La constitución del canon filosófico en las universidades argentinas: mediaciones, prácticas y debates/Estudios de Filosofía Práctica e Historia de las Ideas/2021

Desde sus inicios la cuestión del canon filosófico se encontró vinculada a la enseñanza de la filosofía. Si se considera su perspectiva normativa, en tanto implica una serie de obras y autores que se comprenden como necesarios para alcanzar cierto dominio de la filosofía, se trata de un dispositivo central de la enseñanza de la disciplina. De allí que se visibilice sobre todo en los contenidos básicos de los currículos, los planes de estudio universitarios, los programas de las materias, los manuales y los libros especializados. En Argentina la etapa de constitución del campo de la disciplina en el ámbito universitario se encontró fuertemente atravesada por las filosofías europeas -especialmente por la presencia de filosofías francesas y alemanas, pero también inglesas, españolas e italianas- presentando polarizaciones y rupturas entre grupos académicos como también por las intervenciones y demandas de los estudiantes. Leia Mais

Culturas alimentares, práticas e artefatos / Varia História / 2016

Refletir sobre as práticas alimentares na história é entender a alimentação e seu processo de construção histórica como uma linguagem que expressa vocábulos, gramáticas, sintaxes e retóricas, apresentando-os, respectivamente, em produtos, receitas, cardápios e comportamentos (Montanari, 2009, p.11). Fazer história sobre os processos que envolvem a alimentação – a necessidade, o gosto e os artefatos – é reconhecer no ato de alimentar e em todo o aparato material e simbólico que lhe dá conformação histórica, não apenas as representações de pessoas e de sociedades, mas a própria constituição do humano.

A alimentação é ato de sobrevivência, mas é, também, uma invenção. É necessidade instrumentalizada por artefatos facilitadores. É gosto, fruto de instintos, de percepções sensoriais, e, sobretudo, de construções históricas. As coisas que o homem inventa e torna úteis no ato de comer, participam de sua experiência e atendem às suas necessidades exigindo dele manipulações. Como todas as suas invenções! Elas tornam-se instrumentos de sua vivência e dele requerem gestos artesanais. As coisas da alimentação e o próprio alimento são importantes parcelas da materialidade da cultura, mas, também, são constituídas de valores que vão além de sua concretude. Os elementos materiais de nossa cultura e a relevância de seus significados são objeto de reflexão das disciplinas humanas, em geral e da História, em particular.

O presente dossiê da Vária História, Culturas alimentares, práticas e artefatos, apresenta textos que, dentro do universo da cultura material, apreendem a alimentação e o espaço das práticas alimentares, refletindo, em suma, sobre realidades físicas e simbólicas, práticas e conceituais, em torno dessa banalidade da atividade humana: comer e cozinhar para comer. A alimentação como documento de realidades, não se apresenta aqui apenas como simples reflexo da construção social, mas como repertório de elementos integrados em sua constituição histórica. Os artefatos da alimentação, também, não são apenas fetiches ou simples detentores de sentidos sociais deslocados de seus usos: são enunciados que dão sentido às realidades, atribuem valor às coisas dos homens, induzem e instrumentalizam as práticas sociais.

Este dossiê temático apresenta ao leitor interpretações sobre as práticas alimentares no mundo americano, em vasta temporalidade. Os textos que o compõe trazem criativas articulações metodológicas, utilizando tipos documentais diversos que denotam materialidades amplas em espaços díspares. Conformam, a despeito dessa diversidade, um repertório reflexivo de unidade inequívoca: materialidades e simbologias, além de políticas públicas e práticas cotidianas, conformando vivências humanas e nos permitindo a compreensão delas.

Quando praticamos a compreensão histórica a partir da perspectiva da cultura material temos necessariamente de ficar atentos aos artefatos. Podemos nos ater a eles, tomando-os, a exemplo do que fundamentalmente fizeram a arqueologia e a antropologia do século XIX e parte do XX, como objetos que denotam a construção da cultura e que pela avaliação dessas disciplinas apresentam a evolução técnica do homem e o desenvolvimento social (progresso). Seria, como nos diz Marcelo Rede, o “espetáculo de produção, circulação e consumo (Rede, 2012, p.134) que encantou os pensadores do “oitocentos” e que os diferenciou “dos organizadores dos “gabinetes de curiosidades” do século anterior: estes últimos interessados no “exótico”, enquanto o homem de ciência social oitocentista centrado no artefato para construir uma taxonomia e um padrão cultural para a classificação dos povos e das culturas, aos modos dos cientistas naturais. Se seguíssemos essa tradição, poderíamos fazer uma “arqueologia” dos grupos sociais em uma “perspectiva difusionista”, onde os instrumentos e as técnicas, vistos através da análise dos objetos, nos mostrariam a sua história evolutiva. Certamente que essa perspectiva seria simples e simplificadora; pobre sob a perspectiva da História. Desde os anos de 1960, uma Nova Arqueologia já se distanciou desta perspectiva, aproximando-se da Antropologia, negando a ideia de registro material do sítio e buscando a compreensão do funcionamento do agrupamento social naquela materialidade. Ainda hoje, no entanto, nós, historiadores, antropólogos e arqueólogos insistimos nessa diferenciação (como eu o faço aqui), o que denota, ainda, a necessidade de romper com certa incompreensão sobre o valor da cultura material para nossos estudos.

A antropologia do consumo (“consumo como ato social criador de sentidos”) (Rede, 2012, p.139) desenvolvida a partir dos anos 1980, sob a influência da dimensão semiológica dos estudos sobre a cultura material, nos dá uma contribuição fundamental para os estudos históricos. Interessante que, ao pensarmos uma nova antropologia do consumo, necessariamente, temos de referenciar Daniel Miller que, em vários estudos trata o consumo (1987; 1998), não como algo a distinguir camadas sociais, mas como um fenômeno gerador de sentidos para a compreensão das sociedades modernas e contemporâneas e em discussão muito crítica à perspectiva semiótica, por tratar as coisas como “simples trecos inanimados” ou como “meros servos” da representação do homem (2013, p.22). Em Miller as coisas não apenas representam o homem, mas o constituem. Para ele

(…) denegrir coisas materiais, rebaixá-las, é uma das principais maneiras de nos fazer subir em aparentes pedestais. E, dessa altura, reivindicamos uma espiritualidade inteiramente divorciada de nossa própria materialidade e da materialidade do mundo em que vivemos (Miller, 2013, p.230).

A dificuldade que temos, de acordo com Miller, é devida a que os “Trecos têm uma capacidade notável de se desvanecer diante de nossos olhos, tornam-se naturalizados, aceitos como pontos pacíficos, cenário ou moldura de nossos comportamentos.” (Miller, 2013, p.228). Sugere que mergulhemos nossas abstrações teóricas “de volta na algazarra da vida cotidiana e na gloriosa confusão de contradição e ambivalência que ali se encontram” (Miller, 2013, p.230).

Os textos que compõem o presente dossiê da Vária História, denotam essa riqueza de parâmetros na busca de compreensão da alimentação, das práticas alimentares, de suas simbologias e materialidades. Ultrapassando perspectivas semióticas e discursivas (a leitura da materialidade como um texto) Leila Mezan Algranti, Gregório Saldarriaga, Marjolaine Carles e Maria Aparecida de Menezes Borrego mergulham na “algazarra do cotidiano” do passado, tentando compreendê-lo em sua dimensão sócio-histórica. O fazem em um eixo que o arbítrio do organizador do Dossiê ordenou como da modernização social à prática dos usos de artefatos, passando pela distinção e diferenciação sociais à ação político-administrativa de autoridades municipais.

Em Alimentação e cultura material no Rio de Janeiro dos vice-reis: diversidade de fontes e possibilidades de abordagens, Leila Algranti discute fontes e abordagens para entender os artefatos das refeições, no Rio de Janeiro, na segunda metade do século XVIII, como documentos das transformações dos modos à mesa, tidas como modernizadoras da sociedade europeia. Uso de talheres e atenção à etiqueta, perscrutados pela historiadora, evidenciam menor distância entre o que se pratica na Europa e na América portuguesa, contrariando uma tradição interpretativa fortemente arraigada nos estudos sobre a alimentação.

Gregório Saldarriaga mostra em seu artigo Comer y ser: la alimentación como política de la diferenciación en la América española, siglos XVI y XVII a alimentação como elemento diferenciador de camadas sociais. Os estamentos e a hierarquização da sociedade americana dimensionam-se em uma complexidade que incorpora principios europeus de raíz medieval e apresenta padrões novos e estruturas modernas que reforçam o antigo e dão dinâmica à realidade social na integração de espanhóis, criollos, mestiços e índios.

O texto de Marjolaine Carles, Eaux du domaine public (Brésil colonial) : le cas de Vila Rica, 1722-1806 (Minas Gerais), analisa o patrimônio hídrico público em Vila Rica, buscando compreender o abastecimento das fontes públicas, a apropriação das águas pelos particulares, e a ação camarária no âmbito do domínio público desse bem de consumo primordial para a organização da sociedade. Enfatiza na análise o orçamento municipal na efetivação dessa apropriação e busca relacionar o uso da água e a ocupação da terra sob aspectos sociais e jurídicos.

Já Maria Aparecida Borrego nos apresenta em Artefatos e práticas sociais em torno das refeições (São Paulo, séculos XVIII e XIX), sua interpretação sobre práticas vivenciadas pela sociedade paulista em torno das refeições e de sua mesa, tomando os artefatos como constituintes de uma transformação das sociabilidades em vivências interiorizadas no ambiente doméstico. Analisa-os na dimensão de objetos em seus lugares de escolhas para servir à experiência social e, assim, os compreende em uma dinâmica de hierarquias e de poderes.

Ao historiador que busca a compreensão de realidades sociais passadas através da dimensão material da cultura, é necessária uma atenção desmedida e cuidadosa aos objetos que parecem naturalizar-se no uso. É a ele fulcral que dê complexidade ao óbvio em reflexão cognitiva. Nessa perspectiva, o primeiro passo é muito difícil: romper com o pensamento dualista que tende a opor materialidade e imaterialidade, valorizando o simbólico, o mental, o ideal, o abstrato e desvalorizando o material, o sensorial, o corporal. Como nos lembra Marcelo Rede (2012, p.143), inspirado em Bruno Latour (Nous n’avons jamais modernes), as considerações intelectuais hierarquizam os estudos na cadeia pensamento-comportamento-matéria. Em consequência, reforçam o dualismo de opor mente-pensamento-linguagem a corpo-prática-matéria. Essa oposição é falsa e, mais que isso, é ilusória e enganadora.

Vivemos um bom momento para relativizar criticamente essa hierarquia, quando os nossos valores atuais tentam exaltar o biológico e o ecológico e, com isso, valorizando a relação homem-ambiente, acabam por ajudar-nos, em certa medida, a desumanizar as ciências humanas percebendo os artefatos do homem na íntima relação que eles têm com o seu pensamento. É preciso, no entanto, não inverter o dualismo, supervalorizando a materialidade. É preciso entendê-la como Ulpiano Bezerra de Meneses que toma “cultura material” como o “segmento do meio físico que é socialmente apropriado pelo homem” (1983, p.112). É preciso, enfim e sobretudo, dar significação à materialidade.

Referências

MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. A cultura material no estudo das sociedades antigas. Revista de História, n. 115, p.103-117, 1983. [ Links ]

MILLER, Daniel. Material culture and mass consumption. Oxford: Blackwell, 1987. [ Links ]

MILLER, Daniel (org.). Material cultures: Why some things matter. Chicago: The University of Chicago Press, 1998. [ Links ]

MILLER, Daniel. Trecos, Troços e Coisas. Estudos antropológicos sobre a cultura material. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. [ Links ]

MONTANARI, Massimo. Introdução. In: MONTANARI, Massimo (org.). O mundo na cozinha. História, identidades, trocas. São Paulo: Estação Liberdade / SENAC, 2009. p.11-17. [ Links ]

REDE, Marcelo. História e Cultura Material. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Novos Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus / Elsevier, 2012. p.133-150. [ Links ]

José Newton Coelho Meneses – Departamento de História, Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]


MENESES, José Newton Coelho. Apresentação. Varia História, Belo Horizonte, v.32, n.58, jan. / abr., 2016. Acessar publicação original [DR]

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As Leis e suas práticas: a diversidade em exercício / História e Diversidade / 2015

As produções no campo da História e da Educação têm se debruçado sobre a formação de professores em níveis e enfoques diferentes, conferindo importância a esse debate em âmbito nacional, e repercutindo na conformação de processos legislativos referentes à educação brasileira. Não se trata, porém, de relação de “mão única”, pois da mesma forma que a produção acadêmica impacta os processos legislativos, esses últimos repercutem na reflexão especializada. Dai ter havido, nos últimos anos, uma significativa ampliação da produção relativa aos aspectos abordados pela legislação. Marcadamente, nos referimos aos temas da Diversidade e da Inclusão.

Neste dossiê, “As leis e suas práticas: a diversidade em exercício”, problematizou-se coletivamente a relação havida entre as instituições de ensino e os marcos regulatórios, com ênfase na discussão sobre as questões correntes nos processos de ajustamento da formação ofertada às normatizações estabelecidas pelas instâncias regulatórias. O dossiê reúne artigos de pesquisadoras e pesquisadores de todas as Regiões do Brasil, os quais propõem reflexões sobre a legislação referente aos processos de inclusão e de afirmação da diversidade e, ainda, os processos que impactam a formação, tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior, especialmente na interlocução entre essas instâncias.

Deste modo, as contribuições aqui reunidas compõem, de certa forma, um panorama dos debates que envolvem a implantação e implementação das Leis no 10.639/2003 e 11.645/2008 e os suportes metodológicos que lhe são correlatos. Eles incorporam ainda, discussões acerca dos desafios interportos para a concretização de uma educação inclusiva e antirracista. Não deixam de dar conta, também, de experiências de formação em cursos de Pós-graduação, experiências de formação inicial e continuada, na confluência entre História e Educação.

As leis nº. 10.639/2003 nº 11.645/2008 demarcam uma mudança substantiva na Educação brasileira e, por conseguinte, nos currículos de todos os níveis de ensino. Tratase da proposição da construção de novos paradigmas educacionais, sobretudo nos processos formativos. Aqueles paradigmas engendraram a adoção de políticas de ação afirmativa, dentre as quais se contam as leis supracitadas. Neste sentido, discutir sobre Diversidade e Inclusão, considerando um dos sentidos das políticas de Ação Afirmativa, é discutir processos de ampliação e consolidação dos fundamentos democráticos que sustentam nossa sociedade. Da mesma forma, discuti-las implica em considerarmos os processos necessários à implementação de uma educação que, efetivamente, se volte para a formação do cidadão, combatendo a discriminação e o preconceito em todos os níveis.

O artigo “A diversidade na História ensinada nos livros didáticos: mudanças e permanências nas narrativas sobre a formação da nação” que abre este Dossiê discute a incorporação, pela literatura didática, das críticas ao “mito da democracia racial” nas abordagens sobre a formação nacional. A partir da análise de obras didáticas utilizadas nas décadas de 1980, 1990 e 2000, os autores realizam análise sobre as formas pelas quais um dos dispositivos daquele “mito”, a ideologia da mestiçagem, é problematizado e conformado em saber histórico escolar. Argumentam, ainda, que a crítica àquela ideologia tornou-se mais presente na literatura didática, no entanto, ela não significou o abandono de alguns de seus pressupostos.

O segundo artigo “Relações Étnico-Raciais no PNBE 2008 para a Educação Infantil” analisa as estratégias ideológicas presentes no acervo de 2008 do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) destinada à Educação Infantil. Os autores refletem sobre os editais do PNBE (2003-2012) além de um acervo com vinte obras de literatura infantojuvenil distribuídas em 2008. Utilizou-se do método da Hermenêutica da Profundidade (HP), sistema interpretativo que permite identificar a presença de relações assimétricas de poder. Constatam, ainda, que em baixa frequência, representações positivas de alguns personagens negros. Contudo, os personagens brancos, além de continuarem mais frequentes, foram também mais detalhados. Além disso, enfatizam como o branco consta como norma social e pressupondo, inclusive, que os leitores presumidos sejam também brancos.

O terceiro artigo “Juntando as pontas no ensino de história da África: do chão da escola para a universidade reflete sobre duas experiências que envolvem o ensino de História da África”. De um lado, uma universidade federal nova, criada em uma zona de forte valorização ideológica da cultura do migrante europeu, onde a disciplina de História da África aparece como obrigatória dentro da grade curricular. De outro, a experiência em uma escola estadual de uma zona periférica de Porto Alegre onde, por meio de uma reforma na grade curricular, implantou-se um programa que privilegia a História da África e da cultura afro-brasileira no ensino secundário. Os autores procuraram, por meio de suas práticas, refletir sobre como estas experiências, aparentemente diversas, se relacionam, bem como sobre a importância de estabelecer a necessária ligação entre tais realidades.

O quarto artigo “Diversidade e diferença no espaço escolar: desafios para a educação inclusiva” sopesa conceitos relativos à diversidade e à diferença no contexto da defesa da igualdade. Essa análise fora realizada por intermédio de dados quantitativos e qualitativos, mensuráveis sob diferentes indicadores sociais e educacionais para reflexão daqueles conceitos.

O quinto artigo “O ensino de História e Geografia no DF: percalços e percursos de uma única história chamada Brasília” problematiza situações reveladas nas práticas de ensino das disciplinas citadas, que evidenciam algumas agruras das populações das localidades “não-Brasília”. No bojo da segregação espacial, revelam-se singularidades culturais, sociais e raciais. Com isto, abala-se a história tradicional, a identidade forjada brasiliense, e emergem outras, desconhecidas, recentes, híbridas e em franco processo de reafirmação, legitimidade e originariamente diversas.

O sexto artigo “Descolonizando histórias de África, culturas africanas e da diáspora” problematiza duas imagens com representações de modo de ser e lutar de povos africanos com ênfase nas clivagens entre cosmovisões de povos europeus e povos em diáspora. Os dados compilados e a reflexão realizada permitem atenção crítica a verdades e abstrações de uma história universal.

O sétimo artigo “Povos indígenas, ações afirmativas e universidade: conquistas e dilemas da reserva de vagas na Universidade Federal do Pará” analisa como se materializa o preceito normativo que regulamenta as ações afirmativas de ingresso universitário, com foco específico na reserva de vagas para povos indígenas existentes na Universidade Federal do Pará, a fim de compreender: (1) as dificuldades do processo de inclusão (considerando acesso e permanência na Instituição) dos indígenas estudantes; (2) a preparação ou qualificação continuada do corpo docente e técnico para saber lidar com a diversidade cultural; (3) rediscutir o exercício do direito à diversidade cultural na Universidade, com base nos aportes dos tratados internacionais de direitos humanos e das reivindicações políticas dos movimentos indígenas.

O oitavo artigo “História da África no ensino superior: imagens e representações dos estudantes do curso de licenciatura em história da UFMT, campus Cuiabá” problematiza a experiência da atuação docente na disciplina de História da África e Estágio Supervisionado no Curso de Licenciatura em História da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), no campus de Cuiabá. Os autores realizam uma análise dos planos de aula sobre a história e cultura africana e afro-brasileira desenvolvido pelos estudantes, procurando compreender as imagens e representações forjadas no contexto das atividades pensadas para a Educação Básica.

O nono artigo “Entre estereótipos e saberes: a África e os africanos em um curso de licenciatura em história” discute a institucionalização da Lei no 10.639/2003 em um curso de Licenciatura em História a distância, destinado a professores leigos do Nordeste brasileiro. A autora demonstra o impacto que os conteúdos concernentes à Lei tiveram sobre os saberes a ensinar e discute alguns estereótipos e conhecimento sobre a temática, identificados nos depoimentos e postagens online dos docentes envolvidos nessa experiência de formação em serviço.

O Dossiê finaliza-se com o artigo “Por uma educação antirracista e intercultural: as contribuições do núcleo de estudos afro-brasileiros” evidencia as ações desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal da Grande Dourados. Os autores constatam que a atuação do NEAB é fundamental para a articulação de ações construção de uma educação inclusiva que vislumbre um diálogo intercultural, no qual os saberes das crianças negras e indígenas possam ser legitimados e, desse modo, possam romper com a visão homogeneizadora e hegemônica do currículo colonizado.

Por fim, este dossiê foi concebido como uma interlocução possível entre a produção de conhecimento e os problemas concretos da escola. Assim, ele não buscou hierarquizar saberes ou distinguir pesquisadores.

Agradecemos a todas e todos!

Boa leitura!

Mauro Cezar Coelho

Wilma de Nazaré Baía Coelho

 

COELHO, Mauro Cezar; COELHO, Wilma de Nazaré Baía. Apresentação. História e Diversidade, Cáceres – MT, v.6, n.1, 2015. Acessar publicação original [DR]

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Militares, milicianos e policiais: instituições, representações e práticas / História Unisinos / 2012

O dossiê Militares, milicianos e policiais: instituições, representações e práticas reúne trabalhos cujo objeto são instituições militares e policiais no Brasil dos séculos XIX e início do XX, ou seus agentes, milicianos, guardas nacionais, praças da força policial e policiais da força pública. Em ambos os casos, tratam-se de textos que muito se distanciam das antigas histórias institucionais autocentradas e, nesse sentido, os seis artigos aqui reunidos podem ser vistos como amostra das pesquisas recentes sobre história militar e história da polícia feitas no Brasil, dois campos de estudo que vêm ganhando relevo nas últimas décadas, com o crescimento do número de publicações, dissertações e teses produzidas.

Embasada em sólidas pesquisas empíricas, a historiografia recente tem demonstrado outras faces dessas instituições que não as repressoras ou de “controle social”. Como é sabido, defini-las como tal não ajuda a explicá-las, pois a própria noção de “controle social” ao se expandir perdeu muito de seu poder explicativo. Nessas duas áreas de pesquisa, quando afastamos o foco dos projetos e discursos oficiais e nos aproximamos mais das práticas dos agentes, as instituições militares e policiais aparecem bem menos homogêneas do que nos acostumamos a acreditar que seriam. Vistas por meio dos indivíduos que as moldam nas suas relações de poder local, práticas e interações cotidianas, tais instituições disciplinares mostram suas dificuldades em se fazerem disciplinadoras para o público interno e externo. Nesse sentido, torna-se cada vez mais relevante o estudo de como essas instituições funcionavam localmente e como seus membros se relacionavam com outros grupos sociais. Estudos locais baseados em sólida pesquisa empírica e no diálogo com a historiografia permitem a análise comparativa do funcionamento de instituições nacionais em diferentes regiões, no caso das instituições militares imperiais, ou de instituições policiais provinciais e estaduais com objetivos semelhantes, mas organizações distintas dentro do território nacional.

Em que pese o crescimento da produção, da qual os autores reunidos neste dossiê constituem alguns dos principais representantes, a história da polícia, ou das polícias, no Brasil ainda tem muito campo a ser desbravado. A descoberta da riqueza da documentação policial para o estudo das condições de vida e da cultura populares desde os anos 1980, na esteira do deslumbramento com outros documentos da Justiça criminal, principalmente os processos crime, não implicou no aprofundamento do estudo da instituição que produzia essa documentação. Deste modo, embora as pesquisas venham se avolumando e se consolidando, ainda existem muitas lacunas a preencher em termos de estudos acadêmicos sobre a história do policiamento no Brasil, o que é grave se considerarmos que, ao menos nas décadas iniciais da República, era a polícia a face mais visível do Estado no contato com a população. Daí a relevância de artigos como os que tomam polícia e policiais por objeto nesta revista.

No Brasil a história militar, além de enfrentar os mesmos preconceitos que em outros países, também contou com a repulsa de muitos historiadores por lembrar nosso passado recente de ditadura militar. Contudo, a documentação existente sobre as forças armadas e a polícia é muito rica pra ser ignorada ou ser analisada somente através do viés do controle e da repressão. Conhecer melhor essas instituições e, principalmente, as pessoas que as compuseram é o principal objetivos dos artigos que aqui serão apresentados.

Este dossiê se inicia com o artigo de Luiz Guilherme Scaldaferi Moreira, que faz uma análise da bibliografia dedicada à história militar, do clássico Clausewitz a mais recente produção francesa e a anglo-saxônica, destacando as obras de André Corvisier e John Keegan. O autor discorre sobre as críticas da Escola dos Anais à história militar, pejorativamente chamada de “história batalha” que, justamente para fugir desse estereótipo, se chamou “nova história militar”, mais voltada à história social e cultural, que à descrição das batalhas ou a análise da estratégia. Moreira também ressalta que os estudos ligados à Nova História militar por vezes se aproximam bastante da antropologia e da sociologia e, frequentemente, estão relacionados à proclamada volta da narrativa.

Já o texto de Fernanda Claudia Pandolfi, intitulado “Política, imprensa e a participação dos militares na abdicação”, nas suas palavras, “pretende, especificamente, analisar como e por que os militares se uniram aos grupos liberais em oposição ao governo de D. Pedro I, focalizando nos acontecimentos que imediatamente precederam a abdicação. Sua tese principal será a de que a aliança entre militares e grupos liberais em 1831 somente foi possível devido à expansão do ‘espaço público’ na cidade no Rio de Janeiro, processo este em que a imprensa teve um papel fundamental, ao se transformar em lócus privilegiado das disputas políticas”.

O artigo de Luís Augusto Farinatti trata, principalmente, da relação de compadrio existente na estrutura das milícias nos inícios do século XIX na localidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul. Na análise do autor, os oficiais milicianos eram verdadeiros “campeões de batismo”, qualificação que demonstra o quanto eram reconhecidos como protetores pela sociedade local. De fato, o poder dos oficiais de milícias era muito grande, pois: “Eles tinham a possibilidade de proteger aliados e escolher desafetos para onerar com as necessidades da guerra”.

O texto de Miquéias Henrique Mugge analisa a busca da inserção social de elementos que queriam se destacar dentre os imigrantes alemães em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. O autor apresenta dados que mostram uma realidade local muito particular, quando comparada a outros estudos locais. Em São Leopoldo, a maioria dos oficiais de milícia ocupava-se de profissões urbanas e tal como o apontado por Farinatti no seu estudo de caso sobre a história de Alegrete, também ali eram importantes as relações de compadrio que ligavam os oficiais aos seus clientes.

No texto “[…] que de polícia só tem o título, constando apenas de pobres crianças” Caiuá Al-Alam trata sobre a reorganização da polícia provincial no Rio Grande do Sul após a Guerra do Paraguai. A partir da análise de documentação variada, desde relatórios de Presidentes de Província e correspondências entre autoridades policiais até processos criminais nos quais policiais estiveram envolvidos, o autor mostra as dificuldades dos governantes em obter recursos humanos e materiais para o policiamento, bem como em impor disciplina aos policiais. Além disso, naquele contexto, os ex-combatentes do Paraguai haviam se tornado um problema administrativo e criminal para as autoridades, na medida em que capitalizavam sua experiência de participação na guerra como justificativa para a deslegitimação e desobediência à autoridade dos policiais.

Os artigos de André Rosemberg e Luís Antonio Francisco de Souza estudam a Força Pública do Estado de São Paulo nos primórdios da República.

Rosemberg analisa a organização da polícia paulista entre 1889 e 1894 e os desafios que se colocavam à instituição e seus agentes num contexto política e socialmente conflituoso onde, conforme o autor, convivia-se com temporalidades diversas: às expectativas republicanas estavam imbricadas permanências de uma herança escravista ainda plenamente arraigada nas relações sociais. Centrado no protagonismo dos policiais como produtores do policiamento, o que constitui uma das marcas da historiografia mais atual sobre polícia, o artigo mostra a importância do caráter militar assumido pela Força Pública do Estado de São Paulo nos anos iniciais da República e as permanências na instituição de práticas características do regime anterior, apesar dos discursos modernizantes republicanos.

O texto de Souza analisa um período posterior ao estudado por Rosemberg, quando o militarismo acabou por se converter em ideologia da Força Pública de São Paulo, ou pelo menos de seus superiores, a partir da contratação da Missão Francesa em 1906 para prestação de treinamento militar e disciplina para os policiais paulistas. A documentação interna da Força Pública mostra as vicissitudes e contradições da disciplina militar: ela não conseguia conter a indisciplina e as irregularidades na base da corporação – como a análise das práticas policiais cotidianas revela – mas, por outro lado, criou um espírito de corpo que dificultava a punição da violência cometida por seus soldados fora dos marcos da instituição e contra as pessoas comuns. Tais atos eram reprimidos com medidas administrativas, de forma que, dentro dessa lógica, deserções eram faltas mais graves do que violências contra a população.

O dossiê conta também com a resenha do livro “Homens e Armas. Recrutamento Militar no Brasil Século XIX”, produzida por Vítor Izecksohn; e na seção Notas de pesquisa com o texto “Contando policiais: os registros de pessoal como fonte”, de Cláudia Mauch.

Para finalizar, agradecemos aos editores da História Unisinos a oportunidade que nos foi proporcionada de organizar este dossiê, e aos pareceristas pelas suas contribuições. Acreditamos que a reunião de artigos sobre história militar e história da polícia possa contribuir para a aproximação e o diálogo entre esses dois campos de pesquisa em processo de consolidação no Brasil.

Cláudia Mauch

Paulo César Possamai

Organizadores do Dossiê


MAUCH, Cláudia; POSSAMAI, Paulo César. Apresentação. História Unisinos, São Leopoldo, v.16, n.3., setembro / dezembro, 2012. Acessar publicação original [DR]

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História Política: entre as práticas e as representações / Historiae / 2011

Em seu segundo número do segundo volume, a Historiae dá continuidade à publicação de dossiês temáticos, voltando-se tal edição à abordagem da História Política. Tantas vezes negligenciada, desprestigiada ou tratada com significativo preconceito, tal matriz histórica viria a progressivamente recuperar seu status de prática reconhecida no campo do fazer histórico. Esse menosprezo deveu-se essencialmente à confusão estabelecida entre a História Política e a história dita factual, à deliberada intenção de sonegar os resultados provenientes das análises realizadas pelo prisma político e as amplas implicações daí advindas e / ou tendo em vista as dificuldades em enquadrar as interpretações históricas de natureza política em modelos preestabelecidos, uma vez que, volátil, tal enfoque nem sempre se molda a explicações de caráter apriorístico.

Vencidos os desprezos advindos das visões reducionistas e / ou dos modismos historiográficos, renovada em sua essência teórico-metodológica e em contato íntimo e intenso com os mais variados segmentos do conhecimento humano, a História Política vem perpassando uma etapa de notória aceitação no seio da produção do saber histórico. Nesse contexto, a Historiae promove a publicação do Dossiê “História Política: entre as práticas e as representações” trazendo abordagens diversificadas envolvendo análises centradas nas relações entre história e política.

Dentre esses temas são apresentadas interfaces entre a política e a interpretação histórica no que tange à historiografia, à imprensa, à numismática, à memória, ao cotidiano, ao pensamento político, à guerra, às estruturas governamentais, ao jacobinismo e à justiça. Os trabalhos independentes em relação ao fulcro desta edição também têm seu espaço, com abordagem de questões em torno do feminismo, da teoria, da escravidão e as relações entre academia e industrialização.

Assim a Historiae – Revista de História da Universidade Federal do Rio Grande permanece em seu percurso, inaugurado ainda ao final dos anos setenta do século vinte, de divulgar a produção científica, acadêmica e cultural oriunda da pesquisa de natureza histórica.

Francisco das Neves Alves – Presidente do Corpo Editorial.


ALVES, Francisco das Neves. Apresentação. Historiae, Rio Grande- RS, v. 2, n. 2, 2011. Acessar publicação original [DR]

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Escravidão: Ideias e práticas / História Revista / 2010

Ao organizar o dossiê Escravidão: Ideias e práticas, a História Revista vis -se homenagear a memória da Profa. Dra. Gilka Ferreira Vasconcelos (1925-2008). A formação de um centro de pesquisa em História em Goiás deve, e muito, aos esforços da professora e de uma geração de professores representada, entre outros, por Luis Palacín, Janaína Amado, Lena Castelo Branco Ferreira e Dalisia Dolles, responsáveis pela criação do Programa de Pós-Graduação em História das Sociedades Agrárias em Goiás, em 1972. Como pesquisadora, Gilka Vasconcelos renovou os estudos sobre a escravidão com a publicação de sua tese, defendida na Universidade de São Paulo, Economia e escravidão em Goiás colonial (1983).

Gilka Ferreira Vasconcelos nasceu em Rio Verde. Seu pai trabalhava como mascate, acompanhando o lento movimento das boiadas. Para dar continuidade aos seus estudos, a professora mudou-se para Uberaba, onde completou o ginasial. De lá, foi para Belo Horizonte cursar a Faculdade de Filosofia, graduando-se em História e Geografia. O curso era marcado por “professores improvisados”, quase todos formados em Direito. Posteriormente, essa Faculdade foi incorporada à recém-fundada UFMG. Casou-se com seu professor de História da América, Sebastião de Oliveira Sales, em 1947. Ao retornar para Goiás, após a morte de seu marido, atuou em várias frentes: lecionava tanto no ensino superior (UFG e UCG), como no Instituto de Educação e no Instituto Pestalozzi. Os traços biográficos aqui esboçados visam fixar a dura rotina da professora, acrescida, ainda, pela lida com a casa e com os filhos. Percebe-se a incontida alegria da professora ao rememorar as etapas do seu processo de formação acadêmica. O acesso ao título de doutor era uma missão árdua, ainda mais para quem morava longe dos grandes centros universitários.

Na década de 90, quando as aposentadorias ameaçaram a sobrevivência do Programa de Pós-graduação em História, lá estava a professora Dra. Gilka Vasconcelos pronta para defender, corajosamente, a continuidade das atividades acadêmicas do mestrado. A defesa desse espaço acadêmico formou, simultaneamente, a professora e seu próprio campo de formação. Em 1983, assumiu, por dois mandatos consecutivos, a coordenação do Programa de Pós-graduação em História das Sociedades Agrárias da Universidade Federal de Goiás. Orientou 23 dissertações de mestrado e manteve sempre aguçado interesse pela pesquisa histórica. Em 2008, já adoentada, coordenou, com o costumeiro zelo, o simpósio sobre a vinda da Família Real Portuguesa, no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG).

O dossiê Escravidão: ideias e práticas traz três artigos que apresentam resultados de pesquisas inéditas. Andréia Firmino avalia as teorias legitimadoras da escravidão a partir do debate parlamentar em meados do século XIX. Mary Karash destaca a experiência social da escravidão, analisando a formação e o papel das irmandades em Goiás, com destaque para a irmandade dos pretos e suas práticas associativas; e Maria Lenke Loiola investiga a inserção de Goiás no infame comércio de almas, com destaque para as rotas do tráfico e o peso da participação de Goiás nessa atividade.

Na seção de artigos, Clarissa Valadares Xavier e Carlos Eduardo Santos Maia investigam as festas “fora de época” na cidade de Salvador. A pesquisa de Cynthia Radding propõe uma análise comparativa entre as fronteiras geográficas e a história das Américas, com atenção especial para as zonas fronteiriças. José da Costa D’Assunção Barros discute a noção mecanicista de progresso, com base na leitura de Nietzsche. Jurandir Malerba apresenta as variações metodológicas presentes nos debates acerca da relação entre Memória e História. Luciana Fagundes discute os rituais e os símbolos do poder real, com base na repercussão da visita de Alberto I, rei da Bélgica, ao Rio de Janeiro, em setembro de 1920. Finalmente, Valéria Milena Röhrich Ferreira investiga a relação entre as histórias e as memórias em circulação na cidade de Curitiba, na década de 1990 e na seguinte, e o processo de elaboração do currículo da rede municipal de ensino. Na seção resenhas, Eduardo Gusmão de Quadros apresenta a obra Um projeto hermenêutico de história das religiões: Mircea Eliade, Joachim Wach e a criação da escola de Chicago.

Noé Sandes Freire

Organizador do Dossiê

Comissão Editorial

Maria da Conceição Silva

Adriana Vidotti

Armênia Maria de Sousa

David Maciel

Heloisa Selma Fernandes Capel

Luciane Munhoz de Omena


FREIRE, Noé Sandes; et al. Apresentação. História Revista. Goiânia, v. 15, n. 2, jul. / dez., 2010. Acessar publicação original [DR]

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Currículos, práticas e cotidiano escolar na formação educacional, moral e cívica de cidadãos no espaço luso-brasileiro / Revista História da Educação / 2010

O presente dossiê reúne seis artigos na temática geral da história das instituições escolares, com ênfase na questão dos currículos, práticas e cotidiano escolar. Os cinco primeiros estão dedicados à temática geral das práticas desenvolvidas a partir de instituições escolares em regiões e cidades do Brasil e de Portugal, tendo sido redigidos originariamente para apresentação no VII Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, realizado no Porto, em Portugal, em 2008. O último artigo foi redigido mais recentemente, abordando a questão dos arquivos escolares e sua relação como à produção do conhecimento em História da Educação, com correspondência significativa com os artigos apresentados anteriormente.

A percepção do sentido e dos objetivos sociais das instituições escolares contribui sobremaneira para o entendimento das relações fundamentais que se estabelecem entre o particular e o geral no processo de compreensão e de construção de interpretações sobre a história das instituições escolares e de seu papel nas cidades e regiões circunvizinhas, pois que no entendimento dessa relação ancora-se a descoberta da dinâmica das identidades construídas e assumidas pelos indivíduos que animam as instituições educativas.

Desse modo, as práticas escolares que se expressam por meio da organização curricular, da utilização de manuais por professores e alunos, da realização de festividades, da aplicação de premiações e de punições etc. tornam-se compreensíveis não pela descrição detalhada de suas especificidades, mas sim pela qualidade das relações que o pesquisador consegue estabelecer entre essas práticas e as finalidades sociais mais amplas determinadas pela sociedade nas possibilidades sempre em aberto de manutenção da ordem, de iniciativas transgressoras e mesmo de ruptura com o estabelecido.

Assim, a convergência dos trabalhos apresentados está, sobretudo, na preocupação em promover nas investigações particulares a articulação entre as práticas escolares e as finalidades sociais mais amplas, no estabelecimento de uma dialética que enriqueça a interpretação histórica, com utilização para tanto de farta documentação encontrada nos arquivos escolares pesquisados.

Décio Gatti Júnior – Professor-pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia, no qual coordena a linha de pesquisa “História e Historiografia da Educação”. E-mail: [email protected]

Eurize Caldas Pessanha – Professora-pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, no qual coordena a linha de pesquisa “Escola, Cultura e Disciplinas Escolares”. E-mail: [email protected]


GATTI JÚNIOR, Décio; PESSANHA, Eurize Caldas. Apresentação. Revista História da Educação. Porto Alegre, v. 14, n. 31, maio / ago., 2010. Acessar publicação original [DR]

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História, Ciência e Saúde: práticas e saberes / Varia História / 2004

Estamos diante de um campo de pesquisa em expansão. A partir do cenário da História Cultural podemos identificar uma série de temas que se mesclam com as especificidades da História da Ciência. Desta fusão encontramos a história da ciência e suas interfaces culturais. Neste número da revista Varia História, no dossiê intitulado História, Ciência e Saúde: práticas e saberes apresentamos algumas das pesquisa que indicam as possibilidades analíticas na área.

A linha Ciência e Cultura na História, do Programa de Pós Graduação em História / UFMG, possui duas ênfases: a História Social da Ciência e a História das Idéias Científicas. Ao estabelecer essas duas ênfases de estruturação das pesquisas, não se busca conformá-las à tradicional dicotomia entre uma história interna da ciência e uma história externa da ciência. Pretende-se, através da mediação cultural, dissolver essa dicotomia, mudando o eixo do debate. Assim, a divisão dos trabalhos entre as duas ênfases complementares reflete muito mais uma dimensão metodológica do que propriamente uma perspectiva epistemológica.

As pesquisas em História Social da Ciência procuram analisar as diversas relações existentes entre a ciência e a sociedade. Os impasses entre a produção do conhecimento científico e a sociedade no seu contexto histórico é o objeto da análise. As investigações procuram refletir a construção social da ciência através de biografias, instituições, práticas, procedimentos, descobertas, rupturas.

As pesquisas em História das idéias Científicas procuram compreender, a partir das relações culturais, a formação dos conceitos e das idéias que caracterizam as teorias científicas em seus diversos contextos. Nesse sentido, não se trata de tomar idéias e conceitos científicos por eles mesmos, mas de compreender como os determinantes culturais desempenham um importante papel na formação dessas idéias e conceitos e na elaboração das teorias científicas.

Na linha de pesquisa Ciência e Cultura na História são realizados estudos que contemplam a formação e o desenvolvimento da ciência moderna, bem com, em particular, o surgimento e o desenvolvimento das ciências no Brasil.

O presente dossiê recortou como objeto a história da saúde e apresenta em seus 5 artigos um espectro bastante diversificado da produção na área.

O artigo de María Silvia Di Liscia aborda a intercessão entre a prática médica e a escola, a partir da discussão em torno da regeneração racial, no final do século XIX e primeiras décadas do século XX na Argentina. Além de apresentar a interface com a história da educação o artigo pode instigar análises comparativas entre Brasil e Argentina.

O artigo de Vera Marques Beltrão investiga um campo de análise inusitado: os manuais de divulgação de ciência, especificamente na área da saúde, no século XVIII. Está em discussão novamente a interface com a história da educação e a circulação de saberes na medida em que há uma apropriação do conhecimento acadêmico pela parcela da população distante dos espaços privilegiados de formação do saber.

A seguir o texto de Flávio Coelho Edler investiga a formação de conceitos na história da saúde, especialmente a sociologia de uma descoberta, em questão a ancilostomíase. O material de análise do autor são as publicações e os debates na área médica expressos entre os membros da Academia Imperial de Medicina e no periódico Gazeta Médica da Bahia. A investigação proposta por Edler permite vislumbrar um campo de análise promissor, mas ainda pouco explorado no Brasil.

Já o artigo de Yonissa Marmitt Wadi, de forma especial, discute o campo da psiquiatria fugindo da tradição das histórias institucionais ao privilegiar os paradoxos da vivência em uma instituição psiquiátrica. Os discursos e práticas médicas são abordados na medida que surgem não pela escrita médica (tratados, relatórios, compêndios, receituários), mas a partir da escrita da paciente que utiliza o pseudônimo de Pierina Cechini. O percurso que Yonissa Wadi nos apresenta é ao mesmo tempo fascinante e impressionante ao mesclar um relato pessoal que toca na temática das instituições asilares e suas repercussões sociais.

Encerra o dossiê o artigo de Henrique Carneiro “As plantas sagradas na história da América”. Nele o autor investiga as plantas sagradas das tradições indígenas de diferentes regiões das Américas.

História institucional, construção de conceitos na área da saúde, práticas médicas são alguns dos temas que apresentamos nesse dossiê. Como um campo em construção, novos dossiês deverão ser apresentados em breve com temáticas envolvendo a circulação do saber, a história das doenças e as concepções de corpo e saúde. Aguardamos sua colaboração.

Belo Horizonte, Julho / 2004

Betânia Gonçalves Figueiredo – Organizadora.


FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves. Apresentação. Varia História, Belo Horizonte, v.20, n.32, jul., 2004. Acessar publicação original [DR]

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