Cidade, imagem, história e interdisciplinaridade / Urbana / 2007

A alegria de trazer a público este segundo número da revista Urbana se alimenta, especialmente, da satisfação em poder reunir um conjunto expressivo de estudos que abordam a cidade, bem como da percepção do significativo diálogo que se esboça entre esses textos. Elaborados em primeira versão para os debates da edição de julho de 2007 do Simpósio Nacional da Associação Nacional de História – ANPUH, ocorrido na cidade de São Leopoldo, os artigos desta segunda Urbana são conduzidos pelo fio da interdisciplinaridade – aspecto, aliás, que acompanha o CIEC desde seus inícios, e também este periódico.

Inspirados pelos debates na ANPUH-2007, partimos de uma seleção de textos apresentados em dois Simpósios Temáticos do evento para compor o dossiê Cidade, Imagem, História e Interdisciplinaridade. Na composição, ambos os Simpósios Temáticos, “Cidade, História e Interdisciplinaridade” (coordenado por mim e por Marisa Varanda Teixeira Carpintero) e “Cultura Visual, Imagem e História” (coordenado por Iara Lis Schiavinatto e Charles Monteiro), interagem continuamente, sem que se revele ao leitor, numa primeira tomada, quais autores estiveram presentes em um ou outro debate. [1]

A seleção que fizemos resulta em passagens por variados espaços – como não podia deixar de ser, quando as temáticas se entrecruzam justamente na cidade e na história. Somos levados com os autores por diversos espaços, alguns revisitados em tempos e miradas diferentes: por Guaratuba, Campinas, Porto Alegre e interior sul-riograndense, João Pessoa, Rio de Janeiro, São Paulo e mais, ora conduzidos pelas margens, ora levados aos centros, aos parques, ao lazer, aos dilemas, às figurações, às tensões, às ilusões… Por vezes são os gestos do urbanista e do capitão-mór que norteiam essas passagens, noutras vezes as tomadas do jornalista, do fotógrafo e do cineasta, ou ainda os ângulos do especialista e do governante, ou as penas do chargista e do literato, narrativas daqueles que vivenciam e pensam, em lugares diversos, os espaços do urbano. Passagens, aliás, apreendidas por meio de narrativas que avançam para além da suposta fugacidade ou ineficiência das ações – e transformações – no urbano, para além de uma imaginada coesão da cidade possivelmente convertida em dispersão. Pode-se dizer que, de modos distintos, os estudos aqui reunidos acolhem o “descontrole” e a imprevisibilidade da cidade e se movem em direção a outros espaços, despidos de ilusões de ordem, envoltos pelo desejo de desvelar algo mais, de avançar mais alguns passos na compreensão desse fenômeno complexo e instigante que é a cidade.

As passagens nesses estudos, portanto, não se reduzem à(s) espacialidade(s). Abarcam a multiplicidade que perpassa a cidade, entendida como fenômeno histórico ou na condição de objeto de conhecimento. A dimensão inegavelmente complexa e múltipla do urbano é visível ao longo dos textos, não apenas quando a abordagem conceitual ou documental, sobretudo da cultura visual, implica na compreensão de seus diversos suportes materiais, suas fontes visuais e iconográficas, suas linguagens, seus lugares de enunciação, circuitos e fluxos. O múltiplo e o complexo se fazem presentes também quando os estudos se desdobram sobre a heterogeneidade das formas e sujeitos na / da cidade, a variedade de seus atores e autores, a pluralidade dos discursos e leituras que a percebem, a diversidade de diagnósticos e perspectivas que a avaliam, em sua mobilidade e transformação constante. A visualidade e a dimensão narrativa, que dialogam entre esses textos, configuram um processo continuado de produção de sentidos sociais, apreendidos neste dossiê.

Entendemos que abordar historicamente a cidade considerando-se essa complexidade nos coloca, sobretudo, o desafio de se constituir uma visão antes interdisciplinar do que multidisciplinar do urbano. Mais que dispor lado a lado disciplinas e seus campos de reflexão, esse desafio implica considerar ainda os contatos e entrelaçamentos nos quais é possível vislumbrar os diálogos indispensáveis à apreensão da cidade. Trata-se, na verdade, de uma opção que se construiu ao longo do trabalho editorial, desde as primeiras formulações para o projeto deste periódico, e esperamos que o leitor possa percebê-la no percurso destes textos.

Os editores da Urbana – Revista Eletrônica do Centro Interdisciplinar de Estudos da Cidade-CIEC / Unicamp – são amplamente gratos aos autores, que prontamente enviaram e aprimoraram seus textos, aguardando pacientemente por esta edição que, por “injustificáveis justificativas”, demorou mais que se previa para vir a público. Hoje na condição de editora deste número, agradeço ainda ao imprescindível apoio dos colegas do CIEC, virtualmente presentes desde os momentos de seleção dos textos, bem como nas revisões e afins. Esperamos, por fim, que o resultado de todos esses encontros possa ampliar e renovar os debates que iniciamos noutros tempos.

Nota

1 Para conhecer cada proposta em sua versão original e sua relação com cada um dos dois simpósios temáticos, o leitor pode aproveitar-se da “virtualidade” desta leitura e navegar pelos arquivos da ANPUH-2007: http: / / snh2007.anpuh.org / site / saoleopoldo

Josianne Francia Cerasoli – Membro do conselho editorial da Urbana, responsável por este número. E-mail: [email protected]


CERASOLI, Josianne Francia. Apresentação. Urbana. Campinas, v.2, n.1, 2007. Acessar publicação original [DR]

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