição.

Este volume, cujo dossiê é voltado à discussão cultural, é contemplado ainda com duas entrevistas, uma resenha e um resumo de dissertação, nova modalidade de publicação que resolvemos acolher. De maneira igualmente fundamental apresentamos os artigos da seção livre, cujas temáticas abordadas são múltiplas, sem as quais não seria possível a diversidade desta publicação.

Recebemos textos de articulistas de diversas universidades, e mantivemos em nossa publicação um artigo escrito por um aluno de nosso Programa de Mestrado, como tradicionalmente defende a Revista. Doravante, apresentaremos esses textos e contamos com a divulgação e apreciação por parte de vocês, leitores – a parte central da engrenagem que forma e que motiva a Espacialidades e sua equipe editorial.

Abrindo o 8º volume da Revista Espacialidades, Carolina Ferreira de Figueiredo e Nicoll Siqueira da Rosa, ambas mestrandas em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apresentam o artigo “A eficiência cultural da forma: apontamentos sobre o uso de imagens nas áreas de história e antropologia visual”, e fazem uma discussão teórica acerca do uso das imagens como forma de produção do conhecimento, em um momento em que o debate acerca da cultura visual é relevante à compreensão do mundo contemporâneo.

Em seguida, Alicia Karina Valente, mestranda do Instituto de Historia del Arte Argentino y Americano – Facultad de Bellas Artes, da Universidad Nacional de La Plata (UNLP – Argentina), apresenta seu texto, “Palimpsestos visuales en un espacio cultural autogestionado”, que traz a análise de uma forma estética marcada pela presença do graffiti e do sténcil no interior e exterior de um espaço cultural autogerido, o Centro Cultural y Social El Galpón de Tolosa, da cidade de La Plata, na Argentina.

Aguiomar Rodrigues Bruno, mestre pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), apresenta seu texto “Tractatus de arte et scientia bene moriendi: a literatura pedagógica da morte no interior Fluminense Oitocentista (Freguesia de Piraí)”, que busca evidenciar o alcance e a influência da literatura devocional da boa morte no imaginário e nas práticas populares mortuárias no interior do Vale do Paraíba Fluminense, especificamente na freguesia de Piraí, na primeira metade do século XIX.

Amanda Teixeira da Silva, professora da Universidade Federal do Cariri (UFCA), proporciona ao leitor o estudo intitulado “A fisionomia da pedra: um olhar sobre a escultura de Agostinho Balmes Odísio”, que aborda a influência da arte funerária sobre a escultura de Agostinho Balmes Odísio, escultor italiano que viveu em Juazeiro do Norte entre os anos de 1934 e 1940.

Alexandra Lis Alvim, mestranda em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), apresenta seu artigo, intitulado “‘Anos 70, não deu pra ti…’: considerações sobrea memória, juventude e período autoritário através do filme “Deu pra ti, anos 70…” (1981) e da peça teatral ‘Bailei na Curva’ (1983)”, no qual a autora se propõe a fazer uma análise das produções culturais surgidas nos anos finais da última ditadura brasileira: o longa-metragem em Super 8, lançado em 1981,“Deu pra ti, anos 70…”, de Nelson Nadotti e Giba Assis Brasil, e a peça teatral “Bailei na Curva”, que estreou em 1983, pelo grupo Do Jeito Que Dá – duas produções que discorriam em tom nostálgico e reflexivo sobre a experiência da geração que cresceu sob o período autoritário.

Henrique Masera Lopes, aluno do Programa de Pós-Graduação em História da UFRN, oferece ao leitor seu artigo “A linha de fronteira se rompeu: poéticas musicais de um nordeste psicodélico nos anos 70”, que se ocupa em problematizar a emergência de novas culturas espaciais a partir da segunda metade do século XX através do que se convencionou denominar por corrida espaço-sideral.

Partindo à segunda parte desta publicação, cujas temáticas são livres, Ada Raquel Teixeira Mourão, docente da Universidade Federal do Piauí (UFPI), José Elierson de Sousa Moura, mestrando pela UFPI, e Larice Íris Marinho Moura, licenciada em História pela UFPI, através do texto “Picos nas sombras do tempo: a cidade pré-reforma urbanística como espaço da saudade” analisam o estranhamento identificado em alguns moradores com relação à cidade de Picos (Estado do Piauí) da contemporaneidade, evocado através do sentimento de saudade da cidade associado à década de 1950, período de destaque da economia agrícola às margens do Rio Guaribas, e da década de 1960, quando a cidade oferecia uma variedade de espaços de lazer e convivência para os citadinos.

Francisco Ramon de Matos Maciel, mestre em História e professor do Projovem Campo Ceará, apresenta em seu texto, intitulado “Territórios da Seca: ordenamento e resistência na cidade de Mossoró na seca de 1877”, um estudo das formas de ordenamento e controlo espacial encontrado na cidade de Mossoró durante a seca de 1877.

Cristiano Luiz da Costa e Silva e Ludmila Pena Fuzzi, ambos do Instituto de Pesquisa Histórica e Ambiental Regional (IPHAR), em artigo intitulado “Identidade sustentável: espacialidade, identidade e memória nos estudos sobre comunidades quilombolas”, tratam da relação das comunidades quilombolas com seu território, buscando na Identidade Sustentável do Instituto de Pesquisa Histórica e Ambiental Regional (IPHAR) respaldos para a manutenção e perpetuação das Memórias Solidificadas, propiciando a legitimação destes espaços.

Carlos Alexandre Barros Trubiliano, docente da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), apresenta o texto “A fundação do homem público nos primórdios do coronelismo em Campo Grande – MT / MS (1905-1917)”, que trata do papel de Campo Grande enquanto principal centro econômico e político do sul de Mato Grosso. O artigo discute sobre a elite política formada por homens cuja principal fonte de riqueza provinha da criação de gado. Para esses coronéis, a administração pública era uma continuidade da sede da fazenda.

Edson Silva, mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), no artigo “A produção do lazer na urbe: a construção do Estádio Municipal Francisco Rocha Pires (Jacobina – BA – 1955-1959)” promove uma análise da edificação do estádio municipal Francisco Rocha Pires, inserida dentro de um processo de modernização urbana, ocorrido na cidade de Jacobina em meados da década de 1950. O autor procura descrever e examinar a construção do campo esportivo na medida em que esse espaço instituía no mapa urbano um ambiente de lazer e prática de esportes.

Julio César dos Santos, docente do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) e doutorando em História pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em parceria com Luciene Aparecida Castravechi, doutoranda em História pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), apresentam o texto “Alberto Torres: uma revisita historiográfica”. Os autores contextualizam os escritos de Alberto Torres dentro de um complexo processo de discussão acerca da identidade da nação brasileira, nos finais do século XIX e inícios do século XX, a partir de sua mais significativa publicação: “A Organização Nacional”, datada de 1914.

Elynaldo Gonçalves Dantas, mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), apresenta no texto “Gustavo Barroso, um intérprete do Brasil: a nação na escrita integralista barrosiana” uma reflexão sobre a organização do espaço nacional no pensamento integralista de Gustavo Barroso, utilizando-se dos livros “O Integralismo em Marcha” e “O Integralismo de Norte a Sul” como fontes.

João Paulo França, mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), através do artigo “A Rua do Esquecimento: a memória dominante nos logradouros centrais de Campina GrandePB”, apresenta uma visão acerca do processo de nomeação e renomeação das ruas do núcleo central da cidade de Campina Grande, alertando que as mudanças pelas quais passaram a cidade ficaram registradas nos nomes que foram conferidos às Ruas, demonstrando assim, um processo de transformação espacial e cultural.

Francisco Antônio Zorzo, Leda Maria Fonseca Bazzo, professores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Lucian Conceição de Alcântara, discente da mesma universidade, apresentam seu texto “Território Urbano e Memória Coletiva – As Lavandeiras Comunitárias de Salvador e o caso do Alto das Pombas”, que trata de uma pesquisa em desenvolvimento em uma lavanderia pública estadual de Salvador, a saber, a lavanderia Nossa Senhora de Fátima. A pesquisa, além de levantar dados sobre o funcionamento do equipamento e da história das lavandeiras comunitárias mantidas pelo governo do Estado da Bahia, investiga as formas de resistência cultural empreendidas pelas lavadeiras para manter o seu modo de vida e garantir o seu espaço de moradia e de trabalho.

Rodrigo Pereira, doutorando pelo Museu Nacional (UFRJ), faz em seu texto “As transformações no matriarcado Nagô nos candomblés do estado do Rio de Janeiro (séculos XX e XXI): a figura do homem no comando dos axés”, a apresentação de uma amostragem de dados sobre candomblés fluminenses em que a quantidade de dirigentes do sexo masculino é maior que a feminina. O autor discute como o sexo masculino tem ganhado espaço em um processo histórico de aceitação destes na liderança dos axés.

Inaugurando a seção que engloba resumos de dissertações e teses, Rodrigo dos Santos apresenta as discussões realizadas em sua dissertação, intitulada “Discursos sobre imigração no jornal Folha do Oeste – Guarapuava, Paraná”, produzida na Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), sob orientação do Prof. Dr. Fernando Franco Netto. O objetivo principal de seu texto é analisar os discursos do jornal Folha do Oeste sobre imigrantes, no período de 1946 a 1960.

Roger Diniz Costa, mestrando em História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOSTE), apresenta a resenha intitulada “A construção do engenho e a saudade na literatura de José Lins do Rego”, cujo livro é de autoria de Diego José Fernandes Freire e se intitula: “Contando o passado, tecendo a saudade: a construção simbólica do engenho açucareiro em José Lins do Rego (1919-1943)”.

O fechamento deste volume ocorre com duas entrevistas com os professores doutores Flavia Galli Tatsch, professora adjunta de História da Arte Medieval na Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e Paulo Roberto Tonani do Patrocínio, professor do Departamento de Letras-Libras da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os professores nos presenteiam com duas entrevistas sobre suas trajetórias acadêmicas, suas produções recentes e sobre os desafios enfrentados pelo pesquisador diante dos seus objetos.

Boa leitura a todos!

Marcia Vasques – Doutora, editora-chefe; Aledson Manoel Silva Dantas; Flávia Emanuelly Lima Ribeiro Marinho; Francisca Kalidiany de Abrantes Lima; Keidy Narelly Costa Matias; Livia Brenda da Silva Barbosa e Raphael Alves da Costa Torres, membros da equipe editorial do corrente ano.


VASQUES, Marcia Severina; MARINHO, Flávia Emanuelly Lima Ribeiro; et al. Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.8, n. 01, 2015. Acessar publicação original [DR]

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