Seneca: selected dialogues and consolations – ANDERSON (RA)

ANDERSON, Peter J. Seneca: selected dialogues and consolations. Indianapolis: Cambridge, Hackett Publishing Company, Inc, 2015. Resenha de: DINUCCI, Aldo. Revista Archai, Brasília, n.21, p. 337-340, set., 2017.

This volume presents a selection of Seneca’s dialogues and consolations. It is composed of introduction, the translations of selected Seneca’s dialogues and consolations, biographical information of key individuals, glossary of Latin words, and index of  historical persons. The five parts of the book are  thus briefly described and evaluated below.

The Introduction is divided into eleven sub- sections. In the first subsection, Anderson presents a well-written account of Seneca’s life (p. xi- xiii).  Concerning the philosopher’s exile after his implication in an adulterous affair with Julia Livilla,  Anderson points out that almost all ancient sources consider Seneca not guilty. A weak point in this  argument is that Anderson does not mention the  referred primary historical sources, which would  be useful to the reader.

The next sub-section deals with the literary qualities of Seneca’s philosophical writings. Anderson  correctly points out that literary form and philosophy are, in Seneca, two sides of the same coin, noting  that, through these writings, Seneca is simultaneously aiming at showing literary excellence and at  philosophically persuading the reader. In the third subsection (“A note on the translations”), Anderson discusses the difficulties to render Seneca’s dialogues in English. In order to achieve this, the translator – based on Lindsay’s Oxford classical text – tries to replicate Seneca’s prose, consistently rendering the following six key words:  animus  as  “spirit”, mens as “mind”, virtus as “virtue”, otium  as  “retirement”, bonum as “good”and  malum  as “bad”.

The next sub-section examines the interplay between Seneca and Stoicism. In the historical account of the Stoic school, however, Anderson does not  mention Diogenes of Babylon. Some information  about him should be provided, as he was the first  Stoic philosopher in Rome, being sent to the Eternal City (together with the Academic Carneades and the Peripatetic Critolaus) in 155 BC to appeal a fine,  and to deliver public lectures on Greek philosophy, which much impressed the Romans (cf. Aulus Gellius, Attic Nights, vii. 14; Cicero, Academica, ii. 45).

After the historical account, Anderson makes  two important assertions: in the first place, in  Seneca’s time, Stoicism was a “holistic practice of a set of principles and belief “(p. xviii), which is in  marked contrast to the contemporary conception of philosophy; secondly, there are centuries of other  philosophers’ reflections behind Seneca’s arguments.

The next subsections present and clarify the  following Stoic reflections and concepts that underlie Seneca’s philosophical works: the concept of a providential and living god (p. xx), the celebrated  expression “to live according nature”, the idea that each person is responsible for her or his actions  through the rational capacity and the use of impressions (phantasiai), the concept of oikeoisis (p. xxii), and the indifferents (adiaphorap. xxiii).

In this latter sub-section, Anderson correctly notes that, for the Stoics, things as wealth (which was the same of Seneca’s case) and poverty are indifferent  and, therefore, cannot guarantee happiness (p. xxiv), which is an important thing to note, as sometimes Seneca’s wealthy is regarded as inconsistent with  his claims of being a Stoic. In fact, for the Stoics,  wealthy can be used for the good or for the bad, as everything else which is indifferent.

The introduction ends with three informative  sub-sections: the dating and the addresses of the  dialogues and consolations, and a further reading  sub-section.

Anderson translates the following Seneca’s works: “On providence”, “On the resolute nature of the wise man”, “Consolation to Marcia”, “On the happy life”, “On retirement”, “On serenity of the spirit”, “On  the shortness of life”, “Consolation to Polybius”,  “Consolation to his mother Helvia”. The subtitles  of these works are the original and correspondent ones in Latin. My only suggestion with regard to  the translation of the titles is the rendering of  De constantia sapientis  as “On the resolute nature of  the wise man”, which would be better translated as “On the firmness of the wise man”.

Anderson’s translations of Seneca’s selected works are sound. Elucidative footnotes, mainly concerning individuals and historical facts mentioned by Seneca, are supplied. The book ends with biographical information for key individuals, a glossary of Latin words and an index of historical persons.

In summary, the book provides good translations and plenty information concerning Seneca’s  dialogues and consolations. Thus, it is an excellent tool for students and teachers of Latin literature and Stoic philosophy.

Aldo Dinucci – Universidade Federal de Sergipe (Brasil). E-mail: [email protected]

Acessar publicação original

Contra os Retóricos – SEXTO EMPÍRICO (RA)

SEXTO EMPÍRICO. Contra os Retóricos. Introdução, Tradução e notas de Rodrigo Brito e Rafael Huguenin. Marília: UNESP, 2013. Resenha de: DINUCCI, Aldo. Revista Archai, Brasília, n.15, p. 153-155, jul., 2015.

Até certa altura do século XX compreendia- se, nos meios de pesquisadores de filosofia antiga, o dito de Whitehead segundo o qual tudo o que fora escrito depois de Platão serviria tão somente como notas de rodapé aos diálogos do ateniense 1 como uma confirmação da suposta inferioridade e redundância das filosofias helenísticas em relação àquelas de Platão e Aristóteles. Entretanto, tal visão logo se viu superada pelo trabalho acadêmico de eminentes pesquisadores que reuniram os fragmentos das obras dos filósofos helenistas e começaram a estudá-los. Von Arnim, no princípio do século XX, já coletara os fragmentos dos antigos estoicos 2. Décadas depois, Anthony Long e David Sedley completaram uma importante obra 3 na qual selecionaram e comentaram fragmentos dos estoicos, dos céticos e dos epicuristas. Filósofos destacados como Dudley 4 pesquisaram o que nos chegou dos cínicos. Lukasievicz 5 e Benson Mates 6, notáveis lógicos contemporâneos, debruçaram-se sobre a lógica estoica. E a lista não parou mais de aumentar. Hoje, filósofos de vulto, como Suzanne Bobzien, Jonathan Barnes, Julia Annas e Nicholas Rescher 7 dedicam-se ao estudo dos filósofos helenistas. A tal ponto valorizou-se o estudo destes filósofos que, entre norte-americanos e europeus, não se concebe mais que um pesquisador de filosofia antiga ignore ou não dedique parte de seu tempo ao estudo dos helenistas.

O filósofo francês Pierre Hadot, também responsável pela valorização do estudo dos filósofos helenistas, foi um dos primeiros a enfatizar o caráter existencial dessas filosofias, que se traduz pela complementaridade entre teoria e prática. Essa ligação da filosofia com a ação, da filosofia eleita como escolha de vida, é o diferencial dessas filosofias, tanto em relação àquelas de Platão e de Aristóteles, quanto no que tange à filosofia moderna e contemporânea que, herdeiras do medievo, trazem consigo a ferida da separação medieval entre a filosofia e a prática filosófica – melhor ainda: da extirpação desta última em nome de uma moralidade cristã fundada no dogma teológico 8.

O ceticismo é um dos quatro pilares do helenismo filosófico, sendo os outros o estoicismo, o cinismo e o epicurismo. Sua aposta é alta: a busca da imperturbabilidade através da suspensão de juízo e da superação dos dogmatismos filosóficos. No Brasil, o ceticismo antigo tem sido pesquisado por grandes filósofos do cenário nacional, tais como Danilo Marcondes Filho e Luiz Bicca, só para citar dois nomes que nos vêm imediatamente à mente. Entretanto, faltavam as traduções dos textos primários, em especial a tradução das obras de Sexto Empírico, médico e filósofo que viveu provavelmente entre 160 e 210 d.C. e que é um dos expoentes do ceticismo antigo, ao lado de Pirro de Élis (360-270 a.C.). Essa lacuna começou a ser preenchida, em 2013, pelos jovens pesquisadores Rodrigo Pinto de Brito e Rafael Huguenin (ambos graduados em filosofia pela UERJ e mestres e doutores em filosofia pela PUC-RJ) com a publicação pela UNESP da tradução bilíngue e anotada de Contra os Retóricos, de Sexto Empírico.

Rafael e Rodrigo fazem ambos parte do Viva Vox, grupo de pesquisa da Universidade Federal de Sergipe que conta com a maior biblioteca especializada em filosofia helenista da América Latina, biblioteca que vem se constituindo com o apoio de sucessivos editais do CNPq. Além de editor-júnior da revista de filosofia Prometeus 9, Rodrigo Pinto de Brito é o responsável, junto com Cesar Kiraly, doutor em filosofia, professor da UFF e autor de Ceticismo e Política (São Paulo: Giz editorial, 2012), pela organização dos Colóquios sobre Ceticismo, evento que ocorre desde 2012 no Rio de Janeiro.

Dos tratados de Sexto, três nos chegaram: Esboços de Pirronismo e dois outros (con)fundidos na obra intitulada Adversus Mathematicos. Cada um dos seis primeiros livros dessa obra recebe um nome diferente: Livro I –  Contra os Gramáticos; Livro II – Contra os Retóricos; Livro III – Contra os Geômetras; Livro IV – Contra os Aritméticos; Livro V – Contra os Astrólogos; Livro VI – Contra os Músicos. Os livros VII, VIII, IX, X e XI perfazem outra obra, que nos chegou incompleta, sendo os livros VII e VIII intitulados Contra os Lógicos; os livros IX e X, Contra os Físicos; e o Livro XI, Contra os Éticos.

Contra os retóricos, a obra comentada, traduzida e anotada pela dupla de jovens filósofos cariocas, corresponde ao livro II de Adversus Mathematicos. Em Contra os Retóricos, Sexto busca demonstrar a impossibilidade de ensinar a retórica e negar que a retórica seja uma arte (techne). Começando pela constatação da multiplicidade de concepções coexistentes de techne, Sexto conclui pela falta de consistência da noção. O próximo passo do filósofo é a tentativa de provar que é impossível definir tal techne, através do exame da definição platônica, aristotélica e acadêmica de retórica. Sexto volta-se então para a concepção estoica, buscando refutá-la ao final do opúsculo. A obra de Sexto, essencial para a compreensão do ceticismo antigo, é riquíssima como fonte de fragmentos de outras correntes filosóficas da Antiguidade. Sexto é a principal fonte para conhecermos a lógica estoica, sendo um dos poucos comentadores antigos que têm real compreensão do escopo de tal lógica (Diógenes Laércio, nossa segunda mais importante referência no assunto, nada faz senão citar verbatim o manual de lógica de Díocles de Magnésia).

A tradução comentada e anotada de Contra os Retóricos é realizada com esmero. As notas são abundantes e relevantes, constituindo-se como ferramenta de pesquisa da mais alta qualidade. Lamenta-se, entretanto, que a EDUNESP não tenha ainda disponibilizado graciosamente o pdf da obra, de modo a difundi-la como se deve. Que se tome como exemplo, para isso, os Classica Digitalia 10, da Universidade de Coimbra, que combinam edições físicas excelentes com a divulgação gratuita em formato digital.

Contra os Retóricos pode ser adquirido diretamente pelo site da editora EDUNESP, no link: http://www.editoraunesp.com.br/catalogo-detalhe asp?ctl_id=1486. Estão todos convidados então para, junto com Sexto, buscarem a imperturbabilidade através da razão crítica e da suspensão de juízo.  Dos mesmos pesquisadores teremos, neste ano de 2015, a publicação de Contra os Gramáticos, obra que se encontra já no prelo, também pela EDUNESP.

Notas

1 “The safest general characterization of the European philosophical tradition is that it consists of a series of footnotes to Plato”(WHITEHEAD, A. N. (1929). Process and Reality. An Essay in Cosmology. Gifford Lectures Delivered in the University of Edinburgh During the Session 1927–1928. Cambridge, Cambridge University Press, p. 39).

2 VON ARNIM, H. (2005). Stoicorum Veterum Fragmenta Volume 1: Zeno or Zenonis Discipuli [1903]. Berlim. De Gruyter.

3 LONG, A. A. & SEDLEY, D. N. (1987). Hellenistic Philosophers (volumes 1 & 2). Cambridge,. Cambridge University Press.

4  DUDLEY. D. R (1937). A history of cynicism. Londres,  Mithuen & co.

5 LUKASIEWICZ, J. (1970). On the History of the Logic of Proposition [1934]. IN: Jan Lukasiewicz Selected Works. Amsterdam, North-Holland Pub. Co.

6 MATES, B. (1961), Stoic Logic. Berkeley-Los Angeles, University of California Press.

7  Refi ro-me aqui par- Refiro-me aqui particula rmente ao impressionante trabalho de 1966: Galen and the syllogism (Pittsburgh, University of Pittsburgh Press), no qual Rescher comenta um tratado de Galeno sobre lógica que nos chegou em árabe.

8  HADOT, P. (1995). Philosophy as way of life. New Jersey, Blackwell, p. 107.

9  http://seer.ufs.br/index.php/ prometeus.

10  Cf. classicadigitalia.uc.pt

Aldo Dinucci – Professor associado da Universidade Federal de Sergipe – Sergipe, Brasil. E-mail: [email protected]

Acessar publicação original

 

Indivíduo e comunidade na filosofia de Kierkegaard – DE PAULA (CEFP)

DE PAULA, Marcio Gimenes de. Indivíduo e comunidade na filosofia de Kierkegaard. Paulos, 2009. Resenha de: DINUCCI, Aldo. Cadernos de Ética e Filosofia Política, São Paulo, v.15, n.2, p.233-236, 2009.

Acesso permitido somente pelo link original