Morte e Etnografia | Revista M. | 2022

Representacoes da Morte Morte
Representações da Morte | Imagem: AH Aventuras na História

O campo de estudos etnográficos sobre a morte conta com uma notável expansão nas últimas duas décadas. Isso tem possibilitado o aumento de conhecimento sobre os modos como os diferentes grupos sociais simbolizam e atribuem sentido à morte e ao morrer, revelando práticas, imaginários e processos sociais sobre os quais sabíamos pouco. Contudo, a expansão dos questionamentos não foi acompanhada por uma problematização acerca das formas de desenvolvimento dessas pesquisas, nem sobre os cuidados metodológicos em sua realização.

A etnografia, ferramenta metodológica utilizada por diversas disciplinas na atualidade, tem papel de destaque no estudo dos processos que envolvem a morte. A imersão durante um longo tempo na vida cotidiana das populações favorece a compreensão do caráter socialmente produzido em torno dos valores, discursos, práticas e representações sobre o tema, contribuindo, entre outras questões, para salientar o caráter difuso da distinção entre a morte – um dos poucos universais humanos – e a vida. Aliás, tem permitido dar atenção a questões chave contextuais no que concerne à interpretação de situações perpassadas pela morte. Deste modo, enquanto em alguns âmbitos, a profusão da palavra e de testemunho são significativas, em outros, o papel do silêncio permite entrever a presença de tabus ou de valores relevantes para a análise. Além disso, enquanto em certos contextos prima pela expressão pública de emoções frente à morte, em outros, a norma consiste na emergência de diversas modalidades de racionalização. Leia Mais

Etnografia Nos Arquivos e a Produção de Conhecimento Sobre Populações Subalternizadas | Ofícios de Clio | 2021

Candangos na construcao de Brasilia 2 Morte
Candangos na construção de Brasília | Imagem: Senado Federal

Quando propusemos um dossiê dedicado a recolher etnografias nos arquivos, tínhamos como principal interesse interligar distintos estudos e objetos, pois entendemos que a escrita histórica alinhada à prática etnográfica é uma junção fundamental na produção de conhecimento científico, servindo como ponto de partida, ou mesmo como retórica, nas pesquisas dos profissionais das ciências humanas. Aqui, a categoria de “subalterno” e os conceitos derivados da ideia de subalternidade, contemporaneamente, ocupam os debates e servem de base aos estudos acadêmicos que se alinham aos trabalhos propostos por Gramsci (2002), Said (2007) e Spivak (2010), entre outros. Arquivos, textos jornalísticos e jurisdicionais, por vezes, denotam como determinados grupos eram – e alguns ainda são – tutelados, ordenados e reagrupados pelas instituições governamentais ou/e eclesiásticas.

Ao analisar os fenômenos históricos, sociopolíticos e culturais, os trabalhos que aqui se encontram reunidos, carregam e apresentam discussões que confrontam visões estabelecidas por instâncias de poder. Os textos, assim, refletem esforços analíticos centrados em alguns conceitos-chave, marcas de perspectivas voltadas à compreensão de processos e dinâmicas que envolvem atores e agências sociais em campos de disputas. Numa clave que abarca a Etnografia nos arquivos, percebemos o resultado de coletas de materiais de diferentes formatos que passam a compor acervos construídos com variadas intenções institucionais. Leia Mais