Ensino da História da África e da Cultura Afro-brasileira / História Hoje / 2012

Com enorme orgulho, apresentamos ao público o dossiê “Ensino da História da África e da Cultura Afro-brasileira”, elaborado por especialistas, professores e pesquisadores da área. Nosso objetivo foi reunir trabalhos que discutissem as conquistas resultantes da implantação da obrigatoriedade legal do estudo da História da África e do Negro no Brasil, assim como os limites, problemas e desafios com que se defrontam os profissionais de educação que assumem tão importante tarefa. Mas, em meio a muitas dificuldades enfrentadas pelos professores – dentre elas a insuficiência de formação teórica e prática, a oposição de familiares e setores sociais, a carência de recursos pedagógicos para aprofundamento da temática –, é evidente que a Lei 10.639 / 2003, modificada pela Lei 11.645 / 2008, vem sendo implantada e, hoje, podemos acompanhar diversas experiências positivas em várias unidades escolares espalhadas pelo Brasil. Leia Mais

A História da África e afro-brasileira: perspectivas, experiências e diálogos / Faces da História / 2016

A História Africana e Afro-Brasileira tem alçado espaços antes limitados academicamente. Reflexo do esforço de militantes e acadêmicos, a preocupação com esse campo se mostra fortalecido e aberto às diferentes abordagens. O presente dossiê é pautado pelo objetivo de apresentar tais reflexões de pesquisa. Em 2018 serão comemorados os 130 anos da abolição da escravidão no Brasil, representada por imensas contribuições historiográficas, cujo tema permanece bastante longínquo de esgotar-se.

Ademais, impulsionados através da Lei n°. 10639 sancionada em 2003 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo partido tem desde sua formação contato com quadros do movimento negro, os estudos acerca da história africana cresceram consideravelmente nos últimos anos, fomentando uma série de análises e descobertas enriquecedoras.

Estudantes e pesquisadores de todo o país tem se dedicado à África pré-colonial, aos períodos de comércio atlântico no continente, às relações de gênero, às estruturas políticas, educacionais, econômicas, culturais, bem como os processos do pós- independência dos países.

Cada vez mais pensar este campo de saber representa, inclusive, observar as transformações que tais grupos sofreram com o passar dos séculos na sociedade. Ao pensarmos a formação étnico-racial do país, os afrodescendentes foram um dos poucos povos impedidos de conhecer a sua história e a de seus ancestrais. Tais fatos engendraram apropriações, padronizações de outros povos, marginalizando a história e a cultura afro-brasileira. Consequentemente, as práticas proporcionaram o racismo e a discriminação tão enraizados no Brasil.

Não obstante, graças a estes trabalhos de diferentes naturezas, seja na historiografia, ou até mesmo em projetos interdisciplinares, há cada vez mais o rompimento da ignorância e a incompreensão sobre a temática. Se antigamente a concepção de africanos, crioulos, escravizados e seus descendentes, era representa pela ideia de não-sujeitos, nos dias atuais existe uma conjuntura bastante diferenciada e consolidada, através das análises sobre as suas experiências, lutas, resistências, aspectos culturais, religiosos e estratégias de sobrevivências.

Assim, os artigos selecionados demonstram um campo fértil no âmbito da pesquisa histórica, cujas observações trazem à luz significativas colaborações quanto à pluralidade da África, as trocas, as conexões do continente em meio ao comércio escravista, as influências culturais vivenciadas pelos seus descendentes no Brasil, além do movimento abolicionista. Os trabalhos revelam metodologias elaboradas, análises de fontes diversificadas, dialogando e contribuindo com diversos eventos e perspectivas relativas aos temas.

O artigo que abre o dossiê, “Marfins africanos em trânsito: apontamentos sobre o comércio numa perspectiva atlântica (Angola, Benguela, Lisboa e Brasil, Séculos XVIII-XIX)”, de Rogéria Cristina Alves analisa a existência de um comércio transatlântico de marfins envolvendo a costa ocidental africana e o Brasil, elucidando alguns aspectos desse comércio – para além dos fatores econômicos – inserindo-o numa dinâmica cultural e social, que considera a atuação dos sujeitos envolvidos nesse trânsito, além de verificar os usos e valores desse material nas diferentes margens desse oceano.

Em “A produção e os usos de bebidas alcoólicas na América Portuguesa e nas praças da África Central Ocidental”, Raphael Martins Ricardo observa, de modo comparativo, como ocorria a produção e os usos de bebidas alcoólicas nos dois locais. O autor estuda como os portugueses se utilizaram desse gosto da população na tentativa de introduzir sua principal bebida alcoólica, o vinho, visando atingir objetivos distintos em cada localidade.

Na continuidade apresentamos “Cor e cidadania no jornal A Federação: fragmentos biográficos de abolicionistas negros”. Tuane Ludwig Dihl analisa, neste texto, a forma como abolicionistas negros – sujeitos que lutavam diariamente para conquistar e se manter nos círculos letrados e nos debates sobre os rumos do país – desvelam-se no jornal republicano A Federação. O estudo das vidas de José do Patrocínio, Aurélio de Bittencourt e Luiz Gama possibilitará observar como as categorias de cor e raça eram acionadas pelos periodistas dessa folha para identificá-los, e verificar como se vinculavam à demarcação de hierarquias sociais, especialmente à conquista e ao exercício da cidadania.

No quarto artigo “Negros de Mato Grosso: breve reflexão sobre as contribuições para a cultura”, Silbene Corrêa oferece uma breve reflexão sobre as contribuições do negro na formação do povo mato-grossense, em especial, nas manifestações culturais na dança do Siriri e Cururu, buscando as operações híbridas que resultaram nestes dois importantes símbolos de Mato Grosso. O autor (a) apresenta o palco e os atores que alavancaram as danças e os folguedos brasileiros, avaliando a plausibilidade das trocas híbridas entre várias etnias, na convivência entre português / negro / índios.

“As escolas de samba do Rio de Janeiro nos anos 1960 e as narrativas sobre a história do negro na avenida”, de Guilherme José Motta Faria, discute a partir de publicações de cronistas e notícias extraídas do Jornal do Brasil, que a temática afro-brasileira se tornou recorrente nos anos 1960 apresentando visões narrativas diferenciadas na abordagem do assunto, em diálogo com os acontecimentos políticos e as lutas de inserção social capitaneadas pelos movimentos negros.

A ideia do pioneirismo do Salgueiro na introdução de temáticas afro-brasileiras será relativizada com a apresentação de sambas e enredos sobre a questão do negro apresentados por outras agremiações cariocas. Mesmo não conquistando o reconhecimento na bibliografia sobre as associações culturais, as Escolas de Samba do Rio de Janeiro desempenharam um papel relevante no levantamento de temas e discussões acerca da história do negro na sociedade brasileira.

Por sua vez, o texto: “História da África e jogos: a lei 10.639 / 03 e o trabalho docente no ensino de história”, de Eduardo Mognon Ferreira, faz um balanço da lei e algumas de suas ações curriculares ao longo destes dez anos da implementação, como também reflete sobre um dos recursos trabalhados para a temática que são os jogos para o ensino de história, nas questões africanas. Sua intenção é relacionar o tema com a prática do recurso em sala de aula.

O sétimo artigo, “Cotidiano e escravidão urbana na Zona da Mata de Minas Gerais: Juiz de Fora Século XIX”, de Caio Batista, observa alguns aspectos do cotidiano da escravidão urbana em Juiz de Fora. Para tal, será analisado o processo de roubo ocorrido na casa do Barão da Bertioga em 1867. A partir do estudo desse documento e com o auxílio da produção historiográfica sobre o assunto é possível conhecer algumas redes sociais desenvolvidas entre escravos, livres e libertos na cidade. Além deste aspecto, o estudo processual permite resgatar elementos do cotidiano dos escravos, livres e libertos envolvidos na ação criminal.

O último artigo do dossiê, de Francielly Rocha Dossin, “História como fonte artística: explicando arquivos, criando imagens; criando arquivos, explicando imagens”, propõe a observação da obra Incômodo do artista Sidney Amaral compreendendo-a como um trabalho que atua entre as evidências visuais e a construção de novas histórias. O artista apresenta sua interpretação sobre a representação da abolição da escravatura no Brasil utilizando-se de história, arquivo e memória, como uma fonte para a criação artística. Em uma composição de três aquarelas e dois desenhos, Sidney Amaral monta um painel e convida o espectador a pensar na história, em especial as representações históricas da narrativa hegemônica, através de uma imagem outra.

Por fim, é com imensa satisfação que apresentamos, também, a resenha de livro desta edição, alinhada ao tema de nosso dossiê. O livro de Teresa Malatian, “O Cavaleiro Negro: Arlindo Veiga dos Santos e a Frente Negra Brasileira”, publicado pela Editora Alameda em 2015, recebe uma descrição feita por Lucas Suzigan Nachtigall. A obra aborda a participação de Arlindo Veiga dos Santos na Frente Negra Brasileira, desde sua fundação, em 1931, até sua dissolução, com o estabelecimento do Estado Novo, em 1937. Paralelamente, o livro compreende também a formação do intelectual e sua atuação em movimentos sociais pelo fim da segregação e pela inclusão do negro na sociedade brasileira.

Lúcia Helena Oliveira Silva

Mariana Alice Pereira Schatzer Ribeiro

Mírian Cristina de Moura Garrido


SILVA, Lúcia Helena Oliveira; RIBEIRO, Mariana Alice Pereira Schatzer; GARRIDO, Mírian Cristina de Moura. Apresentação. Faces da História, Assis, v.3, n.2, jul / dez, 2016. Acessar publicação original [DR]

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