A questão da intolerância nos livros didáticos / Caderno de História / 2007

A Formação de Professores tem sido ao longo dos tempos, uma problemática discutida dentro e fora das Instituições de Ensino Superior (IES), incluindo aqui os governos – nacional, estadual e municipal –, o Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras, o ForGRAD.

A LDB de 1966 debateu acerca da Formação de Professores e apontou a necessidade de se rever a dicotômica relação teoria/prática, licenciatura/ bacharelado, universidade/escola básica, condições impostas durante muito tempo aos nossos cursos de licenciatura no Brasil. Poder examinar o “famoso” e aceito durante tantos anos, formato de três mais um. Ou seja, três anos de teoria e um dedicado às chamadas disciplinas pedagógicas, relegando para este final de curso o contato com a educação básica através do estágio supervisionado. Sob a luz das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica o Conselho Universitário da UFU aprovou em 2005 uma Política Institucional de Formação e Desenvolvimento do Profissional da Educação.

A partir da introdução obrigatória das 400 horas de estágio e depois das 800 horas nos currículos das licenciaturas, as IES tiveram, dentro de suas autonomias didático-pedagógicas, que buscar opções curriculares que garantissem aos estudantes a formação própria do SER PROFESSOR (A).

A Universidade Federal de Uberlândia através do Fórum das Licenciaturas se guiou pela lei, repensou seus cursos a partir do perfil do egresso que se queria formar, das necessidades da sociedade em que está inserida, dos problemas que sempre quis consertar nos percursos curriculares e se posicionou. Distribuiu as horas criadas pela lei (800 horas de práticas) por todo o curso, demonstrando sua preocupação com a formação profissional desde o ingresso dos estudantes nas licenciaturas. Desta forma cada licenciatura refez seus caminhos.

Os Cursos de Licenciatura e Bacharelado em História mantiveram um único ingresso via processos seletivos e conservaram a obrigatoriedade de se cursar as duas modalidades juntas. Uma das grandes novidades na reformulação curricular foi a criação das disciplinas: OFICINA I e OFICINA II que espera-se serem trabalhadas em conjunto, ou no mínimo discutidas juntamente aos professores das Oficinas e também aos das Práticas de Ensino. A Oficina I com a ementa: As experiências de ensino: planejamento e elaboração de propostas pedagógicas, preparação de aulas e outras atividades a serem desenvolvidas nas escolas, foi pensada por um conjunto de professores de forma temática para que as turmas da manhã e da noite pudessem ter continuidade nas disciplinas Oficina II e Prática I e II.

Diante das possibilidades temáticas, essa equipe elegeu a INTOLERÂNCIA como eixo da disciplina. Aqui pensada também pelo inverso, a Tolerância, pensou-se trabalhar o conceito de alteridade, as diferenças sociais, econômicas, de cor, religião, sexo, enfim o pensar o OUTRO, aquele que se difere de mim. A partir de literaturas pertinentes aos temas, os alunos fariam a análise de diversos livros didáticos percebendo a intolerância/tolerância nos tempos e espaços históricos, escolhendo um deles para o aprofundamento e leituras específicas. Articular, portanto, a formação teórica do aluno com a prática pedagógica relacionados à História na Escola Básica. Produzir metodologia e recursos didáticos para o ensino de História foram os objetivos específicos da disciplina Oficina I.

Desta forma, ao escolherem no livro didático a temática com a qual o grupo iria lidar, os estudantes construíram teoricamente no texto o objeto a ser trabalhado, fizeram a análise crítica do tema explicitado no livro didático e por fim mostraram as possibilidades de se construir aulas sobre quaisquer das matérias escolhidas utilizando filmes, poesia, literatura, música, teatro, entre tantos outros recursos didáticos. Desta forma, possibilitamos aos estudantes que tivessem idéia de metodologias e didáticas voltadas para o ensino de história.

Assim, as turmas de Oficina I do primeiro semestre de 2006 trabalharam com essas idéias e geraram textos importantes para quem se preocupa em ser professor, para quem realmente deseja mudar o cotidiano nas escolas públicas, aplicar qualidade e impingir valores “novos” na profissão PROFESSOR.

A começar por meu colega Florisvaldo que incentivado pela temática nos presenteou com o texto Educação e Tolerância Democrática no qual discute a obrigatoriedade do ensino da Cultura afro-brasileira nos programas escolares brasileiros a partir de 2003; passando por Dolores, Eduardo e Talitta que construíram, a partir do teatro, possibilidades de análise crítica do período da ditadura militar no Brasil mostrando-nos no Movimento contra a Intolerância: o Teatro Brasileiro frente à Ditadura Militar como os professores da escola básica podem e devem escolher outros textos, como eles têm outras opções para além do livro didático.

Cruzadas: Imagens da Intolerância artigo de Ivan, Luciano e Tamara cruzam tempos históricos e nos propiciam um ensaio acerca da intolerância relacionando a guerra das Cruzadas no século XI e os atentados “terroristas” de 11 de setembro nos EUA. Ana Flávia e Viviane preferiram uma temática da América Central: Revolução Cubana X Intolerância Política: uma proposta de pesquisa e ensino. As autoras provocam os (as) professores (as) identificando os limites dos livros didáticos e propondo ensino com pesquisa. Lucas, Mariana e Tiago no texto Em que sentido deve-se entender a tolerância num mundo não só de diferentes, mas também de desiguais, de dominadores e dominados apostaram na diversidade da cultura brasileira e na apartação social da pobreza no processo de globalização apontando possibilidades que o professor do ensino fundamental e médio tem para trabalhar essa temática.

Rafael Guarato escreveu Intolera-me que eu intolero-te: o crime organizado no Brasil contemporâneo e preferiu desta forma trabalhar um Brasil mais atual, do final do século XX justamente por ter notado a ausência de tal temática nos livros didáticos consultados.

Quero terminar esta minha apresentação dizendo que se cada estudante for devidamente estimulado a pensar o seu fazer profissional, com certeza as respostas virão desta forma: com responsabilidade e com qualidade.

Tenham prazer na leitura destes artigos!

Vera Lúcia Puga – Doutora. Professora de Oficina I – 1º Semestre de 2006.


PUGA, Vera Lúcia. Apresentação. Caderno de História. Uberlândia, v.15, n.1, set. 2006 / set. 2007, 2007. Acessar publicação original [DR]

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Pesquisa e Práticas do Ensino de História / Caderno de História / 2006

É com prazer que faço a apresentação deste Cadernos de História publicado pelo Laboratório de Ensino e Aprendizagem em História e pela Escola de Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia. Posso afirmar que este exemplar é estruturado em três momentos bem distintos com enfoques e temáticas que não se distanciam entre si. Elas se entrecruzam e se complementam, como se pode observar na própria apresentação. A História Local é identificada na primeira parte, onde é tratada a História da Educação em Uberlândia. Na segunda parte, a História da Educação é complementada nos textos referentes a educação no momento contemporâneo e, finalmente, na terceira parte – Dossiê “Pesquisa e Práticas do Ensino de História”, os autores se debruçaram sobre a formação docente, as práticas pedagógicas e os sujeitos históricos, fazendo um recorte a respeito do Ensino de História na atualidade.

No primeiro momento há uma série de artigos sobre História da Educação e o uso de fontes primárias como Actas da Câmara Municipal e jornais. Estes artigos têm um locus comum – a cidade de Uberlândia, antiga Uberabinha, no período de transição entre os finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Época marcada, em nossa História, pela afirmação do ideário positivista da ordem, do progresso e a construção de uma cidadania nacional. Outra marca deste período foi o desenvolvimento de Uberlândia sobre o manto do progresso e da modernidade. No artigo Educação e Progresso: evidências oficiais em Uberabinha de 1911, os autores Guilherme, Carvalho e Neto tiveram a preocupação de investigar o ideal de ordem e progresso, na administração de Uberabinha no inicio do século passado, e utilizaram como referencial de investigação e análise a aplicação de verbas públicas na educação. Há que se destacar que tais ideais de ordem e progresso que compunham o ideário positivista constituíam as metas a serem alcançadas pelas nações naquele período. Para desenvolver os seus estudos os autores consultaram fontes primárias como actas da Câmara Municipal.

O texto Representações do Ensino Rural em Uberabinha – 1888 a 1930, escrito por Ribeiro, Silveira e Inácio Filho, caracteriza-se por apresentar os passos de uma pesquisa referente ao Ensino Rural em Uberabinha, em um período de transição entre a permanência dos valores rurais para os valores de uma vida e educação urbanas. Este processo acontece sob a influência das idéias de modernidade e progresso.

Araújo e Souza, ao escreverem o texto Imprensa e Educação na Primeira República: Uberabinha, 1888-1930, tiveram a preocupação, ao investigar na imprensa local as questões educacionais, de evidenciar a importância da imprensa como fonte de pesquisa e análise.

No texto A forma(ta)ção da Cidadania: os debates em torno da Educação em Uberabinha, MG (1892-1920), o autor Ching, pesquisando fontes primárias como as Atas da Câmara Municipal e os jornais da época, teve a preocupação de refletir a respeito da formação e da formatação que era dada, através da educação, ao conceito de cidadania.

Outra particularidade deste caderno é o conjunto de textos que se seguem, cuja marca é a reflexão política sobre os desafios presentes na educação contemporânea, como a intolerância, a formação de atitudes democráticas nas aulas de História e, sobretudo, as dificuldades de inclusão social dos sujeitos com deficiências físicas e mentais.

As autoras Peres e Inácio, no texto Intolerância à alteridade na conquista da América Latina: enfoque da questão nos livros didáticos, refletiram a respeito de atitudes de intolerância que expressam a não aceitação do outro, ao não reconhecimento das diferenças. A intolerância com relação ao diferente marcou as atitudes dos conquistadores da América e tem marcado na contemporaneidade aquele que não é o nosso espelho. O propósito deste artigo é refletir sobre estas questões no interior da sala de aula.

Qual Cidadania? Que Democracia? são questionamentos que Jeanne Silva faz para discutir e analisar a função do Ensino de História na formação da democracia no Brasil. A autora analisa os obstáculos presentes nas salas de aula de História, o deterioramento das relações sociais e a resignificação, na atualidade, dos conceitos de cidadania e democracia.

O texto Educação do Campo: Novas Abordagens Pedagógicas, escrito por Pombo, chama-nos a atenção para a importância da Educação do Campo, no interior do Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL), em um Pré-Assentamento na Fazenda Tangará. Esta educação baseia-se em uma prática pedagógica que se caracteriza pela diversidade, pelo idealismo e, sobretudo, pelo desafio.

Willian Vaz de Oliveira, no texto Educação Especial e Inclusão Escolar no Brasil: entre teorias e práticas, discute a construção das políticas educacionais públicas relativas a educação especial e a inclusão escolar. Mostra a importância da Constituição federal de 1988 e da LDB de 1996, no processo de promoção de uma educação direcionada as pessoas portadoras de necessidades especiais e considera, também, o distanciamento existente entre a teoria e a prática, evidenciando as dificuldades da inclusão, na escola e na sociedade, dos sujeitos “portadores” de necessidades especiais.

Para ampliar os estudos sobre linguagens alternativas para o ensino de História e outras fontes de investigação, os autores Ferreira e Ventura no texto Ensino de História e a informática educacional: alguumas possibilidades, evidenciam possibilidades do uso da Informática no ensino de História.

O próximo conjunto de textos que compõem este Caderno de História foi denominado apropriadamente, pelos organizadores, de Dossiê: “Pesquisas e Práticas do Ensino de História”, porque tem como ponto central de reflexão o ensino de história. Foram focalizados neste dossiê a prática docente, a formação de professores, a memória docente, a sala de aula como campo de pesquisa, os livros didáticos, a música, a literatura e o rádio como linguagens alternativas no ensino de História.

O texto – Profissão Docente: Representações e práticas educativas nas primeiras séries do Ensino Fundamental, escrito por Oliveira, é uma reflexão sobre as práticas escolares de profissionais que atuam nas primeiras séries do ensino fundamental. Neste artigo, a autora assinala a importância dos conceitos de cultura e de representações sociais para se compreender e analisar as práticas pedagógicas neste segmento de ensino.

O estágio supervisionado como campo de pesquisa: As narrativas escolares sobre o conhecimento histórico, de Cainelli, evidencia a importância da prática da pesquisa nas disciplinas Metodologia do Ensino de História e do Estágio Supervisionado. A autora organizou uma investigação para conhecer a natureza dos conhecimentos sobre a História dos alunos do ensino fundamental, tendo como objetivo identificar os conceitos adquiridos e como interpretam textos históricos. Os dados obtidos subsidiaram os estágios dos licenciados.

Franco, no artigo: Os Livros Didáticos de História para séries iniciais do Ensino fundamental (PNLD/2004) e as Representações de Pluralidade Cultural, contextualiza a pluralidade cultural presentes nas reflexões historiográficas e educacionais, assim como nos documentos oficiais ( PNLD e PCNs) produzidos pelos órgãos gestores da política educacional. Concomitante a esta reflexão, a autora se ocupa em analisar as representações de pluralidade cultural veiculadas em dois livros didáticos de História destinados ao primeiro segmento do Ensino Fundamental, distribuídos pelo PNLD/2004.

Música e Radiofonia: uma experiência interdisciplinar de prática de ensino é um artigo de Noadia Munhoz e Rodrigo de Paula Morais. Este texto é resultante de pesquisas feitas na Prática de Ensino e Estágio Supervisionado dos cursos de Pedagogia e História. Teve como objetivo mostrar a importância do uso de linguagens alternativas para o ensino de História, como a música e o rádio, além de evidenciar a necessidade de se aplicar, na escola, projetos interdisciplinares.

O texto de Paim – Rememorações dos professores de História em relação às Práticas de Ensino desenvolvidas na graduação, é o resultado de uma pesquisa cujo objetivo foi recuperar memórias e experiências, através de depoimentos orais, do fazer-se professor (a) de História. Neste artigo, ele recupera as rememorações dos professores na forma de estágio docente.

Paula e Motta apresentam-nos no texto intitulado Literatura de Cordel – uma porta para o Brasil Real, um estudo sobre o uso de uma outra linguagem alternativa para o ensino de História que é a Literatura de Cordel. Esta prática pedagógica foi vivenciada pelos alunos de uma 8ª série e objetivou o trabalho com as habilidades operatórias como interpretação, compreensão e assimilação importantes para compreensão do conhecimento histórico.

Finalmente, quero agradecer o convite recebido para fazer a apresentação deste número, destacar a riqueza deste Cadernos de História pela variedade temática e diversidade de autores, e desejar aos leitores muitas reflexões a partir das leituras feitas.

Ernesta Zamboni –  Professora da F.E – UNICAMP.


ZAMBONI, Ernesta. Apresentação. Caderno de História. Uberlândia, v.14, n.1, set. 2005 / set. 2006, 2006. Acessar publicação original [DR]

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História | UFU | 1989-2007

Cadernos de HIstoria UFU3 História

A Revista Cadernos de História (1989-2007), do programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia, foi criada pelo Laboratório de Ensino e Aprendizagem em História – LEAH, registrada sob o número ISSN: 0103-6300, indexada no INEP a partir de 2001. Atualmente, é uma publicação associada do LEAH e da Escola de Educação Básica-ESEBA, com coordenação dupla, produzida pelo Centro de Documentação e Pesquisa em História-CDHIS.

Periodicidade anual.

Acesso livre.

ISSN 1981-3104

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