Escravidão: Ideias e práticas / História Revista / 2010

Ao organizar o dossiê Escravidão: Ideias e práticas, a História Revista vis -se homenagear a memória da Profa. Dra. Gilka Ferreira Vasconcelos (1925-2008). A formação de um centro de pesquisa em História em Goiás deve, e muito, aos esforços da professora e de uma geração de professores representada, entre outros, por Luis Palacín, Janaína Amado, Lena Castelo Branco Ferreira e Dalisia Dolles, responsáveis pela criação do Programa de Pós-Graduação em História das Sociedades Agrárias em Goiás, em 1972. Como pesquisadora, Gilka Vasconcelos renovou os estudos sobre a escravidão com a publicação de sua tese, defendida na Universidade de São Paulo, Economia e escravidão em Goiás colonial (1983).

Gilka Ferreira Vasconcelos nasceu em Rio Verde. Seu pai trabalhava como mascate, acompanhando o lento movimento das boiadas. Para dar continuidade aos seus estudos, a professora mudou-se para Uberaba, onde completou o ginasial. De lá, foi para Belo Horizonte cursar a Faculdade de Filosofia, graduando-se em História e Geografia. O curso era marcado por “professores improvisados”, quase todos formados em Direito. Posteriormente, essa Faculdade foi incorporada à recém-fundada UFMG. Casou-se com seu professor de História da América, Sebastião de Oliveira Sales, em 1947. Ao retornar para Goiás, após a morte de seu marido, atuou em várias frentes: lecionava tanto no ensino superior (UFG e UCG), como no Instituto de Educação e no Instituto Pestalozzi. Os traços biográficos aqui esboçados visam fixar a dura rotina da professora, acrescida, ainda, pela lida com a casa e com os filhos. Percebe-se a incontida alegria da professora ao rememorar as etapas do seu processo de formação acadêmica. O acesso ao título de doutor era uma missão árdua, ainda mais para quem morava longe dos grandes centros universitários.

Na década de 90, quando as aposentadorias ameaçaram a sobrevivência do Programa de Pós-graduação em História, lá estava a professora Dra. Gilka Vasconcelos pronta para defender, corajosamente, a continuidade das atividades acadêmicas do mestrado. A defesa desse espaço acadêmico formou, simultaneamente, a professora e seu próprio campo de formação. Em 1983, assumiu, por dois mandatos consecutivos, a coordenação do Programa de Pós-graduação em História das Sociedades Agrárias da Universidade Federal de Goiás. Orientou 23 dissertações de mestrado e manteve sempre aguçado interesse pela pesquisa histórica. Em 2008, já adoentada, coordenou, com o costumeiro zelo, o simpósio sobre a vinda da Família Real Portuguesa, no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG).

O dossiê Escravidão: ideias e práticas traz três artigos que apresentam resultados de pesquisas inéditas. Andréia Firmino avalia as teorias legitimadoras da escravidão a partir do debate parlamentar em meados do século XIX. Mary Karash destaca a experiência social da escravidão, analisando a formação e o papel das irmandades em Goiás, com destaque para a irmandade dos pretos e suas práticas associativas; e Maria Lenke Loiola investiga a inserção de Goiás no infame comércio de almas, com destaque para as rotas do tráfico e o peso da participação de Goiás nessa atividade.

Na seção de artigos, Clarissa Valadares Xavier e Carlos Eduardo Santos Maia investigam as festas “fora de época” na cidade de Salvador. A pesquisa de Cynthia Radding propõe uma análise comparativa entre as fronteiras geográficas e a história das Américas, com atenção especial para as zonas fronteiriças. José da Costa D’Assunção Barros discute a noção mecanicista de progresso, com base na leitura de Nietzsche. Jurandir Malerba apresenta as variações metodológicas presentes nos debates acerca da relação entre Memória e História. Luciana Fagundes discute os rituais e os símbolos do poder real, com base na repercussão da visita de Alberto I, rei da Bélgica, ao Rio de Janeiro, em setembro de 1920. Finalmente, Valéria Milena Röhrich Ferreira investiga a relação entre as histórias e as memórias em circulação na cidade de Curitiba, na década de 1990 e na seguinte, e o processo de elaboração do currículo da rede municipal de ensino. Na seção resenhas, Eduardo Gusmão de Quadros apresenta a obra Um projeto hermenêutico de história das religiões: Mircea Eliade, Joachim Wach e a criação da escola de Chicago.

Noé Sandes Freire

Organizador do Dossiê

Comissão Editorial

Maria da Conceição Silva

Adriana Vidotti

Armênia Maria de Sousa

David Maciel

Heloisa Selma Fernandes Capel

Luciane Munhoz de Omena


FREIRE, Noé Sandes; et al. Apresentação. História Revista. Goiânia, v. 15, n. 2, jul. / dez., 2010. Acessar publicação original [DR]

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