Morte, Gênero e Sexualidade/Revista M./2023 

Persistir no exercício da pesquisa não é uma tarefa fácil em lugar algum, face todas as demandas de produtividade e os recorrentes impedimentos que enfrentamos em termos de falta de tempo e estrutura, quanto mais em um cenário negacionista como o que nos é familiar, em que tão frequentemente as análises teóricas da cultura e das relações sociais são descartadas como luxo, futilidade ou até mesmo excentricidade acadêmica, como percebemos nos últimos governos brasileiros após o golpe de 2016. Todavia, o desafio se torna sensivelmente maior quando o objeto de pesquisa é percebido como tabu pela maior parte da sociedade – este é, sem sombra de dúvidas, tanto o caso da morte quanto o das reações de gênero, temas comumente tidos como ímãs de controvérsias, questões acerca das quais o melhor (segundo uma parcela conservadora da sociedade) seria “silenciar”. Leia Mais

Iconografia e cultura material da morte no Mundo Antigo | Revista M. | 2022

Morte apos a morte na mitologia grega Imagem Super Interessante
Morte após a morte na mitologia grega | Imagem: Super Interessante

O DOSSIÊ Iconografia e cultura material da morte no Mundo Antigo é composto por doze artigos que versam sobre diferentes abordagens teóricometodológicas das culturas visual e material da morte nos mundos egípcio, persa, grego, romano, céltico e viking. Trata-se de um dossiê multilíngue, com contribuições em inglês e francês, além do idioma nacional, para o qual contribuem quatorze autores, entre os quais, somando-se aos pesquisadores brasileiros, aqueles ligados nomeadamente a instituições britânicas, gregas e francesas.

Os três primeiros textos abordam o Oriente Antigo. Dois artigos sobre o mundo egípcio trazem contribuições significativas sobre a iconografia funerária, refletindo sobre as interações das imagens com o mundo dos vivos e suas funções em relação ao mundo dos mortos. No artigo Caminhando com Amenemhet em seu funeral: afetando e sendo afetado na Tumba Tebana 123, José Roberto Pellini interpreta as cenas nas paredes das tumbas faraônicas enquanto elementos discursivos com funções que se completam por meio das interações com os vivos. Dessa forma, as imagens criam e afetam o público que frequenta o ambiente funerário, provocando ações e ativando seus significados para os mortos. A interação entre o mundo dos vivos e o dos mortos se dá por meio do mundo visual. Leia Mais

Morte e Etnografia | Revista M. | 2022

Representacoes da Morte
Representações da Morte | Imagem: AH Aventuras na História

O campo de estudos etnográficos sobre a morte conta com uma notável expansão nas últimas duas décadas. Isso tem possibilitado o aumento de conhecimento sobre os modos como os diferentes grupos sociais simbolizam e atribuem sentido à morte e ao morrer, revelando práticas, imaginários e processos sociais sobre os quais sabíamos pouco. Contudo, a expansão dos questionamentos não foi acompanhada por uma problematização acerca das formas de desenvolvimento dessas pesquisas, nem sobre os cuidados metodológicos em sua realização.

A etnografia, ferramenta metodológica utilizada por diversas disciplinas na atualidade, tem papel de destaque no estudo dos processos que envolvem a morte. A imersão durante um longo tempo na vida cotidiana das populações favorece a compreensão do caráter socialmente produzido em torno dos valores, discursos, práticas e representações sobre o tema, contribuindo, entre outras questões, para salientar o caráter difuso da distinção entre a morte – um dos poucos universais humanos – e a vida. Aliás, tem permitido dar atenção a questões chave contextuais no que concerne à interpretação de situações perpassadas pela morte. Deste modo, enquanto em alguns âmbitos, a profusão da palavra e de testemunho são significativas, em outros, o papel do silêncio permite entrever a presença de tabus ou de valores relevantes para a análise. Além disso, enquanto em certos contextos prima pela expressão pública de emoções frente à morte, em outros, a norma consiste na emergência de diversas modalidades de racionalização. Leia Mais

A morte desvendada: percepções sobre o além do mundo antigo e medieval/Mythos – Revista de História Antiga e Medieval/2018

Eu luto pela vida: um trabalho real, que vale a pena. Não tenho nenhum desejo de morrer, mas já vivi tão perto da morte e de suas consequências que a vejo agora como algo natural. Todos nós devemos morrer um dia, mas a morte sempre virá cedo demais para o homem ou a mulher que tem uma intensa sede de viver. Cada minuto que passa tem um significado, uma profundidade maior do que qualquer outra coisa, mesmo que pareça comum e rotineiro. Cada rajada de vento, cada canto da cigarra, cada revoada de pombos é como um poema. – Marianella García Villas (El Salvador, 1980). Leia Mais

Vida e Morte nas Religiões e nas Religiosidades / Revista Brasileira de História das Religiões / 2014

Caro leitor, é com imensa satisfação que apresentamos a edição de número 18, ano de 2014, da Revista Brasileira de História das Religiões!

Iniciamos o ano, apresentamos um Dossiê sobre Vida e Morte nas Religiões e nas Religiosidades!

Os artigos que compõem o Dossiê são resultados de conferências e mesas-redondas apresentadas durante o III Simpósio do GT História das Religiões e das Religiosidades da Associação Nacional de História (GTHRR-ANPUH) – Regional Sul, realizado na Universidade Estadual de Maringá (UEM), de 5 a 7 de novembro de 2013.

Vida e Morte nas Religiões e nas Religiosidades foi o tema desta edição do encontro, que oportunizou produtivas discussões, agregando significativas contribuições às nossas pesquisas e à nossa atuação docente.

O primeiro artigo, Viver e morrer entre irmãos: as irmandades e ordens terceiras de Salvador-BA, de Edilece Souza Couto, foi apresentado na conferência de encerramento do evento e trata da vivência religiosa dos católicos de Salvador nos séculos XVIII e XIX e como esta foi marcada pelas devoções leigas, em especial, as irmandades.

Versando sobre “Religião e Política: biografias, mitos e ritos”, têm-se o artigo O campo religioso sul rio-grandense e a politica de ressemantização da devoção Mariana escrito por Marta Rosa Borin. Ao estudar a devoção a Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças e como esta surgiu no Rio Grande do Sul a partir dos episódios político-militares de 1930, na cidade de Santa Maria, a autora analisa as estratégias do clero sul rio-grandense para consolidar essa devoção no Estado, bem como as motivações para a promoção desta invocação mariana à padroeira do Estado e dos operários.

O terceiro artigo, Vida, morte e ritos de iniciação nas crenças afro-brasileiras por meio de Nina Rodrigues, de Vanda Fortuna Serafim, aborda os “Ritos de Vida e Morte”, atentando as religiões afro-brasileiras por meio dos escritos de Nina Rodrigues. A atenção volta-se aos ritos iniciáticos e às práticas e ritos funerários afro-brasileiros.

O tema “Vida e Morte na Literatura e na História” conta com duas contribuições. A primeira delas, de Aline Dias da Silveira, intitula-se A Morte e a Iniciação Feminina nos Lais de Maria de França e analisa as representações do imaginário feminino sobre a morte na literatura medieval, especificamente, no a lai de Yonec de Maria de França (séc. XII), no qual é possível identificar uma estrutura narrativa mais antiga, de feições míticas. Salma Ferraz, por sua vez, trata da morte na teologia, na mitologia, entre os intelectuais, na arte tumular, na fotografia post mortem, na poesia e na literatura, no artigo A morte nas artes.

Por fim, apresentamos mais duas contribuições que se propõem a pensar “Espaços de Vida e Morte”. Em Prantear os mortos, celebrar a vida: repensando espaços, ritos e protagonistas na América colonial (séculos XVI e XVII), Eliane Cristina Deckmann Fleck, analisa as primeiras impressões que cronistas leigos e missionários formularam sobre as expressões de sensibilidade e de religiosidade dos indígenas Tupi-guarani, em especial, daquelas relacionadas ao festejar e aos lamentos fúnebres. Já Sylvio Fausto Gil Filho, em Conformação simbólica dos espaços da vida e da morte: uma aproximação teórica, a partir de uma aproximação teórica específica com a Filosofia das Formas Simbólicas de Ernst Cassirer (1874-1945), propõe a passagem da ontologia espacial imediata para uma epistemologia do espaço como modo de interpretação do mundo da cultura.

Há de destacar, neste Dossiê, o profícuo debate travado entre pesquisadores e professores das áreas de História, Literatura e Geografia, reiterando a proposta interdisciplinar do GT História das Religiões e Religiosidades –ANPUH. Na sessão Artigos Livres contamos, ainda, com mais quatro artigos inéditos!

O primeiro deles, O martírio no contexto da Companhia de Jesus: a parénese do padre Antônio Vieira, de Fernanda Santos, pretende mostrar como o padre Antônio Vieira consegue articular algumas concepções em sua sermonária, com a eloquência de seu raciocínio católico-cristão e a engenhosidade do seu discurso, sem deixar de ter em vista os objetivos e o ideário missionário e universalizante da Companhia de Jesus.

Ivana Guilherme Simili, em Memórias da dor e do luto: as indumentárias políticoreligiosas de Zuzu Angel, busca pensar as relações das mulheres com as roupas e com a moda política e religiosa por meio da trajetória da mãe e estilista Zuzu Angel. O enfoque privilegia como a cultura das mulheres, da moda e da religião foram apropriadas e significadas pela personagem, para simbolizar e expressar, por intermédio da costura e do bordado, a dor e o luto, em razão da morte do filho pela ditadura militar.

A terceira contribuição, Em nome do direito à vida: o aborto nos documentos pontifícios dos anos 1980, de Aline Roes Dalmolin, analisa as percepções sobre aborto em documentos oficiais católicos publicados nos anos 1980.

No último artigo desta edição, Mercado religioso e as denominações afro-brasileiras numa cidade catarinense, Gerson Machado apresenta reflexões sobre o processo de constituição do mercado religioso na Cidade de Joinville, Estado de Santa Catarina, no período compreendido entre os anos 1980 e 2000.

Encerrando o quadro da Revista, contamos com uma resenha da obra de Tracey Rowland, de 2013, A fé de Ratzinger – a teologia do Papa Bento XVI, enviada por Edison Minami.

Além da estrutura tradicional, nesta edição, a RBHR apresenta os Anais do III Simpósio do GT História das Religiões e das Religiosidades da Associação Nacional de História (GTHRR-ANPUH) – Regional Sul. Os textos são resultados das discussões e apresentações de trabalhos nas três tardes do evento por meio dos Simpósios Temáticos.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Vanda Fortuna Serafim

Solange Ramos de Andrade


ANDRADE, Solange Ramos de; SERAFIM, Vanda Fortuna. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.6, n.18, Jan., 2014. Acessar publicação original [DR]

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Interfaces entre Morte e Imagem / Domínios da Imagem / 2013

O foco selecionado para a edição 13 fundamenta-se sobre as relações entre imagem e morte. Apesar de sua universalidade, na medida em que todos os seres estão fadados a perecer, a ponto de um antigo provérbio italiano afirmar que, não importando se rei ou peão, ao final do jogo todos acabam na mesma caixa, a morte constitui objeto de estudo uma vez que, culturalmente, são construídas diferentes representações em torno da mesma, tornando-a, portanto, domínio da História e outros campos do saber. Malgrado não sejam os únicos, os cemitérios constituem lugares privilegiados para pensar as tessituras entre imagens, símbolos e morte, como abordam os autores ao longo deste número.

Na capa, verifica-se o túmulo de Luz Maria Garcia Velloso no Cemitério da Recoleta, na cidade argentina de Buenos Aires. Trata-se da primeira necrópole pública portenha, fundada em 1822, abrigando sepulturas da elite do país a partir de diversos estilos arquitetônicos. O jazigo em questão possui sobre o féretro a representação da falecida em seu último sono, repousando à espera do Juízo Final. Isso é um resquício nos oitocentos de um imaginário cristão anterior ao século XII, em que a crença na alma como substância distinta do corpo físico não se encontrava ainda difundida. Entretanto, a estatuária jacente entrou em decadência no século XIX com o advento de outro instrumento de criação visual, a fotografia, que democratizou relativamente o acesso à imagem entre diferentes camadas da sociedade, colonizando os cemitérios dos séculos XX e XXI com imagens fotográficas, que passaram a representar o duplo dos trespassados.

Richard Gonçalves André – Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina.


ANDRÉ, Richard Gonçalves. [Interfaces entre Morte e Imagem]. Domínios da Imagem, Londrina- PR, v.7, n.13, 2013. Acessar publicação original

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Morte, Funeral e Vida Após a Morte: Explorando Atitudes em Relação à Mortalidade, Ritual e a Concepção de Outro Mundo. Da Europa da Idade do Ferro à Alta Idade Média / Brathair / 2008

Mortalidade é tema que povoa a mente humana em toda sua existência. As atitudes humanas diante da morte e do desconhecido após a morte têm despertado grande interesse de pesquisadores, não só por revelarem uma gama de visões e rituais, mas, sobretudo, por demonstrarem ser fundamentais na compreensão de aspectos sócio-culturais, isto é, de visões de mundo, construção da memória, de ancestralidade e da própria vida em sociedade. Morte e o Outro Mundo são, pois, temas freqüentes na literatura, mitologia e achados arqueológicos de todas as sociedades.

Durante as últimas décadas, as produções culturais vinculadas à morte e ao além têm despertado particular interesse dos acadêmicos, que têm, por conseguinte, enveredado pelo estudo dos ritos funerários, concepções e crenças ligadas à morte e ao Outro Mundo, suas representações na literatura e no folclore, assim como xamanismo, dentre outros temas. Os sentimentos a respeito dos mortos aparecem, ao lado das representações mitológicas e religiosas, como consolidação das relações sociais e de parentesco. Assim é que a seção Dossiê desta edição da revista BRATHAIR, visa trazer diferentes olhares acerca dessas temáticas, atreladas aos temas mais recentes de investigação sobre os celtas e germanos.

O primeiro trabalho, Dvergar and the dead, de autoria do medievalista argentino Santiago Barreiro, apresenta uma original pesquisa a respeito das concepções escandinavas, os interpretando como agentes neutros do estranho e refletindo laços sociais dentro do universo mítico nórdico. Ao mesmo tempo, realiza uma crítica à Escandinavística francesa que interpreta os dvergar como representações dos mortos.

Em seguida, o historiador Jorge Ricado da Câmara em seu artigo Fons Sulis: a água e o outro mundo celta, não somente investiga as crenças relativas às populações celtas e suas estratégias culturais de resistência à dominação romana, mas também oferece algumas perspectivas das novas problemáticas e metodologias concernentes às interpretações materiais de antigas áreas de culto, especialmente as da Inglaterra da Idade do Ferro.

Outra abordagem material dos cultos e representações sobre os mortos nos é concedida pelo arqueólogo espanhol Andrés Pena Graña, desta vez investigando a área ibérica no artigo Túmulos, mouros, gigantes, salvaje caza. Através de uma perspectiva comparativa de conjuntos mitológicos europeus, especialmente dos celtas e germanos, Pena Graña procura interpretar os vestígios de tumbas megalíticas e suas manifestações rupestres, contrapondo-se, às teorias de migrações indo-européias.

Na seção Artigos, quatro artigos de medievalistas apresentam várias contribuições para os estudos celtas e germânicos. O primeiro, Isidoro de Sevilha: natureza e valorização de sua cultura pela Hispânia tardo antiga, de Ronaldo Amaral, apresenta um viés original dos estudos sobre o importante intelectual alto-medieval ao analisar como o mesmo foi percebido ainda em sua época por outros intelectuais visigodos. Logo a seguir, Entre a Gallia e a Francia, de Edmar Checon de Freitas, analisa as transformações da Gália romana para a França Merovíngia. Os estudos germano-medievais ainda são contemplados por um artigo do medievalista alemão Klaus Militzer, O caminho dos peregrinos: do Sacro-Império Romano Germânico a Santiago de Compostela, onde ele reflete sobre as peregrinações dos germanos em direção ao importante centro religioso de Compostela, na Espanha. Encerrando a seção, temos um estudo de literatura céltica de Rita Pereira, A literatura arturiana na Idade Média: fontes, transformações, permanências. Dando continuidade ao debate do dossiê da edição anterior da revista – Brathair 7 (2) 2007, a pesquisadora demonstra a reapropriação identitária da literatura arturiana por nobres e cavaleiros, como forma de reafirmar a sua identidade e seu espaço na sociedade medieval.

A seção Resenhas apresenta duas reflexões sobre obras cujo tema é correlato ao presente dossiê. A primeira, Runas e magia, realizada pelo escandinavista Johnni Langer, apresenta uma crítica a dois lançamentos no país, tratando de reapropriações esotéricas da religiosidade dos antigos vikings. Em contra partida, em Arqueologia funerária francesa: Novas perspectivas, a arqueóloga / historiadora Adriene Baron Tacla comenta o lançamento de nova coletânea francesa sobre práticas funerárias, organizada por Luc Baray, Patrice Brun e Alain Testart e que traz o resultado de um seminário de pesquisa realizado no Collège de France no período de 2001 a 2003.

Por fim, e também relacionada com o tema do dossiê, a seção Entrevistas traz um encontro com o renomado medievalista brasileiro Hilário Franco Júnior, pensando algumas questões metodológicas e temáticas acerca das concepções da morte e do além celto-germânico.

Esperamos que o presente número da BRATHAIR possa incentivar novos estudos celto-germânicos em nosso país, mas também servindo como foco de discussão para os estudos humanísticos em geral. Com este intento, os próximos dossiês contemplarão, respectivamente, os debates acerca de: A mulher celta e germânica: novas perspectivas (Brathair 8 (2) 2008) e Sagas islandesas (Brathair 9 (1) 2009).

Adriene Baron Tacla – Professora Doutora. Pós-doutoranda LABECA, MAE / USP. E-mail: [email protected]

Johnni Langer – Professor Doutor. Departamento de História (UFMA). E-mail: [email protected]


TACLA, Adriene Baron; LANGER, Johnni. Editorial. Brathair, São Luís, v.8, n.1, 2008. Acessar publicação original [DR]

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